sábado, março 28, 2009

Poesia

Nesta última tarde em que respiro

Nesta última tarde em que respiro
A justa luz que nasce das palavras
E no largo horizonte se dissipa
Quantos segredos únicos, precisos,
E que altiva promessa fica ardendo
Na ausência interminável do teu rosto.
Pois não posso dizer sequer que te amei nunca
Senão em cada gesto e pensamento
E dentro destes vagos vãos poemas;
E já todos me ensinam em linguagem simples
Que somos mera fábula, obscuramente
Inventada na rima de um qualquer
Cantor sem voz batendo no teclado;
Desta falta de tempo, sorte, e jeito,
Se faz noutro futuro o nosso encontro.

António Franco Alexandre
do livro «Uma fábula»

7 comentários:

Anónimo disse...

Não é a primeira vez que aqui deixas poemas deste poeta que só passei a 'conhecer' por teu intermédio.
Vê-se que o parecias muito, mas pelo que tenho procurado ele tem pouca coisa publicada. O que aqui vais deixando, é muito bom, e abre o apetite.

Anónimo disse...

Gralha!!!
É evidente que troquei os dedos e as teclas. Queria dizer aprecias muito e não "parecias muito", como escrevi.

Quem escreve com um dedo só não tem destas gralhas! Vou ver se adopto antes esse sistema.

josé palmeiro disse...

O António Franco Alexandre é um poeta maior.
Nascido em 1944, em Viseu, viveu em França de 1962 a 1969, tendo estudado Matemática em Touluse, Viajou para os E.U.A. onde continuou os estudos, tendo em 1971 retomado a França, à cidade de Paris. Licenciou-se em Matemática, em Harvard e Doutorou-se em Filosofia na Universidade de Lisboa, onde, desde 1975 ensina Filosofia.
Prémio APE de Poesia com o livro "Quatro Caprichos" de 1999, que também arrecadou o Prémio Luis Miguel Nava.
Com "Duende" de 2002, ganha o Prémio D. Diniz e o Prémio Correntes D'Escrita.
Apesar disto tudo, e de toda a sua obra, ainda não foi devidamente divulgado, por isso o seu desconhecimento.

Joaninha disse...

Por acaso também gosto muito da poesia dele. Tenho o Duende.

fj disse...

Eu não tenho nenhum livro de poemas dele, o que li foi disperso ou em colectâneas.
Creio que é muito bom poeta mas muito pouco divulgado.
Nestas coisas também é preciso o marketing!

André disse...

É, sem dúvida, um poeta a ler e a seguir com atenção. Também não é dos que melhor conheço, mas possui de facto aquele "je ne sais quoi" que caracteriza os veros poetas, também pensadores, também fautores...

Alex disse...

Pois....