quinta-feira, setembro 27, 2007

Who's there?

Fui ao Teatro, ontem à noite. Ver o Hamlet do João Mota.
João Mota fez 50 anos de carreira, e a Comuna 35. Só podia ser uma grande festa de teatro e quem ganhou fomos nós. De referir que a casa estava esgotada e, pelo que sei, a bilheteira está esgotada para muitos dias…
No Maria Matos, adaptado, aproximando-se simbolicamente de um teatro ‘elisabeteano’, o tema foi Teatro.
O Hamlet é teatro sobre teatro. As personagens são elas próprias e uma outra imagem simultaneamente. Para além da representação dentro da representação, (os actores que fazem de actores mimando a história que se vive) todo aquele drama são imagens sobrepostas de personagens que «se representam a si próprios», numa cadeia de acontecimentos sucessivos. Por alguma razão esta é a peça mais conhecida e mais representada até hoje.
João Mota fez um trabalho magnífico! Da beleza despojada do cenário, à criatividade dos figurinos intemporais de Carlos Paulo, a escolha da tradução de Sophia, o equilíbrio do trabalho dos actores que realçaram a beleza do texto, foi um espectáculo inesquecível.
O «achado» de ter ‘emoldurado’ a peça com um início e um final lindíssimo, um fundo forrado de espelhos de camarim de luzes acesas onde os actores se sentam de costas para nós e máscara na cara, enquanto perpassa um sussurro « Who's there?..., quem está aí?...»
Sabemos que vai começar, ou terminou.
Para este Hamlet, Diogo Infante optou por uma personalidade menos hesitante e mais agressiva de que a de outros Hamlets que tenho visto. Resultou muito bem.
Sabemos a resposta.

Who's there? Quem está aí? Está o TEATRO

10 comentários:

Anónimo disse...

Emiéle, tu ADORAS teatro!
É que depois disto, vou ver para quando há bilhetes... e já agora, reler o Hamlet.

Anónimo disse...

Eu já fui.
Não resumiria melhor as minhas impressões do que aquilo que fizeste.
Saí impressionado.
Um excelente espectáculo!

Anónimo disse...

Não vi ainda a peça mas assim que puder vou ver.O João (mau feitio)e o Carlos Paulo são dois dos meus autores/actores de referencia.Com eles fiz o "assalto" à Comuna e respectiva ocupação num Maio já muito longiquo.Com eles trabalhei em vários projectos e fundei os CLACS.De boa memória.O Carlos tornou-se ainda um figurinista cenarista notável e essa multiplicidade de funções era o conceito original da Comuna.Toda a gente fazia tudo.Desde pregar pregos à gestão da casa(toda a gente comia lá).Aprenderam com os melhores-BrooK,Weiss.A parceria com o Diogo Infante só pode acrescentar mais delicadeza e alguma renovação na representação porque os muitos anos criam vicios por muito bomque se seja.Pois iremos ver assim que pudermos,AB

josé palmeiro disse...

E eu cá pelos Algarves, a roer-me todo.
Depois do que escreveste, não poderei deixar escapar.
Deixa-me referir a oportunidade da AB, naquilo que conta, tem toda a razão.

Anónimo disse...

Só não entendo uma coisa: com tanto êxito como o que tenho ouvido, porque raio é que a peça tem a data de saída marcada...???? Não haveria maneira de continuar depois do 21 de Outubro?!
Muitas queixas de que os teatros estão às moscas e se tem de representar para 1o pessoas, etc e tal. Depois esgotam-se as lotações e não se aproveita a onda! Tá mal!

Eu já tentei ir por duas vezes e nunca consegui bilhetes para os dias em que queria. Fui adiando porque queria ir com malta amiga e eles nem sempre podem, mas está difícil...
(claro que com o teu escrito ainda fiquei com mais vontade)

Anónimo disse...

Grande pergunta king.Acontece o mesmo com os Artistas Umidos concretamente irritou-me imenso quando foi da homenagem ao Beckett...e ainda mais chato é por vezes a questão das marcações sobretudo no D.Maria.Tens que levantar com não sei quanto tempo de antecedencia e não há em Lisboa uma coisa que acontece noutras capitais como Paris ou Londres ou Nova Iorque que são os bilhetes do dia postos A metade do preço em quiosques ou sitios próprios e se faz fila para os ir buscar, mas permite decidir de repente a ir ao teatro e ir mesmo.AB

Anónimo disse...

Isso mesmo. Também me aconteceu com os Artistas Unidos! Fiquei bestialmente chateado. Muitas vezes quando se arranja tempo já a coisa passou. Ora uma peça leva tempo a montar, tempo e dinheiro. Por mim, parece-me que eles levam mais tempo com os ensaios do que de dias de exibição. É claro que representa para uma casa às moscas é deprimente, mas olhem que não é assim. Muitas vezes a casa anda muito composta! E com o «truque» que a malta do teatro agora usa de diminuir tanto a plateia e aumentar o palco que muitas vezes o palco é maior do que a assistência, não é difícil encher uma sala...
E o que dizes, AB, também já o tenho pensado: se os 'bilhetes do dia' fossem mais acesíveis como tenho visto «lá fóra» se calhar as casas ficavam mais compostas. Entre vender mais barato, ou o lugar ficar vasio, é mais agradável o primeiro caso.

Anónimo disse...

Gostei imenso.
Acho que agrada a todos os públicos. O mais conservador vai pelo texto, sempre é o Hamlet e traduzido pela Sophia. O mais moderno, vai pela encenação. Todos saiem satisfeitos.

cereja disse...

Joaninha, realmente adoro teatro. :D
AB, talvez te acompanhe se lá fores, não me importava de ver outra vez.
Quanto ao «diálogo» king - AB, vocês têm razão, é claro. Há para aí coisas que devia ser repensadas.

Anónimo disse...

Carissimos,
Um espectáculo é sempre uma surpresa. Para quem o vê, para quem o produz, para quem o encena, para quem o apresenta. E ninguém sabe fazer futurologia. Os teatros têm de ter uma programação regular, que é feita com anos de antecedência. Como muito bem dizem, um espectáculo tem muito trabalho antes de chegar ao palco. E isso implica muita gente também. E implica disponibilidade. E nem sempre é possível reunir um elenco durante muito tempo.
Quanto aos bilhetes do próprio dia... Seria bom primeiro compararem preços de bilhetes "lá fora" e em Portugal. "Lá fora" os bilhetes têm um custo que permite as companhias terem lucro. Em Portugal os bilhetes procuram minimizar os custos. "Lá fora" os teatros estão cheios. Sejam peças com actores e encenadores famosos, sejam peças de desconhecidos. As pessoas gostam de teatro. Paris, Londres, Berlim... Em Lisboa vai-se ao teatro para ver este ou aquele actor, este ou aquele encenador.
As coisas não são tão preto e branco quanto a vossa conversa quer deixar transparecer.
Quanto ao preço dos bilhetes, já repararam que no Maria Matos (já que é deste que se fala) à quinta-feira se paga metade do preço? Eu opto sempre que posso por esse dia. Quando está cheio, vou noutro dia e opto por jantar fora menos uma vez no mês ou não vou beber copos ao Bairro Alto a seguir. São opções, já que a minha bolsa não dá para tudo.
:) Bom teatro! Martim