O outro lado
No sábado passado, a nossa Manga dalpaka, deixou este convite:
«Todos temos histórias para contar sobre más experiências em serviços públicos. Mas também todos temos com certeza histórias com boas experiências nos serviços públicos. Só que preferimos contar as más. Tem mais impacto, podemos fazer-nos vítimas, mostrar como sofremos e provocar a piedade nos outros. Além disso, a má-língua é património nacional. Por isso vou dar aqui início a uma corrente. Vou contar uma história boa dum serviço público (que não é onde eu trabalho) e espero que me sigam. Encham-se de coragem, mostrem que também são capazes de dizer bem de qualquer coisa, e contem as vossas!» Depois contou uma história de final feliz.
Também sei algumas, e apetece-me contá-las.
Nestas que se seguem, o elogio tem alguma ironia: Por exemplo, há vários anos estive a coordenar um projecto que me deu muito gosto fazer, até porque tive de vencer obstáculos de vária ordem levantados por gente derrotista à partida, que considera que o que saia da rotina não ‘tem pernas para andar’. Bem, aquele teve. Era uma espécie de programa de férias para crianças e no final a avaliação foi muito positiva. Mas o engraçado, foram as discussões que tive com alguns pais que queriam pagar. Eu insistia que era um serviço promovido pelo Estado, portanto grátis. Nã, nã. Impossível. Uma resposta daquelas, com tanta qualidade iam ter de a pagar mais tarde ou mais cedo. E não foi fácil convencê-los...
Outra também engraçada, vai na mesma linha de raciocínio. Trabalhei durante anos, muitos até, num Serviço que era de facto de qualidade. A resposta aos pedidos era rápida, os técnicos muito bem preparados, a orientação correcta, o acompanhamento prolongado. Era um Serviço de várias estrelas, e mais de uma vez ouvi dizerem-me com cara de espanto: «Nem acredito que esteja em Portugal. Cuidei que este tipo de atendimento só existisse lá nas Europas...»
Pela minha parte, assisti uma vez numa Repartição de Finanças (imaginem!!!) a uma cena magnífica, reveladora de paciência e calma de quem atendia. Era um cidadão chinês que só sabia algumas palavras de português. A primeira parte da conversa parecia o jogo dos disparates, porque os papeis que trazia estavam todos engatados, ele não entendia nada, nem havia maneira de vir a entender. Até que o funcionário, lhe apontou para o telemóvel e perguntou se podia ligar para alguém que falasse português. Isso ele percebeu. E durante uma meia hora, através do telemóvel foi-se fazendo a tradução! Quem estava do outro lado servia de interprete, e a coisa fez-se. Quase me apeteceu bater palmas no final!