terça-feira, abril 22, 2008

O Diário da Ana

Segunda-feira, 22 de Abril de 1974
O João está quase a fazer anos e ando a pensar em lhe oferecer um L-P como prenda. Tenho algum escrúpulo porque afinal a prenda é para ele e eu também fico beneficiada, porque ouvimos os dois… Mas depois acho que este escrúpulo é um disparate, assim nunca se ofereciam livros nem discos nem aos maridos nem às mulheres!...E vou dar-lhe também uma camisola de gola alta muito gira, ele detesta gravatas!
Mas quanto ao disco tenho de me decidir que já não tenho muito tempo para escolher. Estou a hesitar bastante entre o último do Patxi Andión, acabado de sair e portanto esse ainda não temos, e um do Joan Manuel Serrat.
Estou muito ‘ibérica’! A Luísa gozou imenso comigo, mas é que de música francesa temos uma grande colecção e não há nada de recém-saído que ele ainda não tenha comprado. Aliás a questão é onde é que se vai guardar tanto LP que já andam em montes no chão…
Quanto à música de cá, os discos do Zeca já os temos todos, à medida que saem a gente abastece-se (os primeiros ainda eram passados entre amigos para ajudar, mas agora compram-se numa discoteca normalmente) e do Adriano também…
Acho que vou mesmo comprar o do Patxi, o “Donde el agua”, gosto imenso dele e o João também.
E porque não hei-de ser ‘ibérica’? Temos de ser uns para os outros! Ehehehe!

10 comentários:

Anónimo disse...

Era.Os bascos catalães e os latino americanos apareceram em força.Se não foi a "24" de Abril foi logo a seguir.O Jara,a Mercedes Sosa,o Paco Ibañez,a 1º edição em Portugal,feita pela Philips da Chavella Vargas,O "cancionero" inteiro do Andion,o Llach e aquele concerto fantastico de Barcelona,bem como o "Verges" só mandando vir,a Maria del mar Bonet,a Marina Rossell,Apareceram várias edições dos "Poetas em Nova Iorque"e Lorca apareceu também acompanhado pelo Paco de Lucia,e claro os brasileiros, e os sul americanos da épica revolucionária que se cantavam em coro.Enfim...AB

josé palmeiro disse...

Depois de ler o "diário", estava a congeminar ideias, mas a AB, já cá esteve e, como somos da mesma "leva" e com gostos muito semelhantes, pronto, está tudo dito.
Já agora: "Que hacen, los poetas andaluzes, de ahora?"
Quanto à Ibéria, sonho antigo...

Anónimo disse...

Tinhas de deixar alguma coisa sobre música, é claro
:))))
Os LP, os vinil como dizemos hoje, mas havia também os de 45 rotações que acabavam logo, ao fim de uma cantiga ou duas...
E sítio para os guardar? Havia quem comprasse álbuns, onde cabiam uns 10 ou 20 já nem sei, e sempre ficavam mais protegidos. Mas de qualquer modo sempre ocupa mais espaço que um CD.

Quanto às canções, ainda não havia a invasão anglosaxónica, mas quase... Esses cantores 'de resistência' das autonomias espanholas eram fundamentais. Boa evocação.

Anónimo disse...

Ainda ouvíamos muita música
francesa - (ia dizer uns tantos, mas afinal tu tens deixado aqui canções deles na música do Domingo)e evidentemente que todos os 'baladeiros' portugueses, para além dos cantores de intervenção portugueses.
Esta lembrança de Espanha é muito oportuna.

Anónimo disse...

Eu vi o Serrat ao vivo num restaurante da Calle Princesa,que era dele, em Barcelona,aí por volta dos anos 80.E trazia com ele o Llach.Foi já depois do golpe Milan del Bosch,a Catalunha estava em sobressalto,havia tropa na rua por todo o lado e revistavam tudo.Foi uma noite inesquecivel,portas fechadas depois dos clientes sairem e ficaram aqueles dois, mais os "amigos",entre os quais a pessoa com quem eu estava (o catalão mais bonito do planeta),o Llach estava tb recem chegado e havia um piano e guitarra.Até de manhã.AB

Anónimo disse...

Os de 45 rotações trouxeram as "´Vozes na Luta" as coisas do GAC,e não sei exacatamente qd. desapareceram mas até à década de 80 ainda subsistiram...o tal "Doutor,doi-me o peito ainda foi gravado em 45 e é pos 78.AB

Anónimo disse...

Quanto à tal invasão anglo sáxonica de que fala o King,por cá já se estava nela...para já Beatles,depois a Janis Joplin,o Otis Reding,o Simon e Garfunkel,e já anteriormente os pacifistas com a Baez à cabeça,caramba, não se ouvia pelo menos isto? Fora o Jazz claro.AB

josé palmeiro disse...

A Baez, esteve em Cascais, se me não engano, em 1981, estava a minha mulher grávida da nossa filha, pois até nem foi.

Anónimo disse...

OK, claro que sei que se ouvia música anglo-saxónica, o que eu falei foi em «invasão». Como todos sabemos hoje o difícil é ouvir-se outra língua! Até as nossas bandas (e não só as nossas) já cantam em inglês.

cereja disse...

Bem, eu mais uma vez tentei dar uma pincelada do dia-a-dia. Não é nada sociológico, nem pretende cobrir tudo... Quanto a esse LP, por acaso tenho a certeza de que estava à venda e era recente, nessa altura. :D