terça-feira, março 18, 2008

Um muito bom comentário

Ontem escrevi aqui um post, reconheço agora que à laia de brincadeira. Falava de uma história que tinha lido (ainda sobre os problemas no Tibet) sobre a questão da reencarnação.
O posts teve vários comentários mas um dos meus visitantes, que conhece a China e costuma ler a sua imprensa, deu a sua opinião. Uma opinião que considero muito. Com o seu primeiro comentário já ficámos mais esclarecidos, mas bastante mais tarde deixou aqui um outro que preferi puxá-lo para cima para mais gente o poder ler:


Uma primeira questão, na minha algo leviana opinião, a RPC já nada tem a ver com o comunismo, antes com o capitalismo selvagem extraordinariamente bem misturado com profundo nacionalismo e, fundamentalmente, julgo, com a interpretação oficial do confucionismo, divinizando a hierarquia, que, neste caso, encarna na lei (encarnação legalizada esta...). Mas é típico de países muito "duros" regularem tudo por lei, caindo-se nestas situações.
Ateia? Já o julguei, mas o que são, alem de ideologias, as religiões mesmo as "reveladas"? Éticas sociais? E não será a interpretação de Confúcio referida exactamente isso? Que teria sido a revolução cultural sem um cimento de ordem (tudo é relativo, claro) ? Como foi possível tanta ordem na mais profunda desordem? Teria sido o fim da China, ou quase, e não esta espécie de renascimento, para fugir a outra palavra (e não é que não tenha há anos, acreditado - ou desejado - a reencarnação, mal por mal se voltássemos já se toleraria melhor essa coisa, sempre inoportuna, da morte).
O China Daily só falou nos "riots" mas julgo que há uns tempos ignoraria tudo.
Só preparação para os jogos? Julgo que só, não.

12 comentários:

cereja disse...

Desta vez como há uma inversão de papeis, considero que posso vir comentar -não fui eu que escrevi!
O FJ conhece a China, não apenas por lá ter vivido mas porque se manteve sempre informado. E, por isso, aquilo que diz para mim respeito como alguém que sabe do que fala.
A verdade é que já tinha a ideia - e não apenas por essa questão dos Direitos Humanos - que o modelo chinês já não tinha nada do que em tempo se imaginou. Daquilo que se sonhou no início do poder do Mao - não falo agora da 'revolução cultural, antes disso - até à actualidade, é impressionante o caminho que se vê.
Contudo, é e será um erro, avaliar civilizações que desconhecemos por os nossos padrões, o que temos demasiado a tendência para fazer. Por isso respeito tanto a opinião do FJ, ele conhece de facto o que se vai passando ali, e em certa medida entende aquela civilização com os seus próprios padrões.

Anónimo disse...

Realmente só tinha lido o primeiro dos comentários, o outro entrou muito tarde e raramente passo por aqui depois do jantar (a vida não é só blog!!!)
Não tinha equacionado nada esta perspectiva. Está muitíssimo bem visto.
O respeito pelas hierarquias confucionistas, adaptado à actualidade e à hierarquia do estado.
E um local onde os trabalhadores não têm direitos é realmente o mais selvagem dos capitalismos, mesmo que encapotado.

Anónimo disse...

Fiquei a pensar.
Eu fui daqueles que levei para a brincadeira...
Diz aqui o FJ «Mas é típico de países muito "duros" regularem tudo por lei, caindo-se nestas situações.» o que realmente me fez re-centrar tudo o que tinha pensado.
Muito bem visto.

Anónimo disse...

Fez-me pensar.
Sabem que vou começar a ler mais coisas sobre o que se passa lá!
Fiquei interessado.

Anónimo disse...

Acho sempre muito boa ideia quando passas um comentário a post!
Não é exactamente, mas afinal está um pouco na linha dos «itálicos» do saudoso BdE.

(o que me fui lembrar agora?! A verdade é que tenho saudades deles; o Aspirina tem alturas em que é excelente outras em que nem por isso, mas não substituiu o Blog de Esquerda )

Anónimo disse...

Vou lá ler tudo.
Acho que me passou.
Esta 'análise' (?), reflexão (?) está muito boa.

Anónimo disse...

Muitas vezes gosto mais dos comentários/posts do que dos posts (sem ofensa!!!!)
É que a malta quando escreve em comentário está completamente solta, e escreve com uma naturalidade, sem olhar nem ao que soa bem, nem pensar demasiado sobre nada, que depois resulta lindamente com este ar espontâneo que aqui se vê.
Está excelente.

josé palmeiro disse...

Na verdade a segurança com que o FJ, escreveu o que escreveu, revelou-me um conhecimento efectivo da situação, bem como a tua chamada de atenção para o facto de se continuar actualizado, pela leitura dos média. Concordo inteiramente com a promoção que fizeste do seu comentário, é daqueles que dão um bons post.
A sua chamada de atenção, tem todo o cabimento.

Anónimo disse...

Atenção que os conhecimentos atuais são de leituras.E há importantes autores que consideram poder a RPC tornar-se uma social-democracia, como Samir Amim.E, ainda de leitura, parece-me que o imenso movimento de saída do campo para as cidades ( só quem viu pode conceber o que é a estação de comboio de Cantão ) é mesmo muito pensada oicialmente, mas lá que cria qualquer coisa muito parecidas com o "tal" exército industrial de reserva, cria mesmo, talvez a "melhor" do mundo. Nada como estudar chinês,ler muito e IR lá, mas não é facil.

Anónimo disse...

Acho graça à modéstia do conselho do FJ:
«Nada como estudar chinês,ler muito e IR lá, mas não é fácil.»

Bo-las!! E mais nada??...
E acho piada ele repetir várias vezes que os conhecimentos são de leitura. Excelente. É que os meus nem isso, resumindo não tenho conhecimentos!!!
E fiquei na dúvida se ele estudou chinês porque lá que conhece a China já a Emiéle aqui confirmou, e que lê muito já a gente percebeu. Até os jornais chineses diários.
Se isto não é saber...

Anónimo disse...

Daquilo que tenho lido(não conheço a China)o FJ tem toda a razão,razão na "adaptação" confucionista e razão na transformação do regime( Emiele,que "se sonhou no regime de Mao"?)em capitalismo selvagem,tão selvagem que os menos(ainda)selvagens não hesitam em render as suas homenagens porque negócio é negócio e os Direitos Humanos nessas alturas são para ficar na gaveta.Ordem?Claro.AB

cereja disse...

É verdade Tess, ele não só conhece a China, continua a ler coisas sobre o que lá se passa como... também estudou chinês!
E olha que é obra, eu que passei por lá e ainda me interessei desisti rapidamente!
AB - eu disse «se sonhou no início» atenção. E foi verdade. Durante a Longa Marcha o ocidente imaginou muita coisa romântica, ainda tenho livros e álbuns de fotos mostrando esse romantismo.