segunda-feira, janeiro 25, 2010

E «é assim»!

Nos últimos tempos tenho falado muito pouco aqui do que é considerado ‘política’. Não quer dizer que não seja uma preocupação constante, isso é óbvio, mas talvez por me sentir muito desanimada com tudo o que vou vendo, perco a vontade de escrever.
E, desta vez não é aqui do «rectângulo» que notícia me choca.
Vem de Angola, de onde pensava que mais quase nada me chocaria: « O parlamento angolano aprovou ontem uma nova Constituição que vai acabar com as eleições directas para o cargo do presidente de Angola» o presidente do país passa a acumular funções de chefe de Estado e de governo, congregando na sua figura a totalidade do poder executivo.
E pronto.
Não sei como se chamará este sistema – democrático não é.
Diz o artigo onde me estou a apoiar para escrever isto que Angola apresenta um dos maiores níveis de crescimento económico do mundo (que bom, não é?) mas mantém-se no ranking dos países com menor índice de desenvolvimento humano.
Como é que se faz esta ginástica?
Crescer imenso economicamente e estar na cauda do desenvolvimento humano..?

19 comentários:

kika disse...

Hoje deixei para lá, a preguiça de segunda-feira!
A noticia não me choca nada, assim como não me choca o que se está a passar na Venezuela e as tentativas que por cá vão sendo feitas , como já vimos na nossa comunicação social.
Devagar devagarinho , arruinando o País e provocando uma morte lenta, lá chegaremos.
Pseudo-democracias e á sombra da palavra ,vão-se intalando e transformando-se em salvadores e amados pelo povo escravizado e sedento de tudo que são direitos humanos etc etc.
O MPLA já está no poder há sei lá ,cerca de 50 anos!
Nós por cá não estamos livres basta para isso que saiamos do euro e veriamos o que nos acontecia!!!
Oxalá tal nunca nos aconteça
e desculpem lá isto logo pela manhã, mas não gostei de ver o Chavez a proibir as tvs por cabo que não transmitam os seus discursos de lavagem ao cérebro, e o que me preocupa, é ele ter amigos , cá no rectângulo!

sem-nick disse...

Faz muita impressão ver que nenhum país descolonizado teve o percurso de se esperava ou desejava. E nem falo do caso português, falo em todos.
O que faz mover as pessoas que depois de uma opressão acabam por escolher outra?!

Joaninha disse...

Bem Kika, 50 anos é um pouco de exagero.... Mais ou menos o modelo ade Alberto João Jardim...
A Venezuela é um caso diferente, mesmo muito diferente. O homem pode ser louco, mas numa América do Sul como se vê por todo o lado, tem mantido o seu país com um desenvolvimento notável. Por algum motivo se imigra para lá...

Angola faz muito dó. E ainda por cima como aqui se diz, tem progredido economicamente, os nossos Bancos querem ir para lá.

Zorro disse...

Há pouco que comentar.
A imagem da criança fica-nos nos olhos. Pode ser ela o futuro e esse futuro contra o que parece seja positivo.

kika disse...

O mpla existe há nais ou menos 50 anos era isso que eu queria dizer, tornando-se poder efectivo e não tem nada a ver com AJJ ainda ontem amplamente elogiado por Almeida Santos.
Por cá tb temos presidentes de câmara há cerca de 30 anos.
Mas pronto já sabia que iria ter alguma reacção!
Olha Joaninha temos um desenvolvimento tão notável, que tambem se imigra para cá!

Os venezuelanos emigram , mas é para os states!!!

Unknown disse...

Olá. Ainda há quem se espante? Desculpem mas não é caso para isso. Hoje toda a gente sabe, que em Angola só há um dono. A família Santos e os seus fiéis seguidores.
Angola é deles, e das grandes fortunas que se deslocaram para lá para defenderem os seus interesses, e são muitos. Quanto ao povo, desculpe a expressão, mas eles querem que se lixem.
Democracia? Onde, como?
As eleições são fictícias, como em todos os países africanos, ditos "modenos", mas onde a pobreza e a ignorância grassa e alastra.
As ONG's, tentem fazer algo, mas não é o necessário, pois os interesses são vários e não encontram pontos de "apoio" digamos, para prosseguirem no seu trabalho que é dignificante, digam o que disserem.
Quanto ao Chavez, proibir, as tv's, o que se poderia esperar de um ditador?
No fundo, um ditador, não passa disso mesmo, seja de esquerda ou direita.
Enfim. mais uma semana de trabalho
nos espera. Força para todos.
Aquele abraço
silvyaprata

Anónimo disse...

De facto dos países «palops» é aquele que mais impressiona. É certo que muita gente também tem imigrado para lá (voltando ao tema....) e quem seja capaz até deve viver bem.
Mas como é possível a comunidade internacional aceitar aquele tipo de eleições e fechar os olhos a atitudes ditatoriais, é impressionante.

Aliás, mesmo que com um golpe de estado a coisa virasse, a família já tem na Suíça ou em paraísos fiscais, o suficiente para não passar dificuldades.
Olhem o Baby Doc a oferecer não sei quantos milhões ao Haiti! É porque os tem. Esses e muitos mais.

fj disse...

Sobre o crescimento e o desenvolvimento de Angola, talvez Miguel nos possa explicar melhor.Kika bem chamado para aqui o Chvez.No entanto parece-me um caso de alguma maneira diferente, havendo um desenvolvimento notavel nos aspetos sociais, atrvés das "missões" que ultrpassam os departamentos clássicos do estado,neste caso reformado. Sem dúvida há lamentaveis aspetos não democráticos, mas julgo casos difeentes.Realmente julgo que o mpla terá sido criado perto dos anos 50s, pelo menos parece ter sido nessa altura que se iniciaram as prisões. Englobava de tudo, mas julgo que sobretudo estudantes, profissionais qualificados e padres católicos ( os não católicos parece terem ido mais para o sul ), e eram primeiro acusados de serem tambem membros do pcp, que deve ter dado umas ajudas de inicio, como os states deram á upa, fnla no duelo sobre àfrica da guerra fria que caraterizou aqueles anos.O AJJ se não dependesse tanto de "Cuba" e náo estivesse ligado a um partido pitorescamente designado social democrata( que nada tem a ver com a social democracia, algo de muito sério, aqui utilizado
por hipócritas razões históricas).
Se alguem souber alguma coisa sobre a unita agradecia uma ajuda,
embora o fim de Savimnbi dê uma ajuda.Bom descolonizar demora séculos. o que eram os usa , o Brasil, RPC aIndia senão colónias ou semicolónias?

josé palmeiro disse...

Democracia, que palavra que conceito, onde o encontramos? Onde é praticada?
Quanto a Angola o que mais me dói é que fomos nós, portugueses, os colonizadores e, como se vê, não conseguimos transpôr para os seus habitantes esses valores que tanto estimamos e perseguimos, pois nós, também ainda o não encontrámos.
Comentei com o meu filho, durante a transmissão do jogo Angola - Gana, o facto de, enormes retratos do presidente decorarem, sem decoro, o estádio, enfim fórmulas velhas, num mundo novo.
Deixem-me sonhar e tal como o Zorro, exprimir a esperança de que aquela criança da, magnífica, foto seja a mensageira de uma nova sociedade!!!

Miguel disse...

Emiele e companheiros,

As notícias são feitas à medida, à pressa e, a maioria das vezes, sem grande trabalho de investigação. É para consumo imediato sem que se perpetue na memória.

A verdade é que, em Angola, a figura de primeiro-ministro sempre foi decorativa. Quem sempre presidiu ao Conselho de Ministros foi o Chefe de Estado e não o Primeiro-Ministro. Dito isto, limitaram-se, graças à esmagadora maioria obtida nas últimas eleições, a alterar a Lei Fundamental para colocar as "coisas" no seu devido lugar.

Lamentavelmente, entendeu-se o movimento equiparando-o aos regimes autoritaristas latino-americanos. Será mesmo assim?! Ainda não li a nova constituição pelo que não me vou pronunciar muito sobre a perpetuidade de JES na liderança do país. Contudo, comparar Angola à Venezuela parece-me uma aberração. Angola está em franco desenvolvimento em TODOS os domínios. A Venezuela está a regredir em TODOS os domínios. O desenvolvimento nacional e o forte ressurgimento da iniciativa privada, nacional e estrangeira, é sensacional.

O modelo escolhido para cá, recaiu um bocado no sul-africano o qual foi alvo de ampla discussão. Não me vou pronunciar sobre o contexto em que a mesma surgiu. Mas jamais se pensou sequer no modelo venezuelano!... Quer dizer...

Sobre o que se viu ontem, fiquei igualmente desagradado. Note-se. Há meia dúzia de bajuladores que o fazem para impressionar o "chefe". Este, por sua vez, fica amiúde incomodado com estas manifestações despropositadas. É que não precisa. Quem assistiu, como eu no pavilhão, a todo o público aos gritos, de forma espontânea, "ZéDú amigo, o povo está contigo!" quando ele desceu ao ringue para cumprimentar a selecção angolana e camaronesa de basquetebol, não é necessário fotografias em tamanho gigante. Até há pouco tempo, o dia do seu aniversário dava direito a feriado e festa em todos os cantos do país. Mandou parar com isso. Enfim...

O desenvolvimento está em curso. O aumento da riqueza é transversal a toda a sociedade, apesar das fortes assimetrias e das imagens choque da ostentação. Paulatinamente está a chegar a todos. Mesmo ao puto da fotografia.

kika disse...

O que eu pretendi por em causa foi o facto de não me parecer que estes dois paises se possam considerar assim democráticos, como este onde ainda vivemos e que tanto custou a conquistar!
A Africa do Sul tambem não me parece que seja um bom exemplo, mas enfim Miguel fico feliz por terminares o comentário dizendo que o desenvolvimento é transversal a toda a sociedade e que é visivel!

Miguel disse...

kika,

Claro que não. Mas parece-me que nem foste tu a comparar o que aqui se passou às ditaduras latino-americanas.

De todo o modo, sendo ainda uma "democracia jovem" - o Estado do partido único e da economia planificada não acabou assim há tanto tempo e os actores são os mesmos de então! - Angola não é seguramente dos piores, nem em África nem a nível mundial. De acordo com o insuspeito The Economist Intelligence Unit, britânico, Angola é o 8º pior país dos 37 monitorizados mas está muito à frente do Médio Oriente, de muitos países asiáticos e até mesmo europeus (ex-URSS, essencialmente).

Enquanto Estado estável, tem um dos melhores índices do continente, sendo apenas ultrapassado por uma ou outra ilha no Sahel, pelo Magrebe e alguns países da SADC. Mas é mais estável do que umas Filipinas ou uma Bolívia, por exemplo.

Quanto à corrupção, embora seja considerado altamente corrupto, está a meio da tabela dos 37 países africanos seguidos, tem um índice melhor do que vários países europeus, alguns latino-americanos e muitos asiáticos.

Não é querer tapar o sol com a peneira mas é óbvio que falar de Angola causa muito mais impacto aí do que falar no Bangladesh, no Paraguai ou no Chade. Isto já para não falar do Haiti pré-terramoto que era apenas, para a Transparency International, o 3º Estado mais corrupto do mundo (a seguir ao Iraque e Bangladesh)...

Não entendam o que escrevi neste post como uma defesa de Angola. Mas apenas a defesa da relatividade da informação.

Uma análise que gosto de fazer, nestas coisas e em muitas outras, é aperceber-me da tendência. Este aspecto é, para mim, bem mais importante.

cereja disse...

Claro que era mesmo da opinião do Miguel que nós estávamos desejosos.
Porque por melhor que se esteja informado, o «viver lá» é sempre completamente diferente e observa-se aspectos que de fóra parece não terem importância.
Lembra-me quando estive em Macau, ouvir perorar alguns visitantes de 3 dias, como se tivessem na mão todos os conhecimentos do mundo e o que isso me irritava...
Portanto lendo o que nos diz o Miguel, não se passou nada demais, digamos que se «legalizou» uma situação existente desde há muito. A mudança não foi grande nem para pior do que era.
Quanto ao desenvolvimento, isso nota-se por todo o lado, e até as pessoas que se encontrar a querer ir para lá. Não é por masoquismo.

fj disse...

Boa entrada Miguel, gostei das observações de quem lá vive, mas achei graça ao apoio no "insuspeito" economist inteligence.
O que dizes sobre a Venezuela, que não é verdade,deve vir de fontes "insuspeitas" como essa e semelhantes. Claro que não se pensou aí no modelo venezuelano, na medida em que este visa um desenvolvimento nacional, com diferentes objetivos e fases.Tambem poderia citar "fontes insuspeitas, "Le Monde Diplomathique" por exemplo,mas tens todo o direito a considerá-las tão insuspeitas como eu o "objetivo" "The EconomistI.U.".De qualquer forma conforta-me, um pouco o que dizes sobre a Venezuela , dá para esclarecer conceções.
Manda mais.

fj disse...

Só uma coisita, é bom não esquecer que o principal amigo de Angola é o pior inimigo da Venezuela, com evidentes consequências nas estabilização/desestabilização desses países.

josé palmeiro disse...

Obrigado, Miguel pelo teu esclarecimento. Pelo que me diz respeito fiquei satisfeito por saber que o JES fica incomodado com tanta bajulação, ainda bem. É bom sinal!

Miguel disse...

Ó fj,

Leio o Le Monde Diplomatique há 20 anos, primeiro em papel e agora em .pdf... É uma das minhas leituras obrigatórias até porque foi Ignatio Ramonet uma das minhas (nossas) referências em termos de independência intelectual e informativa que só a boa esquerda resistente francesa consegue (conseguia) manter, contra tudo e todos. Chegámos mesmo a ter o prazer de ter o Ignatio Ramonet nos nossos colóquios, em Portugal, e o ainda maior prazer de confraternizar com ele durante 2 dias.

Posso dizer-te que a The Economist é, provavelmente, a melhor publicação da área, bastante abrangente e independente em termos de análise objectiva dos factos. Já a leio há mais de 20 anos e continuo a achar que é muito boa.

Ainda em termos de referência, fj, sou bastante aberto em relação às fontes, dispensando as que são aberrações tendenciosas...

Indo à Venezuela, as minhas fontes são um parceiro cubano que trabalhou comigo durante alguns meses, num projecto comum, e que entretanto regressou a Cuba. Membro do partido, contou-me o que estava em causa na Venezuela e do forte engajamento cubano naquele país - estamos a falar de muitos milhares, mas mesmo muitos milhares de técnicos - em todo o território nacional a troco da forte camaradagem revolucionária bolivariana (ou será do petróleo?). Queres que te diga quanto é que os cubanos queriam por cada dos seus colocado em território angolano?... Ou a forma delirante como um ex-ministro de Fidel nos revelou a nova estratégia de desenvolvimento cubana, enquanto se referia amiúde aos "yankees"? Por acaso gostei da forma particularmente profunda como dizia "yankees"...

Ó fj, não sabia que a China e Venezuela são inimigos! Mas olha, essas "cenas" deixam-me um bocado pasmado. Esta é a minha área. E uma coisa é o que se lê, estuda e outra o que se passa no terreno. Explica-me lá qual a razão pela qual, durante a guerra fria, eram as tropas cubanas que protegiam o campo petrolífero da Chevron, e dos seus empregados americanos, contra os inimigos da revolução?

Emiéle, normalmente é assim. Apesar de haver muita verdade no que se vai escrevendo por aí. O problema é filtrar...

fj disse...

Á Miguel grande e feliz reaparecimento.Se calhar com umas "provocaçõeszitas" apareces mais.Bom que leias o md, memória de Ignácio sempre. Tenho de ler mais vezes oEIU, as vezes que tenho lido não me pareceu modelo de "objetigvidade".Claro que o monde tambem não, só que as conceções do humano que os sustentem são diferentes, para mim, com a ressalva de ler muito mais vezes o md,opostas.
o papel de Cuba passa-me muito ao lado, não tanto o da prc, mas nunca disse nem diria que é inimiga da venezuela.

Miguel disse...

fj, percebi que te referias aos "yankees" mas achas que ia desaproveitar a deixa de brincar com o grande amigo chinês de Angola?