O Diário da Ana
Terça-Feira, 23 de Abril de 1974
Bolas, tinha tanto para fazer em casa, mas estive imenso tempo ao telefone a conversar com a Jú. Aquela não tem noção do tempo! Tive de ser eu a dizer «Oh, menina, desculpa mas vou ter de desligar que não me quero deitar tarde, também.» O "também", era uma piadinha porque ela se tinha queixado de se ter deitado muito tarde na véspera…
Tinham ido ontem ver «A menina Alice e o Inspector» com a Laura Alves, no Capitólio. Aquilo está há que tempos em cartaz mas eu cá ainda não vi, não se consegue ir a tudo. Parece que é engraçado, mas acho que não faz o meu género…
Ela divertiu-se muito com a peça, que me quis contar em pormenor, (chata!!!) e realmente deve ter cenas engraçadas, muito boas para o estilo da Laura Alves. Contudo, já tenho visto a Laura Alves noutro ‘estilo’ e até aprecio mais.
Mas depois disso o grupo ainda foi tomar umas cervejas e comer umas coisitas porque estavam com fome, e ainda discutiram se iam ou não ali a um dos sítios do costume ouvir umas músicas e dançar um bocadinho, de modo que se deitou tardíssimo e hoje estava muito cansada.
A Menina Alice! Huuummm… O que eu estava cheia de vontade era arranjar dinheiro para ir ao Villaret ver a Companhia Brasileira que está cá. Só cá estão uns dias, e olhando para a carteira não vai dar que ainda falta uma semana para o fim do mês. Desses tenho pena.
9 comentários:
Xi!"A menina Alice e o inspector".O tempo que isso levou em cartaz...E querias ir ao Villaret,ver o quê? "O vison voador"?Não sei se não será mais ou menos da mesma época.Com a Io,novinha,Também o Villaret devia ter pouco tempo e já com a gerencia Solnado.Aliás sempre com a gerencia Solnado porque foi dele,mesmo.AB
Mas olha hoje sou eu que estou um bocadinho como a tua amiga.Lançamento da nova revista "Ler" que passa a ter um formato completamente diferente e passa a ser mensal a pegar com "comemoração" do Dia Mundial do Livro,que é hoje.AB
Bolas!!!!Telefonaram-me agora a dizer que morreu o Chico Martins.Em vesperas de 25 isto parece uma ironia.Bolas!AB
Pois foi, AB.
Vários blogs, por ai disseram a notícia.
Quanto ao que ia no Villaret, aqui a Ana diz que era uma Companhia de Teatro Brasileira. Talvez depois saibamos o que foi...
Sim, é verdade, morreu o Chico Martins!
Como dizes AB, uma ironia, muito grande, mesmo!
Quanto ao espectáculo, nesse dia fui ver na cidade da Beira a Companhia de Teatro de Cascais e a"Fuente Ovejuna" de Lope de Vega, com a Zita Duarte como protagonista. Uma premonição
Tem piada, não tinha ideia nenhuma de o Avillez ter ido a Africa nessa altura.A Zita é uma saudade grande e não passo sem contar uma coisa espntosa.Fui com a Céu Guerra vê-la ao Egas quando a coisa já estava muito mal e nenhuma de nós estava com coragem de ir lá sózinha.Ela veio ter connosco ao bar e esteve muito bem disposta a comer as bolachas dietéticas que achva que eram a dieta conveniente e de repente disse:"Esta coisa de se saber que o prazo é curto dá-nos outra visão das coisas.Quantas vezes estive eu com vocês em sítios divertidos e não retirei o prazer que estou a retirar agora ?Agora gozo cada minuto."Tinha-se voltado para as filosofias orientais e a calma e a capacidade de dizer isto deixou-nos sem fala.Morreria pouco depois.AB
Bem, li primeiro o post, o Diário num tom tão coloquial, tão quotidiano e vinha dizer isso mesmo, que tinha graça esta imagem de quem não adivinhava o que estava mesmo à beira de acontecer, quando dou com os vossos comentários.
Já fico sem jeito de dizer nada...
De repente há um véu que cai sobre nós. Tantos que fizeram o caminho, ou algum caminho, connosco e vão saindo da estrada.
Bolas, mas ainda cá estamos nós!!! E de saúde! (falo por mim)
Ora bem:
Realmente esta manhã quando vi as notícias vi que o Francisco Martins tinha morrido. Ainda hesitei em acrescentar mais um post aqui ao Pópulo, mas deixei ficar assim. É que, como disse agora mesmo a Joaninha, são tantos os que vão ficando pelo caminho que nalguns casos fica mesmo o silêncio. Foi o que fiz.
Quanto ao «Diário», é isso mesmo Joaninha, eu queria dar a ideia de uma vida completamente normal de uma mulher como a defini aqui no dia 1, ao explicar este «Diário da Ana»
De resto, o que ia no Vilarett era um espectáculo «sério» de uma companhia brasileira em tournée por cá.
Deixo-te um abraço, Emiéle, pelo prazer que me tens trazido ao ler estas recordações que me levam 30 anos para trás.
Éramos tão novos!!!!!
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