sexta-feira, agosto 31, 2007

Grades

Não gosto de grades. Para o dizer com todas as letras, detesto-as!
Não tenho dúvidas que isto está relacionado com um toque de claustrofobia que sempre tive. Aflige-me sentir-me fechada, detesto túneis, poços e a ideia de visitar cavernas por prazer nunca me ocorreria. OK.
Creio que no meu íntimo considero as janelas como umas portas pequeninas, umas ‘portas de recurso’. Por algum motivo de diz a frase «quando se fecha uma porta abre-se sempre uma janela», não é? E já se vê que colocar grades nas janelas para mim é tão absurdo como pô-las nas portas. Mas então a minha casa é alguma cadeia…?!
Bem, estes são os meus sentimentos. Sei perfeitamente que existe a posição oposta. Quem se sinta vulnerável, o mundo é hostil e portanto o «fechar-se» é um sensato acto de defesa. As grades nesse caso são para evitar a entrada dos malfeitores, são um abrigo. Tenho de aceitar esse sentimento mesmo que para mim seja estranho.
Mas faz-me espécie quando essa ‘defesa’, de tão forte, já se torna esteticamente feia. Aqui, na minha zona de férias, há uma ou outra casa com grades nas janelas. E, algumas delas, não as querendo para mim como expliquei, nem as acho feias, têm uma certa elegância, podem parecer um ‘enfeite’ da casa.
Contudo noutros casos, as grades são tal e qual grades de prisão, cravadas profundamente na pedra. Por ali não se entra, nem se sai, aconteça o que acontecer.
Será que quem lá vive se sente assim mais seguro?
Ficamos a pensar nos meandros da alma humana…
Gostam assim?

ou...

assim?... Huuuummm...

quinta-feira, agosto 30, 2007

Anti-zapping :D

A TVCabo tem andado há uns tempos a substituir os cartões das power-box.
Na minha TV de Lisboa já há uns tempos que efectuei essa operação de substituição, coisa facílima. E quando cheguei aqui, de férias, tinha no correio o cartão para fazer a troca nesta TV, coisa que fui adiando até ontem. Mas, esta manhã, ao ler com mais atenção as instruções que acompanhavam o novo cartão reparei que diziam que enquanto a activação dos serviços era efectuada se ficava durante alguns dias com acesso a todos os canais, excepto «canais de adultos». Ora seria um disparate não aproveitar este ‘brinde’ e se fizesse essa activação na véspera de me ir embora isso não ia servir para nada, portanto apressei-me a trocar o tal cartão.
E, realmente aparecerem montes de canais! Os de cinema – os 4 Lusomundo – os infantis, e até as 2 TVSport. Um fartote! Dezenas de canais.
Deixei o meu filho de comando na mão a explorar esta mina e fui tratar de outros assuntos.
Quando, após um grande bocado, voltei à sala ele tinha pousado o comando e estava olhando interessado para… a RTP1.
É o que dá o excesso de abundância. A gente enjoa…

quarta-feira, agosto 29, 2007

O Sindroma de Peter Pan

Tinha pensado lê-lo estas férias, mas se calhar fica para depois.
"Peter Pan e o feitiço vermelho" é a continuação do famoso Peter Pan, que não sendo exactamente um conto tradicional pois foi ‘inventado’ só há cerca de 100 anos, tem um imaginário que o associa aos velhos contos tradicionais. Esta «continuação» da história deixa-me contudo um tanto desconfiada, porque a verdade é que o ‘verdadeiro’ Peter Pan é o símbolo da criança que não cresce, e por aquilo que li, neste Feitiço Vermelho ele vai entrar no mundo adulto. Huuummm…. Vamos ver, mas à partida estou de pé atrás.
Mas o interessante é que isto da «criança que não quer crescer» é um problema importante. O mais comum é que as crianças, até (ou sobretudo) por imitação, querem crescer. Chegam a este mundo que é um mundo de adultos, onde o poder e a autoridade está nas mãos dos adultos, e é natural que se deseje atingir esse patamar. Imita-se o pai e a mãe, imita-se os irmãos mais velhos, depois os professores, depois figuras públicas que por algum motivo chamam a atenção – cantores de bandas, modelos, actores, etc. Ora se se quer «ser como eles» é porque se quer crescer…
Muitas vezes os pais não ajudam. Sabe-lhes bem ter um ser pequenino dependente de si e facilitam-lhes tanto a vida que eles acabam por sentir que não vale a pena crescer, afinal é mais fácil ser criança. Claro que nem todas as crianças ‘aceitam’ bem esse estatuto, mas há muitas que realmente se instalam nele e nunca mais o abandonam.
De tal forma que existe o «sindroma Peter Pan», que classifica exactamente o adulto que não cresce. Fisicamente sim, mas psicologicamente fica dependente de quem tome decisões, quem lhe resolva os problemas, quem seja responsável – coisa que ele não aprendeu a ser. O que me deixa a pensar é que assim como o Peter Pan era um menino e não uma menina, a sociedade e a invenção desta categoria de sindroma, refere-se aos rapazes/homens. Mas então não há também mulheres que ficam meninas, dependentes, menores toda a vida? Que ficam a viver com os pais e no dia em que eles desaparecem ficam completamente perdidas? Que quando (ou se) casam, transferem para o marido essa obrigação de decidirem por elas e servirem de intermediários entre si e a vida real?
Curiosamente, hoje em dia esse modelo feminino, que há 100 anos era quase geral, vai-se encontrando cada vez menos, e vê-se aumentar o correspondente masculino, daí o nascimento da classificação de «síndrome de Peter Pan». Decerto por culpa dos pais mas não só, encontramos muitos adultos irresponsáveis, que apreciam poder aproveitar das vantagens da sua idade mas não das suas obrigações. São os que fazem cabelos brancos às suas mulheres, até ao momento em que elas ‘se passem’ e lhes ponham as malas à porta.
Mas o Peter Pan, nesses casos pega na mala e vai bater a outra porta onde seja acarinhado. Ele sabe que as mulheres são muito maternais…




(nota - este post era para ontem, mas a verdade é que o «meu» cibercafé fecha às terças e desta vez não consegui substituição... Sorry..)

segunda-feira, agosto 27, 2007

Sorriso amarelo

Há uma personagem num dos vários CSIs com quem muita gente embirra (eu inclusivé) e a respeito do qual já em tempos o Farpas escreveu um post muito engraçado (que agora não encontro!!)
É o Horatio, do CSI-Miami. Compõe um tipo irritante, e tem uns tiques característicos: põe a cabecinha de lado quando olha para as pessoas, coloca as mãos na anca afastando o casaco mas sempre a ¾ virado para a câmara, etc. E o espantoso é que as mulheres da série gostam dele, vá lá saber-se porquê…
Um dos seus aspectos mais irritantes, porque mais repetidos, é o modo como põe e tira os óculos de sol, agarrando cuidadosamente nas duas hastes e colocando-os – ou retirando-os se estão postos… - como quem executa uma operação de delicada cirurgia. Torna-se claramente caricato.
Mas ontem, ao estragar os meus segundos (ou terceiros?..) óculos de sol da temporada, comecei a sentir que o Horatio não era assim tão ridículo, e o meu sorriso ficou um tanto ou quanto amarelo… É que eu caio no extremo oposto, costumo tirá-los pegando por uma haste só, atiro-os para o primeiro sítio à mão, coloco-os no nariz com uma mão só enquanto a outra está a fazer qualquer outra coisa, enfim, não lhes dou grande importância. [escuso de acrescentar que não são «de marca», que os «de marca» perdem-se tal e qual como os outros, também se estragam, e sobretudo custam uma pipa de massa que não acho que se justifique] Mas, mesmo custando 10 vezes menos, também não são para estragar! E este Verão já são os segundos que ‘vão à vida’ porque fico com uma haste na mão juntamente com metade da dobradiça…
Quando ontem fiquei de novo com cara de parva com a tal haste na mão, disse em voz alta, BURRA!!! e, de mim para mim, continuei a reflectir que se fosse com o meu filho ele havia de me ouvir, e chamava-lhe a atenção pela falta de cuidado. Deve ser a altura de me imaginar adolescente e chamar a atenção a mim mesma.
Como é que se faz isso…?

domingo, agosto 26, 2007

Um Caderno de Capa Castanha XII - Férias III

Férias na região saloia
«E desta vez venho contar a «terceira parte» das minhas férias. Porque as férias de Verão não acabavam logo depois do tempo de praia. Pode até ter havido algum ano onde não fôssemos à praia mas, como os meus pais consideravam que o ar do mar excitava um pouco, para se recomeçar o ano sereno, terminava-se sempre com algum tempo passado no campo.
Mas não se ia para longe. Considerando as distâncias de hoje, ficávamos até por bem perto – íamos muitas vezes para uma aldeia pequenina, perto de Torres Vedras. O meu pai tinha lá um amigo agricultor que nos cedia uma casinha, perto da herdade dele. Íamos para lá os quatro – a mãe, o pai, eu e, connosco a fazer companhia, uma prima mais crescida do que eu, já adolescente.
Era uma casa de aldeia. A água não era canalizada, tirava-se com uma bomba de um poço, não havia electricidade. Lembro-me de que à noite se acendia um velho candeeiro petromax’ que dava uma luz forte e branca mas provocava calor e fazia algum barulho.
Ali era outro ‘tipo de férias’, mas eu também gostava muito.
Como só havia aquele candeeiro bom, os serões não eram prolongados, deitávamo-nos cedo mas também acordávamos cedo. A vida era muito simples, a minha mãe nunca foi uma dona de casa exemplar, nem se preocupava nada com isso. A comida era o mais simples possível, mas os produtos maravilhosamente saborosos porque acabados de apanhar! Recordo-me de ir logo de manhãzinha, com essa prima mais velha e uma vasilha, até ao estábulo desse amigo do meu pai onde estavam a ordenhar as vacas e trazer o leite do dia acabado de ordenhar! Eu não me aproximava lá muito da vaca, era um bicho muito grande e pensava eu (menina de cidade) que a ordenha lhe doía, e estranhava que ela não parecia queixar-se…
Esse amigo fornecia a nossa casa com tudo o que era legumes e frutas numa abundância incrível. Como era produtor de fruta, essa então chegava-nos aos cabazes! Lembro-me de uns pêssegos como nunca mais vi, enormes e com um sabor maravilhoso, e íamos colher os figos directamente da figueira para a fruteira. Nesses tempos, quando se falava em fruta, era sempre fruta da época nem se concebia que se pudesse comer determinados alimentos quando a natureza não os produzia!...
As brincadeiras eram óptimas porque esse amigo tenha 4 filhos, três rapazes e uma rapariga que conheciam todos os caminhos e dávamos passeios enormes, eles, eu e a minha prima que em princípio “tomava conta” de nós.
Havia lá perto um monte com vários moinhos de vento, passeio que me fascinava, ir ver de perto as velas brancas a girar e também íamos brincar para o leito de um ribeirinho que durante o Verão secava completamente. Como tinha areia eu considerava-o a «minha praia» privativa.
Era uma vida de uma grande simplicidade mas que me enchia as medidas.
Grandes férias!»

Clara

Uma música ao Domingo

sábado, agosto 25, 2007

Ninhos

O instinto do ninho.
Chamo-lhe assim, mas acho que não existe tal. Pelo menos não existe nos manuais dos ‘psis’, mas existe na minha cabeça para classificar uma tendência tão forte que tenho que de tão forte já não considero tendência e sim instinto. E é adaptar qualquer lugar onde viva, mesmo que por pouco tempo, a mim e aos meus gostos. E quanto a chamar-lhe ‘ninho’ e não ‘toca’ por exemplo, é que sempre achei que se fosse um animal seria um pássaro – não há nada que esteja mais de acordo com a minha necessidade de liberdade do que ter asas.
Ora voltemos ao ‘ninho’ ou seja, como disse, a fortíssima tendência que me leva se passar um fim-de-semana num hotel a mudar a cadeira de sítio, pôr uma flor na jarra vazia, pendurar o meu colar no espelho, por vezes tal ‘instinto’pode ser um empecilho para mim própria. (A propósito dos arranjos que me são irresistíveis nem que seja por um simples fim-de-semana, imaginem uma vez em que tive de viver quase 10 meses num quarto de hotel!... :D )
Sou o rigoroso oposto das pessoas que mobilam e decoram a sua casa, quando terminam ela tem de estar impecável, e depois permanece assim para sempre. As «minhas casas» nunca estão acabadas. Porque estou em permanência a trazer mais uma palhinha, a deitar fora uma folha que está seca, a juntar um pouco de musgo…
Esta minha casa de férias e fins-de-semana é um exemplo. Não direi que todos os dias, mas decerto que todas as semanas ‘dou-lhe um jeito’. E fico sempre contente a pensar que «assim-ficou-melhor». Troco dois candeeiros de sítio. Arranjo mais uma almofada. Escondo uns bibelots que acho que estavam a mais. Deito fora coisas que guardava, sei lá porquê, e fico com mais espaço. E se me dá a veneta mudo mesmo a posição de alguns móveis, para ver se assim fica melhor!
Uma canseira! Mas, que querem?, a verdade é que fico consolada e a achar que esta casinha de brincar é mesmo à minha medida e não a trocava por outra.

É a minha.

À minha medida.


sexta-feira, agosto 24, 2007

Caminho fechado


O medo de se ficar fechado é a famosa claustrofobia. O medo dos espaços abertos a agarofobia. Como se chamará o «medo-de-não-ter-caminho-para-voltar-para-casa»?...

Este ano parecia que os incêndios seriam apenas uma recordação de uns anteriores anos maléficos. Já estamos na recta final de Agosto e não se tinha registado nenhum fogo de maior vulto. Afinal, em pouco tempo, o pesadelo recomeçou, três zonas do país pelo menos começaram a arder!
Durante estas férias já precisei de voltar a Lisboa por algumas vezes e tive a triste pontaria de planear para ontem, quinta-feira, mais uma dessas idas. Quando cerca do meio-dia cheguei à IC19, olhei pelo retrovisor para a zona de Sintra, vi o céu com uns rolos de fumo e pensei «Até parece um incêndio!», e segui serenamente em direcção a Lisboa. Inconscientemente, considerei que eram umas nuvens esquisitas, mas isso de incêndios eram coisas distantes, de outros sítios… Já a meio da tarde, depois de ter tratado do que ia fazer, no regresso passo pela zona do Estoril por casa de uma amiga com quem tinha combinado ir jantar e oiço «Ah! O A. (o seu marido) tinha dito que de certeza não vinhas por causa do incêndio!» «Incêndio?! Qual incêndio?» «Então...Não sabes de nada?»
E não sabia mesmo!
A zona de acesso à minha casa estava bloqueada… e eu na lua. Foi só nessa altura que me assustei. O que é que vou fazer? Voltar para Lisboa a esta hora? Esperar que seja seguro passar? Escolher um caminho alternativo? Senti-me em pânico. Não que imaginasse que a minha casa corresse perigo, mas o imaginar que ela estava isolada e eu sem acesso assustou-me parvamente.
Claro que afinal tudo se recompôs, o caminho alternativo que me tinham dito estar também bloqueado estava livre, e pude dormir descansada na minha cama. Mas fiquei a pensar no meu momento de pânico ao imaginar que não podia regressar. É que quanto à velha claustrofobia, essa eu sei que tenho um pouco, mas esta fobia nova é motivo de reflexão.
Nunca devo dizer «desta água não beberei» que tudo pode acontecer!

quinta-feira, agosto 23, 2007

Mealheiros

Numa loja a que já aqui me tenho referido muitas vezes - e vou continuar a falar dela que é um dos meus passeios habituais quando estou de fim-de-semana ou de férias não só porque tem coisas muito apelativas como, sobretudo, porque a dona é de uma grande simpatia - vi ontem uma colecção de mealheiros. Lá também costuma haver dos mais vulgares e tradicionais, os potezinho de barro com uma ranhura para meter as moedas e se partem para retirar o ‘recheio’, mas desta vez tratava-se de uns mais perduráveis. Também de loiça mas com o feitio de ursos ou coelhos ou outros animais, e não é preciso partir porque se retira o dinheiro pela base onde há uma tampinha.
Coisa atraente.
Ora o ter visto essa espécie de brinquedo, chamou-se a atenção para o facto de ser um objecto que se usa muitíssimo menos do que quando eu era criança. É que vem completamente contra a corrente do «agora e já» que se vive na actualidade.
A noção de mealheiro é a de se deve juntar primeiro dinheiro para, ao fim de algum tempo, se conseguir comprar algo que se deseja. É exactamente o oposto à filosofia actual (nem falo nas crianças, que essas querem logo as coisas e nem se lhes explica que aquilo que se lhes está a dar representa trabalho) que é a oposta, é «tenha agora e pague depois». Quase toda a gente, e bem estimulada pela publicidade, quando não tem dinheiro para o que quer, pede um crédito e paga à posteriori. Quem o não faz é considerado um tanto ‘esquisito’…
E contudo ensinar uma criança a usar um mealheiro é um bom método para aprender a dominar a frustração. Ela vai aprender que os pais não lhe recusam aquilo que ele deseja, simplesmente para obter isso vai ter de … esperar. Irá juntando, moeda a moeda até chegar à quantia suficiente para pagar aquilo que quer.
É uma excelente lição, de paciência e do valor/preço das coisas.

quarta-feira, agosto 22, 2007

Os caminhos da cultura

Como já aqui disse estou de férias numa aldeia pequenina com meia dúzia de habitantes permanentes. Tem uma única loja.
Fica a poucos quilómetros de uma outra mais importante, que já tem mais comércio, tem bombeiros, e até um cemitério junto da igreja. Mas mesmo esta, se é um pouco mais importante e aí já param as camionetas – o que não acontece na ‘minha’ – é ainda muito pequena, terra onde quase todos se conhecem e as casas mais altas têm primeiro andar… O interessante, é que esta terrazinha que nem sei se vem no mapa, tem um belo edifício, o Cine-Theatro, e lemos na fachada a data da construção – 1887. Vendo por alto, há mais de 100 anos aquela gente, que não acredito fosse muito rica, considerou que se justificava construir um bom edifício para receber os actores que em tournée parassem por ali, e quando o animatógrafo ficou mais popular deviam fazer ali umas concorridas sessões de cinema.
Mas há mais. Mesmo a ‘minha aldeia’, esta tal que só tem uma loja, um chafariz e uma cabine telefónica, para além de uma capela e um largo com coreto (o que pressupõe que de vez em quando tocaria ali uma banda), também ela tem, num edifício próprio, uma Sociedade Recreativa chamada «Tuna Euterpe União do ****» com a correspondente lira por baixo do nome, e ficamos a saber que foi criada em 1925 pela placa que lá está.
Não dá que pensar?
O que é isso de cultura?
O meu jovem vizinho da casa ao lado, que tem 100 canais na sua televisão por cabo, pensa que Euterpe é o nome da sócia fundadora desta Sociedade Recreativa.

terça-feira, agosto 21, 2007

Filosofices


Vi hoje cerejas à venda.
Na loja onde me abasteço de quase tudo, entre muitos caixotes de fruta, estava um, destacado, cheio de cerejas. Um letreiro dizia-nos o preço: 8 € e 98. Como eu, quase dez anos depois da entrada do euro, ainda reconverto os preços, pensei: um conto e oitocentos o quilo!
Lembrei-me de uma piada muito antiga, sobre uma senhora que tinha visto umas belas laranjas numa frutaria na Baixa, pediu que lhe pesassem uns 100$00 delas, e o empregado respondeu-lhe, atencioso: «Desculpe, minha senhora, mas não vendemos aos gomos». Transpondo para hoje, se ela pedisse 50 cêntimos levava uma cereja, e se lhe tirasse o pé e o caroço, de material comestível não ficava quase nada…
A verdade é que antigamente também ninguém se lembrava de querer cerejas em finais de Agosto, cada fruto tinha a sua época e isso parecia normal!
É curioso como aumentando o leque de ofertas aumentam também as possibilidades de frustração. Num certo aspecto a vida hoje é bem melhor do que há umas dezenas de anos - temos mais conforto, vivemos mais anos, viajamos mais, temos muitos conhecimentos, comunicamos instantaneamente com o mundo todo, os costumes são mais livres.
Por outro lado, ficamos frustrados com a impossibilidade de ter acesso a bens com que nem se sonhava nessa época
É o progresso, é o que é!

segunda-feira, agosto 20, 2007

O movimento

Vi já há muito tempo uma notícia, e nem sei bem porque a guardei. Ou, por outra, sei. Porque vinha ao encontro de uma opinião que eu já tinha, e reforçava-a.
Dizia essa informação que de acordo com uns estudos (os estudos são óptimos, dão para muitas coisas!) ficar-se
na posição de sentado é anti-natural. Ou melhor o que é anti-natural é permanecer sentado durante muitas horas. Quem se senta a uma secretária horas a fio acaba com problemas de coluna - ainda o ‘menos mau’, dizem eles, é sentar-se inclinado para trás a 130º, mas gostaria de ver a cara do nosso chefe se nos encontrasse instalados nessa posição de descontracção!
Portanto, se todos os excessos são maus, o excesso de sedentarismo é mesmo muito mau!
Ora uma das coisas agradáveis das férias é que, apesar de ter algumas rotinas que isso é inevitável, todos os dias são diferentes e não estou muito tempo a fazer a mesma coisa. Há quem pense que eu tenho ‘bicho carpinteiro’ e talvez assim seja. Detesto ficar muito tempo, quietinha, na mesma posição. Grr!... Canervos!!!
Bom, reconheço que com um livro na mão, me esqueço do tempo…
Certo. Mas aí já posso estar «sentada inclinada a 130º», não é?

domingo, agosto 19, 2007

Um Caderno de Capa Castanha XI - Férias II - A praia

Mas então, quando era pequenina não havia o costume de ir à praia?!...
«Deixa-me ver se me consigo explicar bem, Clara. A praia…. Bem, íamos «a banhos», sim, mas na costa oeste, não se tinha ainda 'descoberto o Algarve'.
Digo que se ia a banhos, não só por ser a expressão usada como também porque corresponde melhor à ideia que se tinha então de «ir para a praia». Interessava sobretudo respirar o ar do mar, com o iodo das algas, e tomar os banhos de água salgada porque fazia bem à saúde. Mas não havia o costume de tomar
banho de sol sobretudo adultos. Tenho a recordação dos meus pais e os seus amigos na praia, junto das barracas que se alugavam à época e juntas às dos amigos, mas vestidos normalmente ( e recordo algumas zangas quando eu me queria despir e ir à água!)
As praias mais frequentadas por quem vivia não só no centro do país mas também em Lisboa, para além da Figueira da Foz, era a ‘trindade’: São Martinho, Nazaré, S. Pedro de Moel.Tudo praias de ondas grandes e …água fria, para os gostos actuais. As famílias mais abastadas conseguiam ter uma segunda residência por aí, mas os meus pais alugavam uma casinha à época, por vezes a meias com outra família amiga. Ia-se à praia de manhã e, se a manhã estava muito enevoada o que naqueles locais é vulgar, tinha-se de ocupar o tempo. Lembro-me, por exemplo, de assistir mesmo na praia a espectáculos de fantoches, uma grande festa!
De tarde já era raro ir-se à praia. Almoçava-se em casa, e era um almoço completo, portanto tinha de se fazer a digestão e as crianças deviam dormir a sesta, pelo que a tarde era aproveitada para passeios. Andava-se muito a pé e, quando já éramos mais crescidos, de bicicleta porque eram zonas planas que permitiam andar a ‘pedalar’ em grupo.
São também boas recordações!»
Clara


Uma música ao Domingo

Hoje apetece-me mudar um pouco.
Continuo a deixar aqui músicas bem antigas, é claro, mas esta pertence a «outra colheita».
Mas é uma cantiga tão bem disposta que é o que me apetece cantarolar hoje.
Cá vai

Chamava-se Nini


sábado, agosto 18, 2007

O carro


Ontem ou anteontem, uma leitora aqui do Pópulo que mora nos Países Baixos, referiu num comentário o seu habitual giro de bicicleta. Quem costuma viajar sabe que em países bem mais ricos que Portugal, muita gente se desloca de bicicleta quando não quer andar de transporte público. Ainda ontem a mulher de um velho amigo contou que quando ele esteve, há anos, a fazer o doutoramento em Inglaterra alugou uma bicicleta porque não esteve para comprar uma.
Mas nós não. Entre nós, cada vez mais, a posse de um automóvel é considerado quase como uma banalidade, aquilo que «todos têm» e quase se estranha encontrar alguém que «ainda» não tem carro.
Como sabem estou a passar férias numa aldeia. Os seus habitantes estão longe de viverem na abundância mas, tanto quanto vejo, todos têm um automóvel. Estão guardados, não andam neles no seu dia a dia, só os vejo debaixo das capas protectoras que de vez em quando são retiradas para puxar o brilho à pintura ou aspirar os estofos, mas lá que existem posso testemunhar.
Mas o mais interessante é o senhor do café.
É que isto tem 3 lojas: um(a) restaurante tasca, uma mercearia e um café. O café tem algumas pretensões - televisão tipo plasma, tem jornais para os clientes lerem (jornais desportivos e Correio da Manhã, tanto quanto vi), e uma decoração ‘rústica’. Mas é simpático e o seu dono, a quem tratamos pelo nome, ainda mais. É um rapaz jovem, ou pelo menos assim parece. E mora cá.
Ora de manhã, ele chega para abrir o estabelecimento, ao volante da sua viatura! Mora na rua debaixo. Deve demorar mais tempo a entrar no carro, ajustar o cinto, ligar o motor, dar a volta à rua, estacionar, tirar a chave, fechar a porta do carro, do que o que lhe levaria a atravessar aquelas duas ruas.
Mas o estatuto?
Então não é o dono do café? E ia a pé? Onde é que já se viu!?


sexta-feira, agosto 17, 2007

Conceitos infantis

É tão interessante ver como as crianças vêm o Mundo.
Andei para aqui a fazer arrumações, e dei com uns papeis que me fizeram sorrir.
Aqui há uns anos pediram-me para fazer uma palestra para educadores sobre segurança infantil. Considerei que o mais correcto seria ir à origem e saber o que é que as próprias crianças pensavam sobre o que era a Segurança. Assim, reuni um grupinho de especialistas na matéria dos cinco aos sete anos e, de gravador em punho, recolhi as suas opiniões sobre o assunto.
Algumas das respostas:
«No carro usar o cinto, não fazer maldades» – 6 anos
«É proteger a gente… as pessoas
, de alguma coisa má». – 5 anos
«É estar seguro…confiante. É não ter medo» - 6 anos
«A nossa segurança é o nosso conforto… o conforto dos outros!» – 6 anos
«Não devemos beber vinho quando vamos guiar» - 7 anos
«Não se deve mexer nas ferramentas do pai; assim leva-se com o martelo no dedo, não é seguro» - 6 anos
«É por o tapete na banheira para não escorregar e partir uma perna!» - 6 anos
Mas para mim o prémio devia ir para o menino que me explicou:
«É ficar de guarda quando…por exemplo, na polícia ver o ladrão vir, no hospital para nenhum doente fugir… é o que eu penso» – 6 anos
É que realmente de alguns hospitais imaginamos bem os doentes a fugirem
!


quinta-feira, agosto 16, 2007

O nosso passado

Falei há dias de um livro excelente. Para além do interesse que ele tem em si próprio, tem um valor extra que é o vir despoletar as nossas lembranças. À medida que o ia lendo ia sentindo vontade de voltar a rever os documentos que me podiam ajudar a fazer uma viagem semelhante à do Yambo.
É certo que nesta casa onde passo as férias não tenho tudo, mas ainda trouxe para cá muita coisa. Fotos, por exemplo. Fotografias, é coisa que tenho por todo o lado de um modo um tanto ou quanto desmedido… Em Lisboa, elas depois de encherem álbuns começaram a encher gavetas, mas por aqui ainda cabem numa caixa. Mesmo assim são muitas e reveladoras, cada uma é um pedacinho de vida, uma recordação cristalizada. Passei uma tarde inteira só com as memórias que cabiam numa caixa cheia de fotos. Pretexto bom para contar histórias ao meu filho e passar o testemunho.
Mas o Yambo da Rainha Loana falava também das revistas infantis da sua época. Como todos nós também tive as minhas mas, diferentemente dele, não tive o exemplo de um avô coleccionador nem uma casa de campo, como a que ele descreve, onde pudesse guardar as revistas. Portanto, aquilo que fiz, é um crime visto com os olhos de hoje, de adulta, mas a solução óbvia para quem tinha 10 anos - recortei cuidadosamente as histórias que achava mais interessantes e colei-as com cola branca nas páginas de um caderno. Tenho portanto pedacinhos ao acaso escolhidos, dos jornais infantis que se publicavam na minha infância ou na dos meus pais.
Sim, porque a minha mãe que também tinha guardado algumas revistas infantis da sua própria infância, não se opôs a que eu as recortasse para fazer o meu álbum das melhores histórias!
Dizer o que sinto agora ao olhar para aqueles jornaizinhos retalhados não cabe no espaço de um post!

Magia e tecnologia



Ainda ontem escrevi sobre o Harry Potter e hoje já volto à magia!
É que fico sempre pasmada quando vejo um acto de magia mas não acharia graça que o Luís de Matos ou o David Copperfield viessem no final da actuação explicar como é que tinham feito. A Magia é mesmo para nos deixar de boca aberta pensando que é uma coisa do outro mundo.
Ontem vi uma «magia» tecnológica. Ainda comecei a querer adivinhar como é que aquilo era feito, mas depois pensei: «Quero lá saber! O giro é imaginar-se que é a sério!». Possivelmente já muita gente conhece, mas eu só vi ontem, levada pelo meu filho, sportinguista ferrenho, uma publicidade engenhosa.
Está
por aqui :
Se experimentarem abrir o link vão ver ‘o balneário’ e o treinador do Sporting como que à espera de alguma coisa. Previamente tinha-me sido pedido o nome e o número do telefone. A cena que se vê, mostra o ‘roupeiro’ aproximar-se do Paulo Bento e mostrar-lhe um bloco de apontamentos onde está o nosso nome escrito. Já isso é «magia». Mas o máximo é que o Paulo Bento liga o telemóvel e o nosso telemóvel toca!!! Depois é só ouvir o que ele nos tem para dizer e que é, basicamente, «vem para o Estádio, o jogo vai começar, estamos à tua espera, traz a camisola».
O truque deve ser fácil, as tais interacções tecnológicas, mas eu não quero saber!
Quero continuar a pensar que é magia..

quarta-feira, agosto 15, 2007

O Dia do Meio

O «quinze de Agosto» é feriado.
Um feriado que dá tanto jeito que até nos deixa a pensar se as pessoas ajeitam as férias de acordo com o feriado ou se este foi criado para as pessoas poderem organizar melhor o seu mês de férias…
A verdade é que meio Portugal anda hoje na estrada, para cima ou para baixo, para o interior ou para o litoral. Que movimento!!!
Há os que terminam as férias e regressam a casa, os que começam hoje e vão a caminho, os que acabam «uma parte» das férias mas vão para outro local gozar os dias que lhes faltam, etc. E há quem, como no meu caso, se sinta mais ou menos a meio e o dia sirva para fazer ‘balanço’ [do tipo «como é que tem corrido? o que me falta fazer? terei tempo ainda para…? oxalá o tempo não mude para pior!» ]
Aqui no meu canto o dia está de chuva.
Chuva miudinha, molha o chão mas não nos encharca se por acaso andarmos sem chapéu – borrifa-nos… Contudo não sabe mal. Tal como as plantas do meu quintalzinho, estes borrifos dão para sossegar e sobretudo, como sei que ainda tenho mais descanso pela frente, é uma espécie de ‘separador’, um dia de pausa onde até é bom ficar por casa.
Aaaaah….


Cinema para Crianças

Em Agosto, pelo menos fora de Lisboa, a programação dos cinemas parece toda feita a pensar nos mais miúdo. Aí uns dois terços dos filmes em cartaz ou são de cinema de animação, ou trata de temas que interessam a miudagem. Nada contra, é natural.
Mas seria bom que os pais, se informassem antes, exactamente não apenas do que trata o filme mas também como é que o tema é abordado.
Ontem fomos ver o último filme do Harry Potter.
Tinha-o 'guardado' para as férias, porque na altura em que foi estreado pensei que seria exactamente um belo filme para Agosto. E é. É engraçado reparar como os actores vão crescendo exactamente de acordo com os papeis – foi uma ideia interessante usar sempre os mesmos actores que vão acompanhando no tempo real o passar do tempo daquela história.
Bom, mas o que me fez impressão foi reparar que a sala estava cheia de crianças que pareciam ter pouco mais de 10 anos, apesar de ser recomendado para maiores de 12. Eu, que conhecia o livro base do filme, considerava-o bastante assustador (aliás a história tem ido aumentando de intensidade ao longo de cada volume) e receei que meninos ainda tão jovenzinhos se impressionassem com algumas imagens.
Por acaso até acho que o realizador não tirou tanto partido das imagens assustadoras como podia ter feito mas, fosse como fosse, aquilo podia meter medo. E o certo é que quando as luzes se acenderam no final, vi muitas carinhas bem mais pálidas do que à entrada.
Acredito que muitos daqueles meninos tivessem insistido com os pais para os levarem ao cinema, mas não teria sido mais sensato que desta vez esses pais não lhes tivessem feito a vontade?


terça-feira, agosto 14, 2007

As cores e os preconceitos


Mesmo que pensemos que fugimos aos preconceitos, acabamos por nos submeter a eles. Claro que, quando falo em ‘preconceito’ penso em mim, mas estou convencida de que não sou caso único. A roupa que vestimos e as cores que escolhemos têm um significado. Aprendemos que «vestir bem» é saber coordenar cores de um modo harmonioso, embora a moda, que está sempre a variar, já ensine que muitas vezes cores consideradas incompatíveis afinal ligam lindamente…!
No outro dia (ainda antes de férias, é claro) ia de metro a ler uma revista e quando levanto os olhos reparo que à minha frente se tinha sentado uma senhora. Não quis olhar fixamente, que a boa educação não o aconselha, mas era impossível não reparar nela. Vestia de uma só cor, facto que será natural. Se vestisse toda de preto, pelo tal simbolismo conhecido, eu pensaria que estaria de luto, ou se estivesse toda de branco podia imaginar que ia jogar ténis, ou … casar. Mas não senhora! Ela vestia completamente de cor-de-laranja.
Quando digo «completamente», quero dizer da cabeça aos pés. Levava umas calças laranja, e uma túnica exactamente do mesmo tom. Normal. Os sapatos também eram cor-de-laranja e a carteira igual. Já era um tanto excessivo. Mas quando reparei que o colar era cor-de-laranja, os brincos cor-de-laranja, as pulseiras cor-de-laranja, e até os aros dos óculos de sol eram cor-de-laranja, tive mesmo de fixar o olhar para confirmar que não me tinha enganado. Ali não se via um fiozinho de outra cor, só laranja fosforescente. .
Era impressionante! Fazia lembrar uma figura de banda desenhada, se por azar o desenhador tivesse acabado com todas as outras cores e sobrado apenas o laranja…
Contudo, reconheço que estava com preconceito! Se ela se vestisse de azul (mas em diversos tons, atenção! o que não era o caso) se calhar não me tinha chocado tanto. Era o tom berrante, e o ser tudo exactamente no mesmo tom que me dava a ideia de ela ter saído directamente dos Simpsons!

Um romance mágico



Nestas férias, metido no pacote de livros que, como contei, tinha andado a guardar para ler nesta altura em que tenho todo o tempo, veio mais um, emprestado por uma amiga. Não o tinha lido na altura em que saiu - nem sei bem como me escapou - e essa amiga, ao falarmos dos posts do «Caderno de Capa Castanha» fez uma referência a este romance de Umberto Eco e, como mostrei não o conhecer, emprestou-mo.
Estou deliciada.
É a história de um homem que após um AVC perdeu parte da memória. Recorda na perfeição tudo o que aprendeu, tudo o que é impessoal, mas perdeu a memória ‘autobiográfica’, esqueceu tudo o que se passou consigo, a sua vida. E portanto tenta recuperá-la, como uma «memória de papel», voltando à casa da sua infância e relendo os livros e revistas ou ouvindo as músicas dos anos 40.
É tão forte e tão bem contado que, comecei por pensar que não se justificava continuar com a minha série do «Era uma vez…». Está aqui tudo, mais ou menos da mesma época e narrado de um modo como um escritor o sabe fazer! Depois pensei melhor e vi que era disparate. Estas minhas entrevistas despretensiosas inserem-se num formato completamente diferente e, se a época é quase a mesma, o país é distinto e naturalmente que as memórias também o são. O ‘pano de fundo’ é que é igual.
Mas o certo é que o romance é apaixonante, até porque para além do texto que já é espantoso, está ilustrado com dezenas de gravuras de revistas, capas de livros, de discos, banda desenhada, pacotes de cigarros, todo um reforço gráfico àquilo que se lê que torna o romance uma viagem no tempo completamente apaixonante.
E as descrições! «Na época um rádio devia ser caro, e certamente só tinha entrado lá em casa a determinada altura, como símbolo de status» [….] «O quadro luminoso com o nome das estações, amarelos para as ondas médias, vermelho para as ondas curtas, verdes para as ondas longas, nomes sobre os quais devo ter insistido bastante, deslocando o ponteiro móvel e tentando ouvir sons pouco habituais de cidades mágicas como Estugarda, Hilversum, Riga, Tallin».
Ainda o não terminei, e possivelmente estão a sorrir do meu entusiasmo porque já o leram há muito tempo, mas se não o fizeram, não esperem muito mais.
«A Misteriosa Chama da Rainha Loana» é um romance que não se pode perder! Um passado próximo trazido à nossa beira.» é um romance que não se pode perder!


Um passado próximo trazido à nossa beira.


segunda-feira, agosto 13, 2007

A Feira

Fui ontem à Feira de S. Pedro de Sintra.
Há já anos que lá não ia e pensei que seria um bom passeio para um Domingo de Agosto, quando toda a gente se precipita para a praia.
Realmente não foi má ideia porque, tal como pensava, havia relativamente pouca gente, podia passear-se à vontade. Mas estranhei, antigamente esta era uma Feira conhecida sobretudo por ter antiguidades ou vá lá, velharias, pelo menos era o que tinha na memória. Ora, ou era da minha vista, ou essas ‘velharias’ estavam reduzidas a duas simples bancas meio escondidas, em frente das capoeiras dos frangos, coelhos e outra bicharada. Então…? Que coisa estranha...
A Feira de Sintra afinal está igual à Feira de Carcavelos – teeshirts, saias, calças, bijouterie, roupas de casa, relógios, óculos, malas, sapatos, e bancadas com produtos alimentares. Ah, também tem plantas. Ora esta!?! A sua ‘especialidade’ foi-se.
Mas uma coisa notei, (se calhar em Carcavelos também é assim) é que é tudo a cinco euros. Assim como há as Lojas dos Trezentos, há também as Feiras dos Cinco Euros. Era tudo, a cinco euros!!! As teeshirts, cinco euros. As saias, cinco euros. Os relógios, cinco euros. Bijouterie ou era a cinco euros, ou duas a cinco euros. Os fatos de banhos, cinco euros. Peúgas, três a cinco euros. Queijinhos, seis a cinco euros.
Já quase nem se precisava de perguntar.
Inclusivamente almoçámos numa tasca e foi cinco euros cada almoço!

domingo, agosto 12, 2007

Um Caderno de Capa Castanha X - Férias I

«Comecei por te contar primeiro, Clarinha, como era a viagem para a terra do meu pai.
Uma vez lá chegada, depois daquela longa viagem, vinha a realização da justa expectativa. Um contaste completo com a minha vida diária em Lisboa.
Por um lado uma liberdade enorme, a aldeia, pequena, parecia-me constituída apenas por familiares. E não me enganava assim muito, porque para além da família ser grande – sobretudo se contássemos com a família muito alargada, os primos dos primos dos primos – éramos também quase todos parentes pelos laços dos baptismos, todos eram padrinhos e madrinhas, e assim compadres uns dos outros. Eu sabia que era conhecida por toda a gente e, com essa confiança, podia andar à vontade por todo o lado que nem me perdia nem me acontecia mal nenhum.
Mas, por outro lado, notava a falta de alguns confortos, rotineiros em Lisboa e desconhecidos lá. Como não havia água canalizada nem electricidade isso implicava toda uma rotina diferente, e a higiene tornada mais complicada sem a casa-de-banho – lavava-me ‘por partes’ e o banho, numa grande celha, apenas duas vezes por semana. Deitava-me ainda mais cedo, porque os serões à luz dos candeeiros de petróleo eram curtos, dormindo num quarto, vulgar lá mas estranho para mim: a cama e mesa-de-cabeceira ficavam numa ‘alcova’, um quarto interior que comunicava com outro, ‘quarto-de-vestir’, esse com janela onde ficavam cómoda, guarda-fatos, lavatório, enfim a mobília de um quarto. Era esse o costume.
Uma das memórias que guardo era poder ver o amassar do pão. Era ainda de noite quando uma prima já crescida deitava num grande alguidar de barro farinha, água e sal e começava a amassar. Recordo os murros que ia dando naquela massa que tomava consistência perante os meus olhos arregalados. Juntava-lhe uma outra massa que era o fermento, e depois tapava com um pano deixando levedar. E como aquilo crescia!... Quando, tempo depois se destapava, o alguidar estava cheio. Ela moldava então uns pães que colocava numa pá de madeira pondo um a um no forno – um buraco misterioso aos meus olhos. O cheirinho bom, o sabor ainda melhor, é das recordações maravilhosas que guardo desses tempos.
E os passeios com os primos, quer a pé, quer de burro. Pobre burro que pacientemente aceitava as tropelias que lhe fazíamos! Íamos até às vinhas, onde comíamos uvas cheias de pó mas que sabiam tão bem!... Nas propriedades da minha tia-avó havia vinhas e fazia-se vinho. Também me lembro muito bem, (decerto noutro mês, mas hoje tudo se confunde…) de uns homens a pisarem as uvas nuns lagares, e o cheiro forte que por ali havia.
É curioso, Clara, como a infância estava cheia de cheiros… Então na aldeia os cheiros eram intensos: da fruta, do estrume, do mosto, do pão, da madeira velha, dos animais, - a capoeira, a coelheira, a cavalariça - e o cheiro a terra, ou até o cheiro de humidade que subia do poço de onde se tirava a água.
E os sons. Ouvia muito mais sons do que em Lisboa. Não sons mecânicos, porque ainda não se tinham ‘inventado’ os electrodomésticos, nem havia por lá automóveis, mas toda a bicharada ‘falava’. Ouvia grilos e cigarras, ouvia ovelhas e cavalos, ouvia passarinhos, ouvia as carroças na estrada, ouvia a corrente da roldana a puxar o balde com água do poço.
E, se não se usava rádio, cantava-se muito. Parecia-me que toda a gente cantava bem! As ‘modas’ que se cantavam em coro, a várias vozes, espontaneamente, eram uma constante ao final da tarde.


Como era lindo este Alentejo que eu recordo! »

Clara

Uma música ao Domingo

Hoje é uma visita ao passado.
Para o meu prazer... :D


sábado, agosto 11, 2007

A Melancia



Ponto prévio: eu gosto de melancia.

Posto isto, vamos lá: a melancia tem a mania!!! (rima e é verdade) Há para aí um anúncio de um iogurte que nos diz que ele imagina que é um sumo, no caso da melancia parece-me que se trata de um sumo que imagina que é fruta. E nós vamos nas cantigas dela…
A melancia é muito linda. Um verde-escuro por fora, um vermelho vivo por dentro, e pintinhas pretas para enfeitar. Os nossos olhos ficam logo deliciados só de olhar para ela.
«Ah! Que bela fruta deve ser!» pensamos nós, antes de a comer.
Depois dá-se uma dentada, e é como se se estivesse a comer o «algodão-doce» da Feira Popular, não dá para mastigar, dissolve-se tudo na boca.
«Ora esta?!? Mas para onde é que foi aquela grande quantidade de vermelho, tantas sementinhas, tanto colorido…?...»
Desapareceu em duas dentadas.
Bluff!

sexta-feira, agosto 10, 2007

Bem feito!

(«Bem feito» é o que estou a pensar...)

Usamos muitas expressões para a mesma ideia - «querer sol na eira e água no nabal», «pretender a quadratura do círculo», ……etc. Ou seja, queremos, muito humana e naturalmente, aproveitar o melhor de uma situação sem aceitar os inconvenientes.
Ora desde que se vulgarizaram os frigoríficos, a grande maçada que era a necessidade de se fazerem compras diariamente desapareceu. Os produtos que se pretendem consumir, aguentam em boas condições bastante tempo e uma pessoa pode fazer um monte de compras de uma vez, e só voltar a pensar nisso vários dias depois. Ufff… Bem basta ter tanta outra coisa em que se pensar.
Há pouco tempo, de visita a uma amiga, assisti à «operação-limpeza-de-frigorífico» e fiquei admiradíssima da quantidade de produtos que ela e a filha lá encontraram e foram para o lixo por estarem já fora do prazo. Fiquei educadamente calada, mas de mim para mim ia pensando «parece impossível; como é que se comprou tanta coisa a mais?!; comigo isto nunca acontece»
É que este é um ponto onde costumo ter cuidado. Nunca comprar nada cujo fim do prazo esteja perto e, na altura da compra, fazer umas contas de cabeça considerando dentro de quanto tempo irei consumir aquilo que estou a comprar. Muito correcto, não é?
Claro que nisto não entra o factor férias. Por um lado, nas férias, mais ainda do que durante o 'tempo normal', evitamos andar sempre de cesto de compras na mão; tirando frutas e legumes, o resto, sobretudo desde que se usam as embalagens a vácuo que ainda aumentam mais o tempo em que o produto permanece bom, compra-se de vez em quando e já chega. Mas, por outro, não há cá calendários!
E, esta noite arrependi-me do que pensei da minha amiga. Depois de ter acordado às 3 da manhã cheia de cólicas, daquelas em que se deseja um bom vómito que nos alivie, ter feito um chazinho quando confirmei a inexistência de ‘sais de frutos’ (é sempre assim quando se precisa deles) recapitulei o que raio é que me teria feito mal..?!
Fui-me ao frigorífico e lá estava: um conjunto de queijinhos frescos cujo prazo – em letras pequeninas – tinha acabado na véspera.
O quê? Já estamos a 9????

quinta-feira, agosto 09, 2007

A praia perfeita

Tive ontem o meu primeiro dia de praia «a sério». Claro que este ano já tinha ‘passado-pela-praia’, mas isso não conta, ir à praia é todo um ritual que se deve cumprir e sobretudo é «ir à nossa praia».
Porque, como já aqui tenho dito, eu TENHO UMA PRAIA.
OK, já sei, não será minha no sentido de posse absoluta, mas é minha porque a adoptei, pronto! Aliás em tempos pertencia um grupinho que, adorando esta praia, tínhamos um segredo: fora do grupo devíamos dizer o pior possível dela para ninguém a procurar, e ser só nossa!
Bem, mas como estava a contar, ontem foi o primeiro dia em que estando em férias, esperei pela hora certa, arrumei o saco de praia, escolhi o livro de bolso próprio para ler lá, enfiei um chapéu na cabeça, confirmei se tinha o guarda-sol no porta-bagagens e … fui à praia.
Estava desconfiada. Já sei «o que a casa gasta» e quando o tempo está bom cá no alto, lá na praia costuma estar uma neblina londrina…É sistemático! Ou então, se o tempo está mesmo bom, é a fila de carros estacionados que se estende por quilómetros, forçando-nos a descer a pé e, sobretudo, na volta a subir a pé!
Mas, não senhora. Estava bom tempo, não estava vento, e conseguia-se estacionar bem (devem ter ido todos para o Algarve, tá visto!) E, como fui já um pouco depois das 4, - a tal hora certa - a temperatura do ar estava uma maravilha, de uma suavidade espantosa.
Mas o que mais me encantou foi a limpeza da areia. Já nos outros anos a existência dos «ecopontos de praia» tinham ajudado a que se encontrasse muito menos embalagens vazias, jornais a voar, cascas de fruta, aquelas ‘gracinhas’ que se encontram na areia quando estendemos a toalha. Mas desta vez, mesmo ao final do dia a praia parecia acabadinha de aspirar por uma dona de casa eficiente. Só areia. Branquinha.
Ao longo do passeio que dei, encontrei UMA beata de cigarro. Juro. Os tais ‘cinzeiros de praia’, aqueles cones que se espetam na areia, funcionam mesmo.
De resto, nem meninos a atirar com bolas, nem cães s salpicar-nos, nem música alta (benditos mp3 com phones) … o paraíso.
Bem, como o tal anúncio, perfeita, perfeita não foi, mas foi quase perfeita – é que exagerei o tempo para um primeiro dia, e hoje estou que nem posso!

quarta-feira, agosto 08, 2007

Putos !

Cena observada ontem:
A cena passa-se numa loja muito simpática que eu costumo visitar com frequência, nem sempre com ideia de comprar nada mas sim porque a dona é extremamente amável e nos faz sentir bem, onde entrou uma senhora jovem e o seu rebento.
A mãe dirigiu-se para uma secção onde haviam atoalhados e peças bordadas e o filho ficou mais junto da porta onde se expunham umas peças decorativas de madeira trabalhada. Atraiu-lhe a atenção um cavalo de madeira, o que era natural, porque representava um cavalo em posição de caminhar, talvez o «cavalo branco de D. José» mas aí com um metro de altura.
Olhando com ar entendido para a dona da loja quis saber «Quanto custa?» Como ‘aquilo’ era cliente aí de uns 4 anos a resposta veio muito risonha. «Cento e cinquenta euros». O ‘comprador’, mãos atrás das costas, atira-lhe com ar entendido «Ah!? É caríssimo!» frase que nos deu a todos vontade de rir, aquele tipo de superlativo vindo lá quase rente ao chão, era inesperado.
Mesmo assim ele decidiu experimentar a mercadoria, e ala para cima do cavalo que, como expliquei, era apenas decorativo, não pretendia ser um brinquedo – a loja, aliás, tinha uma zona para crianças com brinquedos muito atraentes. O cavalinho aguentou como um valente, mas quando o cavaleiro o começou a abanar e a fazer oscilar perante a completa indiferença da mãe, dona da loja, receosa, explicou-lhe meigamente e com voz doce: «Olha, é melhor não fazeres isso, esse cavalo não é de brincar e pode partir-se».
O cavaleiro desmonta, levanta o olhar para ela e, alçando o sobrolho, declara definitivo:
«Pois é! Por esse mau feitio é que ainda o não vendeste!!!»

(Esta história vai para a categoria ‘educação’ porque, para além da graça que teve, é de notar a atitude da mãe, que tendo levado uma criança tão pequena com ela, não teve a menor cautela em reparar no que ela estava a fazer, ou se reparou não se inquietou com o possível estrago que dali podia sair. Não imagino qual seria a sua reacção se de facto se danificasse um objecto de muito valor. Pagaria?...)

Recordações à volta do «Caderno de Capa Castanha VIII»

Disse o José Palmeiro:

«Vou tentar começar a pôr em ordem as ideias, para poder aqui deixar um contributo, que é o meu, e que sinto ser, de certo modo, o inverso do relatado.
As férias, eram iguais, enormes, os tais três meses, mas que passavam num instante. O meu pai trabalhava num armazém de merceeria, propriedade de um padrinho, onde foi criado desde a idade dos treze anos, depois de ter estado em Lisboa, a trabalhar no mesmo ramo desde os dez anos. Tudo fazia para o filho usufruir, daquilo que ele nunca tinha tido a oportunidade de vivenciar.
A princípio, íamos para a FNAT (Federação Nacional da Alegria no Trabalho), da Costa de Caparica. Ia-se de camioneta, para Cacilhas e daí, também de camioneta para a FNAT. Depois de instalados, lembro-me dos quartos, pequenos, mas suficientes para alojar uma família como a nossa, de três elementos.
Durante quinze dias, era levantar cedinho e caminhar, pelas infindáveis dunas, até chegar à praia. Aí tinhamos uma barraca, onde se mudava de roupa e se preparava o banho, dado pelo TARZAN, um banheiro, excepcional, que comandava toda aquela azáfama dos banhos das crianças e ainda tinha tempo para socorrer os mais incautos. Regressados à colónia de férias, outra vez por esse infindável caminho das dunas, era chegar e preparar para o almoço, no refeitório, onde se encontravam todos os beneficiários. Era a festa colectiva. Depois do almoço recolhíamos aos quartos, onde dormíamos a SESTA. Ao fim da tarde, ou se regressava à praia ou se optava por uma ida para o pinhal. Depois do jantar, havia um convívio, onde se podia dançar, os mais velhos e nós, as crianças brincar, ou passear com os pais e os amigos.

Hoje, fico-me por aqui, noutra ocasião contarei as outras experiências, porque passei, em tempo de férias.»

Eu ponho e a EDP dispõe


Tinha-vos prevenido!
Disse
aí há uma semana que passaria por cá todos os dias, apesar de poder haver excepções. Muito «convencida», na altura tinha como hipótese a ‘excepção’ ser por não me apetecer ou estar ocupada mas não que fosse contra a minha vontade.
Claro que tinha de acontecer!
Quando ontem me preparava para o nosso encontrozinho diário dou com o nariz no preto do monitor. Uma pane eléctrica tinha deixado parte da aldeia, onde se situa o meu cibercafé, às escuras!...
E foi pane demorada que horas depois ainda a coisa estava na mesma… Não sei a que horas a corrente foi restabelecida, mas a verdade é que a partir de certa altura desisti. Achei que ficaria para hoje, afinal férias são férias e não posso ficar pendurada por um post que queria deixar.
Mas lá que irritou, irritou!

segunda-feira, agosto 06, 2007

Contrastes

Todos conhecemos o velho conceito de que «descansar é mudar de actividade». Acredito muito nisso. Pelo menos ao princípio, que ele há actividades que são por si tão cansativas que «mudar» para elas só mesmo no iniciozinho é que se podem considerar repousantes!...
Mas desta vez não só «mudei de actividade» como o clima mudou de um modo tão repentino e radical que ainda estou de boca aberta.
Imagino que seja por todo o país, mas cá por mim, no meu pequeno mundo, o que sei é que nos últimos dias da semana passada sentia que vivia dentro de um forno, com agradáveis oásis de quando passava por locais com ar condicionado, e ontem à tardinha de um salto passei para um 'clima moderado' e nem precisei de afastar o endredon de cima da cama!
Dei-me ao cuidado de regar as plantas, ontem à noite, e afinal ao abrir hoje a porta do quintal verifico que choveu e está tudo cheio de gotinhas de água…
Evidentemente que se isto for para ficar, posso aborrecer-me um pouco de nem chegar a utilizar o excelente creme para o sol que me custou uma pipa de massa, mas para já, este contraste com os últimos dias faz-me acreditar que estou no céu!!!



PS - Este post foi escrito esta manhã. Cuidava que tinha 'entrado' mas pelos vistos recusou-se e eu não confirmei. Passei agora de novo por aqui e vi que estava «em rascunho». Não vai ser mais teimoso do que eu, e a bem ou a mal, cá vai!...

Recordações à volta do «Caderno de Capa Castanha VIII»

(Como de costume, os comentários-memórias da AB não podem ficar 'esquecidos' num comentário. Desta vez o caminho da viagem dela é ao contrário, termina no vapor que, na história do meu post, era o ínício da viagem...)

Férias, mas férias ainda antes do significado escolar eram aquelas filas de baús e cestas que iam nas vésperas para o "monte".
E toalhas, muitas toalhas brancas que cobriam coisas, móveis, estofos para evitar o pó na volta. Férias eram os tectos de madeira grossa que se olhavam nas sestas sem sono e o medo das osgas que surgiam de repente no meio das traves. Férias era o lavatório de ferro e o jarro da água no meio do quarto, que deixava uma mancha na madeira do chão branco de crestado e onde se inventavam formas -a cabeça da avó... e os bibes atirados de repente para cima das pernas -Vá são horas do lanche.
Os comboios. Para vir a Lisboa, com o avô. Cedo, sono, apito, solavanco, partida. As janelas estreitas, abriam até abaixo, seguravam-se com umas faixas largas de coiro com buracos como os cintos a uma peça de metal amarelo logo acima do cinzeiro.
Duas paragens essenciais: Casa Branca -rapazolas ou mulheres a vender sanduiches de linguiça para o caminho ou queijadas e bilhinhas de água (deixavam-se depois no comboio).Vendas Novas - era preciso fazer transbordo e era o fascínio das carruagens a ir ligar de novo à máquina e a encostar aquelas enormes bolachas de metal, está quasi, e pronto o encontrão final, estremeção e tudo a postos para partir outra vez. Barreiro, o vapor, avô, o vapor? Colo para passar o passadiço entre o cais e o barco.
Os bigodes do avô davam tanta segurança as pessoas até se afastavam - faça favor, faça favor...
AB

(Nota - o comentário-memória do Zé Palmeiro também merece entrar para o cantinho do «Era uma vez...» e como já vi que ele não o aproveitou parea o seu próprio blog, vou roubá-lo para aqui. Mas é uma visão bem diferente e portanto fica para amanhã!)

domingo, agosto 05, 2007

Um Caderno de Capa Castanha IX

Férias na aldeia ( primeira parte “a viagem”)
«Quando da última vez te contei, Clara, que naqueles tempos havia o costume de antes das “férias a sério” irmos a uma praia perto de Lisboa, acrescentei lembrar-me de que as férias eram muito compridas.
Era verdade. Para além de aos olhos de uma criança o tempo ter outra dimensão, era também certo que as minhas férias eram enormes, estendiam-se ao longo de cerca de 3 meses, dividindo-se em 3 partes distintas.
Em Julho (pelo menos creio ser Julho…) era enviada para a aldeia onde o meu pai tinha nascido e onde parte da família ainda morava. Lá no Baixo Alentejo. Os pais ainda estavam a trabalhar e eu partia acompanhada por uma tia-avó.
Uma aventura maravilhosa aos meus olhos. A viagem era enorme! Depois de ir até ao Terreiro do Paço, apanhava-se o barco para a outra banda de onde partia o comboio que seguiria para o Alentejo. Não existia ponte nenhuma, nem se sonhava que fosse alguma vez possível construir uma coisa tão comprida, portanto esta viagem implicava 3 transportes: primeiro o barco, de onde se arrastavam as malas para o comboio e, chegadas muitas horas depois à estação alentejana, tínhamos lá à espera um veículo puxado por duas mulas, que nos levava até à aldeia ainda um pouco distante. Chamavam a essa carrocinha de duas rodas com um toldo abaulado, o «churrião». Pelo menos é o nome que recordo.
E, como te digo, a viagem era toda uma aventura. Já o barco que nos levava ao outro lado do rio, era uma festa para mim, eu respirava muito fundo, enchendo os pulmões com aquele ar cheirando a maresia e sentia-me muito excitada porque raras vezes andava de barco e tudo aquilo era novidade. A agitação, as pessoas carregadas de malas e cestos, e o medo de, por um azar, o comboio se por em movimento sem esperar por nós, coisa impossível mas que eu receava sempre…
Quanto à parte da viagem de comboio a recordação era pior. As carruagens eram desconfortáveis apesar de irmos em segunda classe. Nessa época havia 3 classes nos comboios: na primeira iam as pessoas de posses, importantes, os bancos eram estofados e tinham naperons para encostar a cabeça; nós íamos na segunda, creio que os bancos ainda eram estofados mas de um material pior, e nada de naperons; «o povo» viajava na terceira, a mais barata de todas, com bancos de pau, tudo bastante sujo e onde se tropeçava em cestos de verga cheios até mais não e atados com cordas. Aliás quando falo em sujidade, ela era geral e inevitável porque o comboio era movido a carvão, e quando se abriam as janelas esse pó de carvão espalhava-se por todo o lado. E viajar de janela fechada seria impossível porque com o calor do verão ficaríamos assados vivos; mesmo assim as senhoras agitavam leques e nas estações onde parávamos haviam vendedoras a oferecer jarrinhos de barro com água fresca. Para culminar era uma viagem longa, longa, que a série das estações desenrolava-se enorme e aquele comboio parava em todas, mesmo todas, e até em apeadeiros. Apesar de esborrachar o nariz contra a janela para apreciar tudo, o certo é que a paisagem era parecida e tantas horas de viagem cansavam e aborreciam.
Mas finalmente, começava-se a pegar na bagagem, aproximávamo-nos da Estação. O coração batia mais forte de excitação. Já está! Estamos quase!
E, como contei, na estação estava já à nossa espera um empregado da lavoura da casa da outra minha tia-avó, que nos carregava com as malas e instalava nesse transporte que me encantava. Imaginava que era uma carruagem, como as das princesas, não exactamente a da Gata Borralheira mas aparentada..! Tão depressa me sentava atrás, como uma senhora cheia de juízo, como queria passar para o lado do cocheiro a apreciar o modo como ele segurava as rédeas e rir-me com as mulas de rabo a dar a dar para afastarem as moscas. E arregalava os meus olhos de menina da cidade quando elas levantavam a cauda e, sempre a andar, satisfaziam as suas necessidades ‘sólidas’. Oh que risota, ver aquele estrume que ficava no pó da estrada, e rapidamente se misturava com ele. Onde é que eu via aquilo em Lisboa?!
Chegávamos ao fim da tarde, que isto era viagem para um dia. Ia de colo em colo, comentavam como estava crescida, que bonita, que faladora e mais isto e mais aquilo, estava na berlinda e era de novo a tal princesa. Os primos atropelavam-se para me ver, a prima de Lisboa, todos a troçarem do meu sotaque enquanto eu também estranhava aquele alentejano cerrado.
Tínhamos chegado!
E as férias já ali estavam...
Clara

Uma música ao Domingo

De novo Piaf. Desta vez a «Música de Domingo» tem uma dedicatória - é para uma amiga, a quem eu associo mais a esta canção do que à própria Piaf... Ela sabe.

(esqueçam a introdução em inglês, são coisas...)

As notícias

Parto hoje para fora de Lisboa e para uma casa sem net.
Portanto, como já aqui o tinha dito, vou deixar de comentar (pelo menos, do modo como o costumo fazer) as notícias que vou lendo ou ouvindo.
Mas o certo é que desde que comecei as férias que me sinto muito menos ‘motivada’ a essas críticas, tudo aquilo por onde passo os olhos me aparece com um aspecto de «dejá vu».
Uma vez, já há muitos anos, passei umas férias num «Club Mediterranée» lá na Ásia. Para além de algumas coisas um pouco ‘folclóricas’ mas engraçadas – por exemplo, não se usava dinheiro normal, que se guardava num cofre à chegada, davam-nos umas contas coloridas que se usavam num colar ao pescoço e eram elas que serviam para pagar qualquer coisa que não estivesse incluída no pagamento inicial – um outro motivo de repouso era a inexistência de notícias. Arranjar um jornal não era nada fácil, e a pequena televisão que existia, estava num anexo minúsculo, longe dos bangalôs onde residíamos o que facilitava o seu esquecimento. E a verdade é que durante 15 dias, esquecemo-nos do resto do mundo!
Pode ser egoísta mas é um bom conceito de férias…

Hoje ainda passei os olhos pelas notícias, mas como disse tudo me parece já falado. Vejo o ME a continuar a asneirar e o Provedor de Justiça a meter a sua colherada, reparo que Cavaco a começar a criticar com mais frequência certas atitudes do governo , reparo que as nossas dívidas vão sempre aumentando, mas paradoxalmente ainda se viaja muito para destinos longínquos com as viagens low-cost que estão na moda…
É neste país real que não me apetece pensar agora/hoje, até porque como comecei por dizer, nada disto é novo, infelizmente mantém-se o sabor do requentado.


Mas a partir de hoje vou para a Pasárgada.
Numa viagem low-cost, é claro!

sábado, agosto 04, 2007

Vamos brincar?


Que confusão, não é?
Leva mais tempo a ler.

Mulheres, há muitas

Aparece mais um estudo, e pela milionésima vez, venho aqui dizer que se deve ter a maior atenção quando se olha para números.
Dizer que 43,5% das mulheres não fazem contracepção, e as mulheres desejam ter mais relações sexuais quer dizer o quê?
Deve estar certo o estudo, é claro, mas estamos a falar sobre quê?
Que universo?
Que mulheres?

Para mim, isso são números.
Falta todo o resto.




(nesta imagem podem ver ou uma jovem ou uma velha...)

Dois mil por dia…!


Ouviu-se que esta onda ia entupir os tribunais e não me resta qualquer dúvida.
A continuar assim, e se os infractores não pagarem voluntariamente, vão chegar a tribunal 60.000 processos por mês, para além dos ‘normais’!

O artigo do Expresso pergunta:
imprudência ou limites de velocidade irrealistas?
Aquilo que observo diz-me que são as duas coisas.
Continuo a pensar que obrigar a circular-se numa estrada com 3 pistas e sem cruzamentos nem semáforos a 50 km/hora é uma ‘provocação’. Não sei como é que se faz noutros países mas não acredito que seja assim. Já há muitos anos, lembro-me de ter circulado no ‘boulevard peripherique’ em Paris, e… não era a 50 à hora.
Os semáforos também podem ser dissuasores de velocidade, como se vê na marginal. Parecia-me sensato que esta lei ou norma ou lá o que é, fosse repensada no caso deste tipo de vias, sem cruzamentos e com várias faixas.

Por outro lado, deve haver muitos condutores que ou se esquecem ou imaginam que não lhes vai acontecer nada. Aliás eles podem ser apanhados nas zonas de radares, mas por toda a cidade somos ultrapassados por carros que até nos buzinam arrogantemente e que nos ultrapassam quase com o dobro da velocidade permitida. E isso em bairros residenciais onde o perigo é de facto muito.
Esses casos é que deveriam ser repensados e depressa!

Contra ao bullying

Parece-me excelente.
Uma ideia fantástica.
O bulling existe e, a quem vive longe da questão porque nem eles nem os seus filhos foram vítimas ou assistiram a esses casos, eu afirmo que é um fenómeno crescente e preocupante.

Mas a verdade é que quando um grupo de jovens estudantes (e olhem que podem ser bem crianças ainda!) escolhe uma vítima para embirrar, troçar, ou até agredir, transforma-se - passe o termo - numa matilha de lobos.
O serem muitos dá-lhes uma confiança e força especiais, e não chegam bons conselhos ou serem chamados à atenção no caso de a vítima se queixar, o que muitas vezes não acontece. Aliás é vulgar quando a vítima tenta queixar-se não ser levada a sério, e quem devia ouvi-la arrumar o caso considerando que é um exagero ou ‘mariquice’ dela.

A ideia de criar um jogo de computador, o FearNot, que em ambiente virtual encena situações de bullying parece-me inteligentíssima, porque é jogar com uma linguagem que eles entendem. Assim como me parece de aplaudir a filosofia subjacente a este jogo:
«A criança não é uma das personagens. Não queríamos que se sentissem vitimizadas. Queremos que sintam empatia pelas vítimas e tentem ajudá-las, para que no mundo real já possuam estratégias para lidar com as situações».

É mesmo isso. Este é um bom caminho.