O valor e o preço
A minha F., a “fada-do-lar” que há muitos anos cuida da minha casa, gosta muito de me oferecer prendas. De vez em quando aparece com uma fruta, com um raminho de flores, ou até muitas vezes com coisas compradas mas que achou que ficavam bem ou faziam falta na minha casa. Por vezes fico embaraçada por não gostar especialmente da dita ‘prenda’, mas não a quero ofender sendo franca.
Há uns dia vi-a a usar um esfregão novo. Reparei nele, porque era de uma cor vistosa, e lá me explicou que ela é que o tinha trazido. Agradeci-lhe com qualquer comentário simpático a dizer-lhe que era diferente e devia ser bom, ao que me respondeu muito despachada «Ah, pois, este é melhor, é claro! Foi mais caro!»
A frase ficou a soar aos meus ouvidos, porque foi dito como uma evidência «o-que-é-caro-é-bom» coisa que muita gente pensa. Entre dois produtos iguais, se um é mais caro é porque é melhor. Não ocorre verificar de facto a qualidade, até pode ser que o produtor preferisse ganhar menos e vender mais, por exemplo. Até pode acontecer!
E lembrei-me de uma história de uma minha amiga. Há anos que ela vem acumulando, para além do seu trabalho oficial, o exercício de uma profissão liberal nos finais de tarde. E é uma profissional competente.
Ora acontece que esta minha amiga, é pessoa sensível e tem uma tabela de honorários baixa porque sabe que a vida está complicada (se agora ainda mais, há anos que assim é) e dizia que preferia levar menos mas ter a consciência de que as pessoas não evitariam ir consultá-la por falta de dinheiro. Faz sentido, não é?
Um dia chegou ao pé de mim com os olhos a faiscar.
- «Tu queres saber?! Hoje quando entrei no consultório estavam duas pessoas na sala de espera que não me viram passar, e ouvi uma dizer para a outra: Venho a esta especialista porque me disseram muito bem dela, mas não sei. Estive ali a ver a tabela e ela leva tão pouco que não deve ser lá grande coisa. Huummm… Não fiquei lá com grande fé! Imagina tu! Tive cá uma raiva que só me apeteceu aumentar cada consulta para o dobro. Eu com tantos escrúpulos, e afinal estás a ver?!!!»
Respondi-lhe com um sorriso triste. O que se pensa, num caso destes? Se eu fosse ela, era capaz de pensar o mesmo, afinal a cliente teve o raciocínio da minha F. sobre o esfregão novo. O bom tem de ser caro e mais nada!
Há uns dia vi-a a usar um esfregão novo. Reparei nele, porque era de uma cor vistosa, e lá me explicou que ela é que o tinha trazido. Agradeci-lhe com qualquer comentário simpático a dizer-lhe que era diferente e devia ser bom, ao que me respondeu muito despachada «Ah, pois, este é melhor, é claro! Foi mais caro!»
A frase ficou a soar aos meus ouvidos, porque foi dito como uma evidência «o-que-é-caro-é-bom» coisa que muita gente pensa. Entre dois produtos iguais, se um é mais caro é porque é melhor. Não ocorre verificar de facto a qualidade, até pode ser que o produtor preferisse ganhar menos e vender mais, por exemplo. Até pode acontecer!
E lembrei-me de uma história de uma minha amiga. Há anos que ela vem acumulando, para além do seu trabalho oficial, o exercício de uma profissão liberal nos finais de tarde. E é uma profissional competente.
Ora acontece que esta minha amiga, é pessoa sensível e tem uma tabela de honorários baixa porque sabe que a vida está complicada (se agora ainda mais, há anos que assim é) e dizia que preferia levar menos mas ter a consciência de que as pessoas não evitariam ir consultá-la por falta de dinheiro. Faz sentido, não é?
Um dia chegou ao pé de mim com os olhos a faiscar.
- «Tu queres saber?! Hoje quando entrei no consultório estavam duas pessoas na sala de espera que não me viram passar, e ouvi uma dizer para a outra: Venho a esta especialista porque me disseram muito bem dela, mas não sei. Estive ali a ver a tabela e ela leva tão pouco que não deve ser lá grande coisa. Huummm… Não fiquei lá com grande fé! Imagina tu! Tive cá uma raiva que só me apeteceu aumentar cada consulta para o dobro. Eu com tantos escrúpulos, e afinal estás a ver?!!!»
Respondi-lhe com um sorriso triste. O que se pensa, num caso destes? Se eu fosse ela, era capaz de pensar o mesmo, afinal a cliente teve o raciocínio da minha F. sobre o esfregão novo. O bom tem de ser caro e mais nada!
21 comentários:
Poder-te-ia responder com outros exemplos, por exemplos os "explicadores", bon, só os que levam mundos e fundos e por aí foora...
É o povo que temos e o triste é verificar que, nada mudou, para melhor e que estas ideias vindas não sei de onde, ainda grassam nesses espíritos.
Pois é, esse exemplo é muito bom. Se um explicador não se faz pagar muito bem, não «é grande coisa». Bem visto.
Eu ainda entendo que nas coisas materiais, digamos assim, se pense que o material com que foi construído sendo de melhor qualidade deva ser mais caro (e afinal nem isso...) mas quando se trata de serviços como o da minha amiga ou o que citas, faz mesmo uma confusão tramada!
E quem não conhece outros casos, não é?
Essa do esfregão é um belo exemplo! Ainda por cima, muitas dessas coisas são gadjets, 'gracinhas' que valem mais pela apresentação do que pela resistência ou utilidade. Muitas vezes temos a gaveta cheia de coisas e coisinhas que não servem para nada mas comprámos porque nos parecia que eram bons e tanta vez que o preço é que serve de avaliador...!
Ainda a questão do preço. Muitíssimas vezes tem é a ver do local onde se compra. Comparem produtos comprados no Corte Inglês e na loja do chinês mais próxima. Igualmente «made in China» e um deles a custar mais 10 vezes do que o outro!!!! Já me tem acontecido trocá-los e depois não os saber distinguir!
Ás vezes Emiéle, tens tendência a caíres num tom 'politicamente correcto'. Não que eu esteja contra, mas...
Por alguma razão se diz que «o barato sai caro» não é? Não quero dizer que seja EM TUDO, mas como disseste no teu primeiro comentário ao Palmeiro, há coisas onde os materiais de melhor qualidade são mesmo mais caros portanto o produto tem de ser mais caro, não é?
Quanto às pessoas que trabalham por pouco dinheiro cada vez as encontro menos. Pelo contrário o que vejo são aldrabões (então operários que nos vêm a casa nem se fala!!!) que levam couro e cabelo. Chegam cá, demoram 10 minutos, levam 50 euros da deslocação, e 8 dias depois está tudo na mesma...
para mim é uma questão de critério e cada vez mais temos que ser pessoas esclarecidas, enquanto consumidoras, é tanta a oferta e tão apelativa á 1º vista. Normalmente esse espírito, empírico, de "o que é mais caro é melhor" é quase sempre apanágio de alguma desinformação ou preconceito.
(salvaguardando o que já aqui foi dito sobre qualidade versus preço, também, hoje em dia, verifica-se o "culto pela marca" - nomeadamente nos jovens e em algumas "elites" e como sempre dizes, não pode generalizar)
Isto hoje está mais pacato, apesar do José Palmeiro ter vindo cá muito cedinho! É que 8 e meia aqui devem ser umas 7 e meia nos Açores!!! Livra, és tu e ele!
Entendo bem a tua amiga que também cá por casa sei de uma história a papel químico dessa! Uma profissão liberal que por escrúpulo leva pela parte debaixo da tabela, e preferem ir a outros porque «devem ser melhores»!!! Assim como os médicos que receitam medicamentos mais caros, são melhores...
A Maria tem razão, essa atitude é sobretudo de pessoas menos informadas e esclarecidas.
A nossa estrelinha hoje acordou com os pés de fora ou cosa assim.
É que não acho mesmo nada que a Emiéle seja pc (politicamente correcta, é claro) farta-se de deixar aqui opiniões que vão à revelia do que muitos acham!
Neste caso, também ando farto de ouvir esse tipo de comentário, e é evidente que o auge é a conversa das marcas! Nem os posso ouvir!!!
Quando eu era puto não havia disso e os materiais era bons, caraças! (alguns, mas não tinham marca nenhuma...)
Ai, as marcas!!!
GRRRRR!!!
E é a malta mais nova que mais liga a isso. Quando eu era novo, a etiqueta era para estar escondida!!
:)
Há os presunçosos, focalizei-me no Zé Palmeiro, que quando estabelecem preços altos , acham que são bons e que por isso têm de ser bem pagos ou tentam fingir que são bons atravez dos preços que praticam.Ficam sujeitos á seleção natural...
Quanto ao "made in china "do Corte Inglês, desculpa lá Joaninha mas obviamente que não tem nada a ver com o Chinoca da esquina.
A qualidade paga-se! Seja feito na China ou na Alemanha .Parece-me um
preconceito pensar que a China não tem qualidade!
As grandes marcas fabricam lá e todos sabemos porquê!
O barato sai caro como lembra muito bem a estrela-do-mar, ou então tambem se diz:
Quem compra ruim pano, compra duas vezes no ano.
Aplica-se a tudo, podem crer!
Por causa das marcas, não posso deixar de cá voltar para contar uma "estória" dum meu cunhado que depois de comprar uns ténis sem qualquer marca de importância, os baptizou de "ardidasespuma"!!!
Emiéle,esqueci-me de referenciar a tua amiga. Se ela for boa no que faz como dizes, terá sim que subir os preços, para seleccionar a clientela, caso contrário não terá tempo para atende-los .Funciona o passa a palavra.
É certo Zé Palmeiro, também conheço pessoas que gozam com isso e inventam umas «marcas exóticas»... Aliás quem liga muito a isso das marcas, como os modelos também variam de ano para ano, acabam por se ir 'actualizando' e nem sequer os produtos duram mais do que os outros :)
kika, realmente a minha amiga tem bastante clientela exactamente porque os clientes vão recomendando uns aos outros. A maior publicidade que ela faz é a que é feita pelas pessoas que lá vão. E, não, apesar disso ainda é quem leva menos lá no consultório dela...
Quanto às coisas serem mais caras num local como o Corte Inglês há um factor importante a levar em conta - apesar de tudo eles têm mais gastos. Pagam os impostos com certeza, têm de pagar a empregados, às equipas de limpeza, decerto que uma enorme conta de electricidade, etc, etc. As lojinhas familiares como as dos chineses, nem sempre estão muito asseadas (devem ser eles quem limpa) estão mal iluminadas, e as taxas de impostos devem ser diferentes. Contudo, é verdade que podemos encontrar produtos praticamente iguais numa lojinha dessas, de vão de escada, e numa de um Centro Comercial. Para acrescentar a piada do Zé palmeiro, já me tem acontecido mostrar alguma coisa que comprei numa loja dessas e alguém dizer-me em tom respeitoso «Ah, essa sim! Vê-se logo que foi comprado numa loja boa, tem outro aspecto!!!» e eu morta de riso nem os desminto.
Eu referi-me às marcas, não excluindo a existência de qualidade em algumas sobretudo se falarmos de produtos mais sofisticados tecnologicamente e, mais uma vez, muita desta indústria é manufacturada pelos chineses que dão cartas no mercado, mercado esse, cada vez mais competitivo e com regras muito específicas.
Não querendo contrariar nem armar-me em especialista na matéria, atrevo-me a dizer que existem alguns mitos sobre o assunto que não aceito (eu e o meu marido também trabalhamos a recibo verde e em áreas muito subjectivas de avaliação e julgamento) o "cliché", não menos preconceituoso - "o barato sai caro" e recuso -me a nivelar-me por uma bitola mais alta a fim de de me ser reconhecido mais talento/qualidade, digo isso, no meu caso e com humildade.
Perdo-a -me, o lençol, mas este tema entusiasmou-me!
(acho sempre graça quando escrevo o meu nick depois da chegada da Maria aqui ao blog! ) :)
Apesar de entender bem o que disse a Kika, e realmente também concordo que uma coisa de boa qualidade dure mais (o tal 'bom pano' que dura 'todo o ano') não é por ser mais caro que é melhor, como sabemos, e aquilo que disse a Emiéle no segundo comentário também já passei por isso: dizer que comprei uma coisa noutro sítio e de repente muita gente começa a achar que é muito bom ou bonito. Farto-me de rir para dentro...
Ora este post é exactamente para chamar a atenção não que «o ruim pano dure todo o ano» mas que o barato saia caro. Muitas vezes o caro... também sai ainda mais caro! Há uns tempos uns amigos meus estrangeiros compraram cá (exactamente no dito Corte Inglês de que se falou) uns sapatos de marca porque acharam que em Portugal eram mais baratos. Talvez fossem, mas a verdade é que tiveram de voltar 3 ou 4 ou 5 vezes lá porque não estavam em condições (de marca, hein?!) e eles como bons estrangeiros sabem reclamar! Mas se acabou a serem indemnizados perderam várias tardes do tempo que não era muito no balcão das reclamações...
Quanto aos bons profissionais, entendo bem a Maria porque na família também tenho casos assim. É difícil chegar-se a acordo, muitas vezes.
(ai que grande lençol!)
E esqueci-me de dizer que invejo a tua «fada do lar»! Caramba, mulher, ela até te dá prendas...????!
:))) Tens razão, Mary, até me dá prendas!!! E é boa pessoa, para além de estar cá de pedra e cal o que é muito tranquilizador para mim que não gosto nada de mudar.
OK, quanto aos comentários, felizmente houve algumas discordâncias mas nada de invulgar. Afinal estamos no essencial de acordo, que somos pessoas de bom senso..
Concordo com a maior parte das opiniões. E é tudo muito relativo, nem tanto ao mar, nem tanto à terra.
Há de tudo um pouco. Penso, apesar de tudo, que não se deve misturar bens com serviços. Passa muito por estarmos bem informados enquanto consumidores. Diferentes preços para um mesmo tipo de produto/serviços servirá, pelo menos, para colocar o consumidor de pré-aviso.
Se posso pagar menos pelo mesmo produto, porque é que hei-de pagar mais?
1. Porque sou snob;
2. Porque sou rico e não estou para me chatear;
3. Porque não me apetece andar a comprar os produtos de que necessito em sítios diferentes com as chatices que acarreta (transporte, tempo, etc);
Porque é que hei-de procurar o mais barato?
4. Porque sou snob?
5. Porque sou pobre/remediado e por isso tenho que gerir bem o orçamento mensal;
6. Porque sou rico e sovina;
7. Porque adoro andar por tudo quanto é sítio à procura da verdadeira pechincha;
lol, desculpa lá Emiéle. Percebo-te mas penso que é algo que tenderá a esbater-se, não? A máxima do "é caro, é [necessariamente] bom"?
Pois é!
Eu também desconfio quando os produtos são muito baratos...
Mas quando são idênticos, opto pelo mais barato. O pior é que temos sempre duvida se será a melhor escolha!
Ao meu médico de clinica geral só pago 4€ e ao dentista também é mais ou menos o mesmo. Não devem valer nadinha!! :)
Miguel, e depois tem a ver com a educação (o modelo em que fomos educados) e o nosso feitio, é claro. Sou familiar de um casal que tendo vindo de meios sociais muito parecidos, ela é poupadinha - foi assim que a mãe lhe ensinou e é o seu feitio - e ele não atravessava a rua para comprar mais barato!!!
Não sei bem se se vai esbater ou não Miguel tem muito a ver com aspectos culturais. Lembro-me que em Macau (no meu ciclo) até se passava palavra onde é que se tinha comprado mais barato! Era quase um jogo.
Saltapocinhas, deves estar toda podre e estragada, mulher... Onde é que já se viu! (mas deves ter um bom seguro se saúde, não?)
nao tenho seguro, eles ºe que tem contrato com a ADSE.
)nao deixei de saber escrever, este computador da escola ºe que nao tem word e escreve assim!
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