quarta-feira, setembro 19, 2007

O «Caderno» da AB - Vestuário

Volta não vira e toca ao mesmo

Não faço ideia de quando foi a primeira escolha de roupa.
Uma coisa era o desejo, outra a realização do mesmo. E nem sei mesmo se o desejo era assim tão claro, mas a haver, era sofrido...porque a concretização dos desejos era convertida em prémio de comportamento ou prenda de Natal ou anos. Tirando uma ou duas birras noutros campos, com resultados francamente positivos, essa do vestuário era um dado adquirido - nada a fazer. Fazendas do Sr. Henrique, amostras de azuis-escuros e cinzentos para os casacos compridos à inglesa: macho atrás, meio cinto, pespontos nas golas e bolsos de pala e oito botões. Saias de pregas, do mesmo tom dos casacos, com peitilho num outro tecido para que ao vestir se não ficasse "ponta abaixo ponta acima" e camisolas de malha de três cores. Cinza clarinho, azul escuro e vermelho, todas
com um botãozinho no cós, junto ao pescoço, para prender o maldito colarinho de goma. Dois vestidinhos de "ver a Deus" ou de "ir à madrinha"como hoje se diz…"Voile de lã."
O que faltava em imaginação (os vestidos eram bonitos, vistos agora à distância) sobrava em bainha...para o ano seguinte. Depois era fácil: quando a "parure" de sair ficava, enfim, em menor apresentação (????) passava para uso na escola e vinha a seguinte sempre com o mesmo critério...Sapatos de carneira ou botas da mesma, para a escola, sapatinhos de botão ao lado para sair (um número acima). Meias a condizer com as camisolas e um resquício de luxo nas fitas do cabelo. Acessórios: luvas, chapéu de feltro ou boina para sair e... "carteirinha, mas está parva ou quê? Coisa mais pires...as meninas não usam coisas dessas ".E lá se iam as ilusões que essa da carteira (malinha) nem no Natal, nem com obras pias...porque os "braços se devem levar direitos, sem ser a dar-a-dar . Excepção: ao Domingo o missal pequenino e o véu branco na mão e aí nada de chapéu. O Verão era mais criativo e lá vinham as popelines e os tobralcos e os inefáveis bibes: bibe de brincar, mais simples e bibe de ir à mesa ou de sair. Brancos, nervuras e grandes folhos de bordado inglês. com goma. Para não sujar o vestido, e a recomendação: Faz-Favor-De-Não-Sujar-o-Bibe.

Oh Deuses!...

AB

11 comentários:

josé palmeiro disse...

Isto, não se comenta.
Considerações, ficam para mais tarde.

Anónimo disse...

(ando em sentido contrário ao Zé Palmeiro, já vi...)
A mim apetece-me comentar. É muito interessante o sublinhar alguns aspectos que o primeiro post da Emiele tinha aflorado, e ainda mais as recordações pessoais.
O que vai no sentido do post da Emiéle é mais o do campo da educação infantil. O facto de nem passar pela cabeça das mães dessa época consultarem os filhos sobre aquilo que vestiam nem sobre os seus gostos pessoais. Uma viragem completa em relação à actualidade, e penso que isto é uma amostra de todo um modo de educar. Depois é curioso uma espécie de «moda infantil» mas que era quase uma não-moda. Pela descrição da AB acabava por ser uma espécie de 'uniforme', com cores e feitios que se tinham de usar.
É certo que há vários sinais de que se tratava de uma família de média/alta burguesia e, pelo que ela já disse noutro local, vivendo numa cidade de província. Mas de qualquer modo serve de modelo para se avaliar como se vivia nesses anos.
Ehehehe... Essa de não sujar o bibe!!!

Anónimo disse...

Um texto muitíssimo bem escrito.
Estes teus «Era uma vez...» só por si valem o blog. Conheço quem «tenha a mania dos blogs» (???) e seria capaz de fazer um aparte só com os textos do Era uma vez..

Anónimo disse...

Para os possíveis leitores mais jovens terem uma ideia do uso de bibes. Eu tb os usei no distrito de Setúbal, concelho de Almada até ao segundo ano do ciclo preparatório.As escolas que frequentei eram para todas as classes; acho sim que deveria ser uma espécie de uniforme porque a partir de 25 de Abril de 1974 deixaram de ser obrigatórios. Na escola primária usavam-se bibes brancos, no ensino preparatório rosa com riscas brancas no primeiro ano para as meninas e côr-de-laranja no segundo ano...Alguém se recorda deste tipo de escolas?

Anónimo disse...

A descrição não pode estar melhor. Não sou já exactamente desse tempo, mas tenho primas mais velhas que me contam que se vestiam exactamente assim. Sobretudo nos casacos era uma espécie de uniforme :D E como a roupa era feita em casa, não dava para birras de se querer outra coisa porque ... não havia outra coisa! Uma menina hoje vai comprar um casaco e na loja há cinquenta modelos diferentes, e se naquela loja não houver o que ela quer passa a outra até ficar satisfeita. Esse tipo de capricho era impensável há umas dezenas de anos - parece-me que vivíamos em Marte, ou Vénus...
Lia, na escola era bata branca no meu tempo. No liceu também. Por exemplo no D. Filipa havia um emblema com o nome do liceu de cores diferentes conforme os anos, e que nos acompanhava se nunca se chumbasse. Por exemplo, quando entrei era rosa para o primeiro ano, amarelo para o segundo, verde para o terceiro, laranja para o quarto, azul para o quinto, vermelho para o sexto, lilás para o sétimo (não afirmo que fosse esta ordem, mas eram estas cores). Quando passei para o segundo ano, o segundo passou a ser rosa, e por aí afora : terceiro amarelo, e o roxo voltava para o início, o primeiro ano.
Que saudades...

Anónimo disse...

Ah, ficou por dizer, que para mim, o bibe era o que se usava em casa ou no jardim-escola. Quando se entrava no ensino «a sério» aquilo passava a ser bata.

Anónimo disse...

Neste momento Joaninha já se vivia em Lisboa.E a Florinda vinha passar temporadas,mas a modista oficial já era outra de que falarei mais tarde.E era um espécie de farda sim porque muitas meninas da mesma época e digamos da mesma area social vestiam igual mais coisa menos coisa...Era uma forma de educar sim,sem nenhuma dúvida.Obrigada pelo acolhimento e comentários.AB

Anónimo disse...

Lia,no meu caso lembro-me muito bem dos bibes de escola porque no colégio onde fiz as 3 primeiras classes que se chamavam "viveirinhos" cada classe tinha uma côr diferente de bibe aos quadradinhos.AB

Anónimo disse...

Realmente como contou a AB fazia parte da educação na altura. Com bibe ou bata havia menos comparação de roupas mas nas meias e sapatos via-se à mesma as posses de cada um. Como disse a Mary, o bibe era mais para a escola infantil (já me tinha esquecido dessa), depois dizia-se bata. Este costume antigo até que tem o seu charme...

cereja disse...

Bem, cá venho eu ao fim do dia «baixar os taipais», e fechar o estaminé. Gosto sempre desta ronda final, a boa educação manda agradecer as visitas...
É engraçado que mais gente se fixou na questão dos bibes. Talvez fosse uma diferença para a actualidade mais visível, porque hoje só se usa nalgumas escolas, sobretudo nas infantis. Mas na época em questão era uma peça de vestuário fundamental!
Teve piada a Mary lembrar-se das batas do Filipa com os emblemas de cores (parece que nos outros liceus também era assim, mas por acaso eu também andei no Filipa) que iam acompanhando cada uma de nós.
Por acaso quando li o texto da AB também pensei como a Joaninha que a recordação ainda não era em Lisboa, mas já estou esclarecida.
Lia, tem piada acompanhares estas recordações. E tens toda a razão, com o bibe ou bata parecia haver mais indiferenciação social, mas pelos sapatos descobria-se tudo. Talvez por isso, no Jardim-Escola de que fala a AB, para além do bibe ser uniforme em cada um dos 'viveirinhos' forneciam também umas alpercatas. Ali, era mesmo tudo igual!!!

Anónimo disse...

E chapéu de palha para o recreio.AB