quinta-feira, março 01, 2007

Ainda o tema dos valores antigos a fazer o pino

Lembram-se da novela de Camilo «Maria, não me mates que sou tua mãe», história de faca e alguidar, que comovia pelo absurdo, pelo inesperado. É claro que sempre houve filhos que enfrentaram os pais ( não é preciso recuar até ao D. Afonso Henriques) e sempre existiram seres humanos descontrolados que deram uma reviravolta aos valores aceites e reconhecidos socialmente. Socialmente, até em sociedades primitivas, os mais velhos são respeitados, são ouvidos, tem poder. Hoje estamos a passar por uma fase onde tudo fica de pernas para o ar.
Estive ontem com uma amiga que não via já há meses, e estivemos durante horas a «pôr a conversa em dia». Entre muitos assuntos particulares, falámos de trabalho como era inevitável. Ela é uma excelente profissional, e trabalha em atendimento a pessoas que precisam de auxílio imediato. Contou-me que anda estarrecida com a quantidade inacreditável de casos que lhe chegam, de pais agredidos pelos seus filhos adultos. E pelo que conta, não são velhinhos que vivam à custa dos filhos e em cada destes. Muitas vezes são pessoas (mulheres, sobretudo, aí na casa dos 50/60 anos) que vivem na sua casa e a vêm invadida por filhos de 30 e tal / 40 anos, que praticamente as expulsam das suas casas!!! O caso mais recente, era um telefonema recebido a meio da noite, da própria polícia, pedindo para arranjarem um abrigo para uma senhora porque o seu filho toxicodependente a tinha agredido e posto fora da sua (dela) casa! Em lugar da «autoridade» se fazer valer dessa qualidade e atirar com o delinquente para a rua ou até mesmo para a cadeia, estava a colaborar com o agressor e a enviar a vítima para longe…
O que se vê é que os pais se vão demitindo cada vez mais do seu papel de educadores e de autoridade familiar e aceitando esta estranha inversão de valores. Quantos de nós não temos assistido a criancinhas, bem pequenas ainda, com birras a darem pontapés nas pernas das mães ou avós, enquanto estas, docemente os repreendem «Oh Joãozinho, não faças isso que aleijas a mãe…» enquanto ele continua a chuva de pontapés.
Alguma coisa está errada! Só pode ser.

9 comentários:

Farpas disse...

A tua última frase deste post foi a mesma que a minha no comentário que fiz ao post de baixo, agora faço refresh e vejo que postaste de novo, estamos em sintonia, alguma coisa está mesmo mal!! Educação não é só escola... os pais não se podem demitir de educar os seus filhos!!

JustAnother disse...

Hoje, pelos vistos, esta tudo de acordo!
Tambem comentei o post infra antes de ver este, e nao posso deixar de concordar. Os "pequenos terroristas", como lhes costumo chamar, estao a tornar-se cada vez mais comuns perante a complacencia dos pais... e quem semeia ventos...

Anónimo disse...

É o fruto de sementinhas lançadas , que ao longo destes anos de democracia, germinaram e estão a dar os frutos..era impensavel para a minha geração agredir um professor, que devia ser um figura altamente respeitavel- pois são os segundos se não , os primeiros responsáveis pela educãção das crianças.Reflete-se em toda a sociedade, as crianças que hoje são pais e professores não desenvolveram as competencias para a sua função, e agora queixamo-nos. Toda esta violencia que tambem não é so fisica é abominavel e é preciso fazer marcha atrás

Anónimo disse...

(só uma frase off record: também aqui os comentadores ficaram ao contrário! eu costumo ser a primeira e o Farpas o último, agora invertemos posições...? lol)
Dá muito que pensar. Por algum motivo aqui, nesta caixa de comentários, há quatro opiniões coincidentes, e se formos falar com mais pessoas todos pensam como nós. Então porque é que se aceita estes comportamentos? Estas crianças educadas desta maneira, como uns reizinhos absolutos nunca vão respeitar ninguém na vida, vão sentir que são o centro do mundo.
É mal para os outros e até para eles próprios, que vão ser bem infelizes.

Anónimo disse...

Li há muito, pela década de 80, um livro que dava pelo título de: "Autoridade à Deriva", o tema era exactamente, o que focas.
Os dois escritos complementam-se e, como diz a "katikika", são exactamente essa sementinhas que foram sendo lançadas à terra, que por mor da seca, levaram o seu tempo a germinar, mas aí estão, mais fortes que nunca. A joaninha também tem razão, mas, e os filhos dos despedidos da Alcoa e das outras e outras que a antecederam e que a hão-de seguir, e os netos, como vai ser? Só mesmo com inversão de marcha! Eu sei, é uma manobra perigosa, mas tem de ser!

Anónimo disse...

Volto, porque com a embalagem, nem valorizei a ilustração. Nada mais a propósito!

cereja disse...

Pois é Joaninha (também off record) estranhei ver o nosso Farpas tão madrugador!!!Já não me falta ver nada!!!
Eu desta vez só escrevi duas coisinhas porque me atrasei muito esta manhã - estava com uma preguiça enorme em me levantar... Vou aproveitar a hora de almoço para o que ficou «em carteira».
Claro que num certo sentido isto é uma bola de neve, as crianças mal educadas hoje (e digo isto no melhor sentido da palavra) irão ser péssimos educadores amanhã, e se calhar estes sujeitos que batem na mãe de 60 anos, e ela que se limita a fugir de casa como se sentisse com culpa de alguma coisa, foram com certeza mal educados e não educam com certeza os filhos que infelizmente venham a ter.
Mas quando se diz que «a primeira escola é a família» isso é mais do que uma frase feita. É a primeira nos dois sentidos, a mais importante e a inicial. E mal vai a sociedade se a família se demite, por mais motivos que tenha.

Anónimo disse...

Tem piada Zé Palmeiro porque também vinha dizer que a ilustração estava muito gira. A «casa-de-pernas-para-o-ar» dá perfeitamente a ideia!
Cá por mim acho que andamos realmente todos de pernas para o ar!!!! E se o que tu dizes Emiéle, que «a primeira escola é a família» então andamos muito mal, porque esa escola é muito fraquinha, e os valores que ensina não valem nada muitas vezes.
Aliás esta história de um menino se queixar de um professor e o pai ou mãe em lugar de ir à escola informar-se do que se passou, avançar como um touro desembolado para bater no dito professor, é o máximo de descontrolo. Por um lado aceitou cegamente o que o filho disse e por outro é incapaz de dialogar.

cereja disse...

lol, Raphael e Zé! Por acaso senti-me «inspirada» quando peguei no desenho e decidi virá-lo ao contrário. ( o pior é que estas coisas têm direitos de autor e o raio, e eu depois de os ter no pc já nem sei de onde vieram...)
Raphael, tens toda a razão. É evidente que o pai ou mãe que oiça o seu filho queixar-se de que o professor foi mau ou injusto, ter o direito até mesmo a obrigação de ir saber o que se passou. Mas com educação e calma. Porque já se sabe que nem sempre o que a criança disse corresponde exactamente à verdade. Tem obrigação de saber isso, quantas vezes mesmo lá em casa o folho ou a filha «compõem» o ramalhete à sua maneira...? Evidentemenete que no caso de não terem ficado satisfeitos com a justificação do professor, podem falar com o seu superior ou até fazer uma queixa. Tudo isso é natural e legítimo. Agora grosserias e até violência???? Com franqueza!