Violência «Doméstica»
Eu, até com o nome embirro!
Claro que sei que se chama «doméstica» por se praticar no ‘domus’, em casa, não ser um acto público mas, para ser sincera, esse adjectivo não me agrada nada porque numa certa medida a suaviza, como se se dissesse que é violência sim, mas enfim, caseira... não é nada do outro mundo.
E afinal é realmente mesmo do outro mundo, um mundo mais escondido e por isso mesmo mais perverso e grave. Grave por isso mesmo, não por se passar entre quatro paredes mas porque quem agride e quem é agredido é obrigado a viver junto – e, isso sim, é uma violência terrível.
Se um indivíduo, que seja por natureza exaltado, decide ferrar um par de murros ou até uma sova a sério ao seu colega de trabalho, isso também se passa ‘entre paredes’ mas o agredido naturalmente fará queixa dele e, conforme a agressão virá o castigo. Porém ao sair do local de trabalho, acabou a questão. A tal «violência doméstica», se é considerada um crime menor, pelos ‘estragos que produz’, afinal está equiparada a essa cena de quem agride um colega de trabalho ou um vizinho do mesmo prédio. É chato, há quem saia magoado, mas olha-se para essas lesões de fora, numa avaliação fria, técnica. Profundamente diferente do que acontece quando numa família se agride um dos seus membros. Aí, não se pode olhar tecnicamente para as lesões, quem é agredido e quem agride continua a viver na mesma casa, sob o mesmo tecto, com a tal irónica norma de «quem não está bem que se mude» e, nesse caso, quem não está bem é naturalmente o agredido!...
Ontem ouvi um programa de TV sobre uma lei proposta pelo CDS propondo que mesmo que a violência doméstica seja considerado um crime menor, no caso deste tipo de crime se colocasse o suspeito sob prisão preventiva. Ou seja, quem estava mal [e estaria de facto mal porque se portava mal] mudava-se. Era a vítima que se manteria no seu ambiente e quem era obrigado afugir sair era o agressor.
Nesse programa ouvimos testemunhos de muitas mulheres. Pelo modo como se exprimiam muitas eram mulheres educadas, de classe média. Contavam como se sentiam, o que tinham feito, e como desesperavam porque as questões se arrastavam anos e anos, com juristas a aconselharem que o melhor seria o divórcio, mas… o marido não queria divórcio nenhum! São sempre situações de desespero, com o que implica de falta de respeito pela pessoa com quem se compartilha a vida, e a convicção de impunidade com que se age. Nos exemplos da luta ser com um vizinho, um colega, sabe-se que pode haver retaliação, e a coisa nem correr nada bem. Mas a mulher, está ali à mão, é quase sempre mais fraca, e mesmo que o não seja aceitou esse papel social.
Houve nesses telefonemas um que chamou mais a atenção. Vinha de uma senhora do Alentejo se não me engano, dizia que tinha sofrido de violência do marido durante mais de 20 anos, mas que ele só lhe tinha batido umas 4 vezes. Segundo ela referia era sobretudo a violência psicológica que a deixou completamente desfeita. E essa não deixa marcas visíveis. Assim como a violação que tantas vezes ocorre num casamento, e é vista de um modo ligeiro, quase com um sorriso, na linha dos ‘deveres do casamento’ como se sexo à força não fosse sempre sexo à força.
Mas esta proposta de lei vem abanar um tanto a resignação social. Seja com prisão preventiva, seja com uma providência cautelar que não o deixe aproximar da vítima (mesmo que tenha de usar uma pulseira electrónica) o certo é que se tem de deixar claro que acabou o tempo de sofrer calado e quem já é uma vítima não vai sê-lo duas vezes tendo de fugir e recomeçar a vida sabe-se lá em que condições.
Claro que sei que se chama «doméstica» por se praticar no ‘domus’, em casa, não ser um acto público mas, para ser sincera, esse adjectivo não me agrada nada porque numa certa medida a suaviza, como se se dissesse que é violência sim, mas enfim, caseira... não é nada do outro mundo.
E afinal é realmente mesmo do outro mundo, um mundo mais escondido e por isso mesmo mais perverso e grave. Grave por isso mesmo, não por se passar entre quatro paredes mas porque quem agride e quem é agredido é obrigado a viver junto – e, isso sim, é uma violência terrível.
Se um indivíduo, que seja por natureza exaltado, decide ferrar um par de murros ou até uma sova a sério ao seu colega de trabalho, isso também se passa ‘entre paredes’ mas o agredido naturalmente fará queixa dele e, conforme a agressão virá o castigo. Porém ao sair do local de trabalho, acabou a questão. A tal «violência doméstica», se é considerada um crime menor, pelos ‘estragos que produz’, afinal está equiparada a essa cena de quem agride um colega de trabalho ou um vizinho do mesmo prédio. É chato, há quem saia magoado, mas olha-se para essas lesões de fora, numa avaliação fria, técnica. Profundamente diferente do que acontece quando numa família se agride um dos seus membros. Aí, não se pode olhar tecnicamente para as lesões, quem é agredido e quem agride continua a viver na mesma casa, sob o mesmo tecto, com a tal irónica norma de «quem não está bem que se mude» e, nesse caso, quem não está bem é naturalmente o agredido!...
Ontem ouvi um programa de TV sobre uma lei proposta pelo CDS propondo que mesmo que a violência doméstica seja considerado um crime menor, no caso deste tipo de crime se colocasse o suspeito sob prisão preventiva. Ou seja, quem estava mal [e estaria de facto mal porque se portava mal] mudava-se. Era a vítima que se manteria no seu ambiente e quem era obrigado a
Nesse programa ouvimos testemunhos de muitas mulheres. Pelo modo como se exprimiam muitas eram mulheres educadas, de classe média. Contavam como se sentiam, o que tinham feito, e como desesperavam porque as questões se arrastavam anos e anos, com juristas a aconselharem que o melhor seria o divórcio, mas… o marido não queria divórcio nenhum! São sempre situações de desespero, com o que implica de falta de respeito pela pessoa com quem se compartilha a vida, e a convicção de impunidade com que se age. Nos exemplos da luta ser com um vizinho, um colega, sabe-se que pode haver retaliação, e a coisa nem correr nada bem. Mas a mulher, está ali à mão, é quase sempre mais fraca, e mesmo que o não seja aceitou esse papel social.
Houve nesses telefonemas um que chamou mais a atenção. Vinha de uma senhora do Alentejo se não me engano, dizia que tinha sofrido de violência do marido durante mais de 20 anos, mas que ele só lhe tinha batido umas 4 vezes. Segundo ela referia era sobretudo a violência psicológica que a deixou completamente desfeita. E essa não deixa marcas visíveis. Assim como a violação que tantas vezes ocorre num casamento, e é vista de um modo ligeiro, quase com um sorriso, na linha dos ‘deveres do casamento’ como se sexo à força não fosse sempre sexo à força.
Mas esta proposta de lei vem abanar um tanto a resignação social. Seja com prisão preventiva, seja com uma providência cautelar que não o deixe aproximar da vítima (mesmo que tenha de usar uma pulseira electrónica) o certo é que se tem de deixar claro que acabou o tempo de sofrer calado e quem já é uma vítima não vai sê-lo duas vezes tendo de fugir e recomeçar a vida sabe-se lá em que condições.
11 comentários:
Este já é um post à moda da Emiéle no seu pleno.
Levantas aqui tantos pontos que se calhar ainda cá volto. Queria assinalar uma coisa muito à tua moda: embora esteja implicito que esta violência é masculina sobre a sua companheira (e são os casos de mortes os mais graves) a verdade é que deixas em aberto, pelo modo como falas, que pode haver outras vítimas para além da mulher, e que há violência muitas vezes contra velhos ou cianças por exemplo. Nesses casos, como se faz? Aí terá mesmo que ser retira-los da família, ou «arranjar» outra família...
E outra coisa: muito importante essa da violência psicológica. O vexame, o desdém, a chantagem, o achincalhamento, a agressão verbal, o insulto permanente, são coisas que doem que se fartam.
Como disse o king, claro que o que a Emiéle diz é aquilo que todos pensamos (por Todos quero dizer gente 'normal'...) e ainda me lembro de um senhor, talvez ministro já nem me lembro quem foi a cavalgadura, que dizia não ser preciso nenhuma pulseira - mesmo no caso dos tipos condenados e tudo! - porque ela podia sempre pedia ajuda por telefone!!!!! quando nós sabemos a rapidez com que chega a ajuda, é caso de bradar aos céus!....
Mas para ser franco também acho que o facto de se chamar doméwstica é como os animais. os domésticos são mansinhos, não é?... e já repararam nas estatísticas deste ano de agressões e mortes?!
Porque raio foi o CDS a ter a iniciativa'
os outros partidos andam a dormir na forma?
Partilho muito o afirmado e as dúvidas de king e mary.
Juridicamente o que interessa é que seja crime público;mas a designação diminui o crime, realmente, face à sociedade em geral.?violencia sobre familiares??violencia sobre proximos??violencia de ordem física e/ou psicologica sobre pessoas que se apresentam mais indefesas? Só sugetões,nenhuma me agrada, sugiram se entenderem mais algumas.o
O que me pareceu importante ontem, nequelas mini entrevistas é que é muita gente a pensar como nós. Então o que é que falta?....
Como é possível que uma pessoa se queira divorciar (e com motivos desta monta) e o marido não queira e pronto. Por mim creio que a coisa deve estar mal contada.
Por outro lado o King notou que eu quis realmente ampliar a questão. Como aqui disse o FJ, embora a violência contra as mulheres seja o mais grave e o que se VÊ, há toda a outra violência, sobre filhos, sobre idosos, sobre quem é mais fraco numa família, e violência que até pode nem ser física, mas doi.
Quem não conhece casais que só falam um com o outro com 7 pedras na mão? Nunca dizem uma frase simpática, um elogio, uma meiguice. Vive-se assim porquê?...
Uma opinião: a violência física é SEMPRE também psicológica.
Imagina-se seja quem for apanhar pancada (excepto é evidente nos casos específicos de s-m) sem se sentir também ofendido e magoado enquanto pessoa? Para além de que quase sempre a pancada é acompanhada de insultos.
Donde só podemos tirar a conclusão que a segunda é bem mais vasta!
Esta história tem tantas, tantas ramificações...
É certo que com a relativa independência económica da mulher (nos países onde tal se nota) tem agora muito menos peso o facto de a mulher ter obrigatoriamente de estar sujeita à vontade do marido para poder 'sobreviver'. Mas...
Esta história da habitação, por exemplo, é uma pedra chave. Mesmo quando os ordenados são semelhantes, a casa está quase sempre em nome do marido, ou seja ele tem sempre a faca e o queijo na mão para decidir como pode ou não terminar a história.
Ainda se admiram que haja poucos casamentos...? Pudera!
Como já está tudo praticamente dito, remato assim.
VIOLÊNCIA, É VIOLÊNCIA E NADA MAIS!
Todos os adjectivos que se lhes juntem, são medidas para atenuá-la e a VIOLÊNCIA, não pode, nem deve ser atenuada, mas convenientemente punida, venha ela donde vier e de que forma.
No blogue http://horamadeira.blogs.sapo.pt/270279.html
aparece uma estatística cuja visita aconselho, só foi pena não ter conseguido comentar, mas sobre ela posso comentar:
- Se em Janº houver 1 ocorrência e em Fevº 2 houve um aumento de 100%;
- Se em Janº houver 10 ocorrências e em Fevº 15 houve apenas um aumento de 50%.
As percentagens assim de nada valem, porque no 2.º caso houve mais 4 ocorrências mas a evolução foi menor.
Zé da Burra o Alentejano
Amigo Zé da Burra, vens completamente ao encontro da irritação que as estatísticas «a seco» nos dão.
Não signoficam literalmente nada, pior ainda podem até enganar.
Esse exemplo e óptimo!
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