terça-feira, outubro 13, 2009

Camas

Li a semana passada um post muito bom que nos remetia para um outro, ainda melhor.
A autora fazia-nos reflectir na importância da cama na história da nossa vida, e dava uma volta connosco pelas suas recordações, relembrando a ideia de «cama-de-corpo-e-meio». Muito sugestivo tudo o que ela disse.
A verdade é que a cama é de certa forma o núcleo de uma casa. Certo, será mais simbólico o fogo, ou o fogão. Mas a verdade é que se pode habitar uma casa sem se cozinhar, sei de pessoas que quase não entram na sua cozinha, mas uma casa sem ter onde dormir…?! Li em tempos num livro sobre ‘sociologia da família’ que, em eras passadas, a mulher trazia sempre como dote uma cama, mesmo que não tivesse mais nada para contribuir para a casa. Era a pedra basilar de uma casa. E os nobres e reis, tinham camas de ostentação, só para receber visitas lá deitados e depois para dormir tinham outras, talvez mais confortáveis…
Mas voltando aos dias de hoje, as camas são talvez mais simples e decerto mais confortáveis. Como as casas vão sendo cada vez mais pequenas, temos as ‘camas-de-pessoa-só’ para uma só pessoa como o nome indica, e cama-de-casal para quem dorme acompanhado. Ponto. Claro que há quem já tenha dormido acompanhado e agora mantenha a cama grande ou quem o faça porque goste de dormir à larga.
Mas, hoje em dia, a ideia de ‘pessoa-e-meia’ é estranha aos nossos hábitos. E contudo é afinal bem cómoda, não ficamos perdidos no meio de uma grande cama mas está-se à larga!
E, estimulada por aqueles posts, comecei também a relembrar “as camas da minha vida” como ela disse. Porque a verdade é que afinal herdámos muitas das camas onde vamos dormindo ao longo da nossa vida, e isso tem importância. De facto lá na cama dos pais nunca dormi, por mais freudiano que pudesse ter sido, mas já dormi na cama dos avós. Até duas camas de dois avós diferentes. Ou na de ‘pessoa e meia’ de uma avó, o que sempre me fez espécie pensei ao princípio que era de um casal muito magrinho. Que depois passou para o meu filho. E, desde há muitos anos, que durmo na cama de uma amiga que trocou comigo a tal cama da avó por uma da avó dela!
Confusões, não é? Ou antes, recordações.


23 comentários:

AB disse...

Essa das camas da minha vida ....deixou-me de rastos....(só se fala aqui de castas caminhas de avó mãe ou tio?).Vou dar uma volta e depois reflito melhor ...AB

Joaninha disse...

Esta GV que tu linkas e já tem aparecido aqui, escreve muito bem. Está muito bem visto essa de «pessoa e meia» e não sabia que no Brasil se dizia de viúva. Todo um ciclo - solteira, cama pequena, casada, cama grande, viúva, cama assim-assim... lol A ideia de que depois de dormir em cama grande já não dá jeito a pequena :)
Mas a cama grande, de casal, como é para ser partilhada não fica tão grande assim. Quando um deles tem mau dormir, ela fica bem reduzida!

sem-nick disse...

Claro que há muito quem as compre a seu gosto numa loja qualquer, mas quando se gosta e se pode herdar, é claro que elas têm sempre uma história.
A malta mais nova hoje não costuma gostar disso, de camas antigas que ocupam espaço. Gostam mais da camas baixinhas que é quase só colchão. Vão ao Ikea e toca a andar...

Nós não tivemos a sorte de herdar nenhuma, e para comprar não me estou a ver a ir à Morais Soares comprar uma imitação manhosa. Autêntica, nem vale a pena, que não chegamos aos seus preços.

Mary disse...

Mas sem-nick, ainda podem conseguir uma «autêntica» de ferro, ali em Sintra por exemplo, sem nos arruinarmos. Foi o meu caso. Na minha família não se herdou nada, desapareceram ou estragaram-se os móveis que poderiam passar de geração.

Mary disse...

A AB tem razão, o título é sugestivo e leva-nos para outras paragens, menos inocentes. Ehehehe, mas se os avós e pais não lhes tivessem dado outro uso para além de dormir, não estávamos aqui sentados a escrever isto... :)

fj disse...

Matéria que não domino ou domino mal,Impossivel comentar.

a glória do vulgar disse...

obrigada pelas citações às minhas camas. neste caso seria melhor aos meus "cama". enfim como quiserem...
o post fornece pistas para desenvolver o assunto e os comentários são todos bem divertidos mas, em termos de food for thought, é o fj que leva a palma a todos

PS: AB porque achas que das avós às mães, passando pelos tios, @s noss@s antepassad@s foram tod@s cast@s? por serem noss@s?

a glória do vulgar disse...

ah desculpem a mary já tinha dito o que eu quis dizer a(o) AB.

sem-nick disse...

Boa entrada a da GV (é giro a «glória do vulgar», parece provocação mas dá para pensar)
Mas acho que é tal como dizes, os nossos pais e avós são forçosamente inocentes. Nem imagino outra coisa :) Nem sei como tenho tios, quando olho os meus avós parece-me impossível :)) Mas os outros, até podia ser ali um deboche do caraças!

Mary disse...

Realmente o FJ hoje fugiu logo, contra o que estou acostumada. Tem sempre aquele humor até por vezes difícil de descodificar...
O tema não lhe foi sugestivo...?

shark disse...

Eu também gosto muito de uma boa cama...
:)

Anónimo disse...

Claro que a AB tem toda a razão. Quando a gente fala em «camas da minha vida» :) o que desfila aos nossos olhos são camas diferentes, dos relacionamentos que temos tido, ora!
A mim, foi o clic que tive!
Mas voltando atrás, a caminha do meu quarto de cama tem de ser cómoda e funcional. Pensando vem, quase um terço da minha vida é passado lá!
E, tens razão, é mesmo a cama que centraliza o ter-se uma casa. Mas a cozinha, olha que também. Por isso é que não gosto lá muito das kitchinettes, assim como quando havia a moda das camas escondidas em armários e coisas dessas! Tive uns amigos que escolheram não ter quarto de cama. Tinham duas salas! Uma normal, e na outra tinham um sofá cama onde à noite dormiam. Que raio de ideia!!!

josé palmeiro disse...

Sugestivo este post!
Sugestivo e verdadeiro, diga-se de passagem.
Também eu herdei uma cama,de pessoa e meia que foi a minha cama de casal até que a idade, a transformação dos corpos e as vicissitudes da vida, me levaram a ter uma cama, quadrada de 2X2, era uma maravilha, estava em África, calor imenso e só um ring de box, nos podia salvar. Regressado ao frio, voltámos para a dita cama de pessoa e meia, mas, mais tarde quando os sonos se tornaram diferentes, optamos por uma solução que se tem revelado imensamente eficaz, duas camas de pessoa e meia. Mais à vontade, nada de incómodos e nada que impeça o acasalamento quando se revela necessário. Experimentem e digam de sua justiça.
Tudo uma questão de saber viver e de fruir os benefícios que o viver, nos dá.
Quanto aos colchões, bem isso dava para um outro escrito, pois há os duros os assim assim e os moles. Há os de espuma, os de penas, os de lã, cada vez menos, e os de espumas com as mais variadas densidades. Enfim, uma panóplia de situações e de gostos, que não se discutem, usam-se.

RS disse...

Não sei se vem a propósito, mas eu tinha-me esquecido que este blog tem uma funcionalidade, que torna as letras do texto maiores; ali à direita logo em cima, se clicarmos no +A o texto fica grande. Como muitas vezes vou buscar os óculos quando venho para o computador, isto é muito bem!

Esta divagação tem bastante piada, até com um desvio sociológico. Hoje escandalizamo-nos (e bem) com os big brothers e coisas dessas, mas afinal os reis, dantes, recebiam as pessoas ... na cama! E a rainha dava à luz em público!
ealmente quando herdamos alguns móveis herdamos também parte da história da família. A cama pode ser mais visível, mas não só.

Fabulosa disse...

eu gosto da minha cama, do meu colchão e da companhia que dor,me comigo nela! ;)

AB disse...

1ª-reflexão-Parece que, numa penhora,por exemplo,não é permitido levar a cama.Ou pelo menos "uma" cama tem de ser deixada.Na casa onde nasci houve um leilão de móveis ou sejam foram retirados móveis para serem leiloados para execução de dívidas.Vi levarem o berço que tinha sido do meu pai e que tb. usei como todos os que iam nascendo na familia.Lembro-me que berrei muito.Era a altura em que detestava que me tirassem coisas ainda que não fossem exactamente só minhas.
2ªreflexão-A bela cama branca com flores coloridas na cabeceira, bem alentejana.A colcha de fustão.A felicidade era aquele triangulo de sol que pousava no canto direito mesmo com as portadas fechadas.
3ªreflexão-A cõr do acolchoado da cama da minha avó paterna onde a almofada encostada era uma espécie de heresia no dia em que ela morreu.
4ª-reflexão-A cama de grades do meu filho mais novo-era cor-de-laranja.
5ª-reflexão-Dei há pouco tempo a cama do meu filho mais velho.Tenho a certeza de que o miudo que a usa a vai estimar.
6ª-reflexão-A minha cama não foi propriamente herdada mas escolhida de entre móveis velhos de um sotão que tb. já não existe.Era uma cama de pessoa só em ferro.Mandei unir os pés com a cabeça e fiz uma belissima cabeceira.Pintei-a eu.È linda.
7ª-reflexão-Das camas herdadas só dormi em uma ou duas por acaso.Uma jaz desmanchada debaixo da minha, porque sendo de corpo e meio ,ninguém por cá quer dormir nela e eu não tenho arrecadação.Sendo lindissima-é uma D. Maria "pobre"-foi trocada por um sommier King-size pelo usuario que gosta de se espraiar à vontade...
8ª reflexão sem reflexão nenhuma-Não sei muito da sexualidade dos meus tios e avós mas o que sei dá para ter quasi a certeza de que não era nas camas de casa que ela se esprimia mais livremente.AB

Joaninha disse...

Já tinha pensado que a AB tardava mas arrecadava!
Que belas memórias!!!
Não sabia que numa penhora se tinha de deixar ficar uma cama. Muito interessante e de acordo com o que aqui se disse.

Unknown disse...

Cada um saberá dizer da "cama" em que se deita...Da "minha", eu digo - o mais importante é, foi e será sempre, o colchão (leito) e, pensando numa eventual queda, quando mais próxima do chão melhor...O que não gosto, mesmo, é que me façam a cama:))
Mas, já que falaste no fogo e fogão, simbolismos à parte, para mim é mesmo o elemento central numa casa. Eu seria capaz de dormir sobre uns cobertores ou até num colchão de folha, agora, sem lume para cozinhar seria muito difícil - isto sou eu que gosto de cozinhar e que, a propósito de uma refeição, adoro reunir a família e amigos para uma boa cavaqueira.

(visito com alguma frequência a gv, tirando o que não está ao meu "alcance", aprecio muito o que escreve - o seu talento)

cereja disse...

É curioso como este tipo de posts atraem mais a opinião das pessoas!
Obrigada, GV, pela referência lá no «Glória do Vulgar», assim cada uma de nós atrai os leitores da outra :)
AB, excelente o teu comentário/memória. 'Vivemos' contigo esses momentos tão diversos da tua vida tão rica e cheia.
Tinha já uma vez ouvido essa coisa de não se poder levar a última cama de uma casa, mas estava completamente esquecida. A minha memória e a tua são quase o oposto - a tua é excelente e a minha fraquita.

AB disse...

Obrigada Emiele e obrigada a todos/as os que desde que recomecei a vir por aqui se alegraram com isso.A"Glória do Vulgar" é um excelente blog com um excelente título.Ainda a propósito das camas de corpo e meio não sabia a designação que lhe davam no Brasil mas não dcdeixa de ser curiosa.Uma viuva só perde a metade da sua metade?Faz lembrar muito uma definição antiga de viuvo:"um homem que perdeu metade da inteligencia".AB

kika disse...

São horas da caminha e cá vou eu:)
Boa noite!!

Unknown disse...

Olá Kika, ainda bem que diz qualquer coisa, assim vejo que em princípio está bem, até qualquer dia e boa noite!

cereja disse...

AB, eu também fico contente quando te vejo por aqui, mas percebo muito bem quando não te dá para alimentar este meu 'vício' :)
Kika! Já tínhamos notado a tua falta. E não fui só eu!... Bom Dia!
Maria, de facto a cama até dá para vários ditados, 'deitar-se na cama que fez' é bem verdade para certas pessoas queixosas sem nenhuma autocrítica, assim como o 'fazer-lhe a cama' no outro sentido. Tens razão quanto ao lume e o fogo tão simbólico, mas quando dizes que eras capaz de dormir até no chão, para nós hoje isso só acontece numa urgência, tem um certo ar de 'acampamento' e não de casa.
Fabulosa, teve graça a tua gralha «e da companhia que dor,me comigo nela!» Mas a gente entendeu :)