quinta-feira, agosto 07, 2008

A insustentável leveza do ser força do consumismo

É um facto curioso que enquanto os bens de primeira necessidade e consumo imediato vão subindo de preço a olhos vistos, pelo contrário, produtos a que nos habituámos mas não são de modo algum indispensáveis à vida, apenas ao nosso bem estar, descem de preço de ano para ano ou até quase de mês para mês.
E não é só essa questão do custo inicial ir baixando (que não é questão tão insignificante como isso…) o que é mais chocante é o incentivo que sofremos constantemente para adquirirmos modelos mais actuais.
Fala-se por aí de ‘crédito mal parado’ etc, etc, e muitos de nós facilmente criticamos quem compra montes de inutilidades a crédito, só porque não consegue resistir ao apelo dos excelentes publicitários que tratam dessas questões. Contudo, se olharmos com calma para os números, onde há maior peso do dito ‘crédito mal parado’ é afinal no crédito à habitação o que não é afinal um luxo supérfluo. E depois existem os tais extras que cada vez estão mais baratos: telemóvel (apesar de haver alguns modelos muito caros, hoje pode comprar-se um por quase nada), computador, TV, máquinas digitais, diverso equipamento doméstico.
A quem é que não aconteceu comprar uma maquineta qualquer e, poucos anos depois, ver outra muito melhor por muito menos dinheiro?…
Mas o que vinha aqui hoje lamuriar-me, é quanto aos «arranjos». Por feitio, sou mais ou menos poupada e quando uma coisa se estraga, gosto de a arranjar. Das solas dos sapatos, ao bibelot partido. Normal, não?! Huuummm…. isso era dantes!
Em pouco tempo é a terceira vez que se repete comigo a mesma cena quase sem diferenças. Um aparelho avaria-se. Foi um pequeno electrodoméstico, um PC, uma máquina fotográfica. E começa então uma saga em várias fases:
A primeira parte é descobrir onde é que aquilo se arranja. Vamos ao local da compra e lá dão-nos o endereço do representante. Liga-se para o representante (que fica sempre num local estranho) e depois de se ouvir uma mensagem de gravador e se carregar na tecla 3 por ser para arranjos, da tecla 5 se está fora da garantia, na tecla 2 se residimos em Lisboa, na tecla 7 se preferimos um atendimento directo, ficamos em espera. Quando uma menina de voz musical se identifica e pergunta em que nos pode ser útil, ficamos informados que para esse arranjo o melhor é ir à empresa XPTL que é a mais próxima da nossa casa.
Segunda parte, pegar no objecto e ir à dita empresa. Com sorte, ela está aberta (não é das que fecham às 5 da tarde, não faz um intervalo de 2 horas para o almoço, e está aberta em Agosto, aleluia!) e somos atendidos depois de tirar uma senha e esperar um bocado.
Terceira parte, quem nos atende olha de lado para o produto, abana a cabeça augurando logo o pior, e explica-nos que vai ter de ficar para fazer o orçamento. Esse famoso orçamento leva 8 dias a ser elaborado e custa uns 60 euros. Se concordarmos com ele, o arranjo levará de 3 semanas e um mês a ser efectuado. Depende de haver ou não peças.
Não estou a inventar nada! É exactamente assim!
Onde quero chegar, é que se aquilo que avariou for um pc portátil, por exemplo, o orçamento dos 60 euros, vale-me a pena. Mas se for uma máquina fotográfica digital que custou cerca do dobro, começa-se a hesitar. Ela afinal já não está nova, nem sei se vai ficar muito bem, e sempre posso comprar uma mais moderna com garantia…
É isso. Esse raciocínio enviesado, que acaba por desembocar em mais consumo porque se torna mais fácil e rápido comprar novo do que consertar o velho – o conserto dá trabalho, leva tempo e é caro.
É assim o mundo do mercado.
Não gosto. Mas submeto-me.

8 comentários:

Anónimo disse...

Tem a sua piada, porque se diminuis a quantidade de posts por dia, erles vão aumentando o tamanho...
:))
Emiéle, o que te posso dizer?! é assim e a gente vai aceitando é claro.
E de um modo geral, em coisas que não são muito caras (relativamente) é bem mais em conta comprar uma nova do que mandar arrranjar.
E pronto!!!

Anónimo disse...

Ah, Olha AB, eu fui das que perguntou por ti mais do que uma vez!!!
Claro que fazes falta aqui no nosso «convívio»...

Anónimo disse...

Estou de passagem, muito, muito a correr, já volto logo à noite.

Claro que o que dizes é indiscutível, mas terá outras razões, que não apenas o consumismo.

Farpas disse...

Isto tudo também passa pela estratégia das empresas que há algum tempo começaram a perceber que se descontinuassem produtos com uma certa regularidade e não muito tempo depois de serem lançados não tinham de pagar a uma série de técnicos nem ter um armazém cheio de peças que nunca saberiam se iriam ser usadas. Assim não só poupam em ordenados e peças como ganham em novos produtos vendidos. Os computadores são um bom exemplo disso.

josé palmeiro disse...

Antes de mais, uma saudação especial ao Farpas.
Agora dizer que, o que ele disse, reflete exatamente, estou a escrever, propositadamente, pelo novo acordo, os tempos atuais.
Só que tu, como eu e como alguns mais, temos a mania de esperar que apareça, ou que conheçamos, algum curioso, jeitoso, que nos conserte a dita peça avariada.
Depois, poupar, também é um exercício engraçado. Por exemplo, eu ontem, estive todo o dia, metido no bar da minha filha, armado em canalizador, e parece que, com bons resultados.
Volto a referir que hoje, a esta hora, estou no mesmo sítio de ontem à noite, com o mar ao fundo, barcos a navegar, uma manhã, lindíssima e cá em baixo, o bulício da cidade e um apelo enorme a ir tomar um cafézinho. Mais uma, estou a usufruir de uma plataforma livre,da internet, para contrastar com o excesso que tu tens que pagar, aí no teu sítio.

Anónimo disse...

Apoiado.
Claro que a verdade é que os vendedores têm de vender, não é?...
E por outro lado, a verdade é que esta história de arranjar se dá trabalho a quem arranja, o certo é que a dita mão de obra é carota, nalguns sectores...

Tia Brites disse...

É isso mesmo. E então vamos amontoando lixo que ficará a poluir o solo por centenas de anos.

cereja disse...

Também isso, Manga. Só defeitos!!!
(Agora com as economias da net nem te tenho visitado, mas quando voltar vai ser um regalo!)