O erro de Pangloss
Essa filosofia começa por ser agradável. Deve ser excelente a gente sentir-se num mundo tão bom. Fechar os olhos à realidade é um exercício que se consegue. Contudo o ‘perigo’ é que com esse encolher-de-ombros ou fechar-de-olhos, nunca se corrige o tiro e continuamos a falhar o alvo.
Isso se fosse uma Greve Geral muito bem sucedida. Eu sei que é quase um sonho, e muito raramente os trabalhadores de qualquer país conseguem semelhante sucesso.
Mas a realidade que vimos foi oposta. Apesar dos números que o governo forneceu serem, como de costume, ridiculamente baixos, a verdade é que esta greve não foi geral, foi muito parcial – parte dos transportes, e parte da Função Pública.
Isto faz pensar, porque nós sabemos que existe hoje muito descontentamento a par de bastante medo. Portanto para não pensarmos à Pangloss que foi a melhor possível seria de analisar o que correu mal, para não repetir. Talvez as pessoas não saibam o que é a tal «flexisegurança». Mas sabem que o emprego está em risco. Sabem que estão desempregados. Sabem o que é a precariedade.
Porque não, em vez da greve que ainda fez poupar uns tostões em salários, convocar um grande, um enorme desfile dos desempregados? Olhem que são muitos, muitíssimos, poderiam fazer uma marcha grandiosa. Ou então, já à noite, um desfile também grandioso de quem está precário, com contracto a prazo, a ganhar a recibo verde? Não perdiam o seu dia de trabalho, mas podiam desabafar. Imaginem o que seriam esses milhões de trabalhadores sem vínculo, de archote na mão e braçadeiras de luto, a desfilar em Lisboa ou Porto? De certo que chocava quem via, e podia fazer pensar.
Claro que quem está no terreno pode ter outras ideias de mobilização, e muito melhores do que estas. Mas não vale dizer que correu bem. Não correu. E isso deve ser analisado com firmeza e sem panos quentes.