O maior dos cansaços
Tenho uma amiga que admiro imenso, e que anda já há muito a viver uma vida de pesadelo.
Única mulher numa casa com 4 homens - o marido, dois filhos na casa dos 20 anos, e o seu pai - já só isso seria demais para quem também trabalha e não se lembrou a tempo de ensinar os «seus homens» a serem independentes.
Acresce a isso que ela já cuidou da mãe, morta há uns anos de um cancro e, como acontece nestas coisas, é agora o pai que sofre do mesmo mal estando desde há meses já num estado que exige cuidados constantes, de dia e de noite.
De uma bondade e generosidade imensas, recusa-se a interná-lo enquanto ele estiver consciente, mas é ela que anda a morrer aos poucos. Está magríssima, de uma palidez impressionante, o aspecto choca todos os que a vêm, e teve até já um episódio de desmaio prolongado que o médico considerou ter sido por excesso de cansaço, um esgotamento das suas capacidades físicas.
Mas nem isso a convenceu a desistir, pensar um pouco em si mesma e, pelo menos, dividir esta responsabilidade com outros irmãos que até existem (mas descansam inteiramente estas responsabilidades nela)
O que me impressionou foi ela, ontem, quando lhe telefonei – o que tento fazer com frequência, e não visitas que só iriam ainda atrapalhar como me disse – me ter confidenciado num fiozinho de voz: «Hoje reconheci que já não ando normal. Imagine-se que estava a pedir uma coisa, e quando se faz um pedido qualquer costumamos sorrir, a sublinhar que é um favor, eu pelo menos sempre assim faço; e dei conta que não estava a ser capaz de sorrir. Foi a primeira vez e fiquei assustada comigo mesma!» Eu, do lado de cá do telefone, engoli em seco antes de responder «Minha querida, isso chama-se exaustão! É mesmo o sinal de alarme do organismo. A bem ou a mal alguém tem de ajudar nessa carga imensa, porque não é humano aquilo que exiges de ti mesma!»
Quando um sorriso já cansa.
É o fim da linha sem a menor dúvida. Até por amor à família ela tem de cuidar dela. Sinto-me preocupadíssima.
Única mulher numa casa com 4 homens - o marido, dois filhos na casa dos 20 anos, e o seu pai - já só isso seria demais para quem também trabalha e não se lembrou a tempo de ensinar os «seus homens» a serem independentes.
Acresce a isso que ela já cuidou da mãe, morta há uns anos de um cancro e, como acontece nestas coisas, é agora o pai que sofre do mesmo mal estando desde há meses já num estado que exige cuidados constantes, de dia e de noite.
De uma bondade e generosidade imensas, recusa-se a interná-lo enquanto ele estiver consciente, mas é ela que anda a morrer aos poucos. Está magríssima, de uma palidez impressionante, o aspecto choca todos os que a vêm, e teve até já um episódio de desmaio prolongado que o médico considerou ter sido por excesso de cansaço, um esgotamento das suas capacidades físicas.
Mas nem isso a convenceu a desistir, pensar um pouco em si mesma e, pelo menos, dividir esta responsabilidade com outros irmãos que até existem (mas descansam inteiramente estas responsabilidades nela)
O que me impressionou foi ela, ontem, quando lhe telefonei – o que tento fazer com frequência, e não visitas que só iriam ainda atrapalhar como me disse – me ter confidenciado num fiozinho de voz: «Hoje reconheci que já não ando normal. Imagine-se que estava a pedir uma coisa, e quando se faz um pedido qualquer costumamos sorrir, a sublinhar que é um favor, eu pelo menos sempre assim faço; e dei conta que não estava a ser capaz de sorrir. Foi a primeira vez e fiquei assustada comigo mesma!» Eu, do lado de cá do telefone, engoli em seco antes de responder «Minha querida, isso chama-se exaustão! É mesmo o sinal de alarme do organismo. A bem ou a mal alguém tem de ajudar nessa carga imensa, porque não é humano aquilo que exiges de ti mesma!»
Quando um sorriso já cansa.
É o fim da linha sem a menor dúvida. Até por amor à família ela tem de cuidar dela. Sinto-me preocupadíssima.
15 comentários:
Tu costumas (isto de «costumar» é tramado porque nos amarra a rituais parvos!) escrever dois ou três posts de manhãzinha e estamos habituados (eu pelo menos estou e fiz essa leitura) a que termines com um ligeirinho que nos faz sorrir ou ficar bem disposto.
Hoje alteraste esse hábito e afinal é por isso que estou a escrever a uma hora onde apenas costumo dar uma vista de olhos. Escreveste que 'engoliste em seco' antes de responder à tua amiga e é o que eu estou a fazer. Esta história é um murro. O que, muitas vezes, se passa à nossa volta perante a nossa impotência, é chocante. Essa tua amiga está mergulhada no meio do feroz egoísmo dos outros. Pelo que contas, o marido não deve fazer nenhum, os filhos adultos também não se devem ralar, os irmãos assobiam para o lado, e afinal os Serviços Sociais ou os apoios possíveis, não existem?...
Se ela se vai mesmo abaixo (e deve estar perto disso) esse bando de egoístas vai ter um 'acordar' bem chocante!
RS - é tal e qual como dizes. Acho graça em terminar de um modo agradável e até podia ter mudado a ordem dos posts. Mas, que queres, saiu-me assim...
A história é completamente verdadeira. Ela merecia muito melhor vida do que a que tem. O marido... (nem quero qualificar) e os filhos são um pouco culpa dela, porque nem a própria cama fazem! As irmãs agem como se o pai estivesse num lar ou nem isso (até se esqueceram do dia dos anos dele!!!)
Quanto ao «apoio social», enfim... Mesmo que passem lá por casa, é para lhe dar a injecção de morfina, não para ficar acordados durante a noite quando ele chama de hora a hora...
A minha amiga tem é uma coragem e fibra invulgares, mas... já nem consegue sorrir! (e se ela tinha um sorriso fácil e radioso!)
Nem sei que dizer, Emiéle.
Texto muito sombrio, este.
E, dá para acreditar, muito verdadeiro.
Essa tua amiga devia ler isto.Salvo à força,como pressuponho do escrito não vai abandonar. E é tremendo não poder ajudar ( e os "erros" de não ter educado marido e filhos, se calhar na melhor das intenções, mas que acaba sempre nisto). E o resto da família tambem não ajuda nada?!
Claro que apoio rs e king.
Nada tenho a acrescentar pois RS; King e Fernando, já tudo disseram, ou melhor, acrescentaram ao que tu tinhas dito. Eu próprio, já senti, na carne o que é ter um progenitor, nesse estado, e na altura, eu não estava melhor, pois foi no auge da minha maleita. Como sou filho único, nem irmãos tinha para descansar e só a minha mulher, incansável, me ajudou, nessa tarefa. Mas ela também andava preocupadíssima comigo e a solução foi mesmo internar a minha mãe.
Doeu-me ver que essa mulher, essa tua amiga, reconhece o erro de não ter sabido, "ensinar", os filhos e o marido a partilharem os seus deveres. Será uma lição, que espero aprendam, antes de, a ela, acontecer algum infortúnio.
Escrito comovente e que espero (ou desejo) que ela o leia.
Levantas aqui uma questão interessante: até que ponto nós acabamos por ser «coniventes» (?!?) com o egoísmo de quem anda à nossa volta.
Penso muitas vezes isso.
Vejo na minha família mulheres maravilhosas mas que não souberam educar os filhos porque fazem tudo em seu lugar. O amor é tão grande e a preocupação em os poupar de tudo que não os preparam para o momento em que elas não estejam ao leme do barco. E mais tarde ou mais cedo vai acontecer!...
Este caso que contas faz-me lembrar outros, talvez não tão graves, mas parecidos. Uma pessoa da família assume a responsabilidade, por generosidade, por sentido da responsabilidade, e todos os outros ficam muito aliviados e nem se ralam mais com nada. Nem sei se é só egoísmo se é cegueira.
Pois é, «estrela do mar» e «fernando» (és o FJ, não é?) é claro que ela não vai ler nadinha porque quando se consegue sentar é para encostar a cabeça e fechar os olhos não é para se sentar ao computador. Que aliás só os filhos o utilizam [e utilizam imenso que aquilo está sempre a avariar...] ela tem um email que nunca abre pelo que eu sei (às vezes mando-lhe uma ou outra coisa mas só quando lá vou vamos as duas ver aquilo que eu enviei...)
E se de repente alguém com confiança e amizade suficientes a "raptasse"?E deixasse que os egoismos se entendessem entre si? Devo dizer que percebo tudo isto e tenho obviamente muita pena da tua amiga.Mas a minha pena não a salva de nada e é evidente que ela merece outro tipo de sentimento.às vezes existem umas espécies de vocações martirológicas,que tem razões,claro,mas que precisam de "doces" abanões.Curiosamente esta mulher estará sózinha sempre,agora "ao serviço" e depois porque ninguém vai acreditar que uma pessoa tão forte precise de ajuda(e mesmo que acreditassem pela amostra ninguém se ia ralar muito).AB
AB, entendo o que dizes, mas neste momento, até o pai desaparecer é inviável, por ela. Não por «vocações martirológicas» que nem acho nada que as tenha, mas porque não é capaz de deixar que ele sinta que ela o 'abandonou' enquanto estiver lúcido.
Quando ele desaparecer, isso acho que sim. Até já lhe disse porque não ia passar uns dias lá na 'minha aldeia'...
Impressiona, este teu relato. Ainda há pessoas assim, como a tua amiga, cada vez menos, é certo.
Mas tudo o que é em excesso faz mal e o caso dela é claramente um excesso de auto-responsabilização. Fazia-lhe bem falar com alguém especiasta sobre isso.
Olá Mar, Boa Noite....
Esta minha amiga, está a atravessar um momento muito sombrio como todos vocês que aqui comentaram concluiram. Mas não é uma vítima, nem alguém que veja as coisas de um modo sombrio, muito pelo contrário. Não gostaria nada que ficassem com esta ideia que seria falsa.
Lembrei-me que aqui há muito tempo, já tinha escrito sobre ela, mas quando o céu ainda tinha muita luz. Para contrastar deixo aqui o link para o post de há quase ano e meio (Janeiro do ano passado, vejam lá!)
ESTÁ AQUI e vejam as qualidades que ela tem.
Só que a vida tem sido mesmo madrasta.
Já no fim do dia ainda passei por cá e comento pelo menos este post.
Lembro-me muito bem o outro post que linkaste agora nos comentários, e que espanto tratar-se da mesma pessoa. Essa pessoa tão serena, tão segura, tão tranquila, e vê-la agora como dizes aqui «que anda a morrer aos poucos».
Sem a conhecer também senti um nó na garganta.
P*** de vida! (desculpa lá mas é o que penso!)
Bom dia Joaninha (também estranho ver-te no Pópulo à noitinha)
Não sabia que ainda te lembravas do outro post que escrevi há tanto tempo. E, sim, tratava-se da mesma pessoa. As voltas que a vida dá! Mas acredito que passado este tempo tão mau, ela possa voltar à sua atitude positiva e construtiva perante s dificuldades. Mesmo hoje em muitos aspectos ainda a têm. En relação ao filho mais velho que muitas vezes tem feito umas opções de vida discutíveis, ela vai dizendo «Não penso muito nisso; vai de ter de ser ele a reparar que é asneira, eu aviso mas não insisto».
arrepiei-me a ler isto!
mas fiquei a pensar: o marido e os filhos? não ajudam??
é que são as mulheres que educam os homens... às vezes mal.
mas nada justifica esta vida, coitada da senhora!
agora que li os outros comentários e o post, já estou mais informada...mas ainda mais revoltada!
Se o pai está tão mal não deve durar muito (e ainda bem para ele e para ela, por muito incorrecto que seja dizer isto)
nessa altura, "rapta-a" mesmo, mas assim por um mês ou mais, e deixa os homens amanharem-se sozinhos!! é bem feita!!
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