As reformas por doença
Sou tão totó, que só recentemente quando os casos começaram a surgir na comunicação social, mostrando situações de pessoas gravemente doentes que foram consideradas aptas para continuar a trabalhar, é que entendi que afinal as Juntas que decidem desses casos de aposentação por doença, não são exclusivamente formadas por médicos . Sempre tinha pensado que sim!
Aliás, quando um «candidato à reforma» é chamado a essa Junta, não é para ser examinado, é para levar relatórios coisa que me parecia que qualquer pessoa poderia fazer.
Ontem uma familiar minha foi chamada a uma dessas Juntas.
Começou pela dificuldade do transporte. Como ela não consegue andar, foi necessário chamar uma ambulância, o que implicou uma verba de 90 €. Eu acompanhei-a, e ficámos à espera numa sala que já teria umas 20 pessoas. Aquela gente toda preocupou-me. Imaginei que ficaríamos ali horas e horas….
Mas fui metendo conversa com as senhoras do lado – a grande maioria eram mulheres – percebendo que algumas já lá iam pela segunda vez, porque a primeira Junta onde tinham ido as tinha devolvido ao trabalho, e percebi então que aquilo não devia demorar muito. A verdade é que o microfone chamava o nome do «candidato» que entrava por uma porta e ... (parecia uma cena de teatro - sai pela esquerda alta e entra pela direita baixa) logo depois saía por outra. Como nós tínhamos ido bastante mais cedo com receio dos atrasos no trânsito, esperamos um pouco, mas ela foi chamada quase à hora marcada.
Um funcionário empurrou-lhe a cadeira de rodas, ela desapareceu por uma porta e foi o tempo de eu caminhar até à outra, para voltar a reaparecer…!
- Então? quis eu saber.
- Entreguei-lhes o envelope com o relatório.
- E não disseram nada?
- Apontaram a cadeira e perguntaram o que me tinha acontecido.
- E tu?
- Disse que tinha dado uma queda.
E pronto. Aliás a minha prima deu a resposta errada à única pergunta que lhe fizeram. Não «está assim» porque deu uma queda. A queda foi há um ano. Deveria ter dito que «está assim» porque não consegue andar, e isso devido à sua doença neurológica. Mas, enfim, aquilo nem deve ter ficado registado, os senhores da Junta devem agora enviar os relatórios a quem os saiba interpretar.
Mas alguém me explica para que foi necessário a deslocação da doente ali?!
Aliás, quando um «candidato à reforma» é chamado a essa Junta, não é para ser examinado, é para levar relatórios coisa que me parecia que qualquer pessoa poderia fazer.
Ontem uma familiar minha foi chamada a uma dessas Juntas.
Começou pela dificuldade do transporte. Como ela não consegue andar, foi necessário chamar uma ambulância, o que implicou uma verba de 90 €. Eu acompanhei-a, e ficámos à espera numa sala que já teria umas 20 pessoas. Aquela gente toda preocupou-me. Imaginei que ficaríamos ali horas e horas….
Mas fui metendo conversa com as senhoras do lado – a grande maioria eram mulheres – percebendo que algumas já lá iam pela segunda vez, porque a primeira Junta onde tinham ido as tinha devolvido ao trabalho, e percebi então que aquilo não devia demorar muito. A verdade é que o microfone chamava o nome do «candidato» que entrava por uma porta e ... (parecia uma cena de teatro - sai pela esquerda alta e entra pela direita baixa) logo depois saía por outra. Como nós tínhamos ido bastante mais cedo com receio dos atrasos no trânsito, esperamos um pouco, mas ela foi chamada quase à hora marcada.
Um funcionário empurrou-lhe a cadeira de rodas, ela desapareceu por uma porta e foi o tempo de eu caminhar até à outra, para voltar a reaparecer…!
- Então? quis eu saber.
- Entreguei-lhes o envelope com o relatório.
- E não disseram nada?
- Apontaram a cadeira e perguntaram o que me tinha acontecido.
- E tu?
- Disse que tinha dado uma queda.
E pronto. Aliás a minha prima deu a resposta errada à única pergunta que lhe fizeram. Não «está assim» porque deu uma queda. A queda foi há um ano. Deveria ter dito que «está assim» porque não consegue andar, e isso devido à sua doença neurológica. Mas, enfim, aquilo nem deve ter ficado registado, os senhores da Junta devem agora enviar os relatórios a quem os saiba interpretar.
Mas alguém me explica para que foi necessário a deslocação da doente ali?!









11 comentários:
Olha, daqui do Porto tem que se ir a Lisboa, se se fizer um pedido de junta de recurso!
Quanto ao elemento não médico: este pode saber o que se passa com o doente, mas o próprio doente se quizer saber porque não lhe é dada a reforma, por outras palavras, saber as razões médicas da recusa, tem que nomear um médico para obter essa resposta. Das "razões médicas" nem comento.
(este é um assunto que me é muito sensível! precisamente nesta altura)
Méri, a minha sensação é de estar a viver denro de um dos romances de Kafka! O nada ter lógica, ou pelo menos a «minha lógica».
E com toda a franqueza considero que há uma completa falta de respeito pelas pessoas. São material de trabalho e ponto parágrafo.
(Nem calculava que essa Junta de Recurso fosse em Lisboa, calculo que para todo o país! que miséria)
É chocante.
Reparem que quem se reforma antes do tempo só tem prejuízo - vai receber menos do que recebia até então. E se se reforma por doença, calculamos que tenha mais despesas, pelo menos em remédios.
Porque é que se tratam estas pessoas como possíveis vigaristas, que pretendem uma benesse a que não têm direito?!
Este teu post, cruzou uma notícia com uma vivência pessoal, está excelente.
Esta argumentação tem toda a lógica, mas houve no passado (e passado recente) muita reforma fraudulenta, mesmo com pouco tempo de serviço, indo muitas vezes trabalhar para instituições privadas exactamente a fazer a mesma coisa; havia e ainda há muitos simuladores, mas para isso é que seria a junta para "avaliar"
Pode haver uma doença não compatível com a sua profissão ou tipo de trabalho;
o que penso é que se passou do oito para o oitenta ou vice-versa
Estava a ler o teu post, que é de um grande «colorido» - estou mesmo a ver o rodopio do entra por uma porta e sai por outra - e a pensar as duas coisas que a Joaninha e a Méri já aqui disserem. Por um lado, quem se reforma antes do tempo invocando doença, é à partida alguém que não só não está bem como precisa ainda de mais. Mas também conhecemos casos, como disse agora a Méri, de pessoas que pedem a reforma para se dedicarem a outra actividade, se calhar mais vantajosa. Ora isso é que devia ser avaliado mas com todo o rigor. Em muitos casos até se poderá pedir uma «licença sem vencimento» para se dedicar a outra tarefa e não de imediato uma reforma. Contudo, há pessoas verdadeiramente doentes para trabalharem seja no que for e esta actual «caça às brulhas» é o 80 de que fala a Méri
Aqui no comentário é que dizes tudo: "Estamos a viver num mundo kafkiano!". Tudo o que se acrescentar, a nada leva, porque nem vale a pena. O certo, era virar tudo, de pernas p'ró ar!
Raphael - realmente «calhou» eu ter reparado nesta notícia ainda no rescaldo da tarde de ontem.
No caso da minha prima nem imagino o que seria mandarem-na trabalhar...!!! Ia todos os dias de ambulância? Gastar 90 € por dia para ganhar menos de metade disso? E lá no trabalho, quando nem consegue segurar numa colher ou seja num lápis, ia fazer o quê?
Penso que cada caso seja diferente, e se há situação que devia ser analisada com muito cuidado e respeito, é esta da reforma por doença. Partir-se do princípio (mesmo que haja casos desses) de que quem a pede é vigarista, parece-me quase um insulto.
junto-me ao grupo das totós: eu tb pensava que eram médicos que viam os doentes...
Quem está totó é quem põe as juntas a funcionar sem médicos!
Em relação a obrigarem as pessoas a ir lá, ainda hoje uma colega comentava que uma amiga, grávida e sem poder sair da cama para ver se leva a gravidez até ao fim (já perdeu 2 bebés) tem de se levantar e viajar para ir à junta médica!!
Saltapocinhas, imagino que as «outras» Juntas, já que se chamam «juntas médicas» devam ser mesmo constituidas por médicos. As da ADSE, ou as que confirmam as baixas como a da tua colega de bebé, devem ser. Neste caso que eu falei, como é para conceder ou não a reforma devem pôr lá gestores ou economistas ou sei lá. Eu calculo que recebam o relatório (que a minha prima levou em envelope fechado e tudo) e peçam então o parecer médico.
Se calhar os médicos dizem «esta pessoa tem uma doença que não o deixa manter em pé» e eles então pensam «ok, como empregada de limpezas não serve, mas pode continuar a trabalhar sentada numa mesa a lamber selos e a pôr carimbos».
Sinto-me muito azeda, porque se regateiam umas reformas de poucas centenas de euros, e depois sabemos que os gestores XPTL, recebem umas reformas de milhares de euros, ainda de perfeita saúde...
pOIS É PASSEI POR AQUI POR ACASO E E TAMBÉM ME DIZ RESPEITO.
QUANDO SE FICA DOENTE TEM DE SE APRENDER A SER DOENTE: QUER DIZER NINGUÉM SABE NADA.
ACONTECEU COMIGO QUE INFELIZMENTE SÓ SEI TRABALHAR E QUE ME CUSTA IMENSO ESTAR ASSIM INCAPAZ PARA O FAZER, FUI CURIOSAMENTE ONTEM A UMA JUNTA DITA MÉDICA, ENFIM ESTÁ TUDO DITO, PASSARAM DO 8 PARA O 80.
GUIDA
Guida - a net e os blogs têm destas coisas, a gente vai apanhar algo que aqui se escreveu já há muito tempo. Eu tive de vir aqui ler o post para perceber a que se referia o teu comentário.
Este caso e tremento e chocante. A pessoa a quem me refiro aqui, e que realmente teve a reforma, nem a pôde gozar. Isto foi escrito há um ano e meio e ela faleceu já há mais de um ano!...
Fala-se muito em que a «esperança de vida» aumentou e há muitos reformados, mas também há muitos e muitos (eu conheço tantos!!!!) que acabam por gozar poucos meses de reforma.
Desejo do fundo do coração que saibas aproveitar bem a reforma que te derem (foi o que entendi) e olha que uma pessoa pode estar reformada e ainda fazer muita coisa útil!
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