sábado, julho 28, 2007

O trabalho a «recibo verde»

O Expresso de hoje traz uma grande reportagem daquilo que é uma das perversões do universo do nosso mundo do trabalho. De vez em quando eu bato nesta tecla mas o certo é que nunca é demais falar nisso.
O certo é que no mundo do trabalho existem 3 sub-mundos:
1 - Temos o universo dos trabalhadores «normais» - executam um trabalho para um patrão, assinaram um contrato, fazem os seus descontos, recebem o seu vencimento. São os trabalhadores por conta de outrem. Ainda neste mundo conhecemos os trabalhadores independentes, profissões liberais, por exemplo.
2 - Temos depois o universo dos desempregados - são ex-trabalhadores, que após um certo tempo foram despedidos por variadas razões e ficaram sem trabalho. São esses que são contabilizados quando se fala em desemprego, até porque têm direito a subsídio de desemprego. Não entra neste universo o caso de quem deseje trabalhar mas ainda não tenha conseguido o seu primeiro emprego.
3 - E temos um outro universo, meio oculto, que é o das pessoas que trabalham para outrem mas com um tal subterfúgio que é como se trabalhassem por conta própria - trabalhadores a recibo verde. Como que vendem o seu trabalho ao patrão continuando a funcionar como trabalhando por conta própria. O que quer dizer que não têm qualquer direito. E neste momento são quase um milhão, mais do que a Função Pública! (Função Pública que é sabido também usa e abusa deste sistema)
Nesta reportagem do Expresso contam-se vários casos exemplo, mas todos conhecemos imensos quando não na nossa própria família. E ainda por cima fala-se com uma certa resignação, na óptica fatalista do «podia ser pior»
Como ali se diz: «Os trabalhadores a recibo verde são mão-de-obra dócil e barata. [……] e têm uma dupla tragédia em cima: se são despedidos ficam sem o seu salário e sem direitos sociais.» Estes gestores que optam por esta solução da flexi-sem-segurança, pensando que «só podem existir empresas estáveis com pessoas instáveis» como ali diz «caminham para o desastre é total. A lógica de que trabalhadores desmotivados e receosos são melhores é um disparate pegado
Como é que não se vê isso?...

6 comentários:

Anónimo disse...

Chego hoje mais tarde mas ainda sou a primeira a comentar!!!
Se calhar o Zé )meu parceiro) passou por cá quando ainda não tinhas escrito nada. Eu confesso que só agora abri o Pópulo.
Este tema parece aquela «História Interminável». Pelo menos não se lhe vê o fim.
Tu tens falado nisto aqui, sim senhora. Eu testemunho. Mas...
É importante que um jornal como e Expresso aborde este tema. E vale a pena ler lá - aliás tu remetes para o artigo.
Como aqui defines estas pessoas estão realmente numa 'terra de ninguém'. Não têm as vantagens de ter um emprego, não direi «certo» mas ao menos «reconhecido», e por outro nem sequer têm as tristes vantagens de um dia poderem ser consideradas «desempregadas». Não é carne nem é peixe. Recebem um salário, mas é tudo. Se pretendem um investimento maior, para poderem casar, criar uma família, é tudo nebuloso e difícil.
triste vida e ... é quase um milhão de pessoas!!! Não apenas jovenzinhos antes de um 1º emprego, pelo que aqui se vê a situação pode durar anos sem fim.
Porca miséria!!!

Anónimo disse...

É o problema mais lixado, que neste momento temos cá...
Como dizes é uma quantidade enorme de gente a viver numa vida de instabilidade completa!

Anónimo disse...

Esta questão é mesmo complicada. Tu tens dito muitas vezes que parece que vivemos em dois países e também sinto isso. Agora mesmo estava a ouvir a antena 1. Uma equipa de reportagem estava na estrada, numa estação de serviço e entrevistava pessoas. Uma das entrevistas era de um homem que explicou que vinha de Lisboa e ia para Vila Moura. Muito bem. O repórter perguntou-lhe se ia de férias e ele respondeu, muito naturalmente, que estava desempregado. Como é??? Um tipo está desempregado e mete-se num carro, a gastar uma quantidade de gasolina e portagens, para ir passar o fim-de-semana a Vila Moura?!
É outra terra, não há que ver!

Anónimo disse...

Só uma nota ao que disse: ele não ia lá procurar trabalho. Explicou claramente que ia com a família passar apenas o fim-de-semana, as férias eram mais tarde!

cereja disse...

Este foi o meu post mais a sério de hoje, mas a malta está já a ritmo de férias e apareceu menos do que por vezes quando toco neste assunto.
Olha king, também ouvi essa espécie de entrevista, e fiquei tão parva com tu. Foi pela hora do almoço e oiço a antena 1 a essa hora. Mas o tom bem disposto em que o entrevistado respondeu que estava desempregado, era um espanto. É por coisas assim que depois se ouvem coisas desagradáveis sobre o subsídio de desemprego.

josé palmeiro disse...

Até eu, quando juntei os dois mais velhos, na Universidade, me vi na contingência de arranjar um trabalho extra, a recibo verde. Fi-lo, na perspectiva de melhorar o rendimento familiar de forma a me ser possível minorar as dificuldades. Perfeita ignorância, mais tarde, vi reflectido, nos impostos, o que ganhei e não ganhei. Foi o maior tormento, por que passei em termos de fisco. De nada me valendo o esforço extra a que me sujeitei.