quarta-feira, dezembro 02, 2009

...a Tempo e Horas (?)

Foi na semana passada que li estas declarações, mas como entretanto fiquei de pousio na minha toca, deixei a notícia também de pousio. O que não quer dizer que a esquecesse – ficou em stand by mas a remoer-me na cabeça.
Numa entrevista curiosa se esmiuçada, ficámos a saber que se tinha criado no Ministério da Saúde um programa intitulado «Consulta a Tempo e Horas».
Belo. É do que se precisava. Andava a fazer falta termos consultas a tempo e horas, sem precisar de se ir de madrugada marcar vez para ser atendido séculos depois. Boa notícia.
Mas…
Esse interessante programa, que pretende diminuir o tempo de espera por consultas de especialidade médica e ordenar prioridades, tem três níveis. Muito bem. Concordo. Há decerto quem precise de uma consulta mas sem ser com uma grande urgência, e quem esteja mesmo aflito. Estabeleceram assim a prioridade normal (é como lá vem), a prioridade alta, e a ‘muita prioridade’.
Ora, olhando para a tabela dos tempos de atendimento, vê-se de imediato porque é que as urgências, que se pretende desbloquear, estão como se sabe!
É que o grau máximo de urgência, as pessoas classificadas como com muita prioridade, devem ter consulta… no espaço de um mês. Tal e qual: um mês! As de prioridade alta, devem esperar por ter a sua consulta dentro de dois meses. Claro que quanto aos «normais» (deve ser os que vão ao médico só porque não têm mais nada para fazer) deverão esperar mais de dois meses, aí uns quatro* (quando o serviço já estiver a funcionar bem) por aquilo que o senhor secretário de Estado Adjunto da Saúde nos diz.
Ou seja, este programa foi lançado na intenção de diminuir o tempo de espera, o que nos levará a concluir que até agora seria muito pior…
As urgências estão a rebentar e os técnicos queixam-se de que lá vão pessoas que só precisam de uma consulta? Pudera! Afinal é o modo de serem atendidos sem esperar um mês…




* li também, não sei onde, que se espera que "até 31 de Dezembro, o prazo máximo de resposta não ultrapasse nove meses"; não tá mal, é só o tempo de gerar uma criança...

19 comentários:

Joaninha disse...

Esse programa já existe desde o princípio do ano, mas foi implementado desde de Agosto. A ideia era boa - as pessoas iam através do médico de família, e portanto o 'rastreio' estava feito por um profissional. Mas a verdade é que os tempos de espera são incríveis! Primeiro para se ir ao médico de família também temos de marcar vez. Depois ele observa e acha que alguma coisa está muito mal, portanto envia-nos para uma consulta de alta prioridade. Vamos ao Hospital e espera-se mais outro mês!!! Como dizes, o que toda a gente faz é dirigir-se logo às urgências! Claro que também lá se nos dão uma ficha verde podemos esperar 24 horas, mas ao menos somos atendidos e talvez nos façam os exames necessários.

Joaninha disse...

E, atenção, dentistas não há (e se há coisa «urgente» é uma bruta dor de dentes!!!) e oftalmologia também é quase faz de conta, porque as esperas são enormes e só alguns hospitais é que têm a especialidade.

sem-nick disse...

Bem sei que esta é uma área onde só me posso colocar na posição do «consumidor», mas na linha do que escreveu agora a Joaninha, o que parece que estaria certo, é que estas especialidades de 'medicina oral' e de oftalmologia, deviam existir era até nos Centros de Saúde!

fj disse...

Concordo inteiramente com os meus antepassados, e então eu que não tenho médico de família vou logo para as urgências hospitalares mas ao menos serei visto.
O que me xateia profundamente é a designação demagógica ( desumsna )destes programas.
Tanto quanto sei, e é pouco, dentistas e oftalmologistas fugieam sempre ai sns,dada a grande procura que têm, garantindo-lhes assim preço caros (issimos)na atividade privada.Os que não podem lá ir que se lixem, não é problema deles.Daí talve algumas medidas do governo. Já me falaram que, ao menos no caso dos dentistas , eles próprios estãoa pensar rever a posição. E descobri, por acaso, um sítio onde os oftalmologistas aceitam trabalhar pelo menos com a adse.È a associação dos empregados da industria e do comercio, na rua da Palma. Mas daqui até esterem no sns e, particularmente nos centros de saude, ainda deve passar muito tempo.

Zorro disse...

É quase indiscutível a oportunidade deste post.
Por acaso também pertenço ao grande grupo dos 'sem-médico-de-família' e não e por minha culpa ou desleixo. A que tinha foi para outro sítio ou reformou-se, nem sei bem, e fiquei ao Deus dará.
Mas como disse a Joaninha, até para marcar a consulta para o médico de família leva tempo. Depois de se esperar por essa consulta e gastar uma manhã ou tarde pela consulta, ele vai achar que o caso é urgente e envia para a consulta do hospital. E aí..., seremos ouvidos um mês depois, e ainda vão pedir exames complementares e mais isto e mais aquilo, e nós cada vez piores!
Quanto a olhos e dentes isso já se sabe que são luxos. Como disse o fj, tenho aqui o meu palpite de que os especialistas também não se ralam muito por haver poucos nos hospitais porque têm os consultórios cheios. E quando uma ida ao dentista é um quarto do salário mínimo nacional não é de estranhar que haja por aí bocas para onde nem se pode olhar...

Anónimo disse...

(acho graça que aqui a malta visitante do Pópulo anda em grupo: cocó, reineta e facada, ou seja a Joaninha, o Zorro e eu!)

O interessante é que nós temos mesmo um SNS. Se vivêssemos nos EUA onde só se safa quem tem seguro, estaríamos agora a lutar por um SNS, mas já o temos, há muitos anos, e é o que se vê....
Uma consulta normal é para 9 meses depois?...Será que os senhores que mandam nesta coisa percorrem esse circuito? Pois é.

kika disse...

Para um assunto tão deprimente, escolheste um Salvador Dali que gosto muito e da escultura então, adoro!!
Sou preveligiada nessa area não sei até quando,pois como neste Pais se nivela por baixo em tudo, acredito receio bem que vá parar algures não sei onde.
Por acaso a minha irmã ADSE levou o filho as nove da noite á urgencia do hospital, saiu de lá as 4,30 h da manhã e apenas com a indicação de ir a um dermatologista
Precipitou-se claro em ficar tão preocupada embora o problema tenha que se lhe diga!!!
A saude é o bem mais precioso que temos, eu pelo menos assim a classifico. Saude e educação deveriam ser prioritarios nos orçamentos.
Haveria menos desigualdades no mundo se fossem melhor cuidadas estas duas areas.
Queixamo-nos e temos hospitais e centros de saude a dois passos e os seres humanos do interior , do norte e sei lá donde???
Nem consigo imaginar-me doente e ter que me deslocar kms e ficar a marcar vez, horas sem fim e ter de voltar passados meses
Só a luta pela sobrevivencia ´dá forças para tanto!!

kika disse...

O comentário não entrou de imediato como era costume, fizeste alteraçoes...

kika disse...

Já vi que isto está o ralenti com a saúde!!!

a glória do vulgar disse...

o título deste post combina (como diria o jovem brasileiro da flor amarela) com o conteúdo do meu comentário (além, claro, de combinar, com o conteúdo daquilo que ele titula...): o que venho comentar está fora de tempo e de horas. as minhas desculpas portanto. mas chinoisesse oblige.
1. não sendo homem, nem planeando vir a transformar-me num, não me sinto obrigada a aceitar reptos de desconhecidos como é o caso desse ou dessa que se assina como fj.
2. sendo mulher, e gostando de acentuar a diferença de género (à la irigaray), não posso deixar mal uma irmã (emiele cuja posição autoral compreendo muito bem) pelo que me sinto obrigada a traduzir o que escrevi.
a) zhen duibuqi fj: ni ba taijiquan' de 'tai' xiezuole: bu shi 'Dai' shi Tai'. ni dou wangjile ba?
peço-lhe imensa desculpa fj: escreveu mal o 'tai' da palavra “taijiquan” –não é ‘dai’ é 'tai'. então já se esqueceu de tudo?
nota de tradução: ‘tudo’ denota o chinês aprendido, já que esse fj, tendo falado numa professora qualquer de chinês, parece ter sido aprendente dessa lingua.
b) 太机拳! 这个'拳'有手里边。
taijiquan! no caractere '拳' há o caractere 手.
nota de tradução: o caractere 拳 quan, que quer dizer “punho”, tem, na sua composição, o caractere 手 shou, que quer dizer “mão”.
o resto, sendo uma auto-crítica, já ia em língua de gente pelo que me dispenso de passar por segunda humilhação voltando a acentuar o erro que dei.

Joaninha disse...

Abro os comentários só para dizer «sem comentários»!
O que se pode dizer perante os conhecimentos da GV?!
E pronto! O FJ, arrumado, sai pela direita alta... Espera aí, isto é em linguagem de teatro mas pode ser pela esquerda alta (ou baixa) para não haver confusões com a política :)

Mary disse...

Clap, clap, clap, GV!!!
O que se pode dizer?.... Imaginava que o chinês era difícil mas quanto mais oiço mais difícil me parece!!!!!
E a verdade é que estas 'políticas de saúde' (????) também nos parecem chinês! É que não dá para entender porque ficam todos contentes com esta 'melhoria'

Mary disse...

Os comentários andam muito esquisitos, isso andam.
Chegamos a desistir quando acabam por aparecer!

silvya disse...

depois de uns dias em que foi mesmo impossível, visitar regalar-me com o blog, estou de volta e contente.
fim de semana com um feriado a interromper a semana aborrecida de chuva, e muito fixe mesmo.
passando a noticia de hoje, concordo com a maioria.Emiele, tem muita razão. o SNS, está uma caos.
o programa como frizou a Joaninha, existe sim,mas depois falta-lhe as estrutura digamos assim, para as coisas rolarem,mas quando rolam, como disseste,dá para nascer uma criança aos nove meses de gestação, mas não podemos esquecer as que nascem prematuramente, e no que diz respeito ao SNS,não há consultas antes de tempo, mas muitas vezes, demasiadas até, fora de tempo.
porque não nos podemos esquecer que nos HC, quando os doentes, agora chamados de "utentes", são chamados para consultas de especialidade e até operações, já se passaram para além da vida. desta, claro, que a outra...quem sabe???
claro, que as pessoas minimamente informadas sabem que existem certas associações que mediante acordos ou pagamento de quotas, o sócio tem direito a consultas, mas não podemos esquecer os nossos filhos, e demais familiares que tem de pagar um preço bastante elevado. é que temos de ler e ver o reverso da medalha.
quanto aos politicos do nosso país ...estou deveras completamente desacreditada deles.
já não acredito neles, absolutamente nenhum. que me perdoem o desabafo, mas se acreditava que havia, que existiam politicos diferentes, hoje já não me consigo iludir. espero que apareça algum qiue me prove o contrario.
atrasada, mas vou ler logo mais os post's anteriores dos quais só vi os títulos mas que me prometem algo de bom, muito bom.
até loguinho
cleopatra

estrela-do-mar disse...

Não sendo lá grande apreciadora do Dali (nesta caso difiro da Kika :)) acho que estes quadros do tempo são óptimos.
E encaixam como uma luva neste texto!
Que moleza, heim?...

a glória do vulgar disse...

joaninha e mary: o chinês é a língua mais fácil do mundo - basta pensarem que é falada, e escrita (já há poucos analfabetos nas chinas), por um quinto da humanidade. basta começar a aprendê-la ... a tempo e horas. o que, não tendo sido o meu caso, me condenou à posse de um único olho, ele próprio muito limitado, mas que me permite fazer algum bluff...

sem-nick disse...

Ehehehe!!! è formidável como se começou a falar se Saúde e acabamos no chinês!....
Não pode ser por acaso. :)

Anónimo disse...

Comparado com os países onde a saúde é paga (só me lembro dos EUA mas se calhar é ignorância, não conheço TODOS os sistemas!) até nem é assim muito mau. Contudo quando se faz o orçamento e a gente paga os impostos é já a contar com estas verbas.
Mas a parte de odontologia é sempre difícil reparem que os seguros de saúde muitos não cobrem isso. E, como alguém aqui disse, uma dor de dentes é que é mesmo uma urgência!!! Não se pode esperar dois ou três meses! :)

cereja disse...

Ontem não consegui vir aqui agradecer os comentários e responder e hoje já não dá para abrir conversa...
Aqui os comentários ficaram entremeados com os correspondentes ao outro post onde a AG e o FJ brincavam com a língua chinesa. Eu nem digo nada que o assunto transcende-me :)
Quanto à nossa pobre saúde, é claro que se nos compararmos com os países onde nem há SNS ficamos a ganhar. Assim como se nos comparamos com aqueles que têm um bom SNS ficamos a perder. Eu só desejava era comparar-nos com nós próprios, com o que vem nos programas, com aquilo que se tem prometido. O SNS como foi concebido depois do 25 de Abril era uma coisa. Este que afinal temos, outra bem diferente.