quarta-feira, abril 30, 2008

O Diário da Ana

Terça-feira, 30 de Abril
Hoje também não se conseguiu trabalhar!
Pensar que amanhã vai ser feriado por ser Primeiro de Maio!!!!!!
Vamos finalmente festejar o Primeiro de Maio!
Para quem vive noutros países onde isto é normal, nem consegue imaginar como este facto é simbólico e a realização de tanta coisa que sonhámos. Ainda a semana passada foram presas pessoas (veio referido no jornal) por se atreverem a distribuir papeis apelando a que se festejasse esta data, e hoje vimos na televisão um desfilar de caras conhecidas a mobilizar-nos para um grande desfile, e dizendo que vai ser feriado!
E outro elemento importante e que confirma que finalmente somos livres acabou a clandestinidade para alguns, é que regressou hoje o Álvaro Cunhal. Veio de avião e nós fomos esperá-lo ao aeroporto. Estava muita gente também, mas muito menos que à chegada do Mário Soares, o que também é natural que hoje foi dia de trabalho, enquanto o Soares chegou a um Domingo. Foram duas chegadas contrastantes, o Soares vinha muito risonho e bem disposto, mas o Cunhal estava ainda um tanto tenso e de expressão um pouco fechada, mas tudo isto são grandes baforadas de ar fresco, passamos o tempo a respirar fundo, como metáfora e até na realidade.
Parece que não há ar puro suficiente para lavar os nossos pulmões de tantos anos de bruma.
Quanto a estes dois líders, vai ser muito emocionante vê-los amanhã, aos dois, carne e osso, no desfile do Primeiro de Maio.
Alguns de nós ainda têm receio. Irá correr tudo bem? O tempo está óptimo, e já está combinado que vai fechar tudo para toda a gente que quiser poder participar. Eu estou optimista, vai correr bem de certeza e vai aparecer muita gente.


8 comentários:

Anónimo disse...

Imagino que este seja o último post desta série, uma vez que é o último dia de Abril.
Queria dizer de minha justiça (para isso é que estão aqui os comentários) e afirmar que este «Diário» foi das melhores ideias que tiveste! Durante 30 dias, fomos seguindo o quotidiano de uma mulher de classe média, e todos os dias focaste aspectos diferentes mas verdadeiros da nossa vida do dia a dia.
Muito bom!
E entendo que, paradoxalmente, os dias depois do 25 tivessem sido os mais difíceis. Como alguém disse - foi como um grande e único dia até ao 1º de Maio!

Anónimo disse...

É verdade, sim senhor, o Cunhal chegou mesmo antes do 1º de Maio. E teve bastante gente à espera, mas foi uma chegada bem mais discreta do que a do Soares. E ele de gabardine cinzenta e expressão ainda dura e defensiva. Devia ser difícil este regresso, não planificado, ele de um partido que prepara tudo minuciosamente.
Mas foi mais um dia que nos é difícil separar do conjunto.

Anónimo disse...

Cá por mim, aquilo nem era 30 de Abril, era "véspera-do-primeiro-de-maio", a excitação toda era pensar como seria o dia seguinte.

josé palmeiro disse...

Ao longe acompanhava, cheio de esperança que estas chegadas trouxessem algo de novo, que essesdias que por cá viveram até ao 1º de Maio, parecesse um único dia. Ou melhor o desejo de que nunca mais terminasse, afinal..., como diria mais tarde, Pinheiro de Azevedo, "... foi só fumaça!..."

Anónimo disse...

E chegou ao fim.
Tenho lido com o maior interesse e, confesso, com muitas saudades, estas cronicazinhas.
Não sou dos comentadores mais assíduos, mas mesmo assim tenho escrito muito, aqui no Pópulo - mais do que noutro blog. A gente sente-se aqui um pouco em família.
Gostava de ter o poder de síntese do Luís Manuel do Heliasta, para dizer o que penso desta série. Emiéle, para mim tiveste uma ideia fantástica, porque deu para tocar em tudo, ou quase tudo, o que era o nosso 24 de Abril, de um modo muito leve e até brincalhão.
Posso estar enganado, mas imagino que um jovem de 30 e poucos anos que tenha lido este «Diário» facilmente imagina o dia a dia dos seus pais. Conviviam muito, iam ao cinema e ao teatro, liam bastante, passeavam, trabalhavam muito, ganhavam pouco mas também gastavam pouco, bebiam uns copos, confraternizavam muito. Era uma vida diferente. Mais solidária porque éramos todos anti-fascistas e isso era bem mais fácil do que andar por aqui às turras entre partidos. E sonhava-se muito.
E isso foi o mais complicado. Nessa época sonhava-se com o futuro, depois durante um curto espaço de tempo parecia que afinal o 'futuro' estava já ali, e finalmente estamos a reparar que... este futuro não é nada o sonhado!

Anónimo disse...

Eu bem sei que não tenho jeito para escrever comentários!
Reli o que acabei de escrever, e sinto que ficou no ar um mal-entendido. Este 'futuro' não é o que se desejava. Muitos de nós (falo por mim) estão desapontadíssimos. Mas, atenção, não quero dizer que 'aquele passado' fosse melhor!!!! Era bom por sermos novos. Imaginar que de repente, com a idade que tenho hoje voltava para ter de trabalhar ao sábado, não ter dinheiro para as férias, lia as notícias censuradas, não via os filmes inteiros, tinha um filho em risco de morrer em África, desconfiava de quem se sentava ao meu lado no restaurante ou no emprego por poder ser um informador...
NÃO!

cereja disse...

Obrigada Mary, King, Joaninha, José Palmeiro, RS, e todos os outros que aqui foram deixando palavras tão simpáticas. Pensei que esta era uma forma de relembrar Abril, que anda tão esquecido. É claro que nem toda a gente pode sentir o mesmo de quem o viveu como nós, mas para mim é um dever transmitir a memória que ainda tenho. Bem basta quando já não existir ninguém que tenha participado nesta festa.

Anónimo disse...

Eu sou dos tais, RS. Nasci já «isto» estava assim. E talvez por não ter modo de comparar, sinto que se está a perder muita coisa. Mas ao ler o que aqui se escreveu, confirmo que se está realmente a perder muita coisa, mas coisas que vieram DEPOIS. O «voltar ao passado» como há quem queira era saltar da frigideira para o lume.
Também não alinho.