sexta-feira, fevereiro 16, 2007

Um equilíbrio delicado

Quando alguém faz uma confidência, um desabafo, espera uma reacção de compreensão, e em certa medida de solidariedade. Mas a verdade é que a atitude correcta, mesmo ‘certinha’, aquela que o confidente deseja, é extremamente difícil de ‘ajustar’ assim um pouco como o «ponto» do açúcar para quem faz doce – um pouco menos de tempo ao lume e a calda de açúcar fica líquida, um pouco a mais e torna-se em caramelo!
Uma amiga queixava-se ontem de que, ultimamente, tem ouvido muito uma expressão, dita a seu respeito, que a deixa possessa: «coitadinha da M. eu tenho alguns problemas mas ela!!!!». E, o engraçado é que sendo a frase bem intencionada tanto quanto me parecia, ela ficava furiosa por achar que as pessoas que a diziam também tinham problemas mas por orgulho os negavam não assumindo as dificuldades. «Inventavam» um mar de rosas, e ela se tinha algum problema, bolas! também não era nenhuma desgraçadinha. Quando lhe chamei a atenção para que a frase rigorosamente oposta que é «ah, tu queixas-te mas os teus problemas não são nada comparados com os meus...» também era irritante e, ainda por cima, mais frequente do que a tal que a aborrecia, ficou um pouco perplexa. Reconheceu que também não gostaria que lhe dissessem isso, mas…
A verdade é que cada um de nós quando fala da sua vida, não quer a «conversa desviada», deseja é apoio e compreensão sem comparar com mais nada. Deseja analisar o seu caso, o seu problema, a sua preocupação. Deseja encontrar uma solução, quer imaginar uma saída, sonha com um final feliz. A comparação com o bom ou o mau de uma experiência alheia, nessa altura não vai ajudar nada.
Mas o certo é que essa escuta atenta e centrada exactamente na questão que é posta é, tal como disse, tão delicado como acertar o ponto pérola e não o ponto fio na calda do açúcar.
Ou então o doce não resulta!


6 comentários:

Anónimo disse...

Mas sabes que entendo a tua amiga. Também me irrita bastante as pessoas «compadecidas» que quando temos algum azar parece olharem para nós com muita compaixão e superioridade, como se elas fossem perfeitas. é isso «coitadita da F****, ai, ai... a mim essas coisas não me acontecem».
Oh, que ódio por essa atitude arrogante e superior.

Anónimo disse...

Eu entendo muito bem esta situação que efectivamente as comparações não ajudam em nada a quem tem o problema. Concordo inteiramente com a Joaninha, que ódio por aquela atitude de arrogância de amim nada me acontece,quando realmente até acontece , mas com um poder de camuflagem irritante fazendo-nos sentir ainda mais infelizes, porque parece que somos unicos a sofrer

Anónimo disse...

(Hoje parece que temos só mulheres a comentar isto - deve ter alguma justificação :D)
Apesar de ser mais comum a atitude de «pois é, estás mal mas eu ainda estou pior, eu é que sei» chata que eu sei lá, estou muito de acordo com a tua amiga e as comentadoras anteriores: essa da arrogância ainda me irrita mais!!! Um ar superior, vagamente protector mas com um sermão que ninguém encomendou. E pelo, pelo modo como contas a história era comentado entre duas pessoas sobre ela, com ela presente..?! Grrrrr!

Anónimo disse...

Pronto, cá está um homem.
Andei por cá cedinho, depois, abalei pelo mundo, regressando e dando de caras com este "Enorme" escrito. Digo enorme, não pelo tamanho, mas pela dimensão, aumentada pelos comentários. Pois que dizer, que também me parece que é como dizem, isso do só aconteer aos outros, é uma balela e eu tive a experiência vivida, de que é assim. Andei mais de quarenta anos, para ter um acidente de viação, na passada segunda-feira, estreei-me, felismente, sem consequências que não as materiais e as da consciência, que doem p'ra caraças.
Gostei de as ler!

saltapocinhas disse...

O problema é que a maior parte das pessoas gosta mais de falar do que de ouvir...

cereja disse...

Começando pela Saltapocinhas:
Sem a menor dúvida! É mesmo irritante muitas vezes duas pessoas estarem a falar e aquilo ser afinal dois monólogos porque o que uma está a dizer não tem nada a ver com o que diz a outra...
Zé Palmeiro - Tens toda a razão. Pensamos tanta vez que «isso só acontece aos outros» e afinal...! Foi das coisas que a vida me ensinou a não dizer «desta água não beberei». Acho que o que «só acontece aos outros» é sair o totomilhões!!!!

Joaninha, Kati e Gui - Ainda bem que se sentiram solidárias com a minha amiga. Eu cá senti bastante, apesar de lhe ter chamado a atenção para a outra atitude também irritante.