sábado, agosto 18, 2007

O carro


Ontem ou anteontem, uma leitora aqui do Pópulo que mora nos Países Baixos, referiu num comentário o seu habitual giro de bicicleta. Quem costuma viajar sabe que em países bem mais ricos que Portugal, muita gente se desloca de bicicleta quando não quer andar de transporte público. Ainda ontem a mulher de um velho amigo contou que quando ele esteve, há anos, a fazer o doutoramento em Inglaterra alugou uma bicicleta porque não esteve para comprar uma.
Mas nós não. Entre nós, cada vez mais, a posse de um automóvel é considerado quase como uma banalidade, aquilo que «todos têm» e quase se estranha encontrar alguém que «ainda» não tem carro.
Como sabem estou a passar férias numa aldeia. Os seus habitantes estão longe de viverem na abundância mas, tanto quanto vejo, todos têm um automóvel. Estão guardados, não andam neles no seu dia a dia, só os vejo debaixo das capas protectoras que de vez em quando são retiradas para puxar o brilho à pintura ou aspirar os estofos, mas lá que existem posso testemunhar.
Mas o mais interessante é o senhor do café.
É que isto tem 3 lojas: um(a) restaurante tasca, uma mercearia e um café. O café tem algumas pretensões - televisão tipo plasma, tem jornais para os clientes lerem (jornais desportivos e Correio da Manhã, tanto quanto vi), e uma decoração ‘rústica’. Mas é simpático e o seu dono, a quem tratamos pelo nome, ainda mais. É um rapaz jovem, ou pelo menos assim parece. E mora cá.
Ora de manhã, ele chega para abrir o estabelecimento, ao volante da sua viatura! Mora na rua debaixo. Deve demorar mais tempo a entrar no carro, ajustar o cinto, ligar o motor, dar a volta à rua, estacionar, tirar a chave, fechar a porta do carro, do que o que lhe levaria a atravessar aquelas duas ruas.
Mas o estatuto?
Então não é o dono do café? E ia a pé? Onde é que já se viu!?


9 comentários:

Anónimo disse...

Julgas que é só aí...?!
Essa questão do estatuto tem que se lhe diga!!!
A questão dos portugueses e oa automóveis tem que se lhe diga.
Acho que só um psicanalista!

Anónimo disse...

É um casso estranhíssimo. Gente que tem dificuldade em comer comida de jeito, que vive em casas desgraçadas, mas faz questão em ter um carro!
E se reparares, em famílias mesmo de baixa condição económica, vês dois carros ou mais: o dos pais, e o do filho, mesmo em segunda ou 10ª mão, assim que tira a carta compra um carro. A nossa mulher a dias tem o seu carro e a filha tem outro! Uma família que conheço em que o pai é operário, ele tem um carro «de trabalho», e os filhos de vinte e tal anos, que ainda vivem aboletados lá em casa, cada um tem o seu carro!

Leonidas disse...

Olá Emiele! Espero que estejas a ter boas férias, eu começo agora as minhas ....yupiiiiii!
Eu também sei de pessoas que utilizam o carro assim, acontece que depois as horas de "ponta" são o que são. Usa-se o automóvel para ir ao café da esquina, para levar e buscar os miúdos à escola a 500 metros, para ir às compras do lado de lá da via rápida,......
O que é um facto é que se pega, até nos sítios mais remotos, e em vez de se caminhar para uma ideia de transportes colectivos rápidos, a ambição é ter o carro próprio, nem que para isso se gastem fortunas e se percam tempos intermináveis em filas de trânsito. Para ser sincera não percebo, eu que adoro caminhar a pé, enfim, são estes tempos....

Anónimo disse...

Eu conheço no café aqui do bairro um grupo de donas de casa que, não só fazem toilette para ir à bica das onze ,como vão de carro ...e não são dois quarteirões mas dois prédios...Mas o caso dos portugueses e do carro é psicanalitico sim,porque não é só a posse...é a forma como tratam o dito cujo e se comportam ao volante.AB

Anónimo disse...

Mas o que tem piada é que estamos muito de nós de acordo com isto que escreveste, e depois... também usamos o carro para coisa completamente evitáveis e acabamos por ceder e oferecer aos nossos 'herdeiros' o carrito que eles ambicionam com a desculpa de que aí em quinta mão já se compra por mil euros etc e tal... O pior é o resto!

Anónimo disse...

Mas o brin~quedo com qiue ilustras a história é mesmo girinho. Devias ter arranjado um chaveco a cair de podre!!!
ZX

Anónimo disse...

Olááááá!!!!
Estou só de passagem, mas ainda aqui vim dizer Boa Tarde!
Olhei para o que está por aqui abaixo e vou ter bastante que ler quando vier de férias...
Escreveste menos, é certo mas mesmo assim ainda são muitos posts para uma vez só!
Quanto a este de hoje, é claro que já sabemos. A AB tem razão, é caso de psicanálise não apenas pelo símbolo (fálico, não é?) mas como ela diz pelo modo como se trata o objecto. Como se fosse o dito cujo...

cereja disse...

Olá Leonidas! Há tempos que não passavas por aqui... Boas férias! s minhas estão a ser bem sossegadas. E olá também Joaninha, sempre fiel, tu! Vamos acabar as férias pela mesma ocasião :D
Quanto a esta mania do carro, é uma coisa colectiva e terrível.
Há coisas caricatas como quem se desloque ao ginásio a dois quarteirões, de carro e depois pague uma batelada para estar meia hora a andar na passadeira! Eheheheh!!! Tá tudo doido!
Esta caso do rapaz do café é cómico para mim, mas aqui a gente da terra acha naturalíssimo. Pois se ele tem um carro não o há-de usar?!

Anónimo disse...

Concordo novamente com todos e que sem querermos nos comportamos QUASE todos de acordo com o que aqui chamam de "conduta de manada ou rebanho"...Existe esta expressão em Port.?
Aqui quase todos os que estudam ou trabalham perto de casa vão de bicicleta ou transportes públicos...Mas se o emprego é mais longe e representa muitas horas de transportes públicos fazem o mesmo que em Portugal...Mas há felizmente excepçòes e são nessas que tento concentrar-me, observando como conseguem manter os seus idealismos...Tenho alguns amigos aqui sem carro (por opção, pq por necessidade é outra categoria) ou que só o usam para distâncias que justifiquem ter de usá-lo...Pedalando quilómetros e quilómetros para os seus empregos (aproveitam para fazer o tal desporto, poupando o dinheiro da assinatura do clube) com chuva ou neve...Acho fascinante que estas "aves raras existam" para provar que é possível...Eu tento fazer o mesmo, só a chuva e a neve é que me atrapalham, aí uso desculpas...Mas os jovens estudantes têm de ir de preferência de bicicleta ou Trans.Públ. e mesmo nas faculdades complicam o estacionamento para deixarem os carros dos papás em casa...Aqui nào costumam oferecer o carro aos filhos...Acho que isso é algo bem português ou latino...