quarta-feira, abril 30, 2008

Uma semana pequenina


Venho aqui fazer inveja a quem tem uma semana «normal» de trabalho: eu desta vez só cá estive dois dias.

DOIS DIAS!

Digamos ao contrário, que ‘interrompi as férias’ ontem e hoje. Assim fica melhor e, se eu vir dessa perspectiva, [que, para ser franca, só agora me ocorreu :) ] afinal tirei umas férias de 'quase' 10 dias, apenas quebradas com estes dois diazitos aqui em Lisboa.

UAU!

Portanto interrompi ontem o meu descanso, mas do dia 1 até à próxima segunda, inclusive, volto para o sossego da minha aldeia, desejando que o bom tempo se mantenha.

E, o único 'senão' é a distância a que fico da net, mas até isso é um tanto higiénico, não é?

Abaixo as dependências!!! Vive-se muito bem sem net.

(??!!)



PS - Claro que pelo menos um postzinho por dia vai sair. Também não é preciso ser-se fundamentalista!


A marca é tudo

Os transportes e o civismo

De vez em quando apetece-me rabujar.
(Não ganho nada com isso mas fico mais aliviada. Pronto!)

Todos os dias são transportados por Lisboa milhares de passageiros, e a carapuça do que vou dizer só entra com certeza nalgumas dezenas (centenas…?) ou seja, acredito que a maioria das pessoas se comporta devidamente quando anda num transporte.
Mas...

A primeira embirração é no metro.
O metro tem escadas e passadeiras rolantes. Facilitam a vida. Se subirmos por uma escada que está em movimento ou andarmos por uma passadeira, chegamos mais depressa. Mas, é claro, que ninguém é obrigado a isso. Posso estar bastante cansada e pensar que se aquela coisa anda sozinha escuso de me esforçar a subir os degraus, quando chegar lá acima é só dar um passo em frente. Muito bem. E por isso mesmo é que se aconselha, a quem quer circular, que siga pela esquerda da escada ou passadeira, e quem quer esperar quieto, se encoste à direita. Mas aquelas santas almas que se agarram com afinco uma mão no corrimão da esquerda e a outra mão no da direita?... e a gente aos gritos «com licença!» «com licença!» e eles moucos até se sentirem em terra firme!

Mas há ainda outra variante no metro, que é à chegada à estação, postar-se um rolhão de gente exactamente em frente da saída de cada porta, e nem eles conseguem entrar nem os que lá estão conseguem sair. Não entra naquelas cabecinhas, que se deixassem sair primeiro quem lá está dentro, teriam muito mais espaço para poderem entrar. Aquilo são frustrados jogadores de rugby que adoram o empurrão.

A minha segunda embirração passa-se nos autocarros e tem a ver com as saídas.
A entrada, faz-se pela frente, como se sabe, até para poder passar o chip do passe na máquina do controlo. Muito bem. De uma forma geral, essa entrada faz-se ordenadamente, com uma ou outra pessoa a passar à frente mas nada de muito grave. E a saída faz-se pela outra porta, que até apita antes de fechar. Mas há umas criaturas que, mal o autocarro começa a parar gritam «com licença, deixe-me sair aí pela frente!» e lá vão empurrando todos até sair pela frente como querem.
Não consigo entender isso. Se estivessem mesmo ao pé do condutor, enfim, poupavam uns passos até à outra porta apesar de ser errado. Mas muitas vezes nem é isso. A distância é igual entre a porta de saída e a da entrada e eles lá vão marrando contra a corrente de quem está a querer entrar, para … sair pela frente!

Para quê?!


Toca a dançar!


Em Lisboa, desde ontem até 4 de Maio, vai haver a Festa da Dança.
Com entrada livre e aberto a todos, vamos dançar durante seis dias!!!!
Podem ver os pormenores,
neste site

Eles explicam tudo.

Notícia assustadora



Num país como o nosso, onde já se apertou o cinto até não haver mais sítio para fazer furos, informam-nos que
os preços de alimentação vão subir 39% este ano na Europa
Nessa situação, se isso acontecer e parece que estão a falar muito a sério - «Bruxelas prevê que atinjam um pico de 54% na primeira metade deste ano, antes de estabilizarem» - gostaria de ter imaginação para conceber o que é que se vai ‘cortar’ para sobrevivermos.

Ou, falando clara e brutalmente:
... vamos passar fome!
Só pode ser.


Desenhos

Um excelente desenho actual.
As raízes dos cravos:



do Raim's

O Diário da Ana

Terça-feira, 30 de Abril
Hoje também não se conseguiu trabalhar!
Pensar que amanhã vai ser feriado por ser Primeiro de Maio!!!!!!
Vamos finalmente festejar o Primeiro de Maio!
Para quem vive noutros países onde isto é normal, nem consegue imaginar como este facto é simbólico e a realização de tanta coisa que sonhámos. Ainda a semana passada foram presas pessoas (veio referido no jornal) por se atreverem a distribuir papeis apelando a que se festejasse esta data, e hoje vimos na televisão um desfilar de caras conhecidas a mobilizar-nos para um grande desfile, e dizendo que vai ser feriado!
E outro elemento importante e que confirma que finalmente somos livres acabou a clandestinidade para alguns, é que regressou hoje o Álvaro Cunhal. Veio de avião e nós fomos esperá-lo ao aeroporto. Estava muita gente também, mas muito menos que à chegada do Mário Soares, o que também é natural que hoje foi dia de trabalho, enquanto o Soares chegou a um Domingo. Foram duas chegadas contrastantes, o Soares vinha muito risonho e bem disposto, mas o Cunhal estava ainda um tanto tenso e de expressão um pouco fechada, mas tudo isto são grandes baforadas de ar fresco, passamos o tempo a respirar fundo, como metáfora e até na realidade.
Parece que não há ar puro suficiente para lavar os nossos pulmões de tantos anos de bruma.
Quanto a estes dois líders, vai ser muito emocionante vê-los amanhã, aos dois, carne e osso, no desfile do Primeiro de Maio.
Alguns de nós ainda têm receio. Irá correr tudo bem? O tempo está óptimo, e já está combinado que vai fechar tudo para toda a gente que quiser poder participar. Eu estou optimista, vai correr bem de certeza e vai aparecer muita gente.


Uma canção em Abril



Escrevi no Pópulo, há dois anos:


No 24 de Abril


terça-feira, abril 29, 2008

Pergunta inocente

Sempre que o faço há uma vozinha que me diz que é absurdo, mas...
Aprendi que é assim e pronto.


Mas alguém me explica porque é que quando quero DESLIGAR o pc, tenho de clicar no sítio que diz INICIAR...???
Não quero «iniciar», iniciado já ele está, o que eu quero é fechá-lo!
Mas não o consigo fechar sem passar pelo INICIAR.


Acham lógico?


Que raciocínio curioso

Imagine-se que a Junta de Freguesia da Ericeira, teve o desplante de passar a usar «óleo alimentar reciclado como combustível dos veículos de recolha de lixo, em substituição do gasóleo ou gasolina» e com isso, com o facto de deixar de comprar combustíveis fósseis, lesou o Estado (??!) porque este não recebeu a sua fatia do imposto da gasolina. E, pimba, as Finanças aplicam-lhe uma multa de 7 mil euros!
Lá para Miranda do Corvo, é melhor porem as barbas de molho. Parece que se preparavam para produzir biodiesel a partir de óleos usados nas cozinhas e em restaurantes e até fornecer os bombeiros e estão com ideias de com a glicerina que daí tiram podem fabricar sabões e sabonetes.
Olha, olha…E o IVA?
Será igual o destes sabonetes ou é mais baixo? Se for têm de indemnizar o Estado.

Às vezes parece que estamos no chá do Chapeleiro Louco.

Só falta um imposto aos carros bem estacionados porque assim o Estado não pode receber o dinheiro das multas por mau estacionamento!


Monstros

Às vezes vemos séries no AXN, chamadas «Mentes Criminosas» ou «Rituais Assassinos» e pensamos que aquilo é fita. Histórias interessantes, mas um pouco delirantes da parte do guionista.
Depois abre-se um jornal, ou liga-se o rádio e sabe-se que, no coração da Europa,
há um tipo que agarra numa filha de 18 anos, a sequestra durante 25, e vai mantendo relações sexuais com ela de modo a fazer-lhe 6 filhos - quer dizer 7, mas um deles morreu – e só agora por um caso fortuito, se descobre.??!! (como retoque, diga-se que ela era violada por ele desde os 11 anos!)
Tudo isto é espantoso.
Que possa acontecer na Áustria, um país ‘civilizado’, que haja seres humanos deste calibre, e que ele o pudesse ter feito sem levantar suspeitas.

É que este homem era casado! Esta rapariga devia ter mãe.
Então isto passa-se na sua própria casa e a mãe a quem desaparece uma filha, não a encontra na cave da sua casa?! E não estranha nada no comportamento do marido?


Afinal a ficção e a realidade não são nada diferentes.

Desenhos


O Diário da Ana

Segunda-feira, dia 29 de Abril de 1974
É uma segunda-feira mas não é uma nova semana, é uma semana nova. Temos a sensação de que tudo é novo, tudo é possível, de que afinal se quebrou o «fado», o terrível fatalismo que nos fazia ver sempre tudo negro.
Ajuda bastante não apenas o que se vai ouvindo na rádio e vendo na TV, mas sobretudo o que se vai vendo da repercussão destes acontecimentos ‘lá fóra’. Vermos que grandes estações estrangeiras abrem noticiários com notícias sobre Portugal e tão elogiosas, é coisa a que não se está habituado e sabe tão bem!... Com a liberdade de imprensa vemos por todo o lado repórteres estrangeiros à procura de mais um testemunho, de um pormenor, de um dado novo.
E nós sabemos ainda tão pouco! O «Programa do MFA» (a sigla que se começou logo a dizer, só nos primeiros comunicados se falava do Movimento das Forças Armadas) é um documento ainda extenso. Sabe-se que foi redigido por um grupo de militares que sabiam bem o que estavam a fazer, mas fala-se de nomes como Vítor Alves, Melo Antunes, Victor Crespo, Charais, que ouvimos agora pela primeira vez. O nome que se ouviu mais, desde o princípio foi o do estratega deste golpe, um capitão (nem sei se é capitão?) chamado Otelo.
O Programa tem umas medidas ‘imediatas’, tal como a formação da tal Junta de Salvação Nacional que vai gerir o país até se formar um Governo Provisório Civil, e depois umas medidas ‘a curto prazo’, que implica escolher-se nessa Junta quem vai ser o Presidente da República, também provisório. Isso de se falar logo em Governo Provisório Civil, sossegou muita gente que já estava a imaginar que se ia cair de novo numa ditadura militar, mesmo que de outro quadrante. Mas eles falam em devolver o poder ao povo, em eleições, numa Assembleia Constituinte para se criar uma nova Constituição, e tudo isso são sinais muito positivos.
Esta coisa de não haver «vedetas» neste Movimento é uma das coisas bem simpáticas. Conta-se por aí que alguém perguntou:
Quem manda aqui? Resposta:
“Mandamos todos!”
Mas quem é o mais graduado? Resposta:
“Somos todos capitães!”
Lindo.

Uma canção em Abril

Nota, [escrita às 18 horas]
Esta canção (não é bem canção) não entrou quando devia!

De qualquer modo estava programada e em rascunho para entrar a esta hora e como tinha prometido uma canção por dia, mesmo completamente fóra do tempo aqui está ela!

Escrevi no Pópulo, há dois anos:


No 24 de Abril


segunda-feira, abril 28, 2008

O Diário da Ana

Domingo, 28 de AbrilEstes dias de emoção continuam sem parar.
Muitas vezes torna-se difícil distinguirmos os boatos dos factos reais: toda a gente 'sabe' imensas coisas, e conhece alguém que é do MFA, é curioso como depois da coisa estar feita já muita gente «pressentia» que este golpe estava em incubação! Pois é!


De qualquer modo, temos conversado imenso entre nós todos e uma análise muito superficial diz-nos que, apesar de ter sido tudo montado de um modo impecável, e estes «capitães de Abril» terem sido muitíssimo corajosos e… modestos [ainda no dia de hoje não se conhecem bem os nomes, nem sequer dos mais importantes] afinal tudo isto teve o sucesso que sabemos porque não se acatou os conselhos de se ficar em casa. Foi o povo que, indo para as ruas do modo como foi, as entupiu de tal modo que bloqueou as forças que poderiam ter defendido o regime. Numa certa forma foi uma loucura de todos nós os que fomos para a rua, mas foi essa loucura que em certa medida garantiu o sucesso da operação.

Mas hoje foi também um dia memorável porque, para além dos milhares de refugiados políticos espalhados pela Europa que têm regressado sem parar desde anteontem, hoje deu-se um regresso famoso: voltou o Mário Soares. Veio de Paris de comboio, e chegou a Santa Apolónia. O seu regresso foi também a garantia para os mais receosos de que podemos ter confiança de que estamos a caminhar para consolidar uma democracia.

Quanto à sua chegada a Santa Apolónia foi uma verdadeira apoteose! Um delírio. Nem a Simone depois de ter cantado a Desfolhada na Eurovisão!...Nós ainda tentamos vê-lo mas a multidão era tanta que nem ao longe o vimos. Só depois na televisão e nas fotografias dos jornais, mas enfim sempre podemos recordar que estivemos lá.
Grande Domingo!

(e todos pensamos como irá ser o Primeiro de Maio!)

Uma canção em Abril

Escrevi no Pópulo, há 2 anos:

No 24 de Abril

domingo, abril 27, 2008

Uma música ao Domingo, em Abril

O Diário da Ana



Sábado, 27 de Abril
O primeiro sábado em Liberdade!

Se ontem tenho de reconhecer que não trabalhei nada, hoje então…
Quem é capaz de se concentrar em papeis e temas teóricos, quando a vida de repente deu uma volta tão grande? O que era importante há dois ou três dias, hoje deixou de ter a menor importância.

É muito emocionante encontrar tanta gente que não se via há anos: os nossos amigos que tinham ido para fora – França, Inglaterra, Suiça, Bélgica… eu sei lá, toda a Europa estava cheia de quem se tinha recusado combater numa guerra com que não concordava – e ainda outros que tinham desaparecido nas sombras da clandestinidade, para combater o regime na ilegalidade. Todos estes estão a regressar ao nosso convívio, desde ontem que não paramos de receber telefonemas para nos encontrarmos com este e com aquele ou aquela – já tenho chorado não sei quantas vezes.

É que ainda não nos habituamos…

Como quem acorda de um sonho, mas nos primeiros minutos não reconhece bem onde acabou o sonho (ou pesadelo) e começa a vida real. Sinto-me muito assim. Claro que os jornais - que têm esgotado as tiragens! - e as imagens da TV, ajudam a ver que tudo isto é real, mas…

Hoje à tarde, ia com o João pela Avenida da Liberdade e vi um grupo que ia gritando «O povo unido jamais será vencido» e «O povo está com o MFA». Juntámo-nos ao grupo que era de uma dezenas de pessoas, completamente desconhecidas para nós, mas isso o que interessa? Já não há informadores, não há Pide!!! podemos falar à vontade com toda a gente. A meio da Avenida o grupo era já mais de cem, e quando chegámos ao Marquês já nem os conseguia contar. Esta espontaneidade sabe tão bem. Todos nos ríamos, e havia uns mais organizados, talvez essa malta que tinha voltado do estrangeiro, que disse para darmos os braços uns aos outros e o grupo pareceu logo mais organizado, além de nos sentirmos unidos.

Uns rapazes e raparigas tinham uns spays de tinta e iam escrevendo nas paredes Liberdade, Viva o MFA, Fascismo nunca mais, frases desse tipo. Nunca tinha visto e estava a achá-los muito valentes quando consciencializei que agora se pode dizer isso tudo. Mas há medos que custam a desaparecer.

À noite fomos a casa dos «Franciscos» apareceu um maralhal enorme de malta amiga, e imensos dos que tinham já regressado. Falou-se muitíssimo dos que estão agora em África, como é que terão sido informados disto, e o que devem estar a sentir. Se nós estamos como estamos, então eles…! Havia algum receio de que a hierarquia do exército, a que está nas colónias, não aceitasse este golpe, mas pelo que se vê isto foi muito bem feito, e não houve problemas graves. Talvez o Spínola tivesse sido uma jogada importante por mais que nos custasse.
Enfim, este sonho continua!

Escrevi no Pópulo, há dois anos:

No 24 de Abril

sábado, abril 26, 2008

Uma pausa

Mais uma vez interrompo um pouco o meu ritmo de escrita.
Este sábado, domingo e possivelmente segunda-feira, vou estar fora da minha casa e do meu pc.
Portanto os posts que aqui forem aparecendo, são os que me comprometi a mim própria a escrever, (o”Diário”, música de Abril, o link para o passado) e um ou outro tema que não resista a dar a minha opinião.
Mas por agora estou no tal gozo de «merecidas férias»!

E com bom tempo!!!!

O Diário da Ana

Sexta-feira, 26 de Abril de 1974
Como é possível em tão poucas horas as nossas vidas terem levado uma reviravolta tão grande??? Recordo o princípio da semana quase como se estivesse a viver noutro país.

Ontem nem fomos ao emprego – completamente impossível! – e estivemos quase toda a noite acordados a discutir com a malta amiga tudo e mais alguma coisa. Há boatos, há informações, toda a gente “sabe” alguma coisa que os outros não sabem, mas na maioria dos casos andamos a tomar os desejos por realidades, o que é normalíssimo. E os nossos ‘desejos’ estiveram tantos anos reprimidos que agora rebentam num fogo de artifício. Eu e o João – e toda a malta da nossa idade! – nunca vivemos noutro regime, não sentimos nunca o que pode ser a democracia, sabíamos que odiávamos o modo como se vivia mas tinha-se a ideia de que se calhar nunca mais íamos sair desta porcaria.
E já está!!!

Hoje tivemos de ir trabalhar, a verdade é que o país continua a precisar que se trabalhe e agora mais do que dantes, porque o fazemos para o bem comum. Contudo, metendo a mão na consciência, estive de facto no meu local de trabalho, mas durante todo o tempo quase que só conversei com os meus colegas… Havia uns ainda medrosos, outros com o freio nos dentes que já tinham na sua cabeça mudado o país de pernas para o ar, muita gente a querer apenas informações, aquilo era um pandemónio. Sentada à secretária a fazer alguma coisa não estive nem metade do tempo ….

Quando saímos voltámos a dar voltas por aí, a pé, associei-me a grupos que gritavam palavras de ordem, e soubemos que finalmente se tinha entrado na PIDE mas os tipos dispararam e os únicos mortos a lamentar nesta revolução, foram eles que os fizeram. Muita gente não entende porque se esperou tanto tempo para invadir a António Maria Cardoso. Eles tiveram mais de um dia para destruir documentos e queimar papeis. Quanto às fichas que tinham de nós, isso não lhes interessava para nada queimarem-nas (parece que havia 3 milhões de pessoas com ficha – um terço de nós!) mas imagina-se que quiseram ‘defender’ os informadores que deviam ser outros tantos.

Enfim, uma nódoa. Muitos de nós pensamos que foi um erro esta espera, e o excesso de tolerância por vezes paga-se caro.
Mas as nossas cabeças fervilham de planos, e só nos apetece sorrir ao ver que, pela primeira vez, Portugal ocupa a primeira página da imprensa estrangeira pelos melhores motivos. Nunca na minha vida, vi esta terra elogiada sem ser pela propaganda paga pelo SNI, ou uns elogios que cheiravam logo a coisa falsa. Desta vez, andamos aos encontrões na rua a enviados de todo o mundo que filmam, fazem entrevistas, querem saber coisas, e sabemos que o que se passou ontem – e ainda estamos a passar – causa admiração a todos.

A Revolução dos Cravos como lhe passaram a chamar, é um nome muito bonito.

Desenhos

Uma canção em Abril

"A" canção


Escrevi no Pópulo, há dois anos:

No 24 de Abril

sexta-feira, abril 25, 2008

Finalmente!


Onde estavas na noite do 25 de Abril?...

Chegámos à noite a casa, eu e a Marta, completamente extenuados. Cansadíssimos os dois, e ainda debaixo do choque.
Ainda nos custava acreditar. Na nossa vida tinha ficado para trás muitos anos de luta activa, desde a
crise académica de 62, onde nos conhecemos e começámos a namorar. Dessa época ficou a «greve de fome» feita na Cantina, a prisão em Caxias. Qualquer de nós tinha conhecido como era uma cadeia por dentro…
A nossa vida tinha sido muito difícil até então. Sempre que nos candidatávamos a um emprego, apesar de licenciados, a má informação da Pide tinha-nos bloqueado as hipóteses de um trabalho de jeito. Aquele dia foi vivido como um sonho. Voltámos a casa estoirados, cansadíssimos, e fomos enfiar a nossa filhota na cama, que também ela se sentia contagiada pelo ambiente de excitação.
Mas a porta ia ficando aberta para os muitos amigos que iam aparecendo. E foram imensos os que se juntaram na nossa casa, onde improvisámos um 'jantar' - havia pão, ovos, queijo, chouriço, vinho e cerveja, não era preciso mais! Cada qual que chega trás notícias, boatos, nem se sabe bem o que é a verdade e o que são os nossos desejos… - Eh malta!! Shee!!!!Tudo calado, vão dar as notícias na TV!!

De súbito aparecem as imagens da
Junta de Salvação Nacional . Ai!O quêêê??? Desaparecem os sorrisos, passa um arrepio, um momento de susto. Spínola, Galvão de Melo, Pinheiro de Azevedo, Silvério Marques e Rosa Coutinho. Ali, até mesmo o Rosa Coutinho parecia ter má cara! Naquela sala tão animada e feliz sentimos passar uma aragem fria… Foi a primeira desilusão do dia, mas em breve ultrapassada. O Zé Pedro, optimista, acha que aquelas imagens são necessárias para tranquilizar as pessoas mais assustadiças. “Vamos animar, malta, olhem que quem controla o Movimento não são ‘estes’!” e de novo o tom das conversas sobe, planos, sonhos, enchem de entusiasmo o nosso grupo, igual a muitos outros espalhados àquela hora por todo o país.

Ninguém tinha sono, quem conseguia dormir na noite de um dia assim?...


Onde estavas ao anoitecer do 25 de Abril?...

Nessa altura eu tinha quase 16 anos.
Já tinha experimentado as dificuldades de formar uma Associação de Estudantes no meu liceu. Tinha lido muitos livros emprestados, discutia noites inteiras com os meus amigos, era uma bomba de emoções prestes a rebentar. Sentia-me revoltadíssimo com a situação do país e assustado com a perspectiva de ir para a guerra.
Aquele dia foi um sonho para mim. Desde manhã que andava na rua com o grupo dos meus amigos e amigas. Éramos muito novos, mas loucamente entusiasmados. Íamos encontrando outros grupos, de malta do cineclube, do club de jazz, da pró dos liceus, e íamos engrossando o grupo que já era enorme. Trepávamos aos Chaimites, que dantes nos metiam medo por significar guerra e morte, e agora nos traziam a paz. Estava tudo enfeitado de cravos vermelhos, um acaso que se tornou um símbolo.
Vivam os cravos! Viva o MFA! Viva a Vida! Viva a Liberdade!
Gritávamos palavras de ordem que se inventavam na altura, e recuperámos «o povo unido jamais será vencido» do Chile, o pobre Chile, na altura sob a pata de Pinochet. E a emoção de comprar jornais que traziam na primeira página: «Este jornal não foi visado por nenhuma comissão de censura». !
Claro que não havia telemóveis na altura, portanto para falar para casa andávamos a juntar moedas para ir a uma cabine. A minha mãe queria-me em casa, mas eu desobedecia: «Oh mãe!!! Hoje, que caiu o fascismo?! Hoje não me acontece na-da!!!» A minha namorada não conseguiu falar da cabine mas falou do telefone de uma loja, porque naquele dia todos facilitavam, todos estavam solidários. Nunca se viu coisa assim!
Finalmente ‘desmobilizámos’ para jantar, também tínhamos fome.
Mas combinámos dar a volta aos pais e encontrarmo-nos depois do jantar. Havia tanto que discutir, que saber, que planear… Sabíamos que a vida estava verdadeiramente a começar.


recordar

Onde estavas na tarde do 25 de Abril?...

A minha avó morreu há pouco, com 80 e tal anos. Tinha uns 55 anos quando foi o 25 de Abril, eu ainda não tinha nascido. É engraçado porque ao ouvir o que ela me contava desse tempo e o que contavam os meus pais, até parecia que se estava a falar de países diferentes.
O meu avô, que já tinha morrido, era um legionário e a minha avó estava perfeitamente integrada na sociedade de então, o tal Estado Novo. Considerava que tudo estava bem e, para ela, a minha mãe tinha sido ‘desviada’ do caminho certo pelo meu pai, que ela olhava como um perigoso revolucionário.

Nesse dia, ela só soube que havia alguma coisa de errado pela criada que lhe veio dizer que na praça se falava em revolução. Ligou o rádio e as notícias deixaram-na assustadíssima. Telefonou a várias amigas que ainda a assustaram mais, falavam em fugir, ir para as suas casas de campo, que os revolucionários iam matar toda a gente. Rezou a Nossa Senhora, fez promessas, a meio da tarde estava aterrada sem saber o que fazer.

Foi quando chegaram os meus pais com a minha irmã pequenina, todos bem dispostos, para lhe dar um beijo. Pôs aos gritos:

“ - Que é que fazem aqui!!! Vão já para casa! E ainda por cima com a menina, desgraçados, inconscientes! Olhem que corre sangue nas ruas…”
“ - Oh mãe, ponha-se calma! Quem é que lhe disse essa?!”

“ – É que vêm aí os comunistas e matam toda a gente! É uma revolução!”

“ - Pois é, é uma revolução mas não morreu ninguém. Correu tudo muito bem”
Começou por não acreditar. Aquilo eram “coisas do genro” com certeza. Contudo a calma com que ele falava, deu-lhe alguma tranquilidade. Se calhar as coisas não estariam assim tão mal como ela receia.
Desconfiada voltou a ligar a televisão depois deles saírem. Que esquisito. Está tudo a passar-se ao contrário do que pensava. E… enfim, se calhar agora o seu sobrinho já não ia para a guerra, o que a andava a ralar muito.

Contudo a minha avó resmungou o resto da vida, e eu gostava dela mas era um pouco irritante estar sempre ‘do contra’, sempre à procura do que estava mal.
Só que, naquela tarde, teve de reconhecer que as coisas não foram como ela receava.

Emoção

Onde estavas na manhã do 25 de Abril?...


Eu era miúdo. Dez anos acabados de fazer. Tinha ido como de costume para a Escola mas via-se que alguma coisa se passava, os professores estavam esquisitos só a falar uns com os outros e não vinham para as aulas. Alguém fala em Revolução e não era a brincar. Os professores discutiam, uns achavam que se devia dar as aulas como de costume, outros que era mandar os alunos para casa. Eu via bem a discordância, uns radiantes, outros muito preocupados.
Mas a meio da manhã foram os pais que começaram a aparecer a ‘recolher’ os filhos, era mesmo uma Revolução!
Eu nunca tinha visto tanto nervosismo. Os meus pais pareciam outros, eles que são – eram! – calmíssimos, estavam numa pilha de nervos.
Meteram-me no carro e vão a casa dos meus avós contar as notícias. Ainda têm algum receio de falar ao telefone e é mais seguro ir lá a casa ver como estão. Na estrada, no caminho da marginal, passamos por um sítio onde de avista o Forte de Caxias e o meu pai às tantas grita “Que se lixe, quero lá saber!” e buzina vigorosamente. Outros carros passam por nós e também começam a buzinar; um deles buzina de um modo especial, os meus pais explicam-me que aquilo é «morse».
A minha mãe chorava de emoção e repetia-me para nunca esquecer aquele dia, o fascismo estava a cair. Sentia-me contagiado com aquela excitação, e ainda por cima não tinha tido escola!
Lembro-me que os meus avós, que tinham mais de 60 anos, não queriam acreditar. Eu sabia que eles sempre tinham sido de esquerda e combateram com todas as forças o salazarismo. O avô esteve preso muitas vezes. A conversa é entre a incredulidade e o riso, percebo que se está a viver um momento sem par.
O meu avô quer vir logo para Lisboa, e querem deixa-me ali com a avó, coisa que não me agrada, perdia a festa!
Almoçamos a correr, parece que estamos nas nuvens. Oiço nomes: Marcelo, Tomás, Spínola. Mas onde está o governo, o que é que ele faz? Prendem-no? Julgam-no? E a PIDE? Vão prender os Pides?

Vimos todos para Lisboa depois do almoço. No rádio do carro ouvimos que o forte de Peniche foi libertado.
Todos gritam: Desta vez foi! Esta é a prova!


Onde estavas na madrugada de 25 de Abril?...


Dormíamos quando o telefone tocou.
Estava ainda escuro. Tínhamo-nos deitado tarde e pensávamos fazer uma pequena viagem nesse dia pelo que a primeira ideia quando ouvi a voz da minha sogra era que seria qualquer recomendação, porque ela era muito «sogra galinha» e demasiado protectora. Contudo o ‘recado’ era bem diferente: «
Liguem o rádio. Depressa! Passa-se qualquer coisa de grave, tenham juízo e não se atrevam a sair de casa!»
Ligámos de imediato o rádio e realmente algo de estranho se passava. Dava apenas música, sem qualquer intervenção do locutor habitual, e a música era exclusivamente marchas militares.
Eu tinha 25 anos, o João 26, casados há poucos meses, unidos por muito afecto e idêntica visão do mundo e da sociedade. Olhámos um para o outro. O coração bate forte quando ouvimos «Aqui Posto de Comando das Forças Armadas». Pensámos em Kaulza…Seria uma viragem à extrema-direita?... Coisa tenebrosa de imaginar mas o «golpe das Caldas» tinha falhado há pouco tempo…
Arranjámo-nos e vestimo-nos num ápice. Ficar em casa?! Nunca. É certo que era essa a recomendação do tal «posto de comando» e da nossa 'mãezinha' mas isso era completamente impossível. Tínhamos que saber o que se passava, mas tendo vivido toda a vida com as maiores cautelas não nos atrevíamos a telefonar aos nossos amigos, sabíamos bem que os telefones podiam estar em escuta e não era seguro.

Saímos com o nascer do sol e nervosíssimos. Adeus viagem, queremos lá saber, isto é muito mais importante. Pouca gente na rua, tudo parecia calmo. Demos uma voltinha de carro e olhámos um para o outro com a mesma ideia: Vamos à Baixa!
Chegamos ao Rossio, vemos os tanques, o coração parece um tambor a querer rebentar-me o peito. Ouve-se conversas e começamos a acreditar que não é um golpe de direita, então…? Será?...
Passa-se palavra de que o Carmo está cheio de gente, querermos ir para lá e já nem conseguimos passar. Subimos a Rua Garrett, vemos gente a rir, falamos uns com os outros, de repente esquece-se a cautela, esquece-se a PIDE. O tempo passa, são já 9, 10, 11 da manhã, agarramos cravos vermelhos que as vendedeiras de flores do Rossio oferecem.

Vivemos um sonho, ou o acordar de um longo pesadelo!


Explicação

Hoje não há «Diário da Ana».
Pensei que perante o que se passou, uma única visão deste dia seria muito limitada.
Portanto decidi reeditar uns posts que escrevi o ano passado. Quando os escrevi, faz hoje um ano, considerei que o tema ficava arrumado. Mas a verdade é que na linha do «Diário» é exactamente este tipo de memórias que fazem sentido.

Assim, com ligeiros retoques, e com a batota de entrarem na «hora verdadeira» mas postados de uma só vez e com outras fotos segue o

«Onde estavas no 25 de Abril?»


25 DE ABRIL



quinta-feira, abril 24, 2008

Que linda!


É tão bonita ao longe!

Os japoneses conseguiram filmar uma cena maravilhosa:


O Nascer da Terra


Podem vê-la se clicarem aqui em cima.

Nasce devagarinho, tal como a nossa lua, mas é uma beleza.
E nós vivemos aqui!!!
... que sorte que temos.


Emoções primárias

Existe um Laboratório de Expressão Facial da Emoção (em sigla dá LEFE mas não lhe chamam assim) que de vez em quando manda cá para fora uns estudos. Desta vez deu-lhe para estudar as expressões de quem assiste a um jogo de futebol, e para isso andou a visionar quase 100 vídeos de gente a assistir a jogos da Primeira Liga Portuguesa de Futebol Profissional. Heim?... Que trabalheira.
E daí concluíram que a cólera é a emoção mais exibida durante os jogos de futebol - parece que anda tudo zangado!
Contudo, como depois nos dizem que só analisaram a alegria, a tristeza, o medo, a cólera, o desprezo, a surpresa e a aversão, e escolha não é assim tão de estranhar. Até porque depois, as emoções que se seguem entre os assistentes a esses jogos, vem a tristeza e a alegria, nada de mais natural. Ficam de fora, as expressões de medo, desprezo, surpresa e aversão.
A mim parece-me normal.
Para fugir a essas emoções só vejo uma solução, que não me passou pela cabeça que alguém a adoptasse mas afinal estou redondamente enganada: pertencer simultaneamente ou, enfim, alternadamente, a dois clubes diferentes.
A Teresa do
«Cabra de Serviço» é do Benfica e do Sporting. É ela que o diz.
Tem dias, e isto de ser sportinguista e benfiquista porque baralho os lados da segunda circular até tem as suas vantagens, que sempre vou fazendo amores e ódios dos dois lados da barricada - e ao mesmo tempo, o que anima mais a festa.
Bom, eu achei um tanto anormal e fui lá dizer, mas ela continua na sua: «acho mesmo que Benfica e Sporting não são assim tão diferentes, por isso se me irrito com um mudo logo para o outro».
É um caso que vinha baralhar completamente as doutas conclusões do LEFE. Verde e vermelha?... Ai, que confusão patriótica.

Trezentos mil mortos

Nas Termópilas foram 300.
Nesses tempos, 300 mortos era chocante, e esse acontecimento deu origem a poemas, canções, histórias imensas. Agora, ouve-se falar em
300 mil e, se bem que também se fique um pouco chocado, amanhã já se pensa noutra coisa.
Quero referir-me ao Sudão e a Dafur.

É uma preocupação que ciclicamente vem à nossa recordação para trazer má consciência, e, também ciclicamente, se esquece quando outro assunto nos chama mais a atenção.

Estes assustadores números, de uma situação que é um
genocídio, são-nos trazidos pelo sub-secretário-geral das Nações Unidas para Assuntos Humanitários: «nós continuamos a ver os nossos objectivos a recuarem e a paz em Darfur é hoje uma realidade mais remota do que nunca» diz ele.
Claro que o Sudão alega que o número de mortes não ultrapassa os 10 mil…

Seja como for, são números de uma grandeza arrepiante.
A diferença, pelo que percebi, é que uns contam as vítimas directas da guerra, em combate digamos assim, e outros contam as vítimas da situação em geral, de toda a violência, da fome, da doença, que por causa da guerra aquele povo está a sofrer.


E ninguém lhes acode.


O Diário da Ana


Quarta-feira, 24 de Abril de 1974
É já amanhã que estreia no Londres o «Hiroshima, mon amour». Durante algum tempo imaginámos que este filme nem cá viesse, mas afinal enganámo-nos.
Não vamos à estreia mas estou muito desejosa de finalmente o poder ver! Já tem uns aninhos e estava já a pensar que nunca mais cá chegasse. Ele recebeu o prémio da crítica em Cannes, e foi nomeado para o Óscar do melhor argumento, mas Portugal está fora do mapa...
O Paulo tinha-o visto em Paris e ficou entusiasmadíssimo. O Resnais é um realizador excelente embora ‘difícil’, desde «O Ano Passado em Marienbad» que eu fiquei seduzida por um lado e com respeito também. Penso que só ele para pegar naquele texto da Marguerite Duras (que o texto-guião já a gente conhece…) e criar um filme que todos dizem ser sensacional, de mistura entre o passado e o presente, entre o Japão e a França, uma mistura de guerra e de amor.
Vamos ver se não o cortam muito, porque o Paulo disse que há umas cenas que podem vir a ser censuradas pela nossa púdica censura. De qualquer forma é para maiores de 18, mas enfim mais que isso todos nós temos!
Este fim-de-semana estamos a pensar em ir até ao Algarve dar uma volta e avaliar as hipóteses de começar a apalavrar uma casinha de pescador para as férias de Verão. Estamos já quase em Maio e se deixamos para muito tarde depois torna-se mais difícil. E sabia bem uma voltinha e mudar de ares. Vamos ver se dá.
(Estamos quase em Maio, e ainda hoje veio no jornal, numa noticiazinha muito discreta, dizendo que tinha havido uma «manifestação subversiva na Cova da Piedade»; depois de analisada essa 'terrível manifestação' tinha sido o lançamento de panfletos a «convidar a população a manifestar-se no 1º de Maio» segundo o Diário Popular. Quando pensamos que noutros países o dia até é feriado!)

Escrevi no Pópulo, há dois anos:


No 24 de Abril

Uma canção em Abril

A Queda do Império







Estava quase...


quarta-feira, abril 23, 2008

Conhecer o fim da história


Conhecem aqueles chatos que nos vêem com um bilhete de cinema na mão e dizem: «-Ah, vais ver isso? É muito giro. Eu fui a semana passada e escangalhei-me a rir! E o espantoso é a forma como acaba. Ninguém está à espera, mas há uma pirueta e afinal o…»
Bom, se formos rápidos, pomos-lhe uma mão em cima da boca a tempo enquanto berramos «-Cala-te!!!!» e a coisa salva-se.

Claro que também pode acontecer o inverso, - apesar de eu imaginar que seja muito mais raro. Vai-se ao cinema mas quase no final dá-nos uma dor de barriga, ou lembramo-nos que tínhamos deixado a janela do carro aberta, ou o telemóvel vibra com um aviso urgente, e a gente salta do lugar sem chegar a ver o final. Muito bem. Inventaram um site que conta o final dos filmes para quem estiver interessado (!!?!)
Interessado ou porque não conseguiu estar lá até ao final, ou interessado em chatear os amigos, isso agora cada um sabe para que é que quer usar tal instrumento. Ou, sabe-se lá, porque foi muito estúpido e não percebeu a história!
Estive por lá a investigar.
Nada de muito extraordinário, mas não deixa de ter alguma graça.
Para mim ainda o mais engraçado são os nomes das categorias onde “arrumaram” os filmes:

*E no fim ele ganha

*Julgas que acabou mas..

*E no fim todos se salvam

*Viveram felizes, etc

*Houve um que despejou tudo

*Acaba em cauda-de-cavalo
......

Diz o nu ao roto

Mas que interessante:
O Governo pretende reduzir, a partir de Janeiro de 2009, os encargos sociais das empresas com os assalariados contratados sem prazo, embora preveja um agravamento dos encargos com os trabalhadores que estejam a contrato a prazo e ainda considera uma "injustiça gritante" a situação dos trabalhadores a recibos verdes.
Ou seja, a leitura que se poderá fazer é que da parte do governo se pretende incentivar os patrões a contratar trabalhadores de uma forma mais estável e considera a prática do 'recibo verde' má.


Será que não existem espelhos lá em S. Bento?


O patrão que mais empregados tem nesses sistemas é exactamente o próprio Estado!
Há Serviços que se não fossem os estagiários e os “recibos verdes” teriam de fechar!


Armas para o Zimbabwe

Deve ser o que lá faz mais falta.
Qual comida, qual quê! Armas!!!
Tem sido falado nos últimos dias um navio chinês carregado com «três milhões de munições para armas AK-47, 3000 morteiros e 1 500 lança-granadas» que anda à procura de um porto para descarregar a mercadoria.
Os vendedores dizem, que «o contrato foi assinado no ano passado e não tem nada a ver com a situação actual no Zimbabwe». (Como se o ano passado a situação nesse país fosse muito diferente!)
Agora os americanos
também se opõem a que essas armas cheguem ao destino
Parece-me muito bem, e louvável tal preocupação se não se soubesse que os próprios EUA são dos maiores fabricantes e vendedores de armas do mundo…


O Diário da Ana

Terça-Feira, 23 de Abril de 1974
Bolas, tinha tanto para fazer em casa, mas estive imenso tempo ao telefone a conversar com a Jú. Aquela não tem noção do tempo! Tive de ser eu a dizer «Oh, menina, desculpa mas vou ter de desligar que não me quero deitar tarde, também.» O "também", era uma piadinha porque ela se tinha queixado de se ter deitado muito tarde na véspera…
Tinham ido ontem ver «A menina Alice e o Inspector» com a Laura Alves, no Capitólio. Aquilo está há que tempos em cartaz mas eu cá ainda não vi, não se consegue ir a tudo. Parece que é engraçado, mas acho que não faz o meu género…
Ela divertiu-se muito com a peça, que me quis contar em pormenor, (chata!!!) e realmente deve ter cenas engraçadas, muito boas para o estilo da Laura Alves. Contudo, já tenho visto a Laura Alves noutro ‘estilo’ e até aprecio mais.
Mas depois disso o grupo ainda foi tomar umas cervejas e comer umas coisitas porque estavam com fome, e ainda discutiram se iam ou não ali a um dos sítios do costume ouvir umas músicas e dançar um bocadinho, de modo que se deitou tardíssimo e hoje estava muito cansada.
Claro que também são os prazeres que se podem ter, e se não se aproveita enquanto somos novos, não é?... (dizia ela!) Pois, pois, cansadíssima, cansadíssima, mas conseguiu ficar a dar à língua – e eu também estou aqui com outra má-língua, mas a verdade é que ela nunca mais desligava o telefone. É boa pessoa mas é um adesivo!
A Menina Alice! Huuummm… O que eu estava cheia de vontade era arranjar dinheiro para ir ao Villaret ver a Companhia Brasileira que está cá. Só cá estão uns dias, e olhando para a carteira não vai dar que ainda falta uma semana para o fim do mês. Desses tenho pena.


Uma canção em Abril



(de hoje em diante, até ao fim do mês, vou colocar músicas com imagem)

terça-feira, abril 22, 2008

Esta é que é uma birra!

A dança das cadeiras

Não.
Não vou falar do que se passa no PSD
Eu sei.

Eu sei que não posso dizer que não me interessa, porque se tivesse algum partido nunca seria aquele e o que se passa lá dentro é assunto interno. Não o posso dizer, porque mesmo que nunca seja o meu partido, eu sei que mais tarde ou mais cedo vai ser o partido que vai mandar também em mim.
A alternância do poder aqui do bloco central é pendular, e ainda vou apanhar com o Rio Rio ou a Ferreira Leite mais tarde ou mais cedo.


Mas por agora não me apetece sequer pensar no assunto.


Uma lista negra


Que a história dos apoios à terceira idade era triste, sabíamo-lo.
A semana passada, um programa da RTP orientado pela Maria Elisa fez uma mesa redonda sobre o assunto e entrevistou gente da assistência, que foi dando a sua opinião sobre o modo como tinham resolvido o problema. A 'solução' nunca agradava.
Falou-se bastante aí em «como adiar o momento em que a pessoa se sentisse dependente» e, é claro que isso é importantíssimo. Alguém que se reforma porque está na altura de descansar, mas depois se enfia na sua casa sem qualquer outra actividade, está a dar um primeiro passo para se deprimir em primeiro lugar e para perder capacidades de seguida.

Mas chega uma altura em que o seu organismo necessita de uma grande ajuda, ajuda externa e constante. É aí que nas famílias de antigamente se desencantava uma parente afastada que vinha para casa a apoiar o avozinho ou a avozinha, mas hoje ou se contrata alguém ou se opta por colocar esse familiar nos chamados «lares».
Muitas vezes com sofrimento para todas as partes: para quem vai porque se sente rejeitado e vai perder as suas referências diárias, para quem o envia porque frequentemente se sente culpado de não poder arranjar outra solução. Mas a solução do acompanhamento em casa é caríssima para a média dos nossos rendimentos.
E… essa ida para o lar é comportável, economicamente?
Começa-se uma via sacra, terrível. Porque os Lares oficiais são quase inexistentes e os particulares implicam um custo que ultrapassa o que muita gente pode.
O presidente das IPSS avança com números, que correspondem afinal à ideia que se tinha:«13 mil idosos em lista de espera para os lares apoiados pelo Estado»
Em lista de espera.
Quando a sua vida muitas vezes está quase, quase a acabar. À espera?! À espera, de um modo macabro, que morra lá alguém para se poder ocupar o seu lugar!
Esta é a «politica social» que temos.