sábado, junho 21, 2008

Humor


Falar de humor a sério? Não há pachorra, não é? Vamos ver o que consigo fazer.
Quase toda a gente considera que tem sentido de humor. O que é, é que ele é diferente de pessoa para pessoa… Há a graça mais básica, elementar, que se compreende no momento mas a que nem toda a gente adere; há outra mais requintada, elaborada, que mete trocadilhos ou conhecimentos especiais; há a piada-disparate, tipo non sense, que pode cobrir horizontalmente várias camadas sociais; há a graça tão rebuscada que deixa dúvidas sobre o seu sentido; há… eu sei lá, milhentas variedades e formas de humor.
Apesar de se dizer que é uma forma de inteligência, e eu também concordo que um bom humorista é por definição um tipo inteligente, não é pacífico inferir o oposto: lá por não se ter sentido de humor não quer dizer que se seja menos inteligente. Tem outra forma de inteligência, mais nada!
Eu tenho a sorte de ter vivido sempre rodeada de pessoas com muito humor. Já a minha mãe tinha um espírito de humor tão subtil que muita gente se interrogava se ela estava a falar a sério ou não, coisinha que a deixava deliciada, é claro! Portanto desde pequenina que fui criada entre risos e muita ironia, e prefiro para meus amigos pessoas com sentido de humor. Aliás se forem ver, na lista dos blogs que tenho ali como preferidos, a grande parte são de bloggers com bastante graça, mesmo quando às vezes falam de coisas sérias. Diziam os romanos que sabiam destas coisas que "ridendo castigat mores", não é?
Mas uma coisa que me deixa sempre desconcertada, é quando tenho de explicar uma piada. Não apenas a graça em si se volatiliza, como nos sentimos um tanto ridículos. Claro que isso acontece, até já aconteceu aqui no Pópulo – eu dizer algo como ironia e alguém vir corrigir-me explicando muito sério que estou enganada, não é nada aquilo. Oh, céus!!!
Desta vez o raio caiu num blog que eu só descobri há pouco tempo, mas logo da primeira vez que lá fui achei tão interessante um post que o coloquei no «quadro de honra» ali na coluna do lado, no Vale a Pena Ler. Chama-se Sacrifícios e ainda continua ali ao lado.
Visito este blog de vez em quando, e continuo a encontrar alguns posts que me agradam muito. Um deles chama-se ‘rebuscadamente’
C3H5(NO3)3 (para não dizer nitroglicerina que tinha menos piada) e conta-nos das peripécias da sua filha em plena idade de birra, e da tolerância que ele e a mãe vão tendo para conseguir paz em casa.
O escrito, pleno de humor, reúne todas as possibilidades de birra, e o modo como de manhã à noite estes pais as vão resolvendo, ou seja… cedendo à criança que noutros posts já mostrou não ser sempre a pestinha que aqui aparece. Eu achei muita graça, e uma espécie de inventário das diversas formas de ‘chantagem’ que encontramos na bagagem de uma pirralha destas.
Ora, espanto dos espantos, não apenas alguns leitores do blog levaram a história (apesar do título!) a sério e desataram a dar conselhos sobre a forma de educar, como até uma colega blogger, pessoa que anda há muito por aqui e tenho por atilada, dedicou um post seu a censurar o despautério deste pai. Onde é que já se viu vir ‘gabar-se’ das birras da sua filha?!
Pronto.
Cá temos a tal situação de se ter de explicar a anedota. Valha-me Deus!

19 comentários:

Anónimo disse...

Por acaso eu até acho que explicas a anedota demasiadas vezes.Mas este tb. não é um blog de humor.Mas nada impede de ser bem humorado.Se a gente não se rir ou colocar em posição risivel tudo o que neste país vai acontecendo vamos todos transformar-nos em Anteros ou Camilos para não citar exemplos mais recentes.Por outro lado já tenho vistos comentadores e bloggers carregados de ironia que noutros blogs e sem mudar de nick são cinzentos e quadrados enquadrados pelo ambiente dos blogs em causa.E é curioso observar isso.AB

cereja disse...

Achas que explico?
Às vezes tenho dúvidas.
Este caso que conto aqui foi surpreendente, porque a blogger que não entendeu nada de nada, diz no corpo do post, nem é em comentário, referindo-se a mim «Há até uma senhora que diz que trabalha na "área da educação" e que vai aproveitar certas coisas escritas no post em questão porque são “exemplares”. Juro, assim mesmo.»
Faltou-lhe entender que o 'exemplo' a que me referia era exactamente a atrapalhação da atitude dos pais perante a birra da filha! E descrição daquele dia a dia inventado é que era exemplar!

Anónimo disse...

Levei mais tempo porque estive a ler os links que deixaste. Aliás (mea culpa) ainda nem tinha lido o «Sacrifícios» que é de ler. E, está na cara, que os tais comentários indignados, de quem não entendeu a graça da «nitroglicerina» são de quem não se tinha dado ao trabalho de ler o Sacrifícios. Quem escreve este, não pode ter a atitude banana e permissiva que eles concluiram que era a daquele pai!
Haja Deus!!!!
E não te arrelies, que isto é mesmo assim!

Anónimo disse...

Não tenhas dúvidas(que falta de modernidade,essa das dúvidas),não te arrelies,e não leves a sério o que não é para levar.(mas que explicas,explicas)AB

méri disse...

O que me espanta, e penso também a ti é que a Vieira do Mar, que leio há muito tempo, tem, na minha opinião, um grande sentido de humor e também muitas vezes ironia. Ela própria tem outro blogue "Passeai flores" que tem episódios hilariantes, outros sérios, sobre os filhos, Sempre muito, muito bem escritos.
Fiquei mesmo surpreendida.

cereja disse...

Foi isso que me deixou de boca aberta, Méri...
Como disse ali em cima, ela é pessoa que anda nisto há muito tempo (mais do que eu) e o que tenho lido lá não me levava a imaginar que entrasse tão «a matar» ainda por cima tendo lido mal o que lá vinha. Cá para mim, mesmo que tivesse pensado o que pensou, o mais que se justificava seria um comentário no post lá do Pipaterra, e fim da questão. O dedicar-lhe espaço no seu próprio para lhe bater, não entra na minha cabeça!...

Anónimo disse...

Que post extenso para o teu costume. Pelos vistos quiseste deixar isto muuuito bem explicado.
LOL!
E, (a vingança serve-se fria, é?) com isto aumentaste as visitas ao Pipaterra, claro!

(que nome... porque se chamará assim?...)

Anónimo disse...

Fui ler o «Sacrifícios?» que está excelente! É mesmo assim. Um modo de vida actual onde se espera que tudo nos caia do céu e quando não acontece nem se para para pensar como podemos mudar as coisas.
O blog é bastante giro, mas um tanto irregular. Tem uns escritos sensacionais, sobretudo esses em que fala da filhota de 4 anos (ai, idade terrível!) e outros menos interessantes do meu ponto de vista, mas realmente recomenda-se uma visita.

Anónimo disse...

Vocês já disseram quase tudo (o mal de se escrever no fim, é este!)
Gostei do blog de que falas.
Contudo (deve ser a minha faceta de 'cota') achei que abusa dos palavrões.
Como diria o cónego Remédios «não havia necessidade»...

Anónimo disse...

Num habia nexexidade , queres tu dizer!
Aqui o sotaque faz falta!!!!

Compreendo que haja ali um excesso de 'liberdade de linguagem' sobretudo quem tem como referência aqui o Pópulo tão bem educado, mas afinal o blog é dele, escreve como gosta. :)

Anónimo disse...

Nem tempestade em copo de água, é. Não dês mais importância a uma coisita de qui-ri-qui-qui.
a)Houve um mal entendido.
b)São tudo boas pessoas.
c)O tipo do Pipáterra, o PITX (serão iniciais do nome?) tem muita graça, e a língua mais solta a mim não me incomoda, pelo contrário.
d)A Vieira achou que os aplausos eram "comentários de apoio" às birras da criança e não ao post, o que classifico como mal-entendido.
e)Com isto tudo promoveste o Pipaterra, o que só te fica bem.

Caso encerrado!

PS - o que quer dizer Pipaterra?...

cereja disse...

Também não sei, Joaninha e Raphael. Vou ver se nos posts iniciais ele diz porque baptizou assim o blog...
OK, OK, o assunto está encerrado.
Se calhar inventei demasiado tempo de antena para esta micro-história...

cereja disse...

PRONTO, como calculava vem lá a explicação do nome.
Está AQUI .
É uma expressão abreviada e sincopada de «p(ara) i(r) pa(ra) (a) terra»
Uma frase que o pai usava quando guardava qualquer coisa para as férias, «p'ra ir pá terra».
Ficam informados, ou querem mais...?

josé palmeiro disse...

Puxa vida, afinal explicas, mesmo, tudo!
Visitei-o, li e gostei!
Eu que já vou nos netos, como me revi.
É certo que no meu tempo, não havia necessidade de se fazerem birras por tudo e por nada, só por razões muito fortes. Dos pais, só um trabalhava fora de casa, a mãe ficava no seu trabalho, não menos digno, nem difícil, acuidar de tudo o resto e a apanhar as pontas das malhas caídas, e nós, enquanto crianças, tinhamos sempre esse amparo. Mais tarde com os filhos, já os dois trabalhando fora, as coisas sucediam-se com um ritmo mais calmo, muito em função das terras em que vivíamos, Agora com os netos, quer queiram quer não, a vida é mesmo assim, e depois as crianças, nem todas são iguais e há umas, mais birrentas que outras.
Um apontamento à Joaninha, o meu filho, que tem filhos, foi muito novo para o Porto, lá se profissionalizou, lá vive e de lá ganhou aquela forma de falar, que só, ouvido...
Lembro-me que, quando ainda estudante, vinha passar férias a casa, o linguajar era tão brejeiro, que assustava, depois, pedia desculpa. Agora, que posso eu esperar dos netos?
São mesmo outros tempos e outras vidas.

cereja disse...

Pois é, amigo Zé, é a linguagem do norte, essa...
Eu, como a Joaninha, ainda estranho. Tive uma educação como hoje em dia nem se imagina, e confesso que certas palavras que hoje qualquer criança diz nas calmas, eu já tinha mais de 20 anos e ainda nem sabia o que queria dizer. Passei por algumas situações delicadas por perguntar em voz alta com a maior das inocências o que queria dizer uma ou outra palavra - e afinal eram palavrões.
Eheheheh!! Aqui expliquei tudo, porque tinha mesmo de ser... :D

Anónimo disse...

Émiele, como deve imaginar, não sou estúpida e não me escapou a ironia. Podemos ironizar com qualquer coisa, até com o genocídio do Ruanda ou com o Holocausto.

Eu coloquei o link no meu blogue por duas razões: 1º, porque o assunto me choca particularmente; 2º , porque me apeteceu. Quem expõe as suas misérias privadas num blogue, sabe que está sujeito ao escrutínio público. Eu também estou, quando descrevo coisas com as quais os que me lêem podem não concordar, designadamente no que respeita à educação que dou aos meus filhos. Quem anda à chuva molha-se, e temos mais é que aguentar. E teve o senhor do post muita sorte, que os portugueses são envergonhados: não imagina a quantidade de mails que recebi de gente que o havia lido, que ficara horrorizada, mas demasiado acabrunhada para comentar.

Agora, estamos a confundir os planos. Uma coisa é a forma do texto: eventualmente irónica, até engraçada para alguns. Outra coisa é o conteúdo. E o conteúdo, convenhamos, é triste. Triste e grave. Porque, infelizmente, são cada vez mais os amigos e conhecidos às minha volta que agem assim para com os filhos. Que deixam que eles lhes dominem a existência, que se tornam deles escravos, que lhes transformam os dias num inferno. Miúdos que, depois, crescem insatisfeitos, arrogantes e sem a menor resistência à mais pequena frustração. Estes pais (que abdicam da sua vida, dos seus hobbies, da sua música, dos seus gostos, de tudo o que era seu) estão de facto a criar uma geração de pequenos monstros egoístas (que às tantas crescem), e muitos deles estão pura e simplesmente cegos. Outros, fingem que não vêem, porque por enquanto é mais fácil assim (disciplinar mói e cansa).

Quando disse que o texto era "exemplar", não percebi. É um exemplo de quê? Daquilo que um pai não deve fazer, presumo. Se é assim, explicou-se mal. Se não é isto, então nem quero perceber. E depois, se sabe que "já cá ando há muito tempo", saberá que se há coisa que eu sei e gosto de fazer é de brincar, de ironizar e de gozar: basta ler-me. Só que não há qualquer "anedota" naquele post, é apenas um texto triste, que descreve um modo de vida igualmente triste que é comum a muitos "novos pais". E que, por isso, me mereceu o relevo que lhe dei.

Pena é que, em vez de estarem todos a discutir se eu devia ou não ter postado o que quer que fosse no MEU blogue, não discutam a questão pedagógica inerente à actuação (ficcionada ou não) daquele pai, questão que me parece bem mais interessante.

Cumprimentos,

Sofia Vieira (a "blogger" tem nome, como muito bem sabe)

cereja disse...

Não vou entrar numa discussão porque de facto, como já alguém aqui disse, nem chega a ser uma tempestade num copo de água. É uma série de mal-entendidos, ou talvez não, talvez tudo fosse bem entendido, excepto o meu comentário.
(e não sabia o seu nome, não, a não ser o nick de Vieira e não achei que se justificasse mais do que o link para entenderem o que estava a falar, não foi falta de cortesia)
1º Claro que o blog é seu e é senhora de escrever o que muito bem entender. E também é claro que, assim como o PITX desde o momento que escreveu o post ficou sujeito a um «post de comentário» como o seu, o seu post indignado e citando uma frase minha, fica sujeito também a esta «resposta» Natural, as duas coisas.
2º As «misérias privadas» do pai daquela menina, do meu ponto de vista (e já agora não só o meu, porque também eu recebi primeiro um email a chamar-me a atenção para o post pela positiva, e depois vários no mesmo sentido) foram contadas realmente com humor e de modo nenhum a fazer a apologia daqueles comportamentos. Continuo a não entender como pode ter feito essa sua leitura, embora o aceite, é claro.
3º Agora vamos ver se me explico melhor: a narração é exemplar. Entendo com isso, que se for lida em reuniões de pais (como tenciono fazer) vamos encontrar muitos pais que se identificam com o que lá está. Não exactamente naqueles moldes – e por isso a caricatura teve graça, no meu ponto de vista – mas muitas daquelas situações, se lhe retirar o aspecto caricatural, são sentidas em muitas famílias. A educação, como acabou de dizer no seu comentário, e como eu tenho dito muitas e muitas vezes (pode confirmar nos posts que estão na categoria Educação) está a atravessar uma fase muito difícil, muitos pais perderam a autoridade, as crianças não aceitam qualquer disciplina, e muitas vezes os papéis numa família estão invertidos. Citei um livro engraçado (também engraçado, imagine-se!) chamado L’enfant, chef de la famille, onde se vê que esse mal infelizmente nem é só português.
4º Agradeço a sugestão de falar A SÉRIO, neste tema, que veio ao encontro do que eu já estava a pensar fazer. Numa das respostas que hoje deixei por aí, já tinha dito que ia mais uma vez abordar esta delicada questão, das normas, da disciplina, das birras, e dos limites que são indispensáveis para o equilíbrio de uma criança.
Vai ver que estamos mais de acordo do que pensava.

Anónimo disse...

O Quê?Ainda?AB

cereja disse...

Não é bem «ainda» AB.
Digamos que é um Direito de Resposta da blogger Vieira do Mar, o que é justo, e uma última (e é mesmo última) resposta para esclarecer as coisas.
E por mim acabou, não vou voltar cá.
Vou começar com calma a escrever uma coisinha sobre a Educação.