terça-feira, agosto 14, 2007

Um romance mágico



Nestas férias, metido no pacote de livros que, como contei, tinha andado a guardar para ler nesta altura em que tenho todo o tempo, veio mais um, emprestado por uma amiga. Não o tinha lido na altura em que saiu - nem sei bem como me escapou - e essa amiga, ao falarmos dos posts do «Caderno de Capa Castanha» fez uma referência a este romance de Umberto Eco e, como mostrei não o conhecer, emprestou-mo.
Estou deliciada.
É a história de um homem que após um AVC perdeu parte da memória. Recorda na perfeição tudo o que aprendeu, tudo o que é impessoal, mas perdeu a memória ‘autobiográfica’, esqueceu tudo o que se passou consigo, a sua vida. E portanto tenta recuperá-la, como uma «memória de papel», voltando à casa da sua infância e relendo os livros e revistas ou ouvindo as músicas dos anos 40.
É tão forte e tão bem contado que, comecei por pensar que não se justificava continuar com a minha série do «Era uma vez…». Está aqui tudo, mais ou menos da mesma época e narrado de um modo como um escritor o sabe fazer! Depois pensei melhor e vi que era disparate. Estas minhas entrevistas despretensiosas inserem-se num formato completamente diferente e, se a época é quase a mesma, o país é distinto e naturalmente que as memórias também o são. O ‘pano de fundo’ é que é igual.
Mas o certo é que o romance é apaixonante, até porque para além do texto que já é espantoso, está ilustrado com dezenas de gravuras de revistas, capas de livros, de discos, banda desenhada, pacotes de cigarros, todo um reforço gráfico àquilo que se lê que torna o romance uma viagem no tempo completamente apaixonante.
E as descrições! «Na época um rádio devia ser caro, e certamente só tinha entrado lá em casa a determinada altura, como símbolo de status» [….] «O quadro luminoso com o nome das estações, amarelos para as ondas médias, vermelho para as ondas curtas, verdes para as ondas longas, nomes sobre os quais devo ter insistido bastante, deslocando o ponteiro móvel e tentando ouvir sons pouco habituais de cidades mágicas como Estugarda, Hilversum, Riga, Tallin».
Ainda o não terminei, e possivelmente estão a sorrir do meu entusiasmo porque já o leram há muito tempo, mas se não o fizeram, não esperem muito mais.
«A Misteriosa Chama da Rainha Loana» é um romance que não se pode perder! Um passado próximo trazido à nossa beira.» é um romance que não se pode perder!


Um passado próximo trazido à nossa beira.


7 comentários:

Anónimo disse...

È absolutamente extraordinário e comevedor.Percebo muito bem qd.dizes que quási te apetece parar com os "Cadernos".Eu,parei mesmo com outras coisas.Mas enfim o Eco é o Eco e eu que sou fã desde os "diários minimos" até aos romances e aos ensaios com este livro tive uma emoção muito especial e junto com o do Jorge (são muito diferentes,o registo é completamente outro)"castraram"a possibilidade durante bastante tempo de fazer outras leituras.AB

simplesmente... disse...

obrigada pela dica.

p.s. - ja te linkei!

Anónimo disse...

Deixei por engano um comentário no post de cima.AB

Anónimo disse...

Soa realmente a interessante e inteligente, como o senhor Eco gosta que o vejam/leiam. Mas tenho tantos para ler, que este vai ser acrescentado à lista. Qdo se vive num "clima/cidade internacional, tendo as raízes noutro país, é impressionante como nos apercebemos de que há mais, muito mais...são listas infindáveis de autores, culturas, temas, estilos, interesses, "trends"... há que fazer uma grande selecção...Por isso, Emiéle, se ainda nào tinha lido esse livro, não é nada de invulgar. Depende de onde nos encontramos, de quem conhecemos, com quem contactamos...Algumas obras são lidas por quase todos mas há outras que têm simplesmente de ficar durante algum tempo na prateleira...

josé palmeiro disse...

É, na verdade, um dos que está na calha para comprar e ler.
Realço a alegria que te ficou, dessa leitura.
Os livros do Eco, não são para ler, são para ter sempre à mão.

Anónimo disse...

Ontem quando por cá passei ainda não havia post e depois não deu para voltar.
Oh Emiéle, como foi que te «passou» este romnce admirável! Quando o li fiquei completamente 'preso' a ele!
Mas não tem a ver com os teus Cadernos!!! É outra coisa.
Fáxavor de nem pensar em parar com a sua série!!!!

cereja disse...

Obrigada, «Simplesmente»! Quando voltar à normalidade, vou visitar-te com mais calma...
King - a verdade é que também acabei por ver que são coisas diferentes. Os meus Cadernos focam outra realidade, apesar de mais ou menos o mesmo tempo. Mas Portugal não é a Itália. Os Jornais Infantis eram mais o Cavaleiro Andante ou o Mosquito..