terça-feira, novembro 24, 2009

Equilíbrio dos pequenos orçamentos

A última Visão traz um artigo chamado «Preços em Queda». (não consegui fazer o link)
A minha primeira impressão foi de completa incredulidade. Estão malucos, ou quê?! Cada um de nós tem a convicção, apoiada nas dificuldades que vai sentindo todos os meses em gerir o seu orçamento, de que o seu ordenado dá à justa para as suas despesas habituais. Como é que os preços podem estar em queda?...
Bem. Nesse tal artigo mostram realmente, e com exemplos, que nos supermercados há alguns produtos que não estão mais caros e – tem de se reconhecer – têm até preços mais baixos. Eu já tinha reparado no leite e derivados, sobretudo na manteiga, onde isso se nota muito. Óleo e azeite também não têm subido, e para a fruta encontra-se agora preços muito aceitáveis porque aparecem peças mais pequenas e não normalizadas (que parece virem de países fora da Comunidade Europeia) mas saborosas e muito mais baratas. Já tenho sorrido por reparar que o supermercado arruma essas perazinhas ou maçazinhas em sacos de 2 ou 3 quilos com etiquetas de preços que nem chegam ao euro, por acharem que se vendessem ao quilo seria pouco, creio eu. E talvez para incentivar a que se leve mais de uma vez. E os legumes, de um modo geral, também baixaram um pouco
Certo. Na alimentação, e sobretudo se formos a uma grande superfície, as coisas estão mais acessíveis. O leite e seus derivados, a fruta, salsichas, bacalhau, arroz, atum... Parece que o peixe também baixou, mas como a base já era tão alta ainda está a um nível elevado. Mas como acontece este milagre? O que lá explicam é que devido à crise os produtores viram-se obrigados a reduzir as taxas de lucro para conseguir vender mais e sobreviver. O que quer dizer que afinal era possível!
Contudo, volto ao princípio porque a verdade é que não sinto que ‘me-sobre-dinheiro’ mesmo que aquela diminuição seja verdadeira.
Bom, a resposta é que as outras grandes despesas – saúde, educação, transportes colectivos, lazer, não baixaram nada e até subiram. Ainda ontem fui às às compras e trouxe leite a 49 cêntimos e maçã a 38, mas depois tive de passar pela farmácia e deixei lá 48 €. É complicado o equilíbrio...


26 comentários:

josé palmeiro disse...

É tal qual como dizes. Sei-o por experiência própria, pois sou eu que faz a maioria das compras, cá para casa.
Quanto ao resto, volto a repetir a célebra frase do Millôr Fernandes, "Cada vez, sobra mais mês, no fim do dinheiro!", e não há volta a dar.
Uma preocupação eu tenho, comprar só produtos portugueses, o que não é fácil, pois exige pesquisa exaustiva, mas assim o ciclo, completa-se. Só há uma forma de equilibrar o orçamento, é não gastar e isso é cada vez mais, difícil, vidé a "farmácia"!!!

cereja disse...

Pois, amigo, quando não nos ralamos com as despesas de educação vem as da farmácia!!! É a tal questão da idade :)
E as despesas da farmácia são realmente assustadoras.
É certo que também procuro ver a origem dos produtos, mas até aí a questão do dinheiro pesa. Repara nas bananas por exemplo - as da Madeira são muito saborosas sem a menor dúvida mas custam mais do dobro! E essa coisa dos produtos 'naturais' ecológicos etc e tal, são caríssimos também. Esta fruta 'não normalizada' é que vale muito a pena!

fj disse...

Alem do boneco extremamente bem visto, este post, finalmente, está inteligente e revela atenção aos problemas reais do povo. Aquela da educação e da saúde mesmo bem visto. Sem menosprezo das minhas observações anteriores, ontem conversei com um colega coautor da ultima legislação sobre manuais escolares, a quem questionei sobre a recente subida de até 5% dos ditos, dizendo-lhe que tal não estava previsto. Estava, estava, disse-me ele, mas escondido (!!!???). Burro, eu. Mas também lá está que nenhum aluno pode ser prejudicado por falta de material que não o manual (bom senso, claro, educação visual, p.ex. pode ter especificidades), assim os livros de exercícios e até cds, que os editores apresentam em kit, não são obrigatórios nem podem levar a prejudicar nenhum aluno.Este gajinho, quando ainda puro, isto é, antes do governo, era apelidado de estalinista(sic) pelos editores...

Joaninha disse...

O fj com a sua ironia habitual (essa do «este post, finalmente, está inteligente» é gracinha que se entende por já se saber que conheces pessoalmente a Emiéle) e a Emiéle com outra ironia quando responde ao Zé Palmeiro que «quando não nos ralamos com as despesas de educação vem as da farmácia», chamam a atenção para que nos nossos pequenos orçamentos domésticos se a coisa se compõe por um lado descompõe-se do outro. Não quero dizer que não seja louvável haver alguma redução e essa do cabaz alimentar é importante e bom. Seria bem pior se fosse TUDO a subir :)
Mas para além da graça do Milor a verdade é que para muita gente, acho que a maioria, a qualidade de vida tem vindo a baixar, sem parar, desde há muito.

estrela-do-mar disse...

eheheh!!!!
Tivesta graça em falar em perazinhas e maçãzinhas, porque realmente são mais pequenas do que tais «normalizadas» e até se estranha porque estamos já habituados a umas peças de fruta enormes. Mas antigamente a fruta era assim e ninguém estranhava :)
E eu até acho graça quando vejo uma com bicho, que é sinal de que não está cheia de pesticida.

fj disse...

Joaninha, joaninha, que interpretação a tua! É por todos reconhecido que este blog , aqui e alem, ´tem rasgos de inteligência, nunca o negaria.Se, muito hipotéticamente quisesse dizer o que tu dizes que eu queria dizer,então teria de ser inteiramente sincero, e afirmar, assumidamente como quem sai do armário,que 90% da inteligência aqui vertida está nos comentários, sabe-se lá com que custo conseguimos extrair de prosas em geral estereis e duras algumas coisas com interesse.E tu és mesmo das que se aproveita mais desta situação, bem escondidinha nesse ternurente nick.Ao menos eu tenho a coragem das minhas opiniões, não ando por aí a dizer bocas para depois mandar para aqui uns comentários para disfarçar.

Mary disse...

É sempre bom vir depois do fj, temos logo matéria de qualidade. Não faço ideia se ele «ao natural» também é assim, ou se é a escrever que vai encadeando as graças. A verdade é que a faceta ou uma das facetas melhor dizendo, mais engraçadas deste blog é o ser aspecto de chat aqui nos comentários :)
Claro que este tema nos toca a todos. Quando li o tal artigo na Visão tive a mesma reacção da Emiéle, fui mesmo 'esmiuçar' o que lá vinha cheia de dúvidas, mas sem dúvida que têm razão, e o tal cabaz das compras não está mais pesado, concordo que em várias coisas está até mais leve.
O complicado é que a gente precisa de mais do que aquilo que se vai buscar ao Supermercado... E aí já a porca torce o rabo.

kika disse...

É tudo verdade o que dizes, e o que diz o fj, complementa bem o que todos sentimos e o que pensamos Todos, não é bem assim!
Entramos num processo deflaccionário, o que é muito grave,e não se prevê como se vai sair disto, sem enormes sacrificios, para os quais não estamos minimamente preparados!
Émiele, se não houver lucros não há novos investimentos , logo o desemprego aumenta.
Não fiques feliz pelo que vês no supermercado, não é nada bom sintoma , a doença está aí e é pior que a gripe Á!!!!

Anónimo disse...

Claro que nem tudo está a subir, e aquela reportagem vem lembrar isso. Aliás é de ver que basta a gasolina ter baixado um bocadinho para fazer sentido que as coisas transportadas não subam. E há esse argumento que usaste que com a crise tiveram de reduzir as taxas de lucro. Ou seja não podemos estar sempre a queixarmo-nos porque depois parece o pastor e o lobo, tanto nos queixamos que já não se liga.
Portanto, é certo que no cabaz do supermercado a coisa está mais leve, mas o pior é que a gente precisa de outras coisas. Nesse artigo chamam por exemplo a atenção para que a mensalidade da tvcabo subiu 50%. Podem dizer que não é um bem essencial, claro que não é. Mas está a falar-se do pacote essencial, que era 15 € (e tal) e passou para 23 € (e o mesmo tal)
É certo que não é essencial, mas... E o bilhete de metro também subiu, e as taxas moderadoras - segundo o mesmo artigo.

Mary disse...

Kika, uma coisa é não haver lucros. Se não houvesse nem havia comércio e era mesmo um cataclismo, mas outra é 'reduzir a taxa de lucro'. Porque a coisa está montada de tal modo que o que muitas vezes vem à cabeça numa empresa são os lucros pessoais, só depois de satisfeita essa fatia se pensa na tal parte do investimento. E se as empresas analisaram que reduzindo os tais lucros aumentavam as vendas e com melhores vendas o sector se equilibrava é porque é viável, penso. O tal artigo falava em 'deflaxão' mas isso parece estar ainda muito longe, e não me lembro de cor mas tenho quase a certeza de que se disse que esta relativa baixa tinha a ver com a baixa da energia, o que faz sentido. Até aqui quando o preço da energia subia tudo subia, mas se ela descesse ficava tudo na mesma; desta vez parece que acompanharam essa descida.

Anónimo disse...

:)
Eheheheh!!!
Por este tipo de troca de opiniões nos comentários é que este blog é tão divertido!
O fj estava a gozar, porque os posts da Emiéle são formidáveis quase sempre, na minha opinião, mas é muito giro seguir depois os comentários!

(psst! Emiéle, se os posts não fossem interessantes a gente nem cá vinha né?... e a esta hota já vais em 11!)

fj disse...

Mary isto é muito bluff,em pessoa estou perto do agente funerátio, dos operacionais mesmo, Sempre no escuro e bem escondidinho.
Temos que volta a essa do lucro da mais valia. Fica para a tarde

fj disse...

Mary esqueci-me de dizer que sou quase mudo. Deixemos pois o natural à terra e aos vermes que o hão de saborear ou ás chamas do crematório (que não implicam acesso direto ao inferno, deve haver ainda um acoedo direto).

Mary disse...

FJ, contigo nada a fazer! Até a dizeres que não tens graça tens graça!!! :)

Joaninha disse...

Ena fj, nunca me tinha lembrado de associar o crematório ao inferno! Que raio de espírito tortuoso, caraças!
:))))))

(já leste o Caim?)

silvya disse...

morango58ola, emiele. obrigada, mas eu gosto mesmo de ler este blog. é divertido e faz-nos pensar,o que é muito bom.
pensar, ajuda a não enferrujar.
quanto ao tema de hoje, todos já disseram praticamente tudo, não é?
mas ainda assim, embora o leite e seus derivados, tenham baixado os preços, esse sinal não é significativo, e além do mais, é preciso notar qie muito do leite a venda não é nacional.
não é que eu seja nacionalista, não sou. (de extremos, claro), mas creio que nos devemos preocupar com os nossos proditos. não só a níveis de exportação, mas também para consumo interno.
sabem, estou como a estrela-do-mar, era tão bom, quando se apanhava a fruta da arvore, se esfregava e comia, e tinha bichinho.é que realmente não tinham essas porcarias todas, que as faz brilhantes, sem sabor e...nem tudo o que luz é ouro.
como diz o FJ, em relação aos livros e manuais escolares, está lá tudo, só que...muito escondido, e aí a malta é que parva.
ele não é parvo, é ingénuo, mas de certeza com boas intenções, e já deu para notar que tem um humor cáustico.
quanto aos medicamentos...ai! (suspiro de desânimo. porque havemos de estar doentes e ter de alimentar a industria farmacêutica?
negócios escuros, como outros aliás.
sim, o José Palmeiro, tem razão. eu subscrevo: sobra-me sempre mais mês que fim do mês.
é como os saldos. no fundo quando os fazem, é porque já embolsaram, muitas e muitas vezes, o seu valor real.
DanielSampaio, escreveu o livro "inventem-se novos pais". será que nós não podemos inventar novos preços, novas economias e quem saiba distribuir equitativamente as finanças??'
e no entanto...
cleopatra

cereja disse...

Isto hoje está muito animado. Afinal todos tinham lido a revista...
Pois, Mary e Joaninha, o fj «ao natural» é um pouco calado, mas quando fala tem graça na mesma. Contudo fala pouco...

Zorro disse...

Também acho a imagem muito sugestiva - afinal é um terrível equilíbrio. Aquilo, um pino no final daquele arco, é formidável, mas não deve ser pior do que os malabarismos que muitos de nós fazemos.
Mas claro que não TODOS como lembrou a Kika. E até há ainda muita gente de bem que não vive com tanta dificuldade, teve carreiras decentes, conseguiu ter a previdência de fazer uns seguros de saúde, umas poupanças quando as vacas estavam gordas, e agora tem umas exigências razoáveis. Tenho até familiares que sem serem ricos, vivem com conforto e sem preocupações. E ainda a semana passada ou assim, aqui nos comentários o Miguel disse que o que ganha lhe dá à vontade e ainda poupa uma grande parte do ordenado...
Mas no momento actual, isto já é a excepção. A grande maioria da antiga classe média vive bem pior do que há 10 ou 15 anos.

kika disse...

Oh Mary, mas ainda nâo viste que não é disso que se trata.
O poder de compra diminuiu muito e quando assim é os preços baixam e baixam tanto até a fase de deflaçao, porque se queres uma TV ficas á espera que ainda baixe mais!Os produtos têm de ser escuados para a produção não parar ,o que seria o caos.
Isto ainda não nos atingiu,porque me parece que todos aqui temos um vencimento no final do mês!
Vai atingir-nos quando vier a inflação, o aumento dos juros e os que já está certo e anunciado , aumento de impostos!
Não há volta a dar, e sorte tem o Miguel em conseguir poupar 70% do seu ordenado!

Mariquinhas disse...

Vim tarde e a Kika acabou de falar - no aumento dos impostos que (que tem sido falado nos últimos dias), caso se concretize, será deveras complicado, para a classe média em vias de extinção, onde me incluo...Quanto aos preços dos géneros alimentícios de 1ºnecessidade, aqui pela região Açores, ainda não dei conta da descida de preço. Eu, até, acho que, pelo menos, os produtos regionais - carne e peixe (neste caso é natural por causa da estação) – estão mais caros.Por exemplo: a carne de porco custa à volta de 9 euros o quilo e não é o lombo - a de vaca, qualidade média - 8,85 e o IVA aqui é menor e já nem se fala de quem tenha que almoçar fora... Temos menos encargos com os transportes, óbvio, mas se tivermos filhos a tirar cursos no Continente está o caldo “entornadíssimo”;))
A Kika também levantou o problema da “deflação” - é a grande preocupação numa economia como a nossa - dizem os entendidos nesses assuntos – bem, no meio de tanto cenário, cinzento, por ingenuidade ou crença, tenho uma leve esperança que esta crise possa servir para os sistemas capitalistas reformularem qualquer coisinha...

cereja disse...

Viva Mariquinhas, não aparecias por cá há uns tempos... Bem, eu não disse que tinhas decido TUDO, falei nalguns produtos, o leite e derivados, fruta, alguns legumes, etc.
Kika, é claro que se atingisse proporções de deflação seria complicado, mas não parece que seja o caso, e esse artigo dizia que não corremos esse perigo. Afinal estamos aqui a falar de alguns produtores terem baixado os preços (nesses tais produtos de supermercado, p.e.) mas não que se esteja a comprar menos à espera que eles desçam. Não vou deixar de comprar maçãs ou leite a pensar que para o mês que vem estão mais baratos. E as televisões ou coisas do tipo ainda se vendem muito bem! Mas é a tal bola de neve, se ganhamos proporcionalmente menos como se pode gastar em supérfluos...?

kika disse...

Émiele maçãs e peras são bens pereciveis, já as TVs não. Mas pronto, não me fiz entender ou estamos em circuitos diferentes...:)
Boa noite.

cereja disse...

Eu sei, Kika, mas como escrevi tudo baseada naquele artigo era exactamente a prova de que não havia a tal deflação. Já me preocuparia se isso acontecesse (e parece que acontece) com as casas. Aí é que uma paragem vai mesmo geral desemprego. Mas até nesse campo me impressiona ver tantas casas que ficaram sem ser postas à venda, à espera que os preços subissem. Conheço vários casos. Quem quis especular assim, agora torce a orelha.

fj disse...

Caim ainda não li, mas já iniciei a propaganda para ver se mo dão ou emprestam.
O raciocínio nem é particularmente turtuoso (deve ser o meu cotê de operador funerário), basta espiritualizarmos um pouco o que se passa cá por baixo.E quem é que não associou já a cremação á forma mais rápida (e indolor) de ingresso no inferno ( o modelo I, o do antigo testamento )? Mete-se pelos olhos dentro com um bocadinho de imaginação.
Kika no seu circuito até deve ter razão,mas desculpa lá tecnocrata, continuo a sentir que os preços subiram moralmente.É o contrário da seleção nacional.

kika disse...

Fj eu sei que os lucros subiram amoralmente e não foram moralmente redestribuidos...mas pelo menos não havia meio milhão de desempregados, que agora vão ao super mercado e compram massas e salsichas e confeccionam pratos com muita imaginação.
Refiro-me a pessoas que compraram casa de 250.000 euros porque tinham orçamento para isso!
Sou tecnocrata, sim mas não me decapitem por isso!:)

Miguel disse...

Este é um post interessante e com muita matéria para discussão pelos comentários aqui deixados. Tem que ficar para mais logo e como cheguei ontem a Luanda, ainda estou a ver o que aconteceu nas últimas semanas.

De todo o modo, vai já uma palavra de concordância para o que disse a kika. O cenário não é famoso.

Quanto à queda dos preços, confesso-me um desconfiado crónico nessas coisas... Não há milagres! Embora, por vezes, pareçam mesmo isso.