terça-feira, agosto 05, 2008

A Itália e o separatismo


Tinha decidido de mim para mim, que neste período de férias só escrevia aqui no blog sobre banalidades quero eu dizer coisas levezinhas. Mas...
Já há uns tempos que ando a pensar
nesta história
E quanto mais penso mais me inquieta.
A esquerda europeia (e talvez não só) ficou espantada com a segunda eleição de Berlusconi. Dizia-se que à primeira podia ser um engano, como os mais optimistas pensaram no caso Bush, mas também tal como Bush este senhor voltou a ser reeleito o que já não dá para enganos. Quer mesmo dizer que a maioria dos italianos apoia as propostas políticas de Berlusconi.
A Itália como país unificado é muito, muito jovem. Tem bastante menos de 200 anos. E pelos vistos não se sente lá muito bem unificada, por mais voltas que Garibaldi e Vítor Manuel dêem nos seus túmulos...

O Norte e a sua Liga são muito mais ricos e sentem-se muitíssimo superiores ao Sul. Querem a separação.
O caso de que fala esta notícia é «apenas» que se pretende que
sejam banidos do norte os professores com origem no sul do país . Assim mesmo. Sem mais nada!... Arrogantemente afirmam que "Devemos lutar contra a canalha centralista. Há 15 milhões de homens dispostos a brigar por sua liberdade: ou conseguimos as reformas, ou será batalha!".
O que parece ter despoletado pretexto para toda esta crise é um verso do Hino Nacional italiano. Como todas as marchas concebidas no século XIX contém frases violentas. O nosso Hino diz-nos «contra os canhões marchar, marchar», e a Marselhesa «Marchons! Marchons! /Qu'un sang impur/Abreuve nos sillons». Era a época. Lá na Itália, cantam «Itália, escrava de Roma». Tudo isto são as tais liberdades poéticas, que vão mudando com o tempo e de importância relativa - que pode ser empolada (essa importância) quando convêm....

Ora o que parece é que começa a convir agora e muito.

O Norte de Itália tem muita força. A força do poder económico. Que já provou ser capaz de eleger um Presidente, mesmo que alegadamente corrupto, por duas vezes.
Esta ‘provocação’ de quererem banir os professores que vêm do Sul, parece-me uma experiência, um modo de medir a sua força.
Pode não passar, acredito.

Mas é de levar muito a sério.


6 comentários:

Anónimo disse...

Uma surpresa.
Pensei que durante este pousio do blog só escrevesses aqui coisas mais pessoais. Enganei-me.
Emiéle, esta notícia até assusta. Não pela arrogância de um tipo que até é ministro (afinal os Albertos Joões Jardins existem por todo o lado...) mas por aquilo que está por detrás. Uma zona de um país, lá por estar mais desenvolvida, descarta a outra zona mais pobre?... Isso é possível?!

Anónimo disse...

Eu, apesar de tudo tenho confiança nos italianos.
Claro que existem estes tipos, mas representam uma fatia da sociedade, não são tudo.

O que não quer dizer que não se tenha de estar atento.

josé palmeiro disse...

Antes de entrar, nas guerras do Norte contra o SUL, deixa-me dizer, de quanto eu gostava que, todos voçês, tivessem a sorte que eu tenho de poder estar, na net, em casa, com acesso gratuito, luxos, de quem está, no ALLGARVE.
Se estou no Algarve, estou no SUL,e mais ainda, sou do SUL, coisa que me enche de orgulho, sem preconceito, diga-se de passagem.
Custa-me entender essa constante, de que "os nortes", são sempre mais ricos e melhores que as outras regiões. Todos têm os seu valores e a conjugação e entrosamento, de todos eles, é que constituem a riqueza de um país, ou de , outra coisa qualquer.
E mais não digo que hoje é terça e não há que a não mereça.

cereja disse...

Nesta caso, Zé, é mesmo o Norte contra o Sul, mas não sei se será sempre assim...
Por acaso em Portugal também há a ideia de que O TRABALHO está mo Norte e aqui para o Sul é tudo uma cambada de preguiçosos... Que nervos!...
:)

Anónimo disse...

Separatismo por esses motivos toscos é coisa de retardado. Talvez por brigas étnicas ou religiosas muito fortes, pode-se entender. Pode-se, veja bem.

E José, concordo contigo: o todo é maior que a soma das partes. Só não pense em norte ou sul, pense em mais próximo ou longe do equador, que aí isso serve para qualquer país, seja no hemisfério sul ou norte.

Aqui no Brasil tacham o NE e qualquer nordestino de atrasado, inclusive se apelidam os estados austrais de "Sul Maravilha". Assim como os do Porto e de Braga falam mal de alentejanos. Realmente, IDH e índice Gini do norte e nordeste brasileiro são piores que os do sul, mas isso se deve a fatores históricos de povoamento, modelo de exploração, de industrialização etc., e à falta de caráter dos governantes, claro. Nada que ver com índole, clima e demais desculpas esfarrapadas...

Abraços diretos de São Paulo.

cereja disse...

Olá Caco!

Apesar de receber muitas visitas do Brasil (e sei-o pelo contador de visitas) é muito raro deixarem um comentário. Fico bem satisfeita quando se dão a esse trabalho.
Imagino que em todos os países possa existir uma diferença ou rivalidade desse tipo. Em Portugal também há a ideia-feita de que o Norte é mais trabalhador e o Sul mais preguiçoso. Quando escrevi isto da Itália foi por causa das palavras da Liga do Norte.