quinta-feira, agosto 23, 2007

Mealheiros

Numa loja a que já aqui me tenho referido muitas vezes - e vou continuar a falar dela que é um dos meus passeios habituais quando estou de fim-de-semana ou de férias não só porque tem coisas muito apelativas como, sobretudo, porque a dona é de uma grande simpatia - vi ontem uma colecção de mealheiros. Lá também costuma haver dos mais vulgares e tradicionais, os potezinho de barro com uma ranhura para meter as moedas e se partem para retirar o ‘recheio’, mas desta vez tratava-se de uns mais perduráveis. Também de loiça mas com o feitio de ursos ou coelhos ou outros animais, e não é preciso partir porque se retira o dinheiro pela base onde há uma tampinha.
Coisa atraente.
Ora o ter visto essa espécie de brinquedo, chamou-se a atenção para o facto de ser um objecto que se usa muitíssimo menos do que quando eu era criança. É que vem completamente contra a corrente do «agora e já» que se vive na actualidade.
A noção de mealheiro é a de se deve juntar primeiro dinheiro para, ao fim de algum tempo, se conseguir comprar algo que se deseja. É exactamente o oposto à filosofia actual (nem falo nas crianças, que essas querem logo as coisas e nem se lhes explica que aquilo que se lhes está a dar representa trabalho) que é a oposta, é «tenha agora e pague depois». Quase toda a gente, e bem estimulada pela publicidade, quando não tem dinheiro para o que quer, pede um crédito e paga à posteriori. Quem o não faz é considerado um tanto ‘esquisito’…
E contudo ensinar uma criança a usar um mealheiro é um bom método para aprender a dominar a frustração. Ela vai aprender que os pais não lhe recusam aquilo que ele deseja, simplesmente para obter isso vai ter de … esperar. Irá juntando, moeda a moeda até chegar à quantia suficiente para pagar aquilo que quer.
É uma excelente lição, de paciência e do valor/preço das coisas.

10 comentários:

Anónimo disse...

Está muito bem visto!
Realmente o uso dos mealheiros tem desaparecido e nunca tinha pensado, mas faz sentido que esteja relacionado com o uso e abuso do crédito pelos pais.
Como é que se pode ensinar aos filhos aqui em que os pais não acreditam...?
Eu tinha um, em criança que era de lata, e cada moeda que se metia aparecia num visor a quantia que lá estava. Claro que se referia às moedas de 10 tostões...

méri disse...

Que engraçado!
Este ano, no meu passeio pelo Alentejo, procurei aquelas casinhas cuja chaminé tinha essa tal ranhura para trazer uma para cada neta. Fiquei desiludida porque não encontrei.
Ainda temos duas dessas mesmo antigas. Mas tenho quase a certeza que a neta mais velha já tem um mealheiro

Anónimo disse...

E o costume de, por exemplo ,os avós fazerem uma colecção de libras de cavalinho para os netos,uma por aniversário?AB

josé palmeiro disse...

"No poupar, é que está o ganho!".
Onde é que isso já vai. Mas tem interesse pensar em como essa noção, que é correcta, foi abandonada.
Não há qualquer dúvidas, o mal é mais fácil de cpopiar e de fazer, que o bem.
Não custa nada e faz imenso bem, ter a noção do preço das coisas , do valor do dinheiro e de quanto ele custa a ganhar, honestamente.

Anónimo disse...

Gostei do tema e dos comentários, descrevendo o que um objecto aparentemente simples pode simbolizar. Parecemos todos tão sensatos mas na prática nota-se que é mais difícil pôr este tipo de ideias em vigor...O meu filho estudante por acaso tem ainda um mealheiro muito giro...um porco bem grandão de louça, praticamente só com a cabeça bem redonda, decorada de cores e motivos afro-nova vaga. Mas nem fui eu que me lembrei de tal presente mas uma amiga de origem afro-portuguesa que tal como vocês acha útil usar este tipo de objecto quase remoto para estimular as crianças a economizar e valorizar mais o que se compra...
E realmnete qdo o meu filho se quer conter e quer guardar o dinheiro mais tempo, usa ainda o porco, porque no banco com o cartão "pin" é demasiado fácil...

Anónimo disse...

Parece-me que o vir mais tarde, tem as suas vantagens. Já posso ler o que os outros dizem e 'inspirar-me'...!
Só posso concordar com tudo!
Achei graça à AB, e as libras de cavalinho. Não estou a ver os putos de hoje a colecionar as ditas...
:))

Anónimo disse...

Também tive um desses que marcava as moedas que lá estavam.
E procxurei para dar a uma sobrinha, mas isso desapareceu.
Giro o teu post, na categoria Educação. É que é mesmo"!!!

saltapocinhas disse...

eu realmente ainda vivo (felizmente) noutro mundo.
Os meus meninos ainda têm mealheiros e ainda juntam dinheiro quando querem comprar algo e ainda dão valor ao que conseguem porque estão longe de ter tudo o que querem...

Anónimo disse...

Olá Saltapocinhas!
Eu gosto muito do mundo da Saltapocinhas! Com franqueza também acho que ela vive noutro, mas bem melhor do que o meu. Conta coisas dos seus golfinhos e das pessoas que a rodeiam que parece apanhar o melhor dos dois mundos: o de 'antigamente' e o actual.
Quer-me parecer que quando crescer vou mudar para Aveiro.

saltapocinhas disse...

e mudas muito bem ,Gui! :)
já se sentem por aqui "ventos" de tudo o que há de mau, e eu seria tolinha se não soubesse exactamente como são as coisas que a emiele conta.
Mas... a verdade é que vivo numa aldeia e trabalho noutra ainda mais "interior" onde as pessoas são regra geral, relativamente pobres.
E não são só maravilhas, há também muitas coisas más.
Tu vês o bom dos dois mundos mas eu às vezes deparo-me com o mau dos dois: não terem acesso ao mundo cultural que têm os miudos das cidades e não brincarem tanto nas ruas como seria suposto a crianças de aldeia.
Mas isto é só quando estou pessimista, o que e raro!