sexta-feira, dezembro 29, 2006

Mas porque lhe chamam «urgências»?


Eu vejo com agrado, e quando tenho tempo, a série «serviço de urgência» que passa no AXN. É interessante assistir à energia que aquelas pessoas mostram e as sucessivas pequeninas histórias que vão por ali passando. E dão-nos uma imagem de um hospital interessante.
Depois vemos a nossa realidade. É a tal distância da Gata Borralheira no filme do Walt Disney e a Floribella…
Ontem, mais uma vez, acompanhei um familiar a uma Urgência de Hospital.
De notar que ela seguiu de ambulância, já com os exames médicos feitos e com uma carta do clínico que a viu e considerou urgente a intervenção hospitalar. Com ela, na ambulância, seguia a irmã e eu fui depois, de carro, através do inferno da IC 19 em hora de ponta (quais são as que não são 'de ponta'…?) para trazer a acompanhante de volta a Lisboa.
Começa-se a esperar pela triagem. Lá na série da TV também deve haver triagem decerto, porque uns são atendidos à frente de outros, mas esse ponto é tão rápido que nem se nota. Mas cá nota-se bem, porque só a «espera pela triagem» já é qualquer coisa de notável!!! Não sei como deveria ser mas a triagem teria de ser uma coisa muito rápida, não se aceita que um homem cheio de dores no peito possivelmente com um enfarte, como vi, espere um tempo sem fim para «ser triado».
Depois recebe-se a famosa ficha de cor. Verde, amarela ou laranja. Muito bem, quanto a isso, porque nesse caso o homem-do-enfarte já de ficha laranja pode esperar menos (contudo, pelo que vi, esses 'laranjas' são pouquíssimos) e os de ficha verde poderão ir jantar e, se forem capazes, ir dormir a casa…
A minha prima tinha ficha amarela. Portanto, sendo um caso grave, eu esperei cinco horas. E em pé, porque quanto a cadeiras, havia umas 20 para cento e tal pessoas que enchiam a sala... Felizarda apesar de tudo, porque ouvi por ali, outros doentes também de ficha amarela que estavam lá há sete e oito horas… E uma senhora, que coitadita tinha ficha verde, quando foi ao guichet perguntar se estaria muito atrasada, ouviu como resposta, que mais umas cinco horas quando ela já lá estava há oito…! A pobrezita, ia contando para quem a ouvia, que tinha ido para o Hospital com carta do Centro de Saúde porque lá não pôde receber resposta, não tinha nenhuma culpa se a ficha era verde, por ela até preferia resolver o seu caso lá no Centro de Saúde!
Eu até considero que a parte médica daquele hospital é boa, para serviço público, mas o atendimento das «urgências» é inacreditável!
Como??? Oito horas, dez horas, doze horas…? Então para que lhe chamam Urgência?! Se não fosse 'urgente' como seria?

12 comentários:

Anónimo disse...

É o problema de não se ter um seguro de saúde. Portugal cada vez mais, a passos largos, a caminho dos modelos onde só quem pode é que tem acesso a bons cuidados de saúde.

Desejo as melhoras do teu familiar, caramba! Isso continua assustador. Em 1990 fui mal atendido no S. Francisco de Xavier, sentei-me no chão nas urgências, com o maxilar partido. Esperei "apenas", depois de ter sido visto 2h depois de lá ter chegado pelo médico de serviço que disse que não podia fazer nada, 6h para ser visto pelo especialista tendo ainda tido direito a umas bocas...

Rita Inácio disse...

Eu costumo ir ao hospital São Francisco Xavier, e nunca esperei muito, e a triagem foi sempre bastante rápida! E até por coisas pequenitas, já que tenho o médico de família a 130km de distância, e sempre que tenho que ir tenho que faltar um dia de trabalho(o que é mau para quem está a recibos verdes)! Por isso calculo que a Emiele tenha ido ao Hospital Santa Maria, pois tem um serviço exemplar a nivel das especialidades, e umas urgências caóticas! De qualquer forma as rápidas melhoras para o seu familiar!

cereja disse...

Miguel, é que até para os Seguros de Saúde tem de se planear isso com antecedência. Com uma certa idade já não aceitam fazer seguro, e se a pessoa tem alguma doença, também não dá.
Rita - não foi Santa Maria, foi o Amadora Sintra. E o S. Francisco deve depender das ocasiões. Estive lá uma vez com uma senhora de 80 anos, que tinha vindo de ambulância do Centro de Saúde de Oeiras, entrámos pelas 4 da tarde e saímos às duas da manhã... Já foi há muito anos, aí há uns 10, mas foi tal e qual assim!

cereja disse...

Como li agora com mais atenção o comentário do Miguel, olha que se calhar foi no mesmo dia, porque esta senhora velhinha de que falo, tinha uma clavícula partida... Devia emparceirar com o teu maxilar...! E tudo no S. Francisco.

josé palmeiro disse...

Para se ter, efectivamente, direito á urgência, sugiro um amigo, no hospital ou no centro de saúde.

Rita Inácio disse...

Eu so uso o francisco xavier ha 4 anos, mas a verdade é que fui sempre bem tratada. Nunca esperei muito para a triagem! Eu tenho Hipoglicemia, e de volta e meia tenho que ir levar uns saquitos de soro, mas umas injecções, e a verdade é que fui sempre auxiliada, enão tenho ninguem conhecido no hospital! Acho que melhorou nos ultimos anos!

Hoje vamos à triagem, e dão-nos uma senha: "ambulatório e balcão mulheres ou balcão homens",... são locais distintos,... o balcão é onde estão as situações mais graves, e o ambulatório são 3 consultórios com médicos a despachar as coisas pequenas. Onde por vezes fazem logo medicamentação. Não sei se ha 10 anos era assim, mas não me parece!

cereja disse...

Nem nada, Rita! Nadinha disso! Aliás como tentei descrever aqui em cima no Amadora Sintra a própria 'triagem' leva um tempo infinito...
Admito que dependa da hora do dia, ou de diversas circunstâncias inesperadas, mas lá que é completamente absurdo ver pessoas que parece estarem a morrer, «esperarem» pela dita triagem, isso é!

Zé Palmeiro - infelizmente tens toda a razão. O melhor é realmente «conhecer» alguém dentro do sistema. Mas revolta, não é???

Anónimo disse...

E o pior é que por vezes depois dessas horas todas (urgentes?) mandam nos para casa com expressões do tipo: não lhe consigo detectar o problema ou não sei o que lhe vou medicar.

Anónimo disse...

Se não fosse urgente, era como as consultas normais dos hospitais: quando se é chamado já a doença passou porque entretanto se decidiu pagar a um médico privado!
Também já tenho experiências como conta a Célia, apasar de ser mais natural o problema ser tratado. E nalguns hospitais como Santa Maria por exemplo, o seguimento até é muito bom. O complicado é passar a barreira da Urgência!

cereja disse...

O Miguel começou por dizer um coisa muito importante. É que caminhamos cada vez mais para um sistema em que quem não tem Seguro está feito ao bife!!! Aliás a dita «série» que coemcei por referir, é bem clara - os pacientes que ali chegam também são «rastreados» pelo Seguro que têm...
Por outro lado, na minha 'saga' de ontem estive em parte acompanhado pelo meu primo dinamarquês que puramente não conseguia entender as voltas em que andávamos e porque é que a ambulância era paga, e essas coisas todas. Parecia caído do céu!

Anónimo disse...

É verdade Emiéle, se não tenho calhado com um amigo, que por acaso é o meu médico de família, de certeza que hoje não estaria aqui a partilhar convosco as minhas inquietações. Agora que todos os casos deveriam ser assim tratados, é uma verdade.

cereja disse...

Acontece que realmente também tenho alguns amigos médicos mas não em ambiente hospitalar...E por isso para o caso «não servem para nada»... O meu filho já tem mesmo um Seguro de Saúde razoávelmente bom. Dá-me alguma segurança, isso.