quinta-feira, julho 26, 2007

Recordações à volta do «Caderno da Capa Castanha VII»

Cafés
Três cafés na primeira infância, ou melhor um café e duas pastelarias ou melhor ainda um café uma pastelaria e um sítio onde se comiam as melhores "padinhas" e onde se comprava a escorcioneira.
O café era fascinante porque tinha uma porta giratória, podia andar-se à roda e nunca mais se sair de lá. Ao fundo tinha um sítio para a orquestra, mas não me lembro de ver lá nenhuma. As cadeiras tinham cromados grossos e havia dias em que transbordava para a praça. Só homens, safões, samarra ou capote, havia quem usasse bigodes e abotoaduras de ouro. Falavam grosso, enrolavam notas e mortalhas de cigarro. Às vezes cuspiam.
A pastelaria era a "Violeta" (não parecia tão pequena) e o Eça tinha lá escrito artigos para o jornal. Na infância de Lisboa, logo logo ao princípio, ás vezes ia com o pai vê-lo jogar xadrez no Palladium. E sabia que ele ia encontrar amigos no Avis. Só na adolescência conheci outros cafés que foram decisivos para o que sou hoje.
Mas disso fala melhor o Jorge Silva Melo...e de que maneira.
AB

(Se clicares a imagem fica um pouco maior)

9 comentários:

josé palmeiro disse...

Dos cafés de Lisboa, a minha recordação, vai para os anos sessenta, do século passado, quando para lá fui, estudar, e o Palladiun, era, ainda uma referência.
Mas na minha infância, na minha terra, naquele estrondoso largo que dá pelo nome de Rocio Marquês de Pombal, havia três cafés, que reflectiam, na perfeição a extratificação social, de então. O café Àguias d´Ouro, o Alentejano e o café Central, fácil é, pela nomenclatura, chegar à frequência.

Anónimo disse...

Olha que a Emiéle também te podia convidar para um testemunho...
Mais uma vez gostei imenso deste testemunho. E, AB e Zé, o que eu sinto é que uma coisa ainda era o café dos nossos pais e outra «os nossos cafés».
Claro que falo por mim, mas o café do meu pai era na baixa, apesar de haver um mais pequeno e simpático no nosso bairro. O «meu» já era o querido MonteCarlo de que o Silva Melo tão bem fala, como aqui lembra a AB.
Ai, ai, que diabo de textos para nos porem um nozinho na garganta

Anónimo disse...

Os «nossos» cafés deu-lhes um tranglomango quando foi a fúria das agências bancárias.
Bem feito que agora passam a 'lojas de 300'!
As voltas que a vida dá!

Anónimo disse...

Para além do que já vocês disseram. gostei tanto da foto!!!!

cereja disse...

Este tema dos cafés dava-nos pano para mangas....
A Joaninha tem, em parte, razão. Alguns dos cafés dos nossos pais já não foram os nossos, e vice-versa. E, o King lembrou bem aquela fúria de há alguns anos quando dezenas de cafés passaram a Bancos. Fazia uma raiva!

Anónimo disse...

Tenho o hábito de andar a pé por Lisboa.Hoje(nem de propósito)desci pela Conde Redondo,rua de Santa Marta,Rua de S.José onde ainda há pastelarias que se chamam "Pilita"por exemplo,ganhei a Avenida pelo Tivoli,desci até ao Largo da Anunciada onde na montra do solar dos Presuntos já se estava a cortar presunto 5 jotas(Alta cozinha de Monção)e Portas de Santo Antão que é uma das minhas ruas favoritas,olhadela no Pátio do Tronco que parece uma garagem e um nó na garganta a olhar o Odeon.Como é que se pode deixar um exemplar único de arquitectura chegar a um estado daqueles?Só há que eu saiba outra varanda como aquela num palacete do Principe Real( o tal palácio italiano com cristais da canção)embora muito mais pequena...Ateneu,Camara de Comércio,Casa do Alentejo tudo parece estar à espera que alguém se lembre de pelo menos limpar...mas onde havia um "peep-show",junto ao Coliseu abriu um café bem simpático,decoração contemporanea mas não invasiva e umas saladas e sumos optimos.Espero que seja um sinal...AB

Farpas disse...

Eu bem digo que ainda hei-de ver esta saga em livro, e pelos visto pela mão de duas autoras!

Aqui há uns tempos escrevi um post sobre a minha infância passada nos bairros da Urgeiriça, onde o ponto de reunião era a Casa do Pessoal, por a minhas bandas os locais de encontro eram essencialmente em associações, e dizia que me deixava um pouco triste que hoje em dia as Associações não funcionem tanto como antes, falta-lhes aquele espírito... julgo que seja mais ou menos idêntico aos "rituais" que se passavam nesses cafés de que falam.

Anónimo disse...

Da primeira vez não perguntei, mas fiquei com a pergunta a saltar:
O que são escorcioneiras e"padinhas"?...

Anónimo disse...

Padinhas era um bolo e escorcioneira era uma raiz que se cristalizava e se vendia em caixinhas de celofane com laçarote.Era excelente mas parece ter desaparecido completamente.Tudo isto no saudoso"Alabaça" debaixo das arcadas da Praça de Giraldo.Há tempos alguém de um movimento de preservação de comida regional alentejana prometeu ver o que tinha acontecido à raiz.Mas nunca mais houve noticias logo presumo que ...se terá ido.AB