quarta-feira, fevereiro 27, 2008

O «Caderno da AB» - Avó Margarida III

Continuação de Avó Margarida II

Dizia a tia Gi que o “paizinho” era muito inteligente e metia respeito. E contava que no dia do casamento, laico, ele tinha decidido que o conservador fosse a casa. Segundo a lei, os casamentos em casa, tinham de ser de “ porta aberta”. O avô José Maria incomodou-se com a assistência que se acotovelava à porta, curiosa daquela inovação “Civil e em casa.” Tirou-se das suas tamanquinhas e fechou as portas. Dizia a avó ”Não foi por isso. É que passou o D. António Herédia que era monárquico” E rematava: ”Conhecia-me desde criança. Chamava-me formiguinha. Tive tanta pena”.

TEMPO DE PARIR, TEMPO DE TEMER, TEMPO DE SERVIR
O avô tinha algumas posses. Terras de família e moagens ali para os lados de Grândola. E duas irmãs. Com a pneumónica a avó começou a fazer a” navette” Évora – Beja para as assistir. E paria. À razão de um filho por ano. “A tua mãe ia nascendo na escada”. Dos treze partos só 7 chegaram à idade adulta. Uns tiveram a Pneumónica, outros uma doença esquisita que lhes paralisava o maxilar e os impedia de mamar. ”Eu não podia fazer nada. Só chorava “. E o Avô? O avô andava na política “e às vezes vinham buscá-lo. A guarda. E eu ficava ali, de noite, a barriga à boca, a pedir que não mo levassem, entre as patas dos cavalos.”
Depois voltava, o avô, e queria partilhar com ela os artigos que escrevia à noite para o jornal. ”Eram giros avó?”- “Sei lá , filha, depois dos miúdos deitados eu queria era dormir
Quando o avô morreu de tuberculose o último filho vinha a caminho. A minha mãe tinha nove anos.

(continua)

7 comentários:

Anónimo disse...

Treze partos?... Grande mulher! E que interessante esse primeiro casamento civil, em casa.
Houve uma altura, há uns anos onde isso se fez em famílias de algum poder económico que não queria casar na Igreja. Era mais elegante casar em casa. Mas hoje com casamentos de centenas de convidados, não há casa que aguente!

Muito bom, esta história em folhetim...
Esperamos o fim!

josé palmeiro disse...

Mais uma vez, AB, surpreendes, com essa descrição, tão linda. Uma época, como essa, no fundo a dos nossos avós, só podia gerar romances como os do Camilo. Está tudo esplicado.

Anónimo disse...

Acho que a AB fez muito bem em dividir a história em 3 (ou mais, a gente não sabe) partes. Fica mais leve, mais «tamanho post», e dá-nos tempo a saborear estas imagens que parecem de filme.

Anónimo disse...

Sabes Zé Palmeiro eu acho que é mais Mercé Reboreda que escreveu uma coisa chamada "A praça do Diamante".Se puderes lê.AB

josé palmeiro disse...

Vou tentar encontrar, obrigado AB.

cereja disse...

Venho aqui só para me auto-felicitar desta colaboração...
:)

Está bem visto a comparação AB. A gente tem a tendência a procurar comparações nos nossos escritores, mas este tipo de histórias estão mais perto realmente desse romance que já vai apanhar o período da guerra civil espanhola.

Anónimo disse...

E eu agradecer a cedencia de espaço e atenção de leitores que podiam estar noutra...Mas a história da Reboreda e do pombal é uma coisa extraordinária e acho que tem tudo a ver com esta história da avó.AB