quinta-feira, outubro 15, 2009

Uma voltinha lá atrás

Há uns dias, ao fazer subir um estore dei um puxão tão forte à fita que, depois ao querer baixa-lo, ele não veio. Tinha encravado.
Creio que todos nós já passámos por isso, coisa banal. O certo é que o truque habitual, um outro puxão pequeno e dar uma folga na fita, não resultou. Aquilo tinha, definitivamente, encravado lá em cima!

No dia seguinte mal chegou a minha «fada-do-lar» pedi-lhe ajuda. Eu ficaria ao pé da fita para dar a tal folga e ela puxaria o estore à mão. A dificuldade é que aquela é uma janela muito grande, que tem no alto uma espécie de ‘bandeira’ fixa e era aí que o tal estore estava preso, só sendo acessível do lado de fora. A minha ideia tinha sido arranjar-se um pau com um gancho ou um arame para fazer essa operação delicada mas ela, muito despachada, puxa um banco e lá empoleirada preparava-se para trepar ao peitoril para efectuar essa operação à mão. Tudo isto num terceiro andar!
Sem pinga de sangue, agarrei-lhe com toda a força num braço quase gritando «Oh mulher, não faça isso!» e não a larguei, repetindo várias vezes num tom aflito «Não faça isso!»

Bom, tudo acabou em bem com a ajuda do tal pau, mas a verdade é que a frase que soltei e sobretudo naquele tom de aflição, fez-me reviver uma cena passada há muito:
Tínhamos ido ao circo, com o meu filho bem pequenino. Ele não estava a gostar lá muito, especialmente dos palhaços, quando a certa altura vieram os trapezistas. Fatos de lamé, focos de luz, era coisa impressionante. Ele olhava fascinado, de olhos muito abertos, quase maiores do que a cara. Várias acrobacias terminando, com muitos rufos de tambor, numa particularmente vistosa e arriscada. O tambor pára no auge da acrobacia e, no silêncio geral, ouve-se uma vozinha assustadíssima «Menina não faxa ixo! Menina não faxa ixo!!»
Era o meu rebento. Muitas cabeças a virarem-se e alguns risos.
Bem, a trapezista concluiu o número, mas ele ao meu lado tremia de cima abaixo.
Nunca foi grande apaixonado de circo, e lá por isso eu também não (sei que não é politicamente correcto, mas é assim)
E essa cena não ajudou muito.

15 comentários:

Joaninha disse...

:)
Que recordação enternecedora.
Imagina-se bem a aflição de uma criança pequenina que apenas vê o perigo.

Anónimo disse...

Eu imagino a cena da sua "fada". Cansei de vê-la por aqui, com horror, em outros apartamentos e eu na rua ou em outro, não podendo fazer nada.
Na verdade eu fiz pior. Coloquei tela protetora num apartamento em que morava - tinha dois meninos de 4 e 5 anos que eram terríveis (hoje são adolescentes terríveis). Então escuto a vizinha do andar de cima me chamar e, como estava cozinhando, não fui de pronto, mas meu filho mais velho veio me buscar. Olhei para cima e ela estava aflita.
- Mirian, eu queria que ele saísse de onde estava. Ele estava deitado na varanda, empurrando a tela com o corpo, olhando o céu.
Foi a última vez que ele fez isso. Morávamos no 8o.andar.
Hoje ele morre de medo de fazer arborismo.

beijinhos e bom dia.

josé palmeiro disse...

A Joaninha, já disse tudo e eu secundo-a.
O circo é um espectáculo de fácil adesão, mas que também desperta esses sentimentos, pois é tudo muito básico e as condições de segurança, são, na maior parte das vezes, inexistentes.

josé palmeiro disse...

Esqueci-me de falar da "fada". Cá em casa, sou eu que me ponho a fazer essas avarias...

Mary disse...

Primeiro dizer como gosto de ler «a Senhora». O seu blog é um encanto tão bem ela escreve, e é um gosto vê-la por aqui (depois de tanta reacção mais um menos histérica às palermices de um vídeo caseiro da Maitê Proença que bom ler esta brasileira!) Realmente as acrobacias na beira de uma janela, quando as vejo noutras casas, fujo logo de onde estou!
(claro que também gosto de encontrar aqui todos os outros, Palmeiro e Joaninha :) )

Coitadinho do teu filhote! Menina não faxa ixo... Pois. Devia ser aquilo que ouvia lá em casa quando tentava algo mais perigoso. :)

Mary disse...

Mas Zé Palmeiro, espero que as 'avarias' não incluam trepar a um peitoril de janela de 3º andar!!!
:)
Livra!

Anónimo disse...

:)
Esta semana está mais levezinha- posts bem humorados ou de recordações simpáticas.
Para ser franco com todo o respeito que tenho pela profissão, em criança também os palhaços me metia medo, e mesmo hoje não gosto particularmente. E nas acrobacias também ficava com o coração apertado à espera do desastre... Entendo bem o teu filho, sobretudo se era ainda pequenino.

kika disse...

Um post que me tranportou,á infância, com esses medos que deixam marcas quase inultrapassáveis.
Quanto á fada do lar ás vezes fica-se com arrepios,pelo qual é sempre bom ter o seguro em ordem...:)

josé palmeiro disse...

Não Mary, eu moro num oitavo!
Agora já me vai parecendo asneira aquilo que faço, mas há dez anos, nem disso me lembrava.

Unknown disse...

Esses teus estores de fita, se calhar são como os meus que já têm uns aninhos, quando se lhes dá para encravar é um caso sério. Eu faço como tu espero pelo dia que vem a minha empregada para me ajudar (senão cada vez que vem o técnico o mínimo são 30 euros), mas a parte "acrobática" fica por minha conta - era o que eu mais apreciava no circo quando era pequena:)) O circo vinha à ilha uma vez por ano, o meu pai fazia questão de nos levar todos os anos, no fundo era ele quem mais apreciava o circo;))
Contaste a "cena" do teu filho de forma tão expressiva que eu vi o filme todo e um "menino" lindo!!!
O circo como espectáculo, depois de adulta, também não me seduz - cumpri o ritual com os meus filhos mas também não vi neles grande interesse - agora, tudo o que envolve ou envolvia, talvez hoje seja diferente, a vida da "gente do circo" sempre me fascinou - aqui na ilha só a chegada do circo já era um grande espectáculo!

cereja disse...

Maria, os nossos filhos são sempre lindos não é? :) Sei que não consigo ser completamente imparcial...
Estes estores, por acaso, são novos, porque a própria janela é nova, mas os velhos também tentava não chamar o tal perito, porque só 'a deslocação' era um dinheirão! Compreendo que ainda por cima numa ilha, com menos distracções, o circo fosse de encher o olho. A minha declaração, sei que é politicamente incorrecta, "toda a gente" gosta de circo... E tenho muita admiração por a gente do circo e dos antigos saltimbancos. é preciso muita firma e vontade para seguir a profissão.
Zé, meu amigo, 8º andar?!!!!!! Ui! (estou a falar mas não tenho vertigens; vivi num 35º andar em Macau, na maior; até era bom por causa da luz e da vista)
Senhora, sabes que por cá também fico arrepiada quando vejo alguém encarrapitado a limpar os vidros de uma janela, ou a arranjar qualquer coisa. Alguns são de uma imprudência assustadora. E há azares...
Kika, ainda bem que te volto a ver por cá! Ainda bem que te levou a recordações agradáveis (espero) Pois é, isso do seguro tenho de o repensar...

AB disse...

Não Faxa isso-era o conselho que eu devia seguir hoje...depois dessa competição de quem periga mais alto,e das afinidades circenses(os novos circos tem muita pinta,mas há quem os não considere circos)muito boas tardes,senhoras,senhores e inté.Espero que o estore se aguente pq. trabalhos desses são cá um pincel...(esse é o 1º incidente da série,lembra-te que há sempre mais dois ou três em cadeia nestas coisas domesticas)AB

cereja disse...

Ai AB, Deus não te oiça!!!
Já estou a deitar um olho aos electrodomésticos... porque estás cheia de razão!

kika disse...

Não há duas sem três,assim é que é, e não uma sem duas!!!
Fica tranquila.
Olha Émiele nem net, nem leitura,nem praia. Niente!!
Mas está tudo a ficar em ordem . Gosto de vir ao teu "refúgio" virtual

cereja disse...

Por um lado tens razão, Kika, o ditado diz isso, mas o que a gente sabe é que «o mal é começar...»
E nem quero pensar no «duas sem 3» porque afinal já tenho o 2: partiu-se-me o vidro traseiro do carro, e o seguro tinha deixado de cobrir sem eu ter reparado... (quando o renovaram porque o valor comercial tinha baixado, não incluíram o seguro dos vidros partidos que tinha, e eu não notei!) Gulp! Nem digo quanto tive de pagar!.... :(