O Primeiro de Maio
No Pópulo acabou o «festival de Abril».
Tentei, durante o mês que acabou, mostrar aquilo que sentia e pensava em relação à mudança que se passou na nossa terra em 74. Agora entramos em Maio, o blog vai voltar ‘à normalidade’, mas não queria deixar de lembrar – terminando esta série com chave de ouro – o que foi o Primeiro de Maio de 74.
Este aspecto é que creio ser muito difícil de transmitir. Porque será necessário vocês colocarem-se de novo no espírito da época e sentirem que se existia festa considerada 'demoníaca' era exactamente esta. O dia 1 de Maio tinha de ser um dia exactamente igual a qualquer outro, até se tal fosse possível ‘mais igual’. A menor reunião ou ajuntamento de pessoas era olhada com desconfiança. E o facto deste famoso dia ter surgido 8 dias depois da mudança que se deu no país foi uma coincidência maravilhosa porque nos deu o motivo e a ocasião para extravasar a alegria que se sentia.
Durante estes dias de intervalo mesmo os mais cépticos já aceitavam que se tinha dado a tal grande viragem. Que a mudança tinha sido pacífica. E que se podia agora sonhar com um país novo.
Todos os dias chegavam comboios e aviões com exilados. Veio um comboio com Soares, poisou um avião com Cunhal. E nesse Primeiro de Maio, dia lindo de sol, toda a gente saiu à rua. Era um mar de gente a cantar, a dar vivas, a abraçar-se, a gritar palavras de ordem, era a FESTA. Muitas crianças às cavalitas dos pais e os que as não tinham trazido por uma sombra de receio, lamentavam-se agora «que pena… agora não me apetece voltar a casa para os ir buscar, mas isto é uma recordação para as suas vidas».
Nas janelas penduravam-se colchas, bandeiras, panos coloridos. Todas as janelas que ladeavam as ruas por onde passava aquela multidão estavam apinhadas de gente que batia palmas, gritava, ria.
O dia pareceu pequeno para tanta festa.
Era Portugal a respirar fundo e a ter agora a certeza de que já não se voltava atrás, que o futuro tinha começado.
Este aspecto é que creio ser muito difícil de transmitir. Porque será necessário vocês colocarem-se de novo no espírito da época e sentirem que se existia festa considerada 'demoníaca' era exactamente esta. O dia 1 de Maio tinha de ser um dia exactamente igual a qualquer outro, até se tal fosse possível ‘mais igual’. A menor reunião ou ajuntamento de pessoas era olhada com desconfiança. E o facto deste famoso dia ter surgido 8 dias depois da mudança que se deu no país foi uma coincidência maravilhosa porque nos deu o motivo e a ocasião para extravasar a alegria que se sentia.
Durante estes dias de intervalo mesmo os mais cépticos já aceitavam que se tinha dado a tal grande viragem. Que a mudança tinha sido pacífica. E que se podia agora sonhar com um país novo.
Todos os dias chegavam comboios e aviões com exilados. Veio um comboio com Soares, poisou um avião com Cunhal. E nesse Primeiro de Maio, dia lindo de sol, toda a gente saiu à rua. Era um mar de gente a cantar, a dar vivas, a abraçar-se, a gritar palavras de ordem, era a FESTA. Muitas crianças às cavalitas dos pais e os que as não tinham trazido por uma sombra de receio, lamentavam-se agora «que pena… agora não me apetece voltar a casa para os ir buscar, mas isto é uma recordação para as suas vidas».
Nas janelas penduravam-se colchas, bandeiras, panos coloridos. Todas as janelas que ladeavam as ruas por onde passava aquela multidão estavam apinhadas de gente que batia palmas, gritava, ria.
O dia pareceu pequeno para tanta festa.
Era Portugal a respirar fundo e a ter agora a certeza de que já não se voltava atrás, que o futuro tinha começado.
PS - Este post foi escrito e deixado em rascunho para ficar on line no dia Primeiro de Maio. Acontece que o «cibercafezinho» onde durante as férias costumo escrever, ontem fechou! Fez ele bem, é claro, mas eu fiquei sem alternativa. Portanto, optei por manter a data na mesma, mas o certo é que só entra à vista de todos hoje, dia 2. Mas vocês entendem, não é?
2 comentários:
Tinha vindo cá de manhã, como é costume e vique náo estavas em acção. Já li os posts de cima e entendi.
Este apesar de só cá chegar hoje, está no ponto certo.
Acho muito bem acabar Abril com Maio. LINDO.
O meu 1º de Maio, depois de ABRIL, passei-o em Moçambique, e foi um delírio completo, acrescido pelas notícias que nos iam chegando do "Puto", e que nos mostravam a irreversibilidade do sucedido.
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