quinta-feira, abril 02, 2009

Negligente

Eu cuidava que «negligência» era uma espécie de descuido, vou procurar ao dicionário e leio «incúria; falta de diligência; desleixo; descuido» o que confirma a minha primeira ideia.

E apesar de saber que os termos quando se trata de Direito têm outro significado, quando ouvia falar em certas situações de que se tratava de um crime por negligência, considerava que era assim como uma espécie de ‘acidente’. É muito citado no caso de «negligência médica», não fez o que devia em relação ao doente; ou o caso tão falado há dias do pai que deixou o filho no carro, foi «negligência»; ou quando se causa um incêndio com consequências até fatais, por se ter atirado uma beata ou não apagado bem uma fogueira – negligência.
Mas ouço no rádio que o polícia que deu um tiro na cabeça de um presumível gatuno de 14 anos, foi acusado pelo Ministério Público pelo crime de homicídio por negligência
Alguma coisa não bate certo.
Onde está a negligência? Deveria ter treinado mais as aulas de tiro?
Mas o tiro foi quase à queima-roupa...

19 comentários:

josé palmeiro disse...

Será que, roubar um pão, porque se tem fome ou tem que a minorar aos filhos, é o quê?

kika disse...

Porque a intenção dele não era matar , simplesmente intimidar, mas por negligencia o tiro foi certeiro... Acontece... Para que existem os advogados? Querias justiça pelo dicionário?
Era fácil , nao era?

Anónimo disse...

Já há dias se bem lembro trouxeste uma questão juridica - enriquecimento ilicito- ilicitude e ilegalidade e o raciocinio é o mesmo, não é ? Desculpa a insistencia..

fj disse...

Kika, mas «intimida-se» com um tiro na cabeça?....
Se calhar ando a ver muitas séries dos EUA mas até para os interrogatórios há advogados
(ou devia haver)
Que se neutralize um gatuno, só posso aplaudir. Que esse miúdo pertencia a um gang e já teria «muita escola» idem aspas,quanto á concordância. Mas quem usa uma arma mortal, tem de saber para onde a dispara. Se lhe acertasse numa perna evitava na mesma que fugisse.

E essa da negligência, só pode ser por a linguagem dos tribunais ser completamente diferente, como lembra aqui o anónimo.

sem-nick disse...

Entendo que lícito e legal não seja o mesmo, uma coisa tem mais a ver com a ética e a outra com a lei, amigo comentador anónimo. E também entendo que negligência segundo o código civil seja diferente do que se considera no nosso dia a dia. Mas a Emiéle chama aqui a atenção exactamente para a interpretação ética, e fá-lo de um modo «brincando» com a sua aparente ignorância. Para mim é óbvio que ela sabe que são coisas diferentes e por isso escreveu o post num tom irónico, para a minha visão.
E é nessa ironia que eu me revejo.

Anónimo disse...

Vamos esperar para ver...
O miúdo podia ser um delinquente do piurio, mas Portugal aboliu há décadas a pena de morte! Não me convence essa do tiro defensivo, não se aponta à cabeça como defesa.

kika disse...

OH zorro e sem-nick, mas alguma vez me passaria pela cabeça, achar a Émiele ignorante? Por favor poupem-me .Se assim fosse nem por aqui passava, o que mais há são blogues . Acho a Emiéle culta inteligente e Muuuuuito humana como ela destacou ontem
Só que esta questão de atirar para a cabeça ou não, o Ministerio Publico considerou negligencia e agora???
Quantas vezes não tomamos conhecimento de tantas injustiças?
Pessoas presas anos, para as quais concluiem estar inocentes?
Quando eu disse. Querias justiça pelo dicionário? É obvio que estava a ser irónica... Gosto de assumir as minhas atitudes e já agora acrecento que o anónimo sou eu .Já se tinha falado disto noutro post e aí defendi que entre morrer ou matar optava pelo segundo , já que o rapaz ameaçou , com uma arma um policia. Agora o MP entendeu que
houve negligencia por parte do policia que com certeza conseguiu provar que não houve intenção de matar, e foi aqui que entrou o papel do advogado. Que fazer? O juiz decidiu está decidido, a não ser que a familia do rapaz interponha um recurso.

Joaninha disse...

O que noutro local se lê é:
«As perícias realizadas por peritos da Polícia Judiciária, que analisaram o local do crime e a quantidade de vestígios de pólvora na roupa da vítima, concluíram que o disparo foi feito a poucos centímetros. Informação que contraria a versão do polícia, que sempre alegou que o tiro acontecera a mais de um metro de distância».

Desculpem, um tiro disparado a poucos centímetros, não o poderia ser num local ...menos vital?!
Não é que não pense que os agentes muitas vezes trabalham sem as condições mínimas. Eu cá não queria aquele trabalho. Mas desculpar o que não tem desculpa, não ajuda a própria corporação.
Falando por mim, quando um colega de profissão faz uma asneira grande, não me apetece nada defendê-lo, ainda pensam que «são todos iguais»!

Joaninha disse...

Só depois de deixar o meu comentário vi os outros e o da Kika. Como é ela que vem um tanto «contra a corrente» é mais a ela que me dirijo.
Até entendo o que ela diz. Afinal os polícias são humanos. E vamos ver o que se vai concluir daqui, contudo, ainda não houve julgamento pelo que percebi, houve apenas a acusação do Ministério Público. A família da vítima deve poder entra como parte interessada, imagino. mas não sei como funciona a nossa Justiça - felizmente ando longe disso...
:)

fj disse...

O juridico è aqui, como quase sempre,instrumental: foi antes uma mesage politica dada àpolicia, não se preocupem muito com estas "coisas".Não têm vergonha de interpretar tão mal Kika?

Mary disse...

O FJ parece um tanto cínico e se calhar tem razão. Uma espécie de «vai lá, e não voltes a fazer asneira, tá bem?»

cereja disse...

A história chocou-me confesso.
Aceito que haja erros e erros graves, mas dar um tiro na cabeça de alguém mesmo que esse alguém nos esteja a ameaçar (e sendo um profissional do perigo, digamos assim) reconheço que me choca e nunca lhe poderia chamar «negligência» mesmo que seja legalmente esse o termo!

Miguel disse...

Bom, acredito que ninguém mate por matar. Pelo menos, parto desse pressuposto tratando-se das forças da ordem. É deixar o processo seguir o seu rumo.

cereja disse...

Evidentemente que também não acredito - Kika e Miguel - que o agente quando disparou tivesse a intenção de matar o miúdo. Isso seria levar a coisa longe demais. Se quando se fala em negligência se quer referir que o acto teve uma consequência que não estava na intenção de quem o praticou, então está certo. Mas para se ser coerente, também os assaltantes não deviam ter a intenção de matar os polícias quando lhes apontaram as armas... Ou seja, a coisa tem de ser igual para os dois lados.

Acredito que o polícia se tenha descontrolado, que tenha entrado em pânico, que tenha perdido a perspectiva da situação. Mas o certo é que a preparação policial deve ser avaliada e não é passando um pano por cima de casos destas que as coisas voltam ao sítio.

josé palmeiro disse...

Perante os comentários que vi, não posso deixar de aqui voltar e tentar dar uma visão mais aproximada da realidade.
1º- Temos óptimos polícias que sabem fazer tiro e acertar onde é mais conveniente.
2º- Temos polícias, que, pura e simplesmente, não deviam transportar, sequer, uma arma.
Os primeiros, não são demais, os segundos são, infelismente, agrande maioria.
Daqui se infere que o erro ou o azar como alguns dizem, está sempre presente e, como vem sendo hábito, aponta-se para os "pneus do carro", e "liquida-se, quem lá vai dentro".
Sabe-se que numa perseguição é fácil, se se não tiver um bom e contínuado treino, os "azares", são mais óbvios e todos sabemos que treinar é caro e por isso, só a imensa minoria, de que falei, como sendo os primeiros, o faz com alguma regularidade. Esta, uma das razões para o sucedido. Mas há mais, o estado emocional dos segundos é, também, propício a que estas coisas aconteçam, por falta de segurança, neles próprios. De forma que isto é uma conjugação de coisas, de tal forma complicada que merecia ua maior atenção de quem tem responsabilidades, na gestão da "máquina".

kika disse...

Nem sabia que o assunto ainda nao tinha ido a julgamento e que ainda está na fase de acusação por parte do MP.O que me pareceu sempre neste post, é que se se tivesse passado o inverso, isto é se o miudo tivesse morto o policia, não se tornaria tão polémico. A mim chocou-me que um miudo de 14 anos fosse capaz de ameaçar um policia com uma arma de fogo e mais que tivesse na posse dele uma coisa dessas.Não aceito , mas é o meu ponto de vista que vale o que vale
NADA!!!!!

Joaninha disse...

Bem, como este post ainda não está 'fechado' eu, apesar de já ter dado uma opinião, volto a ele.
É óbvio que o José palmeiro tem razão. Meter todos os polícias no mesmo saco, é um erro, como o é qualquer generalização seja de que profissão for. E sabemos, porque eles nos dizem, que o treino recebido é pouco porque sai caro, essa coisa da carreira de tiro, etc. Daí, o que referes de se atirar aos pneus e acertar em quem vai lá dentro. Ou seja, em última análise a responsabilidade é do Ministro da tutela que deveria dar uma boa formação.
E Kika, tens a tua razão. Se a história fosse ao contrário, a minha posição (não falo pelos outros) não seria a mesma. O primeiro motivo é porque acho que a responsabilidade de um miúdo de 14 anos não pode ser igual a «uma força da ordem». Que ele nunca por nunca deveria ter uma pistola, nem sequer se discute. É gravíssimo. Parte das coisas que se vão passando por esse mundo (como o caso do adolescente alemão que fez aquela mortandade na escola)é por excesso de facilidade ao acesso a essas armas.
Mas...
Tu dizes «se se tivesse passado o inverso, isto é se o miúdo tivesse morto o policia» e para ser de facto o inverso, teria de ser «o miúdo ter morto o policia ao ser ameaçado com uma arma pelo polícia, e ter-lhe disparado à queima roupa uma bala na cabeça». Bom, se isso se tivesse passado, achas que o Ministério Público ia acusar o miúdo de um crime por negligência?
É essa expressão que está atravessada, e imagino que fez a Emiéle escrever o post. Pelo menos foi o que eu senti.

kika disse...

O miudo era inimputável porque só tinha 14 anos!!! É nao é, Joaninha?
Só mais uma coisinha,pelo que conheço deste blog a Emiéle lança factos para discussão e acho que democráticamente podemos apresentar opiniões divergentes, isso não invalida de modo algum o valor intelectual da Emiéle, ou de qq comentador.Cada um tem o que tem e eu sei que lugar ocupo, tenho consciencia disso.

cereja disse...

Não entendo comoé que os comentários 'azedaram' sem eu dar conta...
Tens razão Kika, eu atiro um pouco com as coisas a ver qual a vossa opinião e TODAS AS OPINIÕES são bem vindas. Digamos que eu atoro o pão à água, o rsto logo se vê.
É certo que quando escrevo mostro a minha opinião, mas depois ela é contestável como é evidentíssimo!!!! Quantas vezes (sobretudo a minha amiga AB) vêm dizer o contrário do que eu pensava e naturalmente que aceito isso.
Ou seja - a Kika pensou de uma forma, a Joaninha de outra, e creio estarmos de acordo numa paltaforma-base: a polícia deveria ter mais efectivos e ser mais treinada com melhores meios e é uma pena ter-se perdido uma vida humana.