quarta-feira, julho 15, 2009

Obras em Portugal

Dizia a canção que «o Abril em Portugal / Não é mais que uma cantiga» mas temos outras 'cantigas’ típicas da nossa terra, tal como as obras que cá se fazem vão fazendo.
Eu bem sei que é difícil de comparar, porque lá a mão de obra é muito barata e portanto seja para o que for que se decida fazer consegue-se ter muitos trabalhadores por um punhado de dinheiro, mas quando vejo a lentidão com que avançam as obras no nosso país lembro-me sempre da velocidade com que elas decorrem em Macau. Naquela terra constroem um prédio inteiro no tempo em que por cá se anda a tratar dos alicerces...
Como vos contei a semana passada, o meu prédio foi para obras. Montaram os andaimes e avisaram os inquilinos para ter cuidado com as janelas. Muito bem. Depois fiquei à espera que começassem.
Quase quinze dias passaram, e aquilo que consigo ver, é um operário (talvez dois, de vez em quando) que se passeia pelo telhado e, por aquilo que oiço, raspa umas coisas por lá. Mais nada. O resto está parado, imóvel, deserto.
Há uns anos, tive de substituir o telhado da minha casa na aldeia. A casa é pequena mas como é toda num piso, o telhado ainda é grande, quase do tamanho deste, da casa do meu senhorio. E lá, tiveram de retirar todas as telhas para poder substituir todas as vigas de sustentação, para além de pintar a casa por dentro e por fora, arranjar as janelas, verificar a instalação eléctrica, e reconstruir a cozinha. O empreiteiro que contratei levou 15 dias a fazer esse trabalho (bom, mais uns dias para a cozinha porque umas peças encomendadas não chegaram nesse prazo, mas foram só uns dias)
Eu não sei nadinha destas coisas, mas aquilo que dá a ideia é que existe uma questão complexa mas errada de gestão. Quem organiza esta coisa das obras deve ter várias em mãos ao mesmo tempo com os mesmos operários, de modo que envia um homem para tratar do telhado num sítio, unsm pedreiros para tapar as rachas noutro, e unsm pintores para terminarem a obra no terceiro. O que quer dizer que uma coisa que se faria em 15 dias vai levar um mês e meio... Não seria mais agradável para todos dedicarem-se a um prédio, todos os operários durante 15 dias, e depois passarem a outro, e por aí fóra?...
E arrelia-me um tanto ouvir com ar resignado «É sempre assim. Já sabes como é, fazem todos o mesmo» Mas porque é que tem de ser sempre assim??? Como é que em Macau constroem um aeroporto em menos tempo do que levam aqui a ligar as estações de metro Alameda / Saldanha?
Eles serão marcianos, verdes, com antenas na cabeça?...

13 comentários:

Anónimo disse...

Eu entendo quem pensa 'é sempre assim e todos fazem o mesmo' porque qual é a alternativa?
Empreitadas com prazo fixo? Já reparaste nas «obras públicas»? Até tu falaste no escândalo do prolongamento do metro!!!

Anónimo disse...

Ah, e esqueci-me de uma questão importante: é que no caso das ditas 'obras públicas', como os tempos de execução ficam dilatados para além do que se imagina, depois tudo custa mais caro porque os orçamentos foram feitos com base nos custos do ano tal e não nos custos 5 anos depois!!! Daí as derrapagens orçamentas que conhecemos.

kika disse...

Porque somos um País sui generis!
É por essas e por outras que é um atraso de vida.
Há muito poucas coisas em que temos qualidade e são muito poucos os que a têm. É cultural!!

Joaninha disse...

Huuummm...
Isto é mesmo a «pescadinha de rabo na boca» salvo seja.
:)
Como aqui referiu agora a Kika, todos dizemos isso. E depois a auto-estima é o que se sabe. E como a auto-estima é baixa também não vale a pena melhorar o que se faz porque ...«é assim!»
Nesta coisa de obras já aqui referiste muitas vezes e hoje de novo, o famigerado prolongamento da linha vermelha do metro. Eu acho que deve ser da cor! Já perdi a conta dos anos que aquilo está em obras. E como por diversos motivos tenho de me deslocar diariamente nesse eixo - Arco do Cego, Saldanha, São Sebastião - tenho um ódio de morte a essas obras, que deixaram (e deixam, que aquilo ainda está para durar!!!!) anos e anos zonas importantíssimas de Lisboa debaixo de pó e lama sem se ralarem com os prejuízo que provocam!

sem-nick disse...

Isto vai ser uma telenovela!!!

Acho piada ires dando aqui o «boletim clínico» aí do teu prédio. Claro que é irritante essa do Já sabes como é, fazem todos o mesmo como se fosse uma justificação!...
Mas parece geral e genético como diz a Kika.

fj disse...

Calma, calma, tanta raiva incontida!
Kika e Joaninha, se pudessem, deitavam as obras abaixo ( solução controversa, lá dar gozo dava, mas se calhar vinham reparar os estraguissimos por elas produzidos,teriamos então um interminavel processo to, pelo menos, elas estivessem fisicamente válidas). Não será a melhor solução, embora esta seja muito dificil.Lembro uma expriencia profissional, num periodo em que tive algumas,pequenas, resposabilidades nas construções escolares:1º constatei que os empreiteiros só então se tinham apercebido que no inverno chovia e que no verão havia férias. Daí atrasos por essas descobertas, "trabalhos a mais",pagamentos exorbitantes, mas a partir de junho quem vai deixar de pagar para que as construções estejam prontas o mais perto da data acordada? Vejam o que se passa na África do Sul com a greve dos trabalhadores dos estádios para o mundial de...2010. Ainda vão acabar
por ganhar um prémio de fim de greve que até pode incluir deixarem-nos jogar um jogo. Quase de certeza que vão ganhar, é como cá a partir do fim da primavera para escolas, só que com muito mais repercussões, claro.
Mas se resistiram até aqui, ainda acrescento que a comparação de Emiele não é totalmente honesta:remontando só ás décadas anteriores, não se pode esqueceras taxas de exploração altíssimas ( visiveis a olho nu ,casa de cama quente, utilização de indocumentados , de resto com inteira "compreensão" da administração portuaguesas, os locais quase inacessiveis onde muitos estavam encurralados, as 24 horas de trabalho ) e as técnicas e materiais de construção,a origem rural de muitos migrantes que nunca deviam ter sido pagos ,desempregados pela destruição das comunas e comunas que lhes davam o essencial e que se prestavam a muito para ganharem quantias que suponho irrisórias e para terem já um pé do outro lado. Se isto era assim quando havia ainda fumos do que chamavam socialismo, calcula depois de Deng, com a reimplantação do capitalismo selvagem, em que ninguem lhes dá quase nada! A felicidade de qualquer cip, trabalhadores altamente competitivos,descartaveis, os melhores do mundo. E se realmente o modelo chinês fizesse a felicidade de muitos empresários,ainda não somo tão competitivos.Lá chegaremos se isto continuar.

fj disse...

Não é honesta, é "honesta" claro.

cereja disse...

Ai FJ, olha que eu, se calhar também deitava as obras abaixo - o que não é preciso porque em abaixo já elas estão... Dá-me um grande nervoso miúdinho essa coisa, é um dos meus ódios de estimação - tenho vários como se vê! Mas repara, sem comparar com tipos super-explorados (já lá vou) mesmo comparando connosco próprios que é a melhor comparação, leio a respeito do metro de Lisboa «As obras iniciaram-se a 7 de Agosto de 1955, e quatro anos mais tarde, a 29 de Dezembro de 1959, era inaugurado o Metro de Lisboa». Era pequeno, Restauradores Rotunda, e dois ramais, para Entre-Campos e Sete-Rios. Mas isto foi há 50 anos, com os recursos de há 50 anos!!! E levou SÓ 4 anos. Agora estamos há mais de 10 anos para fazer a ligação Alameda São Sebastião?!!
Tenham dó!!!
Alguém, ou alguma empresa está a lucrar em grande.

josé palmeiro disse...

Só espero que continue assim, pois é a forma de eu, no Natal, voltar a ser o "Pai Natal"!
Conto: Era a minha filho pequena, fomos passar o Natal a Queluz, a casa dos meus cunhados. O prédio estava para pinturas e com os andaimes postos. Os meus cunhados viviam no 8º andar e a minha filha, ainda hoje com 27 anos, jura que viu o pai Natal, do lado de fora das janelas acenar!!!
Deixando de lado as brincadeiras é uma falta de desrespeito enorme, por quem lá habita e um convite a tudo o resto, obrigando os moradores a redobrados cuidados.
Faço votos para que tudo se resolva bem depressa e bem, pois o desemprego, assim o justifica.

cereja disse...

Quanto aos chineses, é claro que eram super-explorados, não havia leis do trabalho, etc. mas a postura como sabes era outra. aquela gente trabalhava como formiguinhas, lembras-te de que até a Função Pública trabalhava ao sábado de manhã, quando cá já não se fazia. E as lojas nunca fechavam, mesmo quando eram dos próprios.
Nã, aquilo é um povo workaólico, todo ele!

cereja disse...

Olá Zé Palmeiro! Andamos cruzados!!!
Quanto aqui, ao Natal não deve chegar, mas fui hoje informada de que antes de Setembro/Outubro isto não vai acabar!....
Livra!

Unknown disse...

Quanto às obras do teu prédio, também posso dizer:- por cá é quase sempre assim e a justificação dos empreiteiros de pequenas obras (são os que eu conheço) é que não se podem dar ao luxo de recusar trabalho e este aparece maioritariamente no Verão; então, fazem essa ginástica de seguraram todas as pontas e servindo mal toda a gente.
As outras obras, as públicas, aí o caso é mais complexo, digo eu, mas tenho um exemplo próximo e recente que me fez e faz confusão; a minha rua no prazo de 2 anos já foi aberta (desventrada) duas vezes - 1ª vez colocação de cabos telefónicos e a 2ªcabos eléctricos, agora, fica a faltar o saneamento básico, provavelmente será no próximo outono ou primavera, agora pergunto eu, por não se põem todos de acordo e fazem tudo ao mesmo tempo eu posso calcular várias respostas, mas uma não me dariam - "falta de planeamento"...

cereja disse...

Eu entendo isso, Maria. Contudo continuo a não concordar. No caso de que falei, do empreiteiro faz fez as obras na minha casa, quando falei com ele, disse-me logo que não me ia atender tão cedo porque tinha os senhores A, e B, e C, e D antes de mim. Só me atendia dali a tantos meses. mas quando chegou à minha altura foi exactamente como ele tinha prometido. O resultado é que já o aconselhei a várias pessoas. Neste caso a política da verdade compensa, creio eu.
É certo, pode haver quem esteja muito apressadinho e procure outro para não esperar. Mas, bem vistas as coisas, acaba por ter a obra feita na mesma data...Por mim, não vale a pena!
A falta de planeamento das obras públicas isso então é de bradar aos céus! O exemplo que dás, vê-se por todo o lado!!!!