O Caderno da AB - canções
Em relação a este post a AB recordou:
Canções de amor - I
Bea
Chamava o avô por “menino”e o meu pai e tios por “meninos” seguido dos respectivos onomásticos. A mim variava entre o diminutivo e o nome completo com apelido e tudo dependendo do grau da asneira. Mas havia, mesmo na asneira grossa, um sorriso no olhar e uma malícia na voz que a tornava mais cúmplice do que censora. A Bea tinha sido ama do meu pai e foi o rosto, além do materno, que mais acalentou as minhas anginas recorrentes até à pavorosa operação às amígdalas, mão que mais se ergueu em protecção, o lenço que mais vezes enxugou lágrimas de birra ou rabugice de sono e a paciência maior, de colher na mão, ao fastio nas refeições na mesa dos “pequenos”, ainda na casa grande e já em Lisboa, quando esse fastio e outras manifestações eram já o primeiro sinal do “virar da mesa” que ela já não viu porque se foi, nos meus treze anos e foi a minha primeira orfandade. A Bea cantava canções, canções que nunca mais ouvi e das quais recordo letra e música. Não sei como as aprendeu mas, de algumas, tentei decifrar códigos e personagens sem grandes resultados excepto os evidentes – coisas da 1ª República provavelmente folheto de ceguinho ou revista do ano. E o senhor Afonso Costa pois então… Aí vai uma, a letra, claro, e o pedido: se alguém souber de alguma coisa e queira informar…agradecida!Chorai, rapazes, chorai
Rapazes, gemei
Num pranto sentido
Que o nosso Afonso
Ai, ai,
Abandonou o partido
Quem tem crianças pequenas
Por certo lhes há-de cantar
Se o Afonso fica em França
Se o Afonso fica em França
Quem é que os há-de calar
Chora a Nação desde Monção
Ao Algezur
Chora o Germano,
Chora o Hermano
E o mano Artur
Cidades, vilas,
Montes aldeias
Choram em fila
Chora o Clemente
E o Candeias
do Intendente.
AB
6 comentários:
Lindo...
Um magnífico post intimista.
Quanto à canção, nunca a tinha ouvido. Vou ver se pergunto ao meu pai, mas...
São figuras assim que nos acompanham durante a nossa vida e nos marcam mais do que na altura se imagina...
Até eu fiquei com vontade de a conhecer...
Mais um belo texto da nossa AB.
Com o estilo a que nos habituou!
Obrigado, AB.
Gostei imenso e nada mais tenho a acrescentar ao que já está dito, senão manifestar uma imensa gratidão, pelo que hpje revelaste.
Não conhecia, mas como o King, vou pesquisar. Direi depois alguma coisa.
Obrigada.Todos os comentários que a Emiele tem feito o favor de passar a posts são homenagens a gente real com grande importancia na minha vida.Claro que me prendo a pormenores,coisas que os temas que ela levanta no "Caderno de capa castanha"vêm levantar da "Mémoria dos tempos" como diria o outro.Todos estes personagens tiveram histórias de vida, independentemente dos pontos aqui tocados, que valem a pena ser referidos, não só por si próprios, mas porque retratam épocas muito complexas do ponto de vista social e até politico.Entre o Alentejo e Lisboa é minha intenção,se a Emiele continuar a dar-me guarida,contar, em nome de pessoas ou de coisas, episódios que espero vos interessem.Obrigada a todos.AB
Realmente estes textos da AB que eu vou publicando com muito prazer, complementam bem os da Clara, que são mais «racionais» se assim se pode dizer, e estes mais emotivos. Mas como a época é a mesma é uma espécie textos para «memória futura» como agora se costuma dizer...
Quanto á AB amanhã há mais!
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