quinta-feira, novembro 08, 2007

Mundos ‘alternativos’

Volto ainda ao romance de Liza Marklund que li este fim-de-semana prolongado O tal policial.
Entre várias coisas fascinantes, achei espantosa a diferença do dia-a-dia vivido num país como a Suécia ou naquele que melhor conheço, Portugal.
A protagonista é uma jovem jornalista que, apesar de ter trabalho num pequeno jornal, vai fazer uma substituição de uma colega, num outro muito mais importante. É uma oportunidade para ser contratada por esse jornal e melhorar a carreira mas, até isto é um tanto novo para nós na actual conjuntura, alguém ter um trabalho na mão e arriscar. Acontece, mas não muito.

Claro que este jornal, mesmo sendo importante não é grande coisa. Tablóide. E com trincas internas entre chefias e colegas oportunistas, isso deve ser igual em todo o mundo.

Mas há coisas que não são realmente «iguais em todo o mundo». Por motivos do enredo, a páginas tantas ela é despedida. Fica furiosa pela injustiça do despedimento, e sobretudo pela atitude do seu sindicato que não a defendeu, até pelo contrário a criticou. Chega a casa, pega no telefone e liga para o sindicato a 'desindicalizar-se'. Assim, pimba, sem mais! E assim que desliga esta chamada, liga para a CTS (Confederação dos Trabalhadores Suecos) e inscreve-se no fundo do desemprego. Por telefone! Depois irá mandar a documentação, mas está inscrita e no mês seguinte vai receber o seu ordenado…

Mas outra estranha mentalidade para nós é que, como estava enraivecida, decide ir «dar uma volta» e… vai passar uns dias à Turquia para espairecer. Até tem interesse para o enredo, mas o curioso é como alguém que está desempregado e no fundo do desemprego vai «arejar» para tão longe (e tão caro…) !
No regresso, repara que gastou as economias que tinha, e a companheira de apartamento, empregada num bar (?), quase um bordel, propõe-lhe que para fazer dinheiro comece a trabalhar lá como croupier. E isso acontece nessa mesma noite! Imagine-se, uma rapariga, jornalista, licenciada, com boa formação, veste um biquini de lantejoulas e vai orientar uma mesa de jogo numa espécie de bordel. Como???!!!

A história depois vai dar várias voltas que não vou revelar, mas é a naturalidade com que se muda de trabalho, se recebem os subsídios de desemprego, [e pelo que entendi, se quisesse poderia ainda voltar para o tal jornal da terra] que nos mostra que com esta «segurança» se encare a dita «flexi» com outro à vontade.


Tal e qual como cá, não é?


9 comentários:

Anónimo disse...

Deve ser interessante ler uma história desse tipo, leve, de aventuras ou coisa assim, mas vê-la na perspectiva de quem lá vice.
Outro mundo, com certeza.

Anónimo disse...

É interessante, é.
Chamas-lhes Mundos Alternativos, e como é que se passa para lá. Eu, dessa alternância não me ralava.
E mostra-se bem que a tal ideia da flexi-segurança, é possível quando o «mudar de emprego» é mesmo MUDAR, e não, ficar sem nada!
Já tinha lido um romance dela, mas quase não há traduzido em Português.

josé palmeiro disse...

Primeiro, abriste-me o apetite para ler o policial.
Comparações dessas, não se podem fazer connosco. Não há políticas nem politicos, suficientemente capazes de nos colocar nesse patamar. Mas que devia ser assim, não duvido.

Anónimo disse...

É.
Tal e qual como cá. :)))
(tirando as tricas do local de trabalho que, como chamas a atenção é igual em todo o lado, penso seu. Tem mais a ver com o «poder» do que com as questões económicas, neste caso)

Anónimo disse...

A outra correspondencia real é a da "universitária de lantejoulas"...Nunca leste os anúncios do DN ou nunca foste ao Champagne Club?AB

Anónimo disse...

Por acaso li o livro - não disseste o nome mas há poucos traduzidos em Português. Também sorri da diferença de níveis de vida.

Olha AB, lembras bem que por cá também há meninas de certo nível a «fazerem uns favores» especiais, mas ali não é exactamente isso. A colega de apartamento, sim senhora, mas ela foi uma coisa pontual e está ali como croupier, nas calmas. Não é o mesmo modelo.

cereja disse...

Este post estava escrito ainda antes da «pane». Mas chamei-lhe Mundos Alternativos, porque realmente parece «outro mundo». E não estou a falar do guisado de alce que a mãe dela estava a cozinhar quando a foi visitar.
:D

Anónimo disse...

Bom dia. Estou de volta em terras baixas e com mais tempo para ler coisas mais "leves" mas certamente interessantes como o teu blogue. Esta dos contrastes/mundos alternativos fez-me lembrar uma conversa recente que tive com familiares portugueses e o mundo dos estudantes em terras lusitanas e baixas. Aqui quase todos os estudantes trabalham umas horas para financiar os seus "luxos" ou extras...sejam estudantes de gestão, medicina etc. Esses empregos temporários (que podem durar anos)são em cafés, pizzarias, supermercados, praças, entrega de jornais...sentem até orgulho por poderem financiar alguma coisa (mesmo que os papás sejam abastados e há muitos aqui). A pergunta aqui costuma ser: "O quê? Não trabalhas? Os teus pais pagam-te tudo ?" Acho engraçado, sentirem-se úteis e produtivos por trabalharem umas horitas...

cereja disse...

Olá Lia, bem vinda de volta!
Faz todo o sentido, esses trabalhos temporários para financiar uns extras. Dantes cá também era costume muitas vezes, os «trabalhos de férias», porque 3 meses era muito tempo de descanso e um trabalho dava para uma viagenzita etc e tal.
Mas actualmente creio que esses são apanhados por jovens que mesmo com formação estão desempregados e deitam mão a tudo!!!