sexta-feira, maio 22, 2009

"Ruído"

Estava ontem à tarde a tentar concentrar-me no trabalho que queria fazer e a ser constantemente distraída pelo som da música altíssima e das palavras de ordem que saíam do altifalante de um carro estacionado junto da rotunda perto da minha casa. Carro de um Partido concorrente às próximas eleições.
Nessa mesma praça, onde passa bastante trânsito e também peões, grandes outdoors publicitam a bondade de diversos partidos versus a maldade dos adversários. Para além disso, esta zona está invadida por galhardetes, bandeiras, bandeirinhas, faixas...
…e ainda não começaram os cartazes, que prevejo vão cobrir todos os muros e paredes, postes de candeeiros, troncos de árvores, tudo o que tenham alguma visibilidade.
Vá lá, que desde há algum tempo, algumas eleições atrás, deixei de ouvir os cortejos de automóveis a buzinar de bandeiras partidárias desfraldadas. Ou os militantes declararam estar fartos desse folclore, ou têm menos tempo, ou a gasolina está mais cara do que a sua bolsa comporta.
Tudo isto não é barato como sabemos.
Um outdoor é até muito caro, por aquilo que me informaram.
E resulta? Quero eu dizer, resulta para o fim em vista, angariar mais votos?
O meu mundo pode ser muito limitado – aceito que mo digam – mas honestamente dos meus conhecimentos não sei de ninguém que se tenha decidido votar em A ou em B, por encontrar mais bandeiras, mais cartazes, mais outdoors! Neste momento, até mesmo os debates na rádio ou tv não me parece que consigam alterar lá muito o voto de ninguém – aplaudem ou censuram aqueles que já estão antecipadamente convencidos. Mesmo quando o seu candidato (os que o têm) tem uma prestação infeliz no debate, dizem constrangidos «Que chatice! Não lhe correu bem!» e não me consta que pensem «Olha… ele não tinha razão. Concordei com o adversário, acho que afinal vou votar antes nele.» Ná. Foi pouca sorte, as perguntas vinham mal feitas, o adversário era muito sabido, aquilo correu-lhe mal. Mas lá razão ele tinha.
Depois há ainda os tempos de antena.
Na quase totalidade dos casos, todos nós sabemos antecipadamente o que cada Partido concorrente vai dizer. Poderíamos fazer um jogo de salão: gravar-se aquilo, ouvir-se sem som, e depois quem reconstituísse melhor o que tinham dito ganhava uma prenda. E olhem que devia haver muitos concorrentes a aproximarem-se…
Bom, o que queria dizer com este desabafo (para além da irritação que me causou o carro de som de ontem) era o incómodo que causa, no momento em que se anda a apertar o cinto fazendo-nos umas cinturinhas de vespa, as pessoas que nos vão representar em diversas instituições, ainda gastem dinheiro, e muito, com estas inutilidades que para além das agências publicitárias que estão encarregues destas propagandas, não beneficiam ninguém, nem acredito que desta forma aumentem a sua votação. Para mim é poluição sonora e visual.
Mas talvez eu ande com mau feitio.
Deve ser isso.



21 comentários:

fj disse...

Ora aqui temos um post politicamente incorrecto!!!
O que eu gosto de posts politicamente incorrectos!!!!
:)
Força!!!!

kika disse...

A rolha no ouvido não dá lá muito jeito...mas o boneco é muito engraçado. A poluição sonora cansa-me imenso mas isso de que falas hoje é mesmo ruído, já ninguem liga . São 35 anos a ouvir sempre os mesmos e eles não têm mais nada para dizer para além do que já sabemos.Por isso dou comigo a dizer " há quanto tempo eu digo isto, e vem agora este..."
Acho-os muito inconscientes ao gastarem tanto com tão pouco, e ainda temos de pagar aos acessores do Obama, só faltava isto!!!
Acabaram-se os comícios e ainda bem ,mas até me parece que é por terem medo de ir para o meio do povo
O País cansou!!!

sem-nick disse...

Apoiado, apoiado!!!
E mais não digo.

Mary disse...

No essencial não podes ter mais razão e dou-ta toda.
Contudo não nos podemos esquecer de onde é que se veio antes do 25 de Abril, e dou comigo a pensar aquela 'boutade' de que a «A democracia é o pior de todos os sistemas com excepção de todos os outros»...
É que não vejo alternativa. E para a Democracia tem de haver eleições - a tal coisa de um homem um voto - e este é o sistema eleitoral.
Talvez ele devesse ser alterado?
Huummm... Aí concordo. Só não sei como!

Joaninha disse...

Beeem....

Estás brava, mulher!
palpita-me que só não vais ter aqui comentários irritados porque a malta militante ferrenha não costuma visitar o Pópulo! E aqui os teus «fieis comentadores» têm um gene semelhante ao teu.
De qualquer modo, quem viveu nesta terra antes de Abril, quando nem era preciso nenhuma propaganda porque debate não havia, e os votantes eram apenas aqueles que tinham licença para o fazer (para além dos arrebanhados pelos caciques locais) ainda tem alguma saudade do início desta democracia.
Muita coisa se banalizou, se deteriorou. E faz dó.
Hoje, tal como tu, já nem posso ouvir as palavras de ordem. E o lixo que invde os espaços públicos com cartazes, panfletos, faixas, bandeirolas, que depois ficam a apodrecer e muito tempo depois caem em farrapos.
*suspiro*
É um dó!

josé palmeiro disse...

Primeiramente uma explicação para o dia de ontem. Tenho por cá, uns primos da América, um deles há quarenta anos que os não víamos. Depois, apesar de já americano ainda tem a particularidade de ser de esquerda, de falar, sempre português, sem aqueles resquícios de emigrante, só vantagens. Por fim gosta de rever sabores e tem sido uma roda viva de jantares, que nem te digo, todos querem dar o melhor, para comemorar a sua visita.Ontem, estava de "ressaca", de uma "Alcatra, à moda da Terceira e de mais uns quantos pratos, isto para além do vinho, alentejano, como não odia deixar de ser, e eu, esqueci-me que não posso abusar, mas dias não são dias e pronto. Amanhã é cá em casa com comida alentejana. Umas "migas com carne de porco" e uma "sopinha da cação", e mais uns complementos, mas uma coisa prometo, vou ter mais juízo.
Vamos agora ao "Ruído": Deixa-me discordar do Zorro, não vejo porque "incorrecto", se bem que o entenda, ou não fosse ele portador, como a maioria de nós, desse gene que a Joaninha diz, possuirmos.
Vejam bem, se a Kika refere os 35 anos, que direi eu e os que como eu, andam por "eras" bem mais distantes.
Agora a sério, não gosto, estou como tu, Emiéle. Depois aquilo, não é Democracia, pois é o nosso dinheiro que está a andar. Lembro-me das grandes manifestações do pós 25 de Abril, e o dinheiro para as coisas, não era institucionalizado, depois os senhores deputados, eleitos e pagos pelo "povo", lá fizeram as leis necessárias para que tudo fosse como hoje é, uma autêntica feira, das mais rascas, pois já nem a "banha da cobra" sabem vender. Estou farto deles!!!
Saúdo a Maria e concordo: "Um homem/mulher, um voto!"

josé palmeiro disse...

Não concluí a ideia. Um homem, um voto, sim!
Mas não nesta democracia representativa, em que os partidos nos apresentam e manipulam os homens e as mulheres a seu belo prazer, não!
Teriam que ser, saídos das bases, dos que as populações conhecem e reconhecem, com a ressalva de poderem ser substituídos de imediato, se não cumprissem como que se tinham proposto fazer.

josé palmeiro disse...

Isto ainda não está bom, então não me esqueci da ilustração? Rolha nos ouvidos, sim!!! Na boca, não!!!

Anónimo disse...

A rolha está bem apanhado, e como chamou a atenção o Palmeiro, nunca na boca!!! Mesmo que nos apeteça tapar algumas delas que bolsam coisas inconcebíveis, mas... a asneira é livre como nós sabemos!

De resto é a tal coisa. tinha de se dar uma volta muuuito grande, e (a ideia do palmeiro é boa) os governantes deviam «ser substituídos de imediato, se não cumprissem como que se tinham proposto fazer».
Assim, sim!

Anónimo disse...

Só mais uma coisa. Agora que se fala de «avaliações» de minuto a minuto, como é que os chefes que afinal têm o poder máximo, só são avaliados de 4 em 4 anos?...
Nós, pobres mortais, somos todos os anos!!!!

Fabulosa disse...

concordo em absoluto com o que disseste. não é preciso esse aparato publicitário todo. e, menos ainda, nesta altura de crise(s)! =P

fj disse...

Oh pá isso são sequelas do salazarismo.Careces de psicanálise política, talvez por um reichiano.
Claro que percebo os não cromos, na verdade o barulho incomoda muito mais do que o silencio.Por isso adoro meditar em cemitérios de provincia.

fj disse...

Oh pá isso são sequelas do salazarismo.Careces de psicanálise política, talvez por um reichiano.
Claro que percebo os não cromos, na verdade o barulho incomoda muito mais do que o silencio.Por isso adoro meditar em cemitérios de provincia.

cereja disse...

Olá a todos!!!!
Claro que sim, Zorro, é um tanto pouco «politicamente correcto» (tenho de escrever por extenso que de outro modo dá mal entendidos...) mas ando fartinha até à ponta dos cabelos, deta publicidade que não vai levar a nenhuma mudança.
só se forem os publicitários do Obama a fazerem o milagre, que o Cristo Rei não serve :)
FJ, também já dei para o peditório da psicanálise, mesmo política. O Salazar pode ser rei em Santa Comba mas deixem-nos em paz... OK, OK, a meditação em cemitérios de província deve ser serena. E daí, estou a lembrar-me do cemitério da terra ao pé da minha aldeia, que dá para a praça principal e em dias de feira é um xarivari do caraças. Aí não te safavas!!!

kika disse...

Passo por aqui e vejo nas noticias que o "nosso primeiro" avisou que não há uma crise assim desde há 80 anos.Na verdade não vivi a crise de há oitenta anos, isto é a seguir à primeira Républica.
Mas o que me espantou foi: Que quererá ele dizer com isto? Parece-me mesmo que isto vai correr muito mal e esta frase para fim de semana ,não é nada bom!! E a rolha é melhor no ouvido que na boca!

Pedro Tarquínio disse...

Também concordo que ninguém decide o seu voto graças aos cartazes do 'boa tarde, fala a manela' oudo 'nós europeus' como se o não fossemos.
Por outro lado os políticos que temos, como diria M. la Palice, são os políticos que temos. E também os que merecemos.
Aproximam-se as eleições para o PE e como são as primeiras de 3 este ano parece que não são para levar a sério. As outras - AR e autárquicas - é que são a sério. Um responsável da cne dizia há dias que se houver participação de 35% dos eleitores não será mau. Mas serã esses 35% a decidir por todos. As últimas eleições para o PE originaram a fuga do Durão, santana lopes a 1º ministro, a queda de Ferro Rodrigues graças ao sr sampaio e finalmente sócrates como pm cá do burgo.
Mas entretanto a conversa dos media passa por faitdivers como se a política que nos governa não fosse também responsabilidade colectiva.

Maria disse...

Só mais um pouco de "Ruído":)
O orçamento para a campanha às "Eleições Europeias"

União Europeia: 18 milhões de euros
(divididos pelos 27 estados membros)

Estado Português: 4,5 milhões

"Nas europeias de 7 de Junho, os partidos ou movimentos que preencherem os requisitos fixados na lei e que, simultaneamente, obtiverem o resultado mais expressivo são os que mais recebem: 20 por cento do total (900 mil euros) será distribuído em partes iguais pelos partidos que elejam pelo menos um eurodeputado, os restantes 80 por cento (3,6 milhões de euros) em função dos resultados eleitorais".
Fonte-Portal do Governo

Os números estimados pelos "maiores partidos" para a campanha por ordem de grandeza em euros:

1-PSD: 2,200 milhões
2-PS: 1,520 milhões
3-CDU: 1,2 milhões
4-BE: 725 mil
5-CDS-PP: 470 mil
Fonte: TSF
Sabendo-se que os orçamentos para a campanha dos partidos, acima referidos, incluem verbas de outras fontes de financiamento e que gastarão/utilizarão dentro do que "regula a lei" (esperemos).

Mais "Ruído"

Haverá brindes (aventais, canetas,
sacos - claro (?) de pano ou outro material biodegradável, isqueiros, bonés, camisas,...)enfim, uma série de coisas, realmente importantes, úteis e de 1ª necessidade...Ah e as romarias aos mercados, feiras, praças...bom, Emiéle arranjas -me mais uma rolha(?) tenho-me que calar para não bater o recorde do “Politicamente incorrecto”…
(esta é a minha ruminação sobre o “ensaio”, digo eu, dos nossos políticos para as outras Eleições que virão, brevemente)
Desculpem lá a seca!

(Embora esteja a ironizar,não deixo de entender que sejam necessárias as "campanhas",discordo do formato e do conteúdo, mas, é o que temos não é?!)

estrela-do-mar disse...

Gostei do que disse o Pedro Tarquínio.
Eu sinto-me numa montanha russa de emoções. Por um lado com tal desânimo dado o que se tem visto nas últimas eleições (ou melhor pelo seu resultado) que o que apetece é mandar tudo ás urtigas e ficar em casa com a justificação - que até não é má - de que tanto faz A ou B, porque vai dar ao mesmo.
Por outro, como citou o Pedro, se se deixa que 35% na melhor hipótese decida o quem nos vai governar, não é bom. Não é nada bom. E, ouvi para aí que neste momento o PS e o PSD estão quase empatados em intenção de voto. Claro que o PS na oposição vai fazer um 'brilharete' porque a censurar ele é excelente. Mas já se imaginou a Ferreira leite como Primeira Ministra?... Entre os dois venha o Diabo e escolha.

Castanha Pilada disse...

Nesta altura é preciso ter muita paciência, valha-nos deus...

cereja disse...

Também gostei dos comentários do Pedro e da Maria.
É que, ando tão saturada, desanimada, farta, enjoada, etc....... que acabei escrevendo isto que não costuma ser o meu género. Costumo ser mais batalhadora, mas então estas para o Parlamento Europeu onde se fala de tudo menos esclarecendo o eleitor sobre o que é que vai votar, deixam-me sem interesse nenhum.
E sem a tal paciência que a Castanha deseja.

André disse...

Muito bem gizado este post. Tudo o que neles dizes é verdade e não mera irritação; creio, já agora, que toda esta massificação informativa é apenas mais um sintoma de alguns dos males sociais que nos assolam contemporaneamente, em concreto o da sobreinformação entrópica que invade as nossas casas e os nossos ouvidos (bendita rolhinha). Pergunto, tal como tu, haverá alguém que se deixe levar por tamanha ruideira?
Duvido...!