quarta-feira, março 26, 2008

Espelhos

Não sou uma coleccionadora.
Acho eu, porque não reuno muitos objectos semelhantes por prazer, para fazer colecção. Contudo, tenho gosto em me rodear de alguns. Na minha casa há bastantes relógios (tenho pelo menos um por divisão) muito bonitos para o meu gosto, mas isso fica para outra conversa. Hoje estava a pensar nos espelhos.
Também tenho muitos. Quase se podia dizer que era a tal ‘colecção’ mas não lhe chamo isso porque não têm nada de especial, umas molduras mais bonitas nuns, outros simplesmente funcionais, na maioria são apenas objectos decorativos.
Estive a reflectir nisso, porque trouxe mais um, pequenino, com uma moldura bonita, mas não sei bem onde o vou pendurar. Pensei: isto já é uma mania! Agora onde é que vais pôr isto?

O curioso é que raramente uso os espelhos para me ver neles. Claro está que, se lhes passo em frente, não desvio os olhos, mas não estão ali para eu me mirar. É porque acho bonito. São uma janelas pequeninas para “outro sítio”, para um mundo paralelo, igualzinho a este onde vivemos mas noutra dimensão.

Não sei se alguém ainda se lembra do Orfeu de Cocteau, quando o Orfeu/Jean Marais atravessava os espelhos para passar para o outro mundo? Bem sei que noutro registo temos a Alice que também ia ao outro lado, mas os «meus espelhos» são mais os do Cocteau, uma piscadela de olho para o outro lado ficando contudo na segurança que me dá «este lado de cá»…
Não sei se estou a racionalizar uma mania, um gosto como qualquer outro e que não faz mal a ninguém. É certo, acho que um espelho é um objecto bonito e um pouco mágico, e depois..?!

10 comentários:

Anónimo disse...

E este tipo de post é «o outro lado» da Emiéle!...
:D
Tu tens piada. Quem vem aqui com frequência fica a conhecer-te um pouco. Gostas de dar o teu palpite sobre aquilo que são as notícias do dia (assim como o leite do dia, ainda fresco) depois há um campo de opinião sobre valores etc e tal, e de vez em quando aparecem estes textos de «intimidade» bem giros, que nos fazem conhecer-te melhor.
Com que então espelhos?
Como «uma passagem para a outra margem»?...

Anónimo disse...

Ah, e outra coisa. Ninguém tem nada, nadinha, com isso, mas está à vista que este tipo de post foi escrito com calma, numa altura qualquer e publicado juntamente com o resto dos «posts da manhã». Não dá para acreditar que escreveste os dois ou 3 debaixo e depois, paraste, e pensaste «agora vou filosofar um bocadinho sobre espelhos»...
:)))

Anónimo disse...

Emiéle, minha cara, ninguém se lembra do Orfeu do Cocteau!!! A não ser nós!
(do que te foste lembrar...)
:D

Que saudades...

Anónimo disse...

.... e grande Magritte!!!!

Anónimo disse...

Lembro-me de «Le Testament d'Orphée» mas não é a isso que te referes. O outro filme não estou a recordar...
Percebo o instinto de colecção mas não quanto a isso dos espelhos. Não sou como amigas minhas que até os detestam (conheço gente que tem quase uma fobia...) mas não os uso como decoração.
Contudo entendo que possa ser bonito. Um antigo espelho de Veneza é bem chic! :D mas não tenho nenhum!!!

josé palmeiro disse...

Aqui, não digo nada. Constato e mais nada. Cá por casa passa-se o mesmo, espelhos e relógios e agora, só no tecto.

Anónimo disse...

Mas são objectos bonitos, eu também acho.
Sem ir tão longe na metafísica, a magia, o «outro lado», o tempo, etc, seja como for estéticamente é um belo objecto, um espelho.
Acho eu!

Anónimo disse...

Pois também há quem se lembre do Dorian Gray que isto de espelhos e retratos tem muito que se lhe diga...Mas eu estou um bocadinho com o Carroll e só não grito "cortem-lhe a cabeça "porque rainhas de copas...bem,era uma trabalheira!AB

cereja disse...

Pois é, Mary, é o meu «outro lado»... Acho piada em contar algumas das minhas manias, e esta coisa é mesmo verdade. Arranjei (este herdei-o!) mais um espelho e não encontrava sítio para o 'expor'. Afinal se fosse mesmo colecção era melhor porque as colecções ficam com os objectos todos juntos!!!
Quanto aos outros visitantes, afinal ninguém estranhou, ainda bem, e pelo que vejo lá na família Palmeiro há a mesma 'mania'... :D
AB - Calculei que gostasses da visão meio surrealista do Mundo do espelho da Alice. Mas isto das cabeças é melhor não começar a cortar que ainda cortam a nossa, ai, ai...

cereja disse...

Ah, esqueci-me, quanto ao filme é anterior ao Testamento, é claro, Joaninha. A mim marcou-me um bocado quando o vi, adolescente. Aquele Orfeu apaixonado pela sua morte (Maria Casares) e atravessando espelhos para a encontrar, é uma imagem inesquecível para mim. E pelos vistos para o (a?) MN, que também se lembra!