sexta-feira, março 27, 2009

E os intermediários?

Barulho em Estrasburgo.
«Os agricultores europeus recebiam aproximadamente metade do preço de venda a retalho dos géneros alimentícios há cinquenta anos mas, hoje em dia, essa proporção desceu para níveis muito inferiores»
É um facto.
Entre aquilo que o produtor recebe e o que paga o consumidor a diferença é enorme (e note-se que pagar o dobro, como aqui se refere que era há 50 anos ainda é muito...) mas será que a culpa é só das grandes cadeias de supermercados como parece dizer-se lá no Parlamento? Acredito que haja práticas menos correctas nesses grandes supermercados como «a venda dos produtos abaixo do seu custo, a fim de aumentar o número de clientes». É possível.
Mas se os produtores recebem pouco, os clientes pagam muito, e o comércio tradicional não se aguenta mesmo com preços elevados, não haverá também excesso de lucro dos intermediários?...

12 comentários:

Anónimo disse...

É tudo.
Evidentemente que os enooormes supermercados (nem sei se podemos chamar-lhes assim) tem as suas regras de uma concorrência específica. E como sabemos muitos (todos?...) têm raízes que se espalham por vários países. Olhem o Lidl, que creio ser alemão, mas se vê por todo o lado.

Contudo, creio que essa coisa dos intermediários também tem que se lhe diga. Claro que os produtos têm de ser transportados -a tua imagem é enganadora, que transporte têm de haver - mas para além disso toda a mecânica do intermediário é inflacionada.

Só que não é apenas isso. Reparem que há agricultores que dizem que nem vale apanhar a fruta, por exemplo, porque o porque pagam aos «apanhadores» é mais do que o preço a que são obrigados a vender. Tá mal!

Anónimo disse...

É uma espécie de «pescadinha de rabo na boca». Devo estar demasiado velha, mas muita coisa não entendo bem...
o que sei é que com esta coisa da CEE há agricultores que recebem para... não produzirem!?!? Não me entra na cabeça.
E o que é impressionante é que isso cria com certeza (maus) hábitos. Eu penso por mim - se me pagassem para estar parada, se fosse preciso começar a trabalhar já não me apetecia...!
A verdade é que os agricultores hoje esperam subsídios por tudo e mais alguma coisa. Se chove, ai, ai, ai, querem que lhes paguem o prejuízo da água a mais; se faz calor, ai, ai, ai é a seca e querem que lhes paguem pela seca. O certo é que a agricultura é uma profissão de risco. Sempre assim foi, e não sei porque será o estado (ou seja toda a gente) a suportar os riscos do clima.

Voltando ao tema do post (mais ou menos) é claro que é necessário os produtos serem transportados, mas porque é que os senhores agricultores não se organizam e fazem o seu próprio transporte? Saltavam por cima dos intermediários, e faziam as vendas directas. O tempo que perdem a queixar-se e a fazerem exigências ao Estado ou à Europa, gastavam-no a planearem forma de transportar as coisas até ao consumidor.

Anónimo disse...

Aqui é que os economistas tem muita coisa a dizer com certeza.Até porque a imposição de quotas de produção tinha em vista um equilibrio económico que não protegia os produtores mais pequenos ou seja suponho que como em tudo os grandes produtores (leia-se paises)tinham quotas maiores e por aí.Para a pesca,para a agricultura,para a produção de laticinios, etc,etc,etc.Mas duma forma mais prática já experimentaram comprar"directamente do produtor"?Então experimentem e vejam quanto psgam!Tirando o interesse "etnográfico" da coisa,o preço upa,upa.AB

josé palmeiro disse...

Porque me dói falar nisto tudo, assino por baixo, o comentário da AB.

Anónimo disse...

Pois é. O problema é que num mundo perfeito tudo seria muito mais equilibrado mas, o nosso, é tudo menos isso.

O produtor não consegue vender directamente ao consumidor e, muito menos, às grandes cadeias porque não é exequível numa perspectiva de custo/benefício. Isto é básico.

O que já é problemático é termos intermediários que carregam bem nas margens e grandes cadeias de supermercados quase monopolistas que "entalam" os ditos intermediários ao pagarem a 180 dias (e mais!) pelo que a estes não resta outra alternativa que não seja, de certo modo, puxar nas margens ou, se quiserem, esmagarem as dos produtores por forma a manterem-se concorrenciais. Se os produtores não quiserem, há mais quem queira vender. No nosso caso isso é evidente, com a Espanha ao lado.

fj disse...

É realmente um «novelo muito enrolado e com muitos nós»!!!
Percebo o que o Miguel diz: afinal, muitas vezes o facto de os «grandes» levarem muito tempo a pagar, faz com que os intermediários carreguem nos preços para compensar a espera. mas nesta cadeia toda, quem menos lucra é quem tem de comprar.
Por outro lado, como bem disse a AB, quando temos a veleidade de ir comprar ao produtor, não ganhamos lá muito com isso. Já viram as feirazinhas que muitas vezes nascem na beira das estradas? A gente para o carro e pensa que está a fazer um grande negócio, depois compara com o Pingo Doce, e o preço era o mesmo!!!!!!

Anónimo disse...

O produtor é muito penalizado , e este sistema de quotas veio prejudicar o nosso país, os agricultores foram obrigados a abandonar a actividade e hoje vemos o empobrecimento do interior , que vive a base de subsidios quando nós eramos um país com uma agricultura forte e quase auto-suficiente.
Viramos a País de serviços
e temos de gastar milhões com importações.Agora nem agricultura,nem serviços nem turismo é o caos...

josé palmeiro disse...

O Miguel, pôs o dedo na ferida.
Nestas coisas, ele é o especialista. Obrigado, Miguel!

Anónimo disse...

O Miguel não é só um especialsta...é um fã do mercado.Vê-se na "paixão" com que escreve e defende o "conhecimento interno"da coisa.Apesar de tudo e como o mercado é uma evidencia, eu ponho velas ainda(ou já,conforme considerarmos as formas de saida desta crise)a outros deuses.Ontem ainda estive para ir levantar algumas dúvidas sobre essa coisa de lançar dinheiro sobre a crise como uma especie de bombeiro a tentar de forma desesperada apagar o fogo (falava a Emiele sobre prémios e falava o Miguel dos "Inputs "e das "demises")mas faltava-me para já vocabulário.Depois vi-me despojada do lado humano da coisa.De repente entre os gestores de topo e a produção,aquilo que sai da força de trabalho, alguma coisa se tinha evaporado.Vi-me no meio de graficos e dos discursos arrependidos dos Trichets & friends.Olhem fiquei a remoer.(o que vale é que não estou sozinha-parece que o G20 anda todo a remoer-)AB

Anónimo disse...

Encantado josé palmeiro! Palavras excessivas.

AB, não sou um fundamentalista do "mercado". Tal como o marxismo-leninismo nunca foi implementado da melhor maneira, também a economia de mercado nunca funcionou da forma como foi concebida. Há um denominador comum, não há?

Quantos aos prémios e afins, a Wal-Mart distribuiu cerca de 2 mil milhões de USD a cerca de 1 milhão de funcionários. Estes bónus anuais compreendem 934 milhões em bónus, 789 milhões de participação nos lucros e reforço do plano de reforma e o resto em descontos na compra de produtos vendidos pela Wal-Mart e incentivos para a compra de acções da empresa. É mau? Não me parece...

Mesmo cá, nós, damos anualmente bónus anuais como forma de estimular a força de trabalho. Desde o Director Geral ao empregado da limpeza, sendo os critérios bem definidos. Está errado? Não nos parece. Para além de todas as condições sociais que já oferecemos serem excelentes - pequeno-almoço, almoço, posto médico, assistência médica e medicamentosa, transporte, etc... - entendemos que, havendo condições para tal (tem havido desde que cheguei a Angola), todos devem sair beneficiados do bom desempenho da sociedade.

Finalmente, a preocupação social tem que ser entendida numa visão bastante abrangente. Já o disse uma vez aqui, se não me engano, mas repito-o novamente. Quando trabalhei em Moçambique, como Director Financeiro de um Grupo com cerca de 9.000 trabalhadores, qualquer alteração salarial tinha repercussões tremendas a vários níveis. Se não tínhamos condições para fazer aumentos extraordinários, tínhamos capacidade para aumentar o poder de compra dos trabalhadores. Como? Economia de escala e negociação com os fornecedores para abastecimento à empresa de bens de primeira necessidade. Abrimos uma cooperativa com uma margem de lucro de apenas 10% e vendas a crédito aos trabalhadores. Mesmo assim, os nossos preços eram entre 25 a 40% mais baixos do que em qualquer loja da cidade.

O "mercado"? O "mercado" tem as costas muito largas para tudo e mais alguma coisa...

cereja disse...

Miguel, é sempre um gosto ter-te por cá a falar de coisas que sabes bem melhor do que nós.
Aliás tens uma experiência 'no terreno' que ajuda, com certeza. Desta vez, mais uma vez explicaste-te muito bem (é aliás, como já o repeti aqui várias vezes, um dos teus dons: sabes 'traduzir' numa linguagem que até eu entendo :) assuntos que eu pensava muito complicados...)

AB disse...

Sim o Miguel explica-se muito bem.E rematou com uma frase que subscrevo inteiramente.O mercado tem AS COSTAS LARGAS PARA MUITA COISA.Mas introduz uma nova dimensão neste comentário:fala de bem e de mal ou seja um discurso ético que estava ausente de outras explicações onde apenas as dinamicas económicas eram explicitas.Aliás eu não exprimi nenhuma censura.Falei da "paixão" do discurso.Só.E "fã"não é propriamente um fundamentalismo.Quanto ao marxismo(retiro o leninismo)parece estar de novo a fornecer base a reflexões várias pelo que tenho lido e onde se lê reflexões leia-se releituras.E como nada é perfeito redundou ou em cleptocracias ou em falencias das quais tb. ainda se não sabe como sair.Portanto este é que me parece o real drama.Por onde seguir se quasi tudo falhou?E com o exemplo do falhanço de outros sistemas, as "fugas para a frente" que me parecem as "clausulas de salvaguarda" deste deixam-me desconfiada ou perplexa.AB