quinta-feira, novembro 26, 2009

«Nós»

Vinha ontem no carro, distraidamente, a ouvir na rádio um ‘opinion maker’ (?), economista creio, cujo nome não sei nem nunca quis fixar apesar de o ouvir falar muitas vezes. Confesso que embirro com o homem. Talvez tenha a ver com o seu tom de voz, superior, arrogante, vagamente trocista como se estivesse a falar para palermas, como se tivesse de explicar os seus inteligentes raciocínios e saberes por palavras de duas sílabas a uns patetas.
Bem, a conversa de ontem era igual à de sempre. Falava, displicentemente, sobre as dificuldades que a crise provocava no nosso modo de viver e como os pedidos de aumentos de salários prejudicavam toda a economia. É um discurso batido, ouvido já dezenas de vezes com os mesmos argumentos, sem interesse que justificasse o que aquele senhor importante ganha na rádio para emitir aquelas opiniões (talvez o equivalente a um smn só por aquele trabalho)
Mas vinha eu a ouvir, como disse de um modo desinteressado, quando me chocou uma palavra repetida, o «nós». Ele afirmava que nós temos de aprender a viver com pouco, que nós usamos muito o cartão de crédito, que nós não sabemos poupar, que nós devemos aceitar baixos salários, mas a verdade é que tudo o que dizia era dirigido a uma determinada camada sócio-económica onde ele não se incluía.
Recordei logo uma entrevista ouvida há uns anos onde uma dirigente política afirmava que nós temos muita resistência a mudar de emprego, a mudança não tem nada de mal. A jornalista respondeu-lhe - o que eu estava a pensar no momento – não é mudar que assusta é não o ter. Essa senhora, que tinha vários, quando falava em nós queria dizer «vocês».
Tal como o analista lá na rádio.

27 comentários:

fj disse...

1º cambada de sornas!9 00 horas e tudo a dormir!
2ª essa senhora já mudou entretanto duas vezes de emprego: Conseguiu pois, certamente com ajuda psicologica, superar esse terrivel defeito nacional;
3º o pensamento único, neoliberalismo, ganhou a primeira batalha ideológica, parece-me indiscutivel, até por se apresentar como um pensamento natural, exclusivo;
4º pior o 2ºround ainda nem começou bem,,,
daí, talvez que muitas pessoas encharcadas nesse pensamento, o generalizem:"nós",

josé palmeiro disse...

É absolutamente incrivel, como essa gente fala em/de, "nós".
Faz-me lembrar uma atitude, tão portuguesa, que se usa preferêncialmente no mundo do desporto. É comum, os adeptos, dizerem: "GANHÁMOS", aqui está o (NÓS), e se a derrota é o resultado; "PERDERAM", aqui não fomos "NÓS", foram "ELES".

Miguel disse...

Pois é Emiéle, é muito mais fácil falar de barriga cheia... Lembro-me de alguns responsáveis de empresas que conheci e, nalguns casos, substituí, que na hora das revisões salariais e prémios anuais eram muito comedidos para com os outros, já para eles... Talvez fosse por serem apenas um!

Caro fj,

1º Sornas?! Estou a trabalhar desde as 7h locais, 6h em Lisboa! Isto é só um coffee break para a Emiele e companheiros!

2º Há pessoas com sorte...

3º e 4º isto é muito denso. Remeto-me ao "Manifesto Contra o Trabalho" como forma de libertação do "nós".

josé palmeiro disse...

Bem visto, FJ. É assim mesmo!!!

Miguel disse...

Um abraço matinal ao José Palmeiro!

É bem verdade o que dizes José. Contudo, permite-me uma achega. Quando falo em nome da empresa, falo pela colectividade pelo que uso sempre a 1ª pessoa do plural. Quer nos bons momentos, quer nos maus momentos e ainda nos mais ou menos lol!

Anónimo disse...

Eheheheh!!!
:)
O tema era chato mas o fj deu o tom mais bem disposto à coisa.
Venho aqui dar a minha achega e contente de ter aqui o Miguel por perto. É que até creio que sei quem é comentador de que fala a Emiéle, cujo tom também me irrita um tanto, e muitos economistas padecem desse mal de falarem do alto da burra. E se cito o «nosso» Miguel é porque com ele sinto o contrário, quando fala de coisas de economia, mesmo que eu possa não concordar com a base, di-lo de um modo simpático, sem calão técnico mas sem esse ar desdenhoso que esse senhor de que falas usa.

fj disse...

Vai-te lixar Miguel, aí toda a gente começa atrabalhar a esas horas.Em Macau começava ás 5 30;
boa citação e ideia para lerem preciso.
Há lugares vagos para "vós" na ren, ep, e outras, palpita-nos.Quem seja capaz de mudanças atire-se, tem vanta
gens e riscos...
ZP, seria justo que no sábado eles perdessem e nós ganhacemos, pá, isto anda muito desiquilibrado...

Anónimo disse...

Ainda para o Miguel (hoje está na berlinda - lembrei-me logo dele ao ler o post e ainda por cima comentou tão cedo...) Caríssimo, por tudo o que vamos 'conhecendo' de ti imagino que mesmo em posições de chefia a tua atitude fosse coerente com o que defendes. Quando escrevias no teu blog havia quem te chamasse 'chefe' a brincar, mas por algum motivo era, se eram teus amigos como parecia. A gente sabe que é um erro generalizar, há também muitos (ou pelos menos alguns) chefes impecáveis e humanos. E se calhar são os que têm melhores resultados...

Joaninha disse...

:)
Eu sei, eu sei!!! Foi há anos mais lembro-me bem, foi a Maria João Rodrigues!!! Vinha com essa treta da «mudança» como se hoje ainda houvesse quem esperasse empregos para toda a vida! Nem sequer na função pública!!!
Tá muito bem visto, essa do NÓS.
Como numa família quando a mãe diz «o teu filho» para o pai quando o puto faz algum disparate... :)

josé palmeiro disse...

FJ, só uma pergunta: Quem são uns e outros?
É que me parece, neste caso, cada um de "nós", estar do seu lado da barricada.
Não, não, o empate não seria um bom resultado, para qualquer "deles", mas "nós" divertiriamo-nos, muito!!!

fj disse...

O tanas zp refiro-me ao sporting contra um grupo de vermelhos estrangeiros. E, politicamemte mais certo, vou não nós, mas eus ganharem. Ideologicamente puro.( 2 é a minha previsão , ao inteervalo.

Unknown disse...

"Nós" - os patinhos feios - a maioria que enche a boca desses senhores bem pensantes....Essa tua imagem, Emiéle, não podia ser melhor;))

josé palmeiro disse...

Pois é, FJ, neste grupo de amigos, em termos clubisticos, eu sou o patinho amarelo, por isso, a diferença.
Mas, tudo bem, eu até gosto de lagartos! Em miúdo, apanhava-os punha-lhes um cordel a servir de trela e andava, a passear, com eles.

Unknown disse...

E o patinho amarelo - em bicos de pés - a olhar-nos de baixo para cima,
que se cuide...;))

kika disse...

Ai o que eu gosto de patinhos, mas não acho que os pretos sejam mais feios que os amarelinhos, não sou nada racista, isto é em termos de côr!!!
Não aguento ouvir falar os que defendem salários baixos, quando eles têm caviar no frigorifico,mas não só sob esse ponto de vista!
Com salários baixos não há consumo suficiente para termos as "tais piquenas e médias empresas" a funcionar que na verdade sustentam muitas familias!
Isto hoje vai aquecer Emiele , e está a ficar divertido, um assunto que até é sério
!

silvya disse...

oh! a Kika acertou na "mouche", não é Emiele?, quanto ao fj, já imensos de nós estavam a trabalhar e outros a caminho do mesmo.
claro que o FJ, tem razão quanto a sra. ter mudado duas vezes de emprego, ou seria melhor dizer "tachos"? com x ou sem x?
sim, é sempre fácil falar quando não se tem problemas financeiros, como diz o Miguel, de "papo cheio", e como diz a Kika, com caviar no frigorifico.
esses individuos são muito "finos".
falar de mudança é facil, quando eles mudam cada vez mais para melhor e os outros, por isso nós, os outros ficamos cada vez pior.
a imagem dos pintainhos, faz-me lembrar eu mesma, a espreitar com curiosidade, mas ao mesmo com medo do que possa surgir por ali...
cleopatra

cereja disse...

Realmente hoje reina aqui animação, apesar do tema ser pesadote... Um pouco «culpa» do fj que contribuiu com 3 comentários (Zé Palmeiro, de facto aqui nos comentadores deste blog é capaz de haver mais lagartos, mas pelo menos o Shark que passa por aqui é um benfiquista total!)
Cleópatra e Kika - para começar numa ponta - é esse o busilis: se quem defende como esse senhor que me irrita ouvir na rádio, que os salários baixos são a solução e desse o exemplo, a coisa até passava. E curiosamente, se calhar como eu pensei, ele ALI até é capaz de ganhar o equivalente a um SMN, só que acumula com mais outros 10... Assim como a tal senhora, que dizia que «nós» não gostávamos de mudar, eu sei que ela participa em n observatórios e investigações, pelo que recebe ao fim do ano uma quantia impressionante.

Mas já cá volto!

sem-nick disse...

Sei bem como é, Emi+ele. Esse tonzinho paternalista, de quem aconselha lá do limbo uma cambada de atrasados mentais, também me deixa com vontade de lhe ir à cara (é maneira de falar, não há ninguém tão pacífico como eu...)
E concordo com o King, entre a malta que se encontra por aqui, o Miguel que sabe mais de economia do que nós, consegue dizer as coisas de um modo simples sem o calão profissional e sem superioridade. Gosto muito de o ler.

Zorro disse...

É mesmo óbvio que somos «nós» e «eles»! Em tanta coisa...! A Justiça para uns tem uma medida e para outros tem outra. A Saúde idem aspas, quem vive com muito dinheiro pode ter respostas muito mais rápidas e completas aos seus males. E todas as facetas da vida em comunidade: habitação, transportes, educação, lazer, são mesmo mundo diferentes, o nosso mundo e o ...deles.
Claro que quando o gajo fala em «nós» (deve ser o mesmo tipo que fala na antena 1 e também no RCP) está a falar em 'portugueses, mas temos de reconhecer que há portugueses de primeira e de segunda :(

Mary disse...

Quanto ao tema de hoje a coisa é complicada, uma espécie de pescadinha de rabo na boca embora cada um puxe a brasa mais à sua sardinha: como disse a Kika com os salários muito baixos os produtos não se vendem e as empresas vão à falência gerando mais desemprego e menos vendas e mais falências... por aí fóra. Nem 8 nem 80. Um consumo desenfreado, vai conduzir ao tal 'crédito mal parado' e a «falências familiares», mas quando o cinto é excessivamente apertado, também o consumo fica estrangulado e não me parece que seja bom para a economia. Por outro lado as pessoas bem pagas trabalham com mais gosto e produzem mais, acho que isso está documentado.

Mary disse...

A imagem do patinho «diferente» já a conhecia e é giríssima. E fica aqui muito bem, quando como mostras (e a gente sabe) se fala por vezes num colectivo que até é distante da vida de quem está a falar.
Parece que o que está em «biquinhos de patas» somos mesmo 'nós' a tentar chegar ao patamar dos 'outros'.

Unknown disse...

Pois,a Mary fez a leitura certa a condizente com o post - eu brinquei, pensando na história primitiva :))

shark disse...

Total, sem dúvida! :)
Excelente posta e magnífica ilustração, Emiéle.
E eu também embirro com esse gajo e não lhe consigo fixar o nome...

fj disse...

Miguel eu falo em 5 AM, tu deves querer dizer 19 PM. Vulgo 19 horas...
ZP: só neste aspeto somo s adversários:vais ver, no sábado eus vamos ganhar por 8-2, 4 0 ao intervalo.O contrário só se alugarem o árbitro.Abraços e infelicidades.
Miguel e kika não deixem de intervir nos dias económicos, são necessários. E dá para o Miguel se levantar aí pelas 5PM, nao é mau pá.

cereja disse...

Olhó Shark!!! Fala-se no glorioso e ele ouve mesmo à distância :) Querido Shark, belas ilustrações são as tuas, fotos excelentes e pessoais. Eu 'pesco' umas coisas na net ou não conseguia nada...
Hoje aqui o fj apareceu com o gás todo! Essa do «eus» em vez do «nós» é formidável! Shark e Zé Palmeiro, vamos lá ver que música deixo aqui no Domingo - se 'as papoilas' ou 'afinal porque é que devia ter ficado em casa'... :)
Quando vocês escrevem aqui tanto fico sempre atrapalhada porque para responder um por um fica um lençol enorme!
Maria fico contente que tenhas voltado aqui a comentar no Pópulo, notamos a ausência. Eu tenho realmente a mania de 'ilustrar' o que escrevo para aligeirar aqui a coisa :) Claro que na história do Andersen era ao contrário.

Miguel disse...

King, calão técnico qualquer um usa eheheheheheh! Dá um ar de erudição... Ah King, o "Chefe" é a expressão popular angolana para um qualquer dirigente, tipo "doutô" no Brasil... :p Conheço algumas pessoas que, mesmo em cargos de chefia, pensam nos outros. Até agora, dou-me por satisfeito com os resultados obtidos. Mas também há quem, com chicote a toda a hora, obtenha resultados. Se são melhores ou piores depende de quem avalia e do que se pretende ;)

Toda a gente fj? Aldra! Conheço muito boa gente que começa a trabalhar às 8 e às 9, fora os que chegam sempre atrasados e piram-se cedo para casa. E em Macau, também trabalhavas aos sábados?! LOL!

Pegando nos inúmeros empregos, é evidente que se algumas pessoas não tivessem 50 empregos, não existiria tanto desemprego, tanta desigualdade e tanta gente infeliz.


O Sporting jogou muito melhor, sem dúvida.


Kika, não posso concordar mais. O que penso é que a política de baixos salários é típica de países subdesenvolvidos, apostados na mão-de-obra não qualificada e intensiva. Essa visão do "trabalhador" é algo de surpreendente pela persistência em modelos civilizacionais que se esperaria modernos e desenvolvidos... Mas ainda há, infelizmente, muito quem assim pense!


Emiéle, desculpa-me lá estar a comentar assim, mas não resisto... Mary, é tudo uma questão de "produto" e "mercados". Não é por os salários serem baixos que os produtos não se vendem... Nem é líquido que as pessoas bem pagas trabalhem com mais gosto e produzam mais... Parece-me que é algo bem mais complexo do que isso. Por norma, o custo que estiveres disposta a suportar com pessoal terá a ver com a tua capacidade em transferir para o consumidor esse mesmo custo (e, de preferência com alguma margem de lucro lol). Vê, por exemplo, quando o carro vai à revisão...

cereja disse...

Ainda venho responder ao Miguel que teve a simpatia de passar por aqui tão tarde e num domingo!
Olha, começando por uma ponta: o tal Derby foi tão equilibrado que não se entende como há uma diferença tão grande de pontuação entre os dois rivais... Vamos ver se é desta que o Sporting levanta a cabaça.
E tens razão, o 'calão técnico' dá muito sainete mas espremido, pfff... O que todos aqui dizem a teu respeito (e não posso estar mais de acordo) é que sabes "traduzir" muito bem em linguagem não técnica as coisas. Ficamos muito contentes quando passas por aqui e dás a tua opinião. O rigoroso oposto do tal tipo (olha, se voltares para cá, bem o podias substituir, arredondavas os fins-de-mês e nós lucrávamos!)
E, quanto a Macau, sabes que realmente se trabalhava ao sábado! Foi das coisas que mais me custou, o fim-de-semana quase não existia...