Um dos 3 «efes»
Este post não sei bem se o vou colocar na categoria de «Era uma vez» ou na de «Abril», porque encaixa muito bem em qualquer deles. Se calhar vai para o «Era uma vez…» que tem andado muito fraquinho porque não me tenho decidido a postar as entrevistas-recordações que para aí tenho guardadas, as de «Um Caderno de Capa Castanha».
É que o que me motivou escrever hoje foi ter desencantado, lá no fundo de uma caixa, um folheto, velhinho, velhinho, e pensar que vem agora mesmo a propósito uma vez que neste fim-de-semana será o final da Taça de Portugal no Estádio do Jamor.
Este folheto foi lançado à multidão no dia da inauguração desse estádio.
Para quem não viveu antes do 25 de Abril e imagina que nessa época «não se falava de política», esta é a prova do erro dessa ideia. Claro que se falava de política e até muito. Bem entendido, pelos olhos ‘deles’.
Convido-os a ler com atenção o texto deste documento. É pura política enfiada à força num acontecimento desportivo.
Por um lado o título «Nós queremos é futebol!», dá o mote para que se pense que com isso (para além do Fado e de Fátima) o bom povo português já pode viver feliz e contente. Mas leiam atentamente o texto!
...«a razão de ser da nossa gratidão aos que nos garantem momentos como este […] quantos milhões de homens não tiveram e têm de abdicar, por inteiro, da sua personalidade, ou porque o exige o esforço da guerra do seu país, ou em obediência a fatais doutrinas políticas?» (claro que faltavam 15 anos para a guerra de África!) E, lá para o fim, depois de palavras e palavras no mesmo tom «O que nós queremos é futebol […] não queremos […] sacrificar as nossas vidas, o nosso sossego, a paz do nosso lar, a caprichos estranhos aos nossos interesses essenciais, a ideias que não podemos perfilhar nem compreender por serem totalmente alheias à nossa maneira de ser de povo que ama a liberdade e quer ser dono de si mesmo, dispor do seu destino o que se não nos permitiria [..] se vivêssemos sob outro regime […]»
Lindo!
É que o que me motivou escrever hoje foi ter desencantado, lá no fundo de uma caixa, um folheto, velhinho, velhinho, e pensar que vem agora mesmo a propósito uma vez que neste fim-de-semana será o final da Taça de Portugal no Estádio do Jamor.
Este folheto foi lançado à multidão no dia da inauguração desse estádio.
Para quem não viveu antes do 25 de Abril e imagina que nessa época «não se falava de política», esta é a prova do erro dessa ideia. Claro que se falava de política e até muito. Bem entendido, pelos olhos ‘deles’.
Convido-os a ler com atenção o texto deste documento. É pura política enfiada à força num acontecimento desportivo.
Por um lado o título «Nós queremos é futebol!», dá o mote para que se pense que com isso (para além do Fado e de Fátima) o bom povo português já pode viver feliz e contente. Mas leiam atentamente o texto!
...«a razão de ser da nossa gratidão aos que nos garantem momentos como este […] quantos milhões de homens não tiveram e têm de abdicar, por inteiro, da sua personalidade, ou porque o exige o esforço da guerra do seu país, ou em obediência a fatais doutrinas políticas?» (claro que faltavam 15 anos para a guerra de África!) E, lá para o fim, depois de palavras e palavras no mesmo tom «O que nós queremos é futebol […] não queremos […] sacrificar as nossas vidas, o nosso sossego, a paz do nosso lar, a caprichos estranhos aos nossos interesses essenciais, a ideias que não podemos perfilhar nem compreender por serem totalmente alheias à nossa maneira de ser de povo que ama a liberdade e quer ser dono de si mesmo, dispor do seu destino o que se não nos permitiria [..] se vivêssemos sob outro regime […]»
Lindo!
( devem clicar nas imagens, mesmo as dos links, para lerem bem o texto; o texto completo está ‘atrás’ do link da citação)
12 comentários:
Que excelente post, amiga.
E sorte a tua de teres desencantado esse papel!
Ainda volto mais tarde comentar como deve ser. Agora tenho muito que fazer e não dá...
Muito bem...e a proposito de jantares como correu o...tal?AB
Dez meses depois, nascia eu!
Esses folhetos propagandisticos, eram tudo menos inocentes. A carga política está lá toda e é muito semelhante ao que muitos, hoje usam. Não sei, se de propósito, mas certamente porque calhou, este escrito encaixa-se no outro em que dizes que uma partida de futebol, uma transmisssão de Fátima, são razão mais que suficiente, para alterar a grelha de transmissão, das TV,s. O que nós queremos é: FUTEBOL; FÁTIMA e FADO.
NOTA: O fado, aqui, é igual a dizer-se: "O que queres é dar-me música!", e nada tem a ver com a verdadeira canção que nos representa, na perfeição.
O que me preocupa muito é que ao fim de mais de 30 anos de democracia só o Fado não ocupa o lugar de antigamente tendo sido substituído pelas novelas e os reality shows. Claro que a propaganda não se faz da mesma forma, mas os resultados são semelhantes e o adormecimento pouco difere.
Parabéns Emiéle! Este é um post magnífico e que ajuda muito bem a imaginar-se o que eram esses tempos. Foi uma sorte teres desencantado esse folheto - hoje é uma relíquia!!!!
Aconselho a quem aqui passar que clic em cima do texto em azul para podeer ver a totalidde do escrito. É que pode passar desapercebido, e aquilo é «uma pérola»!!!
Muito, muito interessante!
Eu também ainda estava longe de nascer, mas isto dá muito bem a ideia da 'lavagem ao cérebro' que se ia fazendo.
Fazes muito bem em deixar estes testemunhos.
Como disse o Palmeiro, só faltaria o Fado, mas está para ali na TV e nos reality-shows que deixa tudo 'entretido'...
Obrigada pelas palavras simpáticas :)
Realmente tive sorte em ter encontrado este documento, que me parece muito claro e escrito exactamente no «estilo certo» para o que pretendi demonstrar.
De resto, como deixei sugerido no título do post, este era UM dos três EFES. Os outros também eram poderosos.
AB - já te telefono mulher! Correu muito bem.
Passo por aqui sempre que posso. Já tenho deixado um ou outro comentário mas não é muito o meu género. Mas este post é importante, isto é História.E com a ironia de, dentro em breve, este Estadio com 60 anos ir ser usado de novo.
Muitíssimo interesante.
Que giro!
Gostei de ler!
Eram tão simpáticos, falavam assim de mansinho ao povo...
Os mais velhos cá da terra ainda se lembram dos comboios que iam para a alemanha cheios de comida roubada ao povo e onde nas carruagens se podia ler "sobras de portugal"
Exactamente, saltapocinhas! Conhecia a mesmíssima história, que nos faz impressão. Era esse letreiro que me contaram: Sobras de Portugal», quando por cá se vivia com a dificuldade que sabemos (aliás aqueles programas do António Barreto bem o mostraram) esse cartaz além de arrogante é ofensivo.
E, apanhaste muito bem aquilo que eu também senti ao ler o texto, essas 'falinhas mansas' protectoras. Grrrr!
Sem Nick, olha que umas palavrinhas de vez em quando sempre animam aqui a je. Vá láááá´....
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