quinta-feira, outubro 29, 2009

Frei Tomás



Pagar a tempo e horas (devia ser o normal, mas afinal parece que não é: até tem um programa especial e tudo...)
A noticia já vem da semana passada mas só hoje me deu para reparar nela: até agora o Estado tinha cerca de 3 meses para pagar as suas dívidas às empresas que lhe prestavam serviços, mas agora, Bruxelas segundo a Directiva do Pagamento Tardio apertou esse prazo para um mês. Ameaça - se isso não se cumprir Portugal perde os apoios comunitários.
Parece sério.
Todos nós sabemos que quando devemos alguma coisa ao Estado ele é bem lesto em se fazer pagar. Ao Estado, aos Bancos, a tudo o que detenha poder. Quem não ouviu histórias que nos parecem caricatas de uma dívida ínfima, de cêntimos, que implicou o congelamento do ordenado ou até a ameaça do arresto de bens. A explicação é que a lei é cega, tanto vale cêntimos como milhões (mas não parece ser bem assim porque os milhões safam-se melhor…)
Por outro lado, quem teve negócios com o Estado, sabe que não existe mais lento pagador. Com múltiplas desculpas - no que parece um novelo muito enrolado e com muitos nós – paga atrasado, muito atrasado, atrasadíssimo. Dá para desesperar. Muitas vezes tem de se passar a factura ou o recibo verde, muito antes de a conta ter sido paga. Claro que com esse sistema ele próprio é prejudicado (ou seja todos nós) porque quem se prepara a vender alguma coisa ao Estado, quando pode inflaciona um tanto a proposta para compensar o tempo de espera…
Esta informação diz-nos que «o Estado deve três mil milhões de euros às PME». É muito dinheiro. Pôr estas contas em dia parece impossível, até porque, pelo diz o presidente da Associação Nacional das PME, «os fundos de Bruxelas estão a ser desviados para Lisboa e orientados para as grandes empresas».
Será?

14 comentários:

cereja disse...

Isto vem como comentário porque foge ao tema do post, mas é 'aparentado' porque afinal é um caso entre imensos, onde a diferença de um euro implica imenso. Sei de uma senhora de muita idade que vive de duas pensões que somadas lhe dão 400 e 1 euro. Ela é já bem velhinha, e como acontece nesses casos, gasta um dinheiro imenso com a sua saúde. Se aquilo que recebe fosse até aos 400 euros tinha isenção nos serviços de saúde, mas como tem esse euro a mais, tem de pagar tudo!
É claro que tem de haver uma linha divisória, antes da qual se é isento e a partir dela se deixa de o ser, mas não podiam as coisas ser estudadas caso a caso? Evitavam-se grandes injustiças.

josé palmeiro disse...

O comentário que deixaste, como complemento, é demasiado real para que possamos ter alguma consideração por quem gere os nossos dinheiros. Ainda hoje, continuam as notícias de corrupção, agora com ligações, muito claras, ao PS. como é que nós, a arraia miúda, poderemos ter as contas em dia?
Quem é que tem vontade de pagar a tempo e horas, ganha-se alguma coisa com isso?
As injustiças, deverão ser corrigidas, no topo, depois os outros, os do "pelotão", aqueles que não se "dopam", seguem o exemplo.

Joaninha disse...

É isso mesmo, Palmeiro, a questão do exemplo é fortíssimo. Para o bem e para o mal. Estamos cansados de ouvir «se os outros fazem...» como justificação de tudo e mais alguma coisa. Nas coisas que os-outros-não-fazem já se sente mais vergonha, mesmo quando se faz.
Pagar ao Estado ou aos Bancos é das tais coisas que a arraia miúda não se pode descuidar ou os tais juros de mora são terríveis, tipo agiotas. Contudo uma grande empresa pode «reter» as contribuições da Segurança Social dos seus trabalhadores com o maior desplante como se fosse dinheiro dela.
Quanto ao Estado a pagar, isso já se sabe e todos encolhem os ombros, mais ou menos resignados. E dizem-me «fica descansada que pagam!». Não fico nada descansada, porque no dia da amortização da casa não vou dizer ao meu Banco «fique descansado que assim que o estado me pagar eu também lhe pago». Até se riam!

sem-nick disse...

Parece malhar em ferro frio, mas nunca é demais chamar a atenção.
Que há duas medidas, para quem deve e para quem tem a haver (quando se trata do Estado) é certo e sabido. E a gente mais amochando, é preciso que Bruxelas se zangue, ai, ai, ai...

kika disse...

É a devassa total.
Nem digo mais nada, cansei!!!
Isto há-de ter um fim, pode estar ainda longinquo, mas o País não aguenta tanta prosmicuidade injustiça corrupção e sei que mais.

Mary disse...

o Pópulo está muito sossegado hoje.
Chegar à hora do almoço com 4 ou 5 comentários não é isso a que estamos habituados!
:)
mas o certo é que o que aqui se diz é tão pacífico, que não fica nada para dizer! Não se pode estar mais de acordo...

Mary disse...

Só uma achega ainda, no tom de concordância geral: tenho um familiar a quem foi proposta uma tarefa, para ... o Estado. Tudo bem, eram uns tostões que nos faziam falta. Mas o interessante é que ele teve de passar um «recibo verde» declarando que tinha recebido a quantia em causa para depois a secretaria desse organismo processar o dinheiro. Ou seja, fez um falso testemunho - que era obrigatório - para poder receber o pagamento do que JÁ TINHA FEITO.
Mas o mais interessante é que depois disso passaram-se meses e meses. Ou seja, ele teve de pagar IRS com base nesse recibo, por uma quantia que ainda não tinha recebido!!! E já agora, quando a recebeu para todos os efeitos até valia menos dado a inflação do que quando foi contratado para aquilo!
É assim que as coisas se passam....

Anónimo disse...

uma medida acertada porém, para alguns, tardia...



(quantas empresas entretanto falidas?)

fj disse...

Quanto à diretiva haja esperanças, o seu próprio nome contem já a promessa do respetivo incumprimento.
O caso descrito esse é mesmo sério.O caso a caso não deve ser possivel, mas para já 400 euros é muito pouco, teria de passar-se para verba mais realista (humana ), depois, se houvesse que pagar, estabelecer algumas classes, não saltar logo para os 100%, se é o caso.

cereja disse...

Boa noite, amigos!
Hoje começo e acabo os comentários (que no meu caso não se deviam chamar assim... ) :)
Pois é, o facto dessa directiva (??) falar em penalizações -e são pesadas - é positivo. Não é apenas «recomendações» que para isso creio que já nem se liga.
O caso de que falei é real, mas deve representar muitos outros. É evidente que hoje em dia, 400 euros para quem se tenha de manter com isso é muito pouco. Acumuladas as despesas inevitáveis da casa e comida a conta da farmácia é um peso grande. Creio que o que a Segurança Social ou os serviços de Saúde contam que haja familiares que ajudam, mas a regra é assim.
Kika, este esquema de se levar um tempo absurdo a pagar já vem de longe como o Brandy Constantino, o caso que a Mary conta, sei bem que é assim - primeiro passamos o recibo e muuuuuuto tempo depois lá nos pagam. Muitas vezes no ano seguinte! talvez agora moralize.
Elle, é isso mesmo. As pequenas empresas que não aguentaram, já nada lhes vale.
Zé Palmeiro, há de facto certos aspectos na nossa terra que nos parece de 3º mundo...

Miguel disse...

Quanto a Bruxelas, acho muito bem. O que se passa em Portugal, nessa matéria, é revelador da situação. "Valha-nos" Bruxelas!

Quanto ao que diz o José Palmeiro e o desabafo da Kikas, pois... Supostamente o poder judicial é independente, não é? Se é, porque é que não actua? Só quando começarem a haver detenções a sério é que as pessoas começarão a ver as coisas de outra maneira, talvez... Mas o problema, apesar de tudo, não está na aplicação do castigo mas na formação dessas pessoas. Como é que essa gentalha chegou onde chegou? Como é que esses inqualificados, que até me dizem que são uns tipos bons, podem ter tanto "sucesso". Resumindo, triste país esse. De bandidos, trafulhas, aldrabões, vigaristas, gente desprovida de tudo e mais alguma coisa que tem como único fito na vida o vil metal... a bem ou a mal.

Radicalizei o discurso mas, sem dúvida, que me sinto cada vez mais enojado com o que aí se passa. Isto pode parecer algo insultuoso para alguns mas, de facto, Portugal não teve nenhuma revolução. O nosso sistema está a degenerar em algo de muito estranho. O povo, todos nós, é apenas o meio não o fim.

Apesar de tudo, sou um optimista e tenho que acreditar no futuro. Só assim tomei a decisão de regressar a Portugal, apesar de ser só em 2010. Se me fartar rapidamente, lá farei as malas e abalarei por esse mundo fora antes que asfixie...

cereja disse...

Por mim, Miguel, acho que temos mesmo de ser optimistas! Até porque, pelo que se vê, até Bruxelas nos puxa as orelhas
(a nós salvo seja, a «eles»)

Anónimo disse...

Então o Fernando Augusto Morais (presidente da Associação Nacional das PME), disse «os fundos de Bruxelas estão a ser desviados para Lisboa e orientados para as grandes empresas»?

Sempre este bairrismo bacoco que o pessoal do Porto tem contra Lisboa (ele é do Porto carago!) e curiosamente, se existe alguém que não precisa de apoios comunitários é precisamente ele, ou não estivesse à frente da Fundação Dr. Luís de Araújo e do Instututo das Artes e Ciências.
E também tem as suas actividades económicas em Lisboa.

cereja disse...

Amigo anónimo, não gosto muito de comprar essas guerras Porto-Lisboa (nem em futebol...) Claro que dá a ideia que quem entra em acusações é sempre o Norte, mas eles podem dizer que Lisboa não diz essas coisas porque está sempre a ganhar... Eu não sei. Nem sabia as funções desse senhor, só o citei pela entrevista.