segunda-feira, agosto 06, 2007

Recordações à volta do «Caderno de Capa Castanha VIII»

(Como de costume, os comentários-memórias da AB não podem ficar 'esquecidos' num comentário. Desta vez o caminho da viagem dela é ao contrário, termina no vapor que, na história do meu post, era o ínício da viagem...)

Férias, mas férias ainda antes do significado escolar eram aquelas filas de baús e cestas que iam nas vésperas para o "monte".
E toalhas, muitas toalhas brancas que cobriam coisas, móveis, estofos para evitar o pó na volta. Férias eram os tectos de madeira grossa que se olhavam nas sestas sem sono e o medo das osgas que surgiam de repente no meio das traves. Férias era o lavatório de ferro e o jarro da água no meio do quarto, que deixava uma mancha na madeira do chão branco de crestado e onde se inventavam formas -a cabeça da avó... e os bibes atirados de repente para cima das pernas -Vá são horas do lanche.
Os comboios. Para vir a Lisboa, com o avô. Cedo, sono, apito, solavanco, partida. As janelas estreitas, abriam até abaixo, seguravam-se com umas faixas largas de coiro com buracos como os cintos a uma peça de metal amarelo logo acima do cinzeiro.
Duas paragens essenciais: Casa Branca -rapazolas ou mulheres a vender sanduiches de linguiça para o caminho ou queijadas e bilhinhas de água (deixavam-se depois no comboio).Vendas Novas - era preciso fazer transbordo e era o fascínio das carruagens a ir ligar de novo à máquina e a encostar aquelas enormes bolachas de metal, está quasi, e pronto o encontrão final, estremeção e tudo a postos para partir outra vez. Barreiro, o vapor, avô, o vapor? Colo para passar o passadiço entre o cais e o barco.
Os bigodes do avô davam tanta segurança as pessoas até se afastavam - faça favor, faça favor...
AB

(Nota - o comentário-memória do Zé Palmeiro também merece entrar para o cantinho do «Era uma vez...» e como já vi que ele não o aproveitou parea o seu próprio blog, vou roubá-lo para aqui. Mas é uma visão bem diferente e portanto fica para amanhã!)

7 comentários:

Anónimo disse...

Então não foi preciso esperar pela hora do almoço... Já cá canta um post!...
Eu fui dos que leu este «comentário» (?) da AB e calculei logo que viesse para post que é uma visão muito colorida e interessante.
E bem escrita, é claro!

Anónimo disse...

Acabei agora de ler.
Tinha visto como comentário, e é evidente que fica bem valorizado como post!
A infância é um país de encantos e maravilhas.

Anónimo disse...

Um esclarecimento,já agora:a linguiça no Alentejo é aquilo a que em Lisboa se chama chouriço.Só que temperada de maneira diferente(a carne fica mais solta e é envolvida numa massa de pimentão-que por sua vez era feita de pimento vermelho moido com sal,alho,malagueta e azeite-)e a tripa era mesmo tripa, nada de "plástico".AB

josé palmeiro disse...

Deixo só o acento tónico, neste escrito.
A descrição da AB é exacta e o esclarecimento da linguíça e do chouriço foi muito oportuna, até porque a qualidade da carne é diferente, para melhor e nesse tempo o uso de tirpa (verdadeira), era um facto.
Estou como uma criança à espera de amanhã. Obrigado pela deferência e estás sempre autorizada a usar o que eu escrevo.
Não tenho escrito nada na sesta, porque nem tempo tenho tido para dormi-la.

cereja disse...

Olá, olá!
Vim aqui de passagem, só 'mayar saudades'... Reparei que afinal umpost que tinha escrito esta manhã tinha ficado em rascunho e acabei por o deixar mesmo já um pouco a despropósito!...
Realmente essa da linguiça também pensei o mesmo. Aqui em Lisboa «linguiça» é uma espécie de chouriço fininho... :)

Bem sei que agora em Agosto passa por aqui muito menos gente, mas AB, acredito que foste lida por mais gente do que os comentários que se viram...

Anónimo disse...

Excelente post!
Vou começar a passar mais vezes por este blog.
Vim hoje pela primeira vez e estou muito bem impressionado!
JL

cereja disse...

Fazes bem, JL.
Eu adoro ter visitas!!!!!