domingo, janeiro 21, 2007

É muita gente

Como sempre que os números entram em campo, têm de ser olhados com cautela e vistos quase que ‘caso a caso’, coisa difícil e contraditória se falamos de números. Mas enfim, se nos dizem que em mais de um quarto dos casais portugueses a mulher depende exclusivamente do rendimento do marido devemos acreditar e reflectir. Como em todos os grandes números, creio haver um desequilíbrio e as camadas mais idosas contribuírem de um modo exagerado para este resultado. Mas, mesmo colocando esse ponto entre parêntesis, é de realçar que «só em cerca de 25% dos casos existe equilíbrio nos rendimentos entre os dois membros do casal».
Dá muito que pensar!
Porquê? Vemos que as raparigas estudam e até na globalidade obtêm melhores notas que os rapazes. Vemos que as mulheres têm uma boa capacidade de trabalho. Então como é que há esta desproporção?! Será que todas as mulheres vivem com homens com capacidades superiores às suas?
Também este estudo diz (e quem viagem confirma isso) que há diferença entre os casais mais jovens com filhos de Portugal e do resto da Europa, onde as mães passam a trabalhar em part-time. Cá não é possível, porque o seu salário é indispensável. Aliás a investigadora que assina este trabalho é de opinião que "Portugal dispõe de uma rede significativa de apoio às crianças, mas, em alguns casos, o acolhimento providenciado seria considerado inaceitável noutros países europeus." E eu acrescento, para além de caro, porque metade do ordenado de uma mulher vai muitas vezes para sustentar o pagamento da creche do seu filho…
Mas voltando ao ponto inicial, o facto de uma mulher depender completamente daquilo que o marido ganha, tem inevitavelmente que afectar as suas relações. Quer dele para ela quer dela para ele. Relações de igualdade? Quando uma pessoa é sustentada por outra?
Há muito caminho a percorrer. Muito.

9 comentários:

contradicoes disse...

Muito interessante esta reflexão. Mas tal como diz é preciso ter em conta que a maioria das viúvas e são muitas existente em Portugal, refiro-me obviamente da terceira idade, viviam como sabe exclusivamente do rendimento dos maridos. Não precisamos de recuar muitos décadas para aliás chegar a essa conclusão.
Vou pois pegar neste tema e desenvolvê-lo no congeminações para não roubar muito espaço a outros seus visitantes. Continuação dum bom domingo

cereja disse...

Obrigada, Raúl.
De facto pensei nisso, quando disse ali «creio haver um desequilíbrio e as camadas mais idosas contribuírem de um modo exagerado para este resultado», mas a verdade é que o estudo (e este caso parece ser mesmo um estudo e não apenas aquelas 'sondagens' duvidosas...) também nos diz que só em cerca de 25% dos casos existe equilíbrio naquilo com que cada membro contribui para o rendimento da família. Estranho, não é? Não pensei que fosse assim, sou franca.

Anónimo disse...

Tenho estado muito ocupada , não tenho tido tempo de comentar no Pópulo mas penso que além do tal motivo da terceira idade ainda temos um pouco de descriminação nos empregos. Acho que se uma mulher e um homem com o mesmo curriculum concorrerem para um lugar numa empresa, na maioria das vezes há uma preferência masculina remetendo por vezes a mulher para papéis menos remuneratórios.

cereja disse...

Célia, está tudo ligado, minha amiga. A verdade é que «a carreira» da mulher tem muito a ver com a sua biologia, com o facto da empresa saber que a dada altura ela vai parar para dar à luz uma criança, e que depois vai faltar mais do que o seu concorrente masculino, porque é ainda ela que apoia maioritariamente a família...
Do ponto de vista do patrão, é uma má opção! Claro que socialmente a história é outra, como os países mais evoluídos estão a ver.

Anónimo disse...

O que eu vinha dizer já a Emiéle disse...
Por um lado é claro que para uma empresa uma mulher não é um investimento tão rentável como um homem pelas razões que aqui disseste - engravida, e tem uma vida familiar a que deve dar resposta.
por outro lado, neste números deve ter pesado as mulheres mais velhas que, essas sim, viviam de facto «á custa» do marido. Vida difícil. E ainda hoje muitas não se querem separar por causa da casa, por exemplo. É que depois não têm para onde ir...

cereja disse...

Esse aspecto da dependência até ao nível de se ser obrigado a viver com uma pessoa que muitas vezes se receia e até nos agride, por não ter abrigo, é das situações mais triste que conhecemos. E verdadeira.

Anónimo disse...

È mesmo muito triste que isto esteja a contecer ás mulheres portuguesas.É um facto que há mais desemprego nas mulheres,porque para além do que já foi referido o poder de decisão no recrutamento ainda cabe ao homem pois são quase sempre homens os directores de recursos humanos.
Havia indicios que estavamos a tender para o equilibrio, mas actulmente a mulher está a ser preterida e isso vai reflecti-se na sua perda de liberdade, pois depender seja de quem for deve ser muito muito triste, e ueu ainda recordo os tempos da minha mãe.É só retrocesso.. que pena

Anónimo disse...

Engraçado, Emiéle. Venho do Troll onde hoje «me deu» para deixar vários comentários. Visito-o sempre mas tenho mais tendência a comentar aqui, como sendo a «minha casa». E tem piada porque quer tu, quer os outros visitantes daqui acho que já em conhecem, e lá nem por isso, de modo que deixei uma frase irónica que foi levada a sério!
Agora voltei cá e pensei que o que disse ali, «para uma empresa uma mulher não é um investimento tão rentável como um homem» visto a frio e por quem não saiba como penso, até pode pensar que eu me coloco ao lado da empresa... Olhem que não!!!

cereja disse...

Joaninha, sabes que as palavras escritas tem o perigo de como não têm entoação, são levadas à letra. A gente qundo fala muitas vezes «mete aspas» no modo como fala e percebe-se logo melhor. Também me acontece muitas vezes, dizer uma piada e com surpresa vejo que não foi tonado como piada e até (o cúmulo, mas acontece!!) vêm dizer-me onde é que está o erro daquio que disse :)))