As «várias» faces da Igreja
Já se sabia, e era normal que assim fosse. A Igreja é uma força muito grande, formada por pessoas que, embora com dever de obediência às grandes regras, têm personalidades diferentes. E portanto era de esperar que surgissem com facetas diferentes como sempre o foi – uma mais rígida, intransigente, e agressiva, e outra mais aberta, flexível, e suave. Já vimos como o «famoso cónego» reagiu à aproximação do referendo do dia 11. Agora temos a outra faceta, o Bispo de Viseu que vem dizer «que votaria "sim" no referendo de 11 de Fevereiro caso a questão posta a votação falasse exclusivamente na "despenalização da mulher" e não em três questões que considera "independentes entre si".»
Vamos lá ver. A pergunta é: «Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras 10 semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?» Parece assim que o senhor bispo concorda com a pergunta até à vírgula mas não concorda que seja «até às 10 semanas», e que seja «num estabelecimento de saúde legalmente autorizado» ou «por opção da mulher»?
Então...?
Se fosse por opção de outra pessoa, concordava?
Se não fosse nas primeiras 10 semanas, concordava?
Se fosse num local não legalmente autorizado, concordava?
Há aqui qualquer coisa que não bate muito certo. Mas enfim, vamos registar que o senhor bispo concordaria com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez em determinadas condições, o que é um passinho. Passinho pequenino, mas um passinho.
Vamos lá ver. A pergunta é: «Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras 10 semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?» Parece assim que o senhor bispo concorda com a pergunta até à vírgula mas não concorda que seja «até às 10 semanas», e que seja «num estabelecimento de saúde legalmente autorizado» ou «por opção da mulher»?
Então...?
Se fosse por opção de outra pessoa, concordava?
Se não fosse nas primeiras 10 semanas, concordava?
Se fosse num local não legalmente autorizado, concordava?
Há aqui qualquer coisa que não bate muito certo. Mas enfim, vamos registar que o senhor bispo concordaria com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez em determinadas condições, o que é um passinho. Passinho pequenino, mas um passinho.
8 comentários:
eu percebo perfeitamente o que o Bispo de Viseu está a dizer.
Porque o que se tem visto é uma demagogia em ambos os lados da campanha e, no caso do sim, ouve-se dizer que a única coisa que está em referendo é se a mulher deve ou não ser presa por fazer um aborto.
O que está em referendo é se a IVG deve ou não ser liberalizada. Se o sistema Nacional de Saúde deve ou não realizar IVG.
Ainda hoje vi no jornal que foi encontrado um feto no sistema de saneamento. O feto tinha entre 16 e 20 semanas. Se o sim ganhar, esta mulher continua a poder ser presa. Trata-se portanto de uma pergunta hipócrita, que esconde qualquer coisa que eu ainda não percebi bem o quê, mas que este referendo não é para resolver o problema das mulheres, do sofrimento, ai isso podes ter a certeza que não é.
Agora sou eu que não entendo as dúvidas do Sérgio.
É claro que neste momento, com a lei que temos, também nenhuma mulher é presa «se fizer um aborto até às 24 semanas por malformação ou risco de vida do feto, risco de saúde ou vida da mãe e violação». Isso é o que existe. Com a nova lei, nenhuma mulher também será presa se, para além disso, «for por opção da mulher, nas primeiras 10 semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado». É o que diz. Evidentemente que o caso que cita, do aparecimento de um feto de 16 a 20 semanas não é abrangido, naturalmente. Nem vejo qual a dúvida.
Se o SNS é afectado? Pois é. Como já o é agora. Diz que a questão que se põe é se «IVG deve ou não ser liberalizada». Ora aqui é que a porca torce o rabo, pela noção de liberalização… Porque neste momento é que está «liberalizado». Todas as mulheres o fazem descontroladamente. Na opção que se põe passará a haver muito mais controlo, e se calhar começa a investir-se a sério no planeamento familiar.
Para que se saiba:
Segundo a O.M.S. o aborto só existe quando o peso do embrião ou feto ultrapasse 500g. E este peso é atingido em torno de 20-22 semanas de gravidez.
Creio que a origem da informação é isenta, ou não?
A posição do bispo de Viseu é a posição do bispo de Viseu.
É a tatica da igreja, nada muda, cria-se uma expectativa, e depois vota-se não.
O sérgio, está a confundir e necessita de se documentar com mais rigor para sustentar as suas ideias.
Concordo e subscrevo as palavras da joanhnha e da stella, que clarificam a nebulosa que pairou e paira sobre quem tem que tomar uma posição.
Depois do que a Joaninha e Stela aqui disseram, penso que o Sérgio Rebelo pode imaginar que é essa também a minha posição. Cada coisa por sua vez. Agora vai votar-se uma coisa e essa é muito importante. Em seguida se verá o que se segue.
A verdade é que mesmo a lei que existe ( essa que permite o aborto até às 24 semanas por malformação ou risco de vida do feto, risco de saúde ou vida da mãe e violação) tem dificuldades em ser cumprida. Conheço mais de um caso que andaram de hospital em hospital, sem conseguir ser atendidas. Mas essa será a segunda parte, a clandestinidade é o que permite maiores abusos em todos os sentidos.
tenho ouvido muito que há extremismos de lado a lado, mas a verdade é que os vejo muito mais de um lado do que do outro. Quando foi o primeiro referendo, para mim foi um extremismo parvo, as raparigas que proclamavam que «na minha barriga mando eu» e coisas do tipo. Achei que foram tiros no pé, e contraproducente. Mas a verdade é que desta vez não encontrei nada disso... Vejo sim, jogadas muito emocionais. Quanto a mim, tudo bem, quem não aprova o aborto está no seu direito em convencer a mulher a não abortar. Só que isso é outra coisa. É uma decisão que se toma individualmente, não é o Estado que impõe. Se os convencerem, nada a opor, ninguém é obrigado a fazê-lo, o que se é obrigado é a «não o fazer».
Pergunta: como funcionará a atribuicao de pensao de alimentos e perfilhacao se for opcao do homem a IVG e a da mulher ter a crianca? nao tera o homem o direito a negar-se a esse pagamento quando a sua opcao era outra?
Este referendo traz muitas questos e duvidas, que embora anexas, sao importantes do ponto de vista legal.
Considero a posição do bispo de Viseu não um passinho mas sim uma tentativa de marketing político, tentando passar a ideia que até poderia aprovar a despenalização MAS.
há sempre o mas. e o mas desse senhor era a IVG ser feita pelo serviço nacional de saúde, ou seja, - interpretação minha - que se façam abortos ainda pode ser, agora que se saiba é que é um escândalo. se as mulhers continuarem a ir a Badajoz ou ao 'vão de escada' então ele já não acharia mal.
Grande hipócrita é o que eu lhe chamo.
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