quarta-feira, agosto 08, 2007

Recordações à volta do «Caderno de Capa Castanha VIII»

Disse o José Palmeiro:

«Vou tentar começar a pôr em ordem as ideias, para poder aqui deixar um contributo, que é o meu, e que sinto ser, de certo modo, o inverso do relatado.
As férias, eram iguais, enormes, os tais três meses, mas que passavam num instante. O meu pai trabalhava num armazém de merceeria, propriedade de um padrinho, onde foi criado desde a idade dos treze anos, depois de ter estado em Lisboa, a trabalhar no mesmo ramo desde os dez anos. Tudo fazia para o filho usufruir, daquilo que ele nunca tinha tido a oportunidade de vivenciar.
A princípio, íamos para a FNAT (Federação Nacional da Alegria no Trabalho), da Costa de Caparica. Ia-se de camioneta, para Cacilhas e daí, também de camioneta para a FNAT. Depois de instalados, lembro-me dos quartos, pequenos, mas suficientes para alojar uma família como a nossa, de três elementos.
Durante quinze dias, era levantar cedinho e caminhar, pelas infindáveis dunas, até chegar à praia. Aí tinhamos uma barraca, onde se mudava de roupa e se preparava o banho, dado pelo TARZAN, um banheiro, excepcional, que comandava toda aquela azáfama dos banhos das crianças e ainda tinha tempo para socorrer os mais incautos. Regressados à colónia de férias, outra vez por esse infindável caminho das dunas, era chegar e preparar para o almoço, no refeitório, onde se encontravam todos os beneficiários. Era a festa colectiva. Depois do almoço recolhíamos aos quartos, onde dormíamos a SESTA. Ao fim da tarde, ou se regressava à praia ou se optava por uma ida para o pinhal. Depois do jantar, havia um convívio, onde se podia dançar, os mais velhos e nós, as crianças brincar, ou passear com os pais e os amigos.

Hoje, fico-me por aqui, noutra ocasião contarei as outras experiências, porque passei, em tempo de férias.»

8 comentários:

Anónimo disse...

É muito interessante ver «o outro lado» deste mundo das férias desse tempo.
Isto de se vir 'do campo' pra uma praia perto da capital, é mesmo intreressante. E gosto muitíssimo de um testemunho de alguém que viveu claramente noutro ambiente. Quer a entrevistada da Clara (de famílias intelectuais, mas só com relativas dificuldades de dinheiro) quer a AB, de um meio que se adivinha «folgado» têm de certeza recordaçoes diferentes de um filho de um trabalhador como o Palmeiro. Aliás ele já se tem referido ao pai, como pessoa de trabalho, e trabalho que hoje se podereia classificar como «trabalho infantil»!!!
E lembrar a FNAT, é bem importante.
O teu «Era uma vez...» vai ficando bem recheado!!!

cereja disse...

Também considerei o testemunho deste amigo muito interessante entre vários motivos, por esse. É uma outra visão da mesma época e creio que só faz bem a quem é muito mais novo reparar nesse mundo, que ´não está assim tão distante.

josé palmeiro disse...

A mim resta-me agradecer o facto de se poder mostrar a outra face, melhor, uma outra face, porque eu, ainda não era dos mais carênciados e apesar de ter conforto e um bom ambiente, tive uns pais que nunca me esconderam as dificuldades porque passaram, dando-me assim, sempre, a noção que, para uma vida honesta, há que trabalhar e ser solidário.
Este incentivo, será responsável por novos relatos, que espero tenham a mesma recetividade que este teve.

Anónimo disse...

Ia usar o termo interessante, mas a Gui já o disse, de modo que não a quero repetir e vou chamar-lhe instrutivo porque também o é.
Sobretudo para a minha geração, isto é todo um mundo novo.
Obrigado, Zé Palmeiro, por o partilhares connosco.

Anónimo disse...

Ainda ouvi falar no Tarzan!
Era um banheiro famoso!!!
Testemunho importante, José Palmeiro. E como sublinhou a Gui, um «outro mundo» apesar de dizeres muito bem, que havia ainda muitois e muitos outros «mundos», o teu caso não era de modo nenhum dos mais careñciados. Basta o facto de os teus pais terem férias! Havia muita gente que as não tinha de todo!

Anónimo disse...

(até parece que estivemos à espera uns dos outros, os comentadores de ci~ma e eu, para entrarmos ao mesmo tempo!...)
Foi muito boa ideia publicares também este relato. A FNAT tinha duas facetas, por um lado era um organismo Estado Novo, mas a verdade é que muitas vezes era o modo que algumas pessoas tinham de se divertirem um pouco.

Anónimo disse...

Cada época tem várias realidades e é esse fresco que aqui é interessante...Mas cuidado com as "classificações"porque dentro de um mesmo meio há tantas nuances...dentro de uma história de familia cabem tantos "meios"...AB

cereja disse...

Bem ainda vou passar por aqui, já que vim deixar «o post de hoje».
A ideia é mesmo esse «fresco» de uma época. Claro que a AB tem razão, sem querer muitas vezes caímos da generalização...