sexta-feira, abril 24, 2009

Excesso de memória

Um tema de que aqui falo com imensa frequência é da importância da memória. É péssimo quando nos falta, por vezes temos uma memória ‘selectiva’ para esquecer o que nos agrada menos [sou muito boa nisso...] e frequentemente invejamos quem a tem muito boa. É o normal.
E, se é comum a falta de memória ou até amnésia, para mim é completa novidade que se pudesse ter «memória a mais»! Mas existe. Chama-se Síndrome da Hipermemória.
Uma americana ficou conhecida por se lembrar de tudo desde os seus 14 anos, mas tudo, mesmo tudo! Esse 'dom' (?) era conhecido apenas por as pessoas que lhe eram próximas, mas um dia lembrou-se de escrever a um neurocirugião especializado em questões memória a queixar-se do seu problema:
"O que a maior parte das pessoas chamaria de dádiva, eu chamo de fardo. A minha vida inteira passa pela minha cabeça durante todo o dia e isso está a deixar-me louca" lamentou-se ela.
Ele ficou interessadissimo e estudou o caso durante 5 anos, apoiado em calendários, em diários escritos por ela entre os 10 e os 34 anos, em registos de meteorologia e batia tudo certo – ela lembrava-se do que tinha comido em cada um dos dias da sua vida, o que vestia, que tempo fazia...
Assustador.
Contudo, agora aparecem uma ligeiras sombras neste quadro. Confirmam que este tipo de prodigiosa memória é uma memória autobiográfica. Podemos falar no plural porque desde que se descobriu o Síndroma apareceram várias pessoas assim, mas em todas elas se verifica que só têm essa memória ‘perfeita’ em assuntos pessoais ou outros que os interessam especialmente. Quanto ao resto são, felizmente, normais.
Uff...
Que alívio.

10 comentários:

Anónimo disse...

Nunca tinha ouvido falar nisto a não ser na Visão de ontem.
Fica-se de boca aberta, mas é fácil imaginar que relembrar TUDO, possa ser terrível.
Cada um de nós, é capaz de lembrar o que vestiu , ou o que comeu, ou que tempo estava em determinado dia da sua vida, que foi importante. mas multiplicar isso por 365 dias por ano, é obra. e por 10 anos, por 20, por 30, por 40... livra!

A pintura é Magritte, não?

Anónimo disse...

Bom a memória(Mas há outra que não seja autobiografica?Quem se pode lembrar do que não viu ou não viveu).Venho cá mais logo.AB

josé palmeiro disse...

É um relato impressionante. Não conhecia, nem por ter lido a Visão, pois ainda cá não chegou.
Concordo que deve ser um fardo, lembrarmo-nos assim de tantos promenores e depois só referentes ao quadro pessoal. Um caso a rever para somar conhecimentos.

kika disse...

É o cúmulo do egocentrismo!!! ,pois provávelmente não faz o registo de tudo quanto aprendeu atravez da leitura etc etc , senão seria uma sábia.
Afinal trata-se duma anomalia do cérebro, o que lhe acarreta muito mau estar diário.
Não tenho a medida certa, mas este excesso dipenso!! ufa por vezes quero mais é esquecer...

Joaninha disse...

Impressionante!

A AB não deve ter ido ler o artigo, porque não está em causa «lembrarmo-nos» do que não vivemos, mas por exemplo de coisas da vida de todos os dias. O que lá diz é que ela se lembra que comeu macarrão há 15 anos num dia qualquer mas já não sabe pormenores das eleições no seu próprio país, ou factos do domínio público que podem fzer parte da cultura geral de uma pessoa «normal»

Que raio de coisa.

sem-nick disse...

É mesmo uma doença, e olha que eu não a queria ter!
Livra!!!
Bem basta a gente recordar-se de algumas coisas parvas ainda por cima de TODAS as inutilidades que formaram a nossa vida!
E pelo que se lê as séries de TV ou ... os desastres de avião?!?! que coisa!

sem-nick disse...

É que pensando bem, recordar com esse pormenor não queria nada!
Mesmo livros de que gostei, ou filmes bons, recordamos bastante, mas com esse memória total deve ser incrível.
Porque felizmente nós vamos filtrando algumas coisas. Lembro-me suficientemente bem das coisas que me «marcaram»

AB disse...

Não fui ler o artigo de facto,mas a minha pergunta subsiste porque aquilo que acontece exterior a mim mas de que tenho conhecimento,o que leio,vejo ou até intuo ou então o relato de outros qd. me "não faz parte da minha memória pessoal?E assim toda a memória que "eu"filtro não é a minha?AB

cereja disse...

Tens muita razão AB, mas lá o neurologista classificou assim, como «autobiográfico» no sentido de se referir à sua própria vida pessoal,exclusivamente. Por isso a Kika disse ali em cima que era o «cúmulo do egocentrismo». É evidente que o que se passa à nossa volta e nos interessa também devia fazer parte da nossa vida e memória, mas disso ela selecciona pouco - interessa-se por TV e desastres aéreos e aí sabe TUDO, tudo o que a TV transmitiu desde há 40 anos - mas tirando isso lembra-se da sua vida, propriamente dita, com exaustão. Por isso falam em 'ruminação'
É uma doença, tá visto!!!!

saltapocinhas disse...

não sabia!

eu prefiro a minha memória (muito) selectiva!