sexta-feira, julho 06, 2007

No «recato do lar»…

Por um lado é consensual que se deve respeitar a intimidade de uma família. Aliás de uma família e de toda a gente, o direito à vida privada é um direito importante.
Mas esse direito, como todos aliás, tem limites. E os limites são quando dentro da tal «intimidade familiar» se passam factos intoleráveis na sociedade.
Em Portugal que era terra de brandos costumes como se pensava, as coisas estão a alterar-se. Cada vez se registam mais agressões conjugais. É certo que, com as campanhas, as vítimas vão perdendo o «medo de se queixar» e por outro lado a comunicação social tem tornado os casos mais ‘visíveis’. É possível que, no passado, existissem também muitos casos escondidos que nunca se chegavam a saber. Mas isso podemos apenas imaginar, os factos puros e duros, é que em Portugal cada vez mais se vão registando agressões, não apenas em número mas em «qualidade»: mais de vinte mil casos num ano, dos quais trinta e nove resultaram em morte. Dizer que é chocante, é pouco.
E não ficamos por aí.
Quando falamos em crianças abusadas sexualmente, crime particularmente grave por todos os motivos, se muita gente se assusta com razão mas também algum exagero com os pedófilos estranhos, devemos ter presente que a esmagadora maioria desses crimes se pratica em família.
Este caso que faz manchete hoje, é simplesmente UM de muitos. Se os indivíduos que abusam sexualmente dos seus filhos andam alcoolizados não justifica nada. Por um lado muitos não o estão, por outro lado enquanto o álcool servir de desculpa para todo o tipo de aberrações muito difícil será combater eficientemente o alcoolismo. Esse factor não pode servir de desculpa é até uma agravante.

5 comentários:

Anónimo disse...

Vergonha!!!!!
Só se pode sentir vergonha.
Acredito que estes casos sejam mais visíveis do que eram há uma dúzia de anos, pela influencia da comunicação social. Mas isso não quer dizer que não existam!!! Quase 40 mortes num ano! Assassinadas pelos seus companheiros?! Que horror.
E como aqui acentuas, a pior pedofilia é a doméstica que associa ao horror da violação, o horror de ser praticada por alguém que se ama. São feridas que nunca devem sarar.

Anónimo disse...

Este tema é como Dafur.
É como um sonho recorrente; de vez em quanto há um choque mais ou menos electrico, e tudo pensa no assunto.
Amanhã vem outra coisa para nos entretermos... A mim é mais essa «indiferença adiada» que me choca mais. De onde vem tanta violência, de amores mal entendidos...? Parte destes crimes creio serem os «crimes passionais» de tipos despeitados e ciumentos. Tips que não aceitam um NÃO da companheira. Que acham que são donos dela, sabe-se lá em nome de quê. De um anel de oiro?...

Inês disse...

Como diz a joaninha, hoje em dia a divulgação de casos de pedofilia doméstica deu visibilidade a um comportamento que sempre existiu.

Há 50 anos havia julgamento e condenação dos casos denunciados. O pai da R foi preso por isso e a família desmantelada acabou por passar grandes dificuldades económicas.

Talvez seja a explicação para milhares de casos de violência doméstica. O receio de perder um ganha pão ultrapassa o nojo do abuso.

josé palmeiro disse...

Por ser vergonhoso, é que se devem pôr a nú, sem dó nem piedade. A falta de valores morais, acrescentada deste mau viver, desta falta de apoio do estado aos seus contribuintes, deste desprezo pela coisa humana, leva a esta onda de violência, que , diga-se, não é só dos homens para com as companheiras, o inverso também é verdadeiro, cada vez mais transversal a toda a sociedade. Quanto aos crimes de natureza sexual, é exactamente a mesma coisa, mas que para além do mais, destroi, por dentro a geração futura, usada e abusada nessas práticas, num mundo em que os predadores, como no caso vertente, conseguem andar, dois anos fugidos, apesar de andarem a ser investigados. Não pode ser, terá que se imprimir uma dinâmica que acelere e puna convenientemente, essa gente, se gente se pode chamar.

cereja disse...

É certo que existem muitas vezes duros aspectos económicos ligados a este problema. Como ainda hoje numa família quem ganha mais costuma ser o homem e é em nome dele que está a casa e os contractos de água, luz, etc, uma mulher ameaçada tem receio de ficar completamente desprotegida no caso de o deixar. Porque não é a vítima que fica na sua residência, ela quando tem coragem foge! Ele é que continua instalado. E é claro que o mesmo se passa com os maus tratos das crianças. Prender o pai? E quem é que vai ganhar o pão? É esta ainda a nossa sociedade.
O José Palmeiro tem razão quando diz que a violência não tem apenas um género. Contudo, estas 40 mortes neste ano em referência não tem nada de correspondente quando a agressão é feminina.
Aquilo que eu sei, é que a agressão feminina pode ser muito pesada mas é mais «psicológica» - berros e gritos, palavras violentas, tratamento sem respeito pelo outro, um mau-viver que é desgastante e pode magoar muito. A agressão física, também a há mas é muito mais rara.