quinta-feira, novembro 01, 2007

O Caderno da AB - canções

Em relação a este post a AB recordou:


Canções de amor - I

Bea
Chamava o avô por “menino”e o meu pai e tios por “meninos” seguido dos respectivos onomásticos. A mim variava entre o diminutivo e o nome completo com apelido e tudo dependendo do grau da asneira. Mas havia, mesmo na asneira grossa, um sorriso no olhar e uma malícia na voz que a tornava mais cúmplice do que censora. A Bea tinha sido ama do meu pai e foi o rosto, além do materno, que mais acalentou as minhas anginas recorrentes até à pavorosa operação às amígdalas, mão que mais se ergueu em protecção, o lenço que mais vezes enxugou lágrimas de birra ou rabugice de sono e a paciência maior, de colher na mão, ao fastio nas refeições na mesa dos “pequenos”, ainda na casa grande e já em Lisboa, quando esse fastio e outras manifestações eram já o primeiro sinal do “virar da mesa” que ela já não viu porque se foi, nos meus treze anos e foi a minha primeira orfandade. A Bea cantava canções, canções que nunca mais ouvi e das quais recordo letra e música. Não sei como as aprendeu mas, de algumas, tentei decifrar códigos e personagens sem grandes resultados excepto os evidentes – coisas da 1ª República provavelmente folheto de ceguinho ou revista do ano. E o senhor Afonso Costa pois então… Aí vai uma, a letra, claro, e o pedido: se alguém souber de alguma coisa e queira informar…agradecida!

Chorai, rapazes, chorai
Rapazes, gemei
Num pranto sentido
Que o nosso Afonso

Ai, ai,

Abandonou o partido


Quem tem crianças pequenas

Por certo lhes há-de cantar

Se o Afonso fica em França

Se o Afonso fica em França

Quem é que os há-de calar


Chora a Nação desde Monção

Ao Algezur

Chora o Germano,

Chora o Hermano

E o mano Artur

Cidades, vilas,

Montes aldeias

Choram em fila

Chora o Clemente

E o Candeias
do Intendente.

AB

6 comentários:

Anónimo disse...

Lindo...
Um magnífico post intimista.
Quanto à canção, nunca a tinha ouvido. Vou ver se pergunto ao meu pai, mas...

Anónimo disse...

São figuras assim que nos acompanham durante a nossa vida e nos marcam mais do que na altura se imagina...
Até eu fiquei com vontade de a conhecer...

Anónimo disse...

Mais um belo texto da nossa AB.

Com o estilo a que nos habituou!

josé palmeiro disse...

Obrigado, AB.
Gostei imenso e nada mais tenho a acrescentar ao que já está dito, senão manifestar uma imensa gratidão, pelo que hpje revelaste.
Não conhecia, mas como o King, vou pesquisar. Direi depois alguma coisa.

Anónimo disse...

Obrigada.Todos os comentários que a Emiele tem feito o favor de passar a posts são homenagens a gente real com grande importancia na minha vida.Claro que me prendo a pormenores,coisas que os temas que ela levanta no "Caderno de capa castanha"vêm levantar da "Mémoria dos tempos" como diria o outro.Todos estes personagens tiveram histórias de vida, independentemente dos pontos aqui tocados, que valem a pena ser referidos, não só por si próprios, mas porque retratam épocas muito complexas do ponto de vista social e até politico.Entre o Alentejo e Lisboa é minha intenção,se a Emiele continuar a dar-me guarida,contar, em nome de pessoas ou de coisas, episódios que espero vos interessem.Obrigada a todos.AB

cereja disse...

Realmente estes textos da AB que eu vou publicando com muito prazer, complementam bem os da Clara, que são mais «racionais» se assim se pode dizer, e estes mais emotivos. Mas como a época é a mesma é uma espécie textos para «memória futura» como agora se costuma dizer...
Quanto á AB amanhã há mais!